Saí andando, acompanhado por meu pai, que pelo que parece, desaprovou minha rudeza. Quando estávamos distantes da sala anterior – ainda na mesma residência -, meu pai me parou, me restringindo com seu braço em meu peito. Franzi o nariz, me virei de frente para ele, o mesmo colocou os braços na cintura e abaixou o tronco, fitando meus olhos.
- Foi muito rude o jeito que falou com Alfred!
- Você gostaria de ter fugido dali daquele jeito. Senti isso de onde estava.
- Olhe aqui, Russell, você não deve sentir ninguém, ok. E da próxima vez, não quero que seja rude tanto com Alfred quanto com Robert.
- Está tentando ser um bom pai?
- Estou.
- Não está funcionando. Falando nisso, olhe à sua esquerda.
Logo, meu pai observou de relance. Quem se aproximava, eu logo vi que era Alfred, Robert e mais uma menina – que não consegui identificar. A menina tinha cabelos crespos, um tanto ondulados, suas mechas loiras passavam suavemente pelos seus ombros. Diferente de Robert, esta usava óculos iguais aos do maior, com bordas vermelhas. Seus olhos azuis continham um brilho intenso, hipnotizador. Ela sorria abertamente, conversando com ambos. Usava um mini-short jeans, juntamente a uma blusa de manga baixa e um colete estampado com a bandeira da América – pelo visto, Robert usava a mesma estampa numa camiseta. – e também, usava um all star de cano médio, azul com cadarços vermelhos e detalhes brancos. Fielmente americana, que desperdício. A mesma que descrevi, estava tomando um sorvete misto, de uma casquinha americana, com confeitos em cima. Altamente calórico.

Quando o loiro maior nos avistou sorrindo, acenou para meu pai, que fez questão de endireitar a coluna e logo retribuindo o gesto. Me virei de frente para os três, que vieram andando em nossa direção, aquele mesmo raio anterior entre mim e Robert, se lembra? É, ele funciona por mais de dez metros, e ali, tenho certeza de que estava poderoso. Quando chegaram perto de mim e de Arthur – É, quando estou irritado, falo dele pelo nome. – Alfred cumprimentou-nos. Logo, meu pai veio a perguntar quem  era a menina, ele leu a minha mente.
- Ela? – Disse Alfred, abraçando o ombro da menina. – É minha outra filha, Jane.
Então era isso. Eu sabia que nada era perfeito, mas não esperava essa estrapolação da regra. Mas é claro, quando se trata de Alfred, toda regra abre a exceção. Logo percebi em sua camiseta, algo que não tinha percebido antes. Com letras garrafais, estava escrito em cinza, na camiseta por debaixo do colete “Washington”. Ela era Washington, a verdadeira capital, Jane F. Jones, Washington. Ela era mais velha que Robert, e eu esperava sinceramente que ela fosse mais interessante que o nova-iorquino.
Meus pensamentos se afastaram pela voz da que eu descrevia, que eu secretamente e estupidamente odiava;
- Hello! – Disse ela, abrindo um sorriso gentil, inclinando a cabeça. – Eu sou a Jane. Você é Arthur, certo?
- A-Ah, sim. Sou, é um prazer, Jane. – Meu pai fica envergonhado na frente de menininhas, o mundo acabou.
- Você é o Russell, não é? – Senti meu coração palpitar ao escutar meu nome.
- A-A-Ah... S-Sou sim... Ah... Jane?
- Sim!
- Heeey, Jane... Tome cuidado com esse emburradinho. – Robert me provocando, típico.
- Ah, seu...! – Segurei na gola de sua camiseta, quase rosnando.
- Russell Elliot Campbell Kirkland! – Estremeci. – Largue Robert agora!
- Por que eu deveria? – Trinquei os dentes. – Ele não gosta de mim, me odeia. Viu como ele se refere à mim?
- Ele tem razão, Arthur. Robert, peça desculpas ao seu primo.
Primo.
- M-M-Meu o que?! – Larguei-o, incrédulo.
- É, ele é seu primo, e é primo de Jane também. Já que sou irmão de Arthur.