Herói? Que ‘Herói’? Só vejo um loiro metido, com um taco de baseball! A minha vontade de gritar para ele e dizer “Saia daqui! Eu não preciso de você!” era enorme, mas eu não podia fazê-lo até por que iria comprometer a imagem de meu pai. Observei a cena, um tanto pasmo. Aquele tal Nova York estava segurando os braços do tal Berlim, com a maior facilidade, ou eu deveria dizer mediocridade? Ele era tão cínico e hipócrita quanto o pai... Aquele pai que... Fez o meu pai chorar. Mas... Ele tinha um rosto inocente, aquele boné virado para trás, prendendo-lhe a franja, aquela camiseta estampada com a bandeira da América, os shorts curtos que iam até o joelho, e também, mas realmente não menos importante, o taco de baseball, apoiado no ombro e por trás da cabeça. Sim! Ele segurava Berlim com uma só das mãos, ele era maior, ele era mais velho que o descendente de Ludwig! Ele era de quase a minha idade, como pode?

Após os meus pequenos devaneios, percebi o pequenino Alfred soltar Berlim – Parece que eu e meu pai não éramos os únicos que não gostavam de Alfred e desse... Nova York. –, e o mesmo cair no chão, com todos olhando. Logo, uma menina tampouco de nossa idade, devia ser mais nova. Tinha cabelos castanhos e familiares olhos castanho-escuros. Usava uma echarpe azul em seu pescoço, com um mini casaco preto e bege, se ajoelhou para Berlim, e perguntou, com sua voz doce e angelical:
- Berlim... Você está bem?
- Estou sim, Madri... – Então era a tal Madri!
- Por favor, não use a violência aqui, certo, Robert? – O nome dele era Robert.
- Certo, certo, Rosa! – Sorriu, galanteador como sempre.
- ROBERT! – Alguém pulou no tal herói.
- Oh, João! Está aqui também?
- Estamos todos aqui. Todos, Portugal, Espanha, América, Japão, China, Ahn...
- Inglaterra? – O fitei silenciosamente ao perguntar por mim, sem ao menos suspeitar de minha presença.
- Ora, pois... Ainda não tenho visto aqui!
- Presente. – Tomei mais um gole de chá, depois de falar.
- Ah? Então você é o Londres?! – Nova York Segurou entre suas mãos, a minha, como se eu fosse o mais importante do mundo.
- Sou... Você é... Nova York, certo?
- Sim! Mas pode me chamar de Robert!
- Prefiro não chamá-lo de forma alguma.
- Ah! Então esse deve ser o rancor pós-independência que meu pai me falou! – Sorriu para mim, cínico.
- Então esse deve ser o humor negro americano, não é? – Nos fuzilamos, até formando um raio, ligando nossos olhares.

Logo, fomos interrompidos pelos nossos superiores, pais e mães que vieram nos buscar depois da reunião. Meu pai veio por trás de mim, colocando uma das mãos em meu ombro, eu o olhei e reconheci o olhar “Aquele americano idiota ficou se gabando de novo, vamos embora.” Então eu o segui, sendo segurado pelo pulso, delicadamente, até que meu pai topou de frente, sabe com quem? Exatamente. O pai daquele jogador de baseball detestável. Nem uma capital ele era! Que diabos ele estava pensando? De qualquer forma, eu ouvi o loiro maior se gabar de seu filho, que olhava para mim, provocante. Ao que vi, o tal Alfred soltou um olhar para mim, um tanto surpreso e, num tom tão mais diferente do filho, disse:
- Yeah! Parece que tem um little junto contigo, não é, Artie?!
- A-Ah, Alfred... A-Ah... Esse é Russell. Russell... Esse é Alfred.
- Hey, Russell! Parece que já conheceu meu filho, não? Hahaha! Vamos, apresente-se, Robert!
- Sou... Robert F. Jones, é um prazer;
- Russel Elliot Campbell, prazer.
- Campbell? Ora, Artie! Parece que o sobrenome não é seu!
- Campbell é irrelevante. Logo, se nos permite, vamos nos retirar, daddy. – Disse, num tom calmo.