Saga Sillentya: as Sete Tristezas escrita por Sunshine girl


Capítulo 4
III - Primeiro contato


Notas iniciais do capítulo

postando o 3º capítulo...
Boa leitura!!!



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Capítulo III – Primeiro Contato

 

 

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Eu corria pelas ruas estreitas e escuras de pedra, a negridão ali me apavorava, era uma noite sem luar, sem estrelas, e apenas os muros de cimento e pedra enegrecidos pelas trevas cercavam-me.

 

Meus pés arrastavam-se enquanto eu corria desesperadamente por elas. Meu fôlego estava no fim, eu ofegava pelo cansaço, meus músculos doíam, meus ossos latejavam, mas eu trincava meus dentes com força e continuava lançando-me naquela escuridão sem fim, enquanto os muros estreitos passavam através de meus olhos como manchas distorcidas e borradas.

 

Meus olhos confusos não tinham ideia do que estava a me perseguir, mas meu consciente alertava-me do perigo, alertava-me das presenças horripilantes atrás de mim e isso me impelia a continuar correndo daquela forma, lutando para salvar das garras da morte a minha tola alma.

 

E o vento gélido chicoteava meu rosto, lançando meus cabelos para trás enquanto eu me concentrava naquela corrida frenética. Minhas mãos apoiavam-se nas pedras frias e lisas daquelas muralhas intermináveis, eu só queria encontrar a saída daquele labirinto negro e medonho, mas só o que eu fazia era embrenhar-me cada vez mais nele.

 

As figuras negras ainda estavam me perseguindo e perguntei-me se no momento em que elas me apanhassem eu acordaria daquele pesadelo, sim, eu sabia que estava sonhando, afinal, aquela não era nem a primeira e nem a última vez que eu sonhara com aquilo.

 

Virei minha face para trás a fim de vê-las, mas as penumbras impossibilitavam-me de ver qualquer coisa, eu só podia ouvi-las, vindo atrás de mim, sussurrando palavras desconhecidas ao vento, seus passos eram silenciosos, elas mais pareciam flutuar sobre o chão do que caminhar sobre ele.

 

Reconheci o que viria a seguir, a dor, levei meus dedos até meu ombro já pressentindo a ardência insuportável que ia irradiar de minha marca de nascença em forma de fênix, cravada em minha pele clara.

 

Como eu pressentira, a dor viera, mordi meu lábio inferior, tentando debilmente amenizar a dor em meu ombro, enquanto eu corria loucamente por aquelas vielas estreitas de pedra e minha outra mão buscava ansiosa a saída daquele labirinto de pedra.

 

Os sussurros assustadores aumentaram, chegando até meus ouvidos confusos, ecoando em minha mente vazia e fazendo meu coração aumentar o ritmo de suas batidas, forçando o sangue a correr por minhas veias, e então eu cheguei até meu destino.

 

Não a saída exatamente, mas o fim de tudo, o fim do labirinto, como eu já presenciara tantas outras vezes, eu havia chegado ao final daqueles túneis, ao final daquela corrida. Eis que a sólida e gigante parede de pedra apresentou-se para mim, bloqueando o caminho de meu percurso, encurralando-me ali como uma presa frágil e indefesa.

 

 E então a ardência em meu ombro duplicou, uma dor cortante que parecia consumir todas as minhas forças. Minha vontade era de gritar desesperadamente naquele momento, arrancar minha pele e lançá-la longe, apenas para poder me livrar daquela dor agonizante.

 

Mas, algo me impedia, e eles vinham em minha direção, as figuras negras, envoltas em sua própria negridão, em suas próprias trevas, as mãos estendidas em minha direção, os lábios ainda proferindo as estranhas palavras que mal faziam sentido para mim.

 

Dei alguns passos para trás, encostando meu corpo trêmulo ao muro de pedra que bloqueara minha passagem, meus olhos oscilavam entre eles, eram no total sete, mas era impossível distinguir mais, por causa da escuridão, mas pelas vozes gritantes que começaram a ecoar ao vento eu sabia que havia mais deles ao meu redor.

 

Sua reza estranha incomodou-me, atenuando minha dor, então tapei os ouvidos com as mãos e caí ajoelhada no chão de pedra, escondendo minha face na cascata negra de meus cabelos, pela cortina espessa deles, vi que eles ainda se aproximavam de mim, repetindo com mais intensidade as palavras sem nexo, deixando-me completamente atordoada.

 

E foi então que minha dor triplicou, enquanto um grito de agonia eclodia de minha garganta, escapando de meus lábios, e meu corpo desabava no chão, completamente rendido e esgotado. A dor vencera-me no final, e as figuras pararam, permanecendo imóveis como estátuas, as mãos voltando-se em uma posição de reza e os murmúrios cessaram...

 

Meus olhos abriram-se pelo choque, por sorte eu era muito discreta quando estava tendo pesadelos, não gritava, não chorava, mas meu coração estava acelerado, espremendo-se contra meu peito, uma sensação desconfortável.

 

Minha marca de nascença protestava em meu ombro esquerdo, a ardência era pequena, porém, irritante. Como sempre acontecia quando eu despertava daquele estranho sonho.

 

Fiquei por incontáveis minutos observando o teto branco de meu quarto, tentando desacelerar meu coração e espantar de minha mente as lembranças horripilantes que aquele sonho sempre me deixava.

 

Revirei-me na cama quente e macia, fechando meus olhos e tentando fazer com que o sono chegasse, eu teria um dia agitado em poucas horas e não poderia me dar ao luxo de acabar por cair em um sono profundo durante a aula ou quando estivesse ajudando minha mãe.

 

Logo eu caminhei para a escuridão novamente, ciente de que meu pesadelo não voltaria a me importunar, pelo menos não mais naquela noite.

 

Quando acordei novamente já era de manhã, o sol brilhava ainda fraquinho no horizonte, mas foi o suficiente para me fazer criar coragem e enfrentar de face erguida as dificuldades que apareceriam para mim naquele dia.

 

Assim, vesti-me para a escola, tomando meu café da manhã e me despedindo de minha mãe. Novamente eu fiz questão de ignorar o carro, eu havia mesmo criado o hábito de andar a pé até a escola.

 

Quando cheguei, ela estava como sempre, abarrotada e barulhenta. Suspirei e entrei pela porta de vidro, empurrando-a. Mas, a sorte não sorrira para mim e um idiota esbarrou violentamente contra mim, quase me derrubando no chão.

 

Vi quando ele olhou para trás e sorriu, era Roy Lindson, o idiota que comandava os idiotas do time de football. Estava claro para mim que aquele esbarrão fora algo proposital.

 

- Imbecil. – sibilei entredentes.

 

Entrei na sala de cara-amarrada, desejando que aquele dia tivesse seu término logo.

 

Novamente eu teria aula de inglês, o que certamente implicava em dividir a sala com o “novo aluno”. Pensar nisso fez-me ver aquele dia com outros olhos, talvez nem tudo pudesse ser desastroso e desagradável para mim.

 

Sentei-me na mesma carteira, nos fundos. E pus-me a olhar novamente para a porta, enquanto os alunos entravam na sala e sentavam-se em seus lugares.

 

Não demorou muito para que ele aparecesse diante de meus olhos novamente, a mesma expressão misteriosa, indecifrável e séria. Ele foi rápido enquanto seguia para seu lugar e sentava-se, cruzando as mãos novamente e apoiando seu queixo nelas, a mesma posição do dia anterior.

 

Vi-me observando-o com a mesma intensidade e curiosidade de outrora, ainda presa à aura misteriosa que o cercava e que me puxava para perto dele, como uma força gravitacional. Quando o sinal tocou, eu havia perdido a noção do tempo em que fiquei observando-o, e com medo de ser pega no pulo novamente por Max.

 

Logo o professor entrou na sala, carregando sua pasta de couro, pendurada no braço direito, e um amontoado de papel em suas mãos, que ele equilibrava com dificuldade. Houve algumas risadinhas abafadas e depois ele depositou a imensa pilha de papéis em cima da mesa. Então, ajeitou seus óculos e fitou a sala inquieta.

 

Os murmúrios cessaram quase que imediatamente, enquanto o professor caminhava pela sala, os olhos atentos a qualquer gracinha.

 

- Primeiramente, bom dia a todos. Queria comunicar-lhes de que passei as últimas noites preparando um trabalho para todos vocês.

 

O som que se ouviu por toda a sala era a de decepção, todos gemendo ao mesmo tempo, claramente nada interessados no trabalho que nos seria passado. O professor ignorou o entusiasmo dos alunos e prosseguiu.

 

- Como será um trabalho extenso e complexo eu mesmo tomei a liberdade de dividi-los em equipes, mais precisamente em duplas.

 

Estremeci depois que ouvi essa parte, eu teria de fazer o trabalho com alguém? E o pior, alguém que fora escolhido pelo próprio professor! Claro que se eu tivesse tido a chance de escolher seria Max a minha única alternativa, se bem que não seria mais ou menos um trabalho de equipe. Durante todas as vezes que nos reunimos para fazer os trabalhos, Max escapulia, sabendo que estaria acobertado pelo álibi de que estaria comigo. E é claro que eu o fazia inteiramente sozinha, não que eu reclamasse dessa parte, era melhor do que encarar um estranho por mais ou menos três horas e tentar forçar um diálogo. Aquilo sim era o fim do mundo para mim.

 

Tornei a fitar o professor assim que ele começou a citar as “duplas” que ele formara. Nome por nome, dupla por dupla, parceiro por parceiro. E então quando chegou a minha vez, eu já estava suando frio, totalmente arrepiada pela idéia de fazer um trabalho com alguém que eu não falava, ou seja, noventa e nove por cento da sala.

 

- Srta. Bryce fará o trabalho com... – disse-me ele olhando cuidadosamente a caderneta em sua mão, meus dedos agarram as beiradas da mesa, e eu senti que podia moê-las a qualquer momento, tamanha era a minha tensão. – Aidan Satoya. – soltou ele por fim, dando-me um pequeno sorriso.

 

Eu não sabia naquele momento se tinha sido salva do barco no qual naufragava ou se tinha me agarrado a ele de uma vez por todas. Então meu parceiro seria...

 

Fitei o aluno novo que tanto mexera comigo nesses últimos dias, que me atraíra tanto com seus segredos e seu jeito misterioso de agir. Ele continuava imóvel, o rosto inexpressivo, os olhos fixos no nada. Eu podia sentir os olhares pesados sobre mim, fuzilando-me, e é claro que aqueles olhares eram oriundos de todas as meninas da sala. Do outro lado da sala pude ouvir Max dar uma risadinha baixa.

 

O alívio não vinha de forma alguma, porque embora fosse ele a ser meu parceiro nesse trabalho ridículo, ele até agora demonstrara ser alguém frio e distante, não por causa de seu comportamento estranho, como no meu caso, mas por opção. E é claro que todos sabiam daquela sua preferência, por isso mantinham-se afastados dele, deixavam-no completamente isolado.

 

Em poucos minutos o professor terminara de anunciar as duplas e passara para a tediosa parte de explicar no que consistia aquele trabalho.

 

- Eu quero uma análise profunda, complexa, abrangente e poética de Shakespeare. Quero que vocês sintam as mesmas emoções que ele sentiu ao escrever suas obras, quero que vocês sintam a complexidade delas, os costumes da época que ele viveu, como a sociedade agia, como as pessoas encaravam os fatos. A redação deve ter no mínimo duas páginas, e a cada erro ortográfico será descontado determinada pontuação. Após vocês terminarem a primeira parte, quero que peguem essa folha – disse ele pegando uma folha do amontoado em cima de sua mesa - de questões e respondam-nas. Tudo será somado e depois dividido, e essa será a sua nota mensal.

 

Por toda a sala os cochichos recomeçaram, ninguém estava feliz com a “complexidade” do trabalho e a exigência por parte do professor.

 

-O trabalho deverá ser entregue daqui a duas semanas. – completou ele. –Muito bem, espero que se saiam bem nesse projeto, porque, caso contrário, não serei misericordioso com vocês na nota final.

 

A aula seguiu perfeitamente normal depois disso, as folhas com as tais questões foram entregues, eram quase vinte, todas exigiam repostas difíceis e longas. Seriam longos dias e tediosas horas.

 

O sinal do almoço tocou e eu rumei na direção do refeitório, depois é claro de tacar o papel dentro da minha bolsa, eu não estava nada contente com aquela situação. Quando eu pensei em descobrir mais sobre aquele misterioso novo aluno, eu havia pensado em algo um pouco mais dramático, uma abordagem um pouco mais discreta, secreta para ser franca, espionagem seria a palavra certa. Mas uma aproximação forçada e rápida demais não estava nos meus planos.

 

O que eu faria agora? Relacionar-me com ele estava fora de cogitação. Eu não passaria por aquela situação constrangedora novamente, eu já provara de muitas humilhações e aquilo já havia sido o suficiente para uma vida inteira.

 

Bom, eu só poderia fazer uma coisa, então. Aquela era a minha única saída, embora que para isso eu tenha que “interagir” com ele de uma forma ou de outra. Mas essa opção era bem menos chata do que a primeira. Decidi-me ainda no intervalo do almoço, eu falaria com ele após a aula.

 

O sinal tocou novamente e eu corri de volta para a sala, torcendo para que o tempo voasse, praticamente implorando para que os ponteiros do relógio corressem. E assim foi, as últimas aulas voaram e assim que a aula encerrou-se eu lancei-me para fora da sala como um furacão, torcendo para encontrá-lo antes que ele sumisse como no dia anterior.

 

Eu vagava entre a multidão eufórica, levantava meus olhos, olhando por sobre os ombros de todos, mas nada de achá-lo.

 

Estava quase desistindo quando o encontrei, estava de costas, andando, afastando-se de onde eu me encontrava. Sem pensar duas vezes lancei-me para a frente, correndo como uma desmiolada. Esbarrando em uns, empurrando outros, sendo xingada por todos.

 

Levantei minha mão para o alto, a outra segurava a alça de minha mochila no ombro, obriguei meus pés a se moverem com mais velocidade.

 

- Hei, você, espere! – gritei para o rapaz, acenando com minha mão, tentando chamar sua atenção. Não foi preciso muito para isso, logo ele se virou para mim, a face inexpressiva, o olhar penetrante, os lábios apertados na linha rígida.

 

Parei bruscamente minha corrida, freando desajeitada, estacando a uma boa distância dele, eu não sabia como ele iria reagir a minha atitude louca. Ele poderia ter se zangado comigo, e não seria nem o primeiro e muito menos o último.

 

Vi que seus olhos estavam cautelosos enquanto ele encarava-me, embora seu rosto não tivesse emoção alguma, nem mesmo uma ponta de curiosidade. De fato, eu perdera o pódio de “estranheza” para ele. Eu nunca tinha visto alguém tão mudo e sério antes, nem mesmo eu conseguia me conter tanto assim. Que personalidade!

 

Devolvi seu olhar penetrante com a mesma intensidade, e percebi de imediato que ele não perguntaria nem mesmo por que eu havia agido como uma louca apenas para lhe chamar a atenção. Dei alguns passos, curtos, em sua direção, ficando a uma boa distância dele ainda.

 

Travei uma batalha mentalmente enquanto caminhava em sua direção, o que eu deveria dizer a ele? Optei pela verdade, seria mais fácil se eu desembuchasse tudo de uma vez.

 

- Olhe, eu sei que o professor colocou-nos na mesma equipe, mas você pode ficar tranqüilo. Eu posso fazer o trabalho, sozinha, e colocar seu nome no final. Posso até responder seu questionário se quiser.

 

Encerrei meu pequeno discurso, analisando as palavras que usara para tal, é eu podia ter dado mais ênfase no “sozinha” e deixado bem claro que não estava enganando-o.

 

Ele encarou-me com seus olhos profundos, e por um instante pensei que aquele olhar podia ter atravessado minha carne e visto minha alma, enxergado todo o meu desprezível interior. Afugentei esses pensamentos malucos e esperei por sua resposta.

 

Para meu total espanto ele desfez a linha rígida que estavam seus lábios, entreabriu-os, e ele arqueou uma de suas sobrancelhas, acho que não tinha sido clara suficiente. Lentamente ele deu um passo em minha direção, parecia hesitar tanto ao fazê-lo, como se estivesse tentando vencer um limite invisível que havia entre nós.

 

Ele aproximou-se um pouco mais, o bastante para que eu me perdesse na profundidade de seus olhos castanhos. Por um instante eu parecia estar afogando-me neles, lutando para me libertar de um forte feitiço, um encanto quase que totalmente irresistível.

 

E então pela primeira vez eu pude ouvir sua voz bela, aveludada, suave, mas que soava forte aos meus ouvidos, como uma ordem que deveria ser prontamente obedecida.

 

- O que você disse? – perguntou-me ele.

 

Por um instante a confusão apanhou-me, mas não havia nenhum vestígio dela em seu rosto, ele parecia apenas incrédulo, descrente de meu papo.

 

Inspirei profundamente, tentando reorganizar meus pensamentos, era difícil raciocinar com aquela aura sua de mistério tão próxima de mim, ela parecia confundir-me.

 

Fitei-o mais uma vez, mas sua expressão ainda era a mesma, ele não havia engolido uma palavra do que dissera, seria isso?

 

- Eu disse que não tenho problema nenhum em fazer o trabalho por nós dois, você não tem de ficar na minha companhia. Eu prometo a você que não tentarei passar-lhe a perna.

 

E então para meu espanto novamente, ele sorriu! Seus lábios projetaram-se em um perfeito sorriso, o mais belo que eu já tivera visto, completamente encantador. Seu sorriso foi seguido de uma risada abafada, baixa.

 

Dessa vez eu o encarei incrédula, eu não entendia onde estava a graça ali. Eu estava falando sério, muito sério. Eu estava acostumada com aquele método, sempre quando os professores jogavam-me em alguma equipe.

 

- E por que eu faria isso? – perguntou-me ele, ainda rindo baixinho.

 

Arquei uma sobrancelha minha, tudo bem, era a minha vez de ser sarcástica agora.

 

- Tem certeza de que quer isso?

 

Seu sorriso fora embora na mesma hora, eu fui irônica demais?

 

- Você é a Agatha, certo? – como ele havia decorado meu nome? O professor só o dissera uma vez e ele já o sabia. Memória boa.

 

- Sou, sim. – assenti despreocupadamente.

 

Seus olhos estreitaram-se um pouco, enquanto ele aproximava-se um pouco mais de mim.

 

- Bom, eu não tenho problema algum. Podemos fazer o trabalho, juntos.

 

Depois de ouvir essa eu quase fui ao chão. Será que eu tinha imaginado que ele era tão frio e distante quanto parecia a meus olhos?

 

Eu devia estar ficando paranóica. E como assim ele não via problema em fazermos o trabalho, juntos? Ele tinha de ser mesmo de outro país, melhor, de outro continente, para querer passar algum tempo na minha companhia, algo que nem mesmo eu suportava às vezes.

 

- Só precisaremos encontrar um lugar para nos reunirmos.

 

Ele olhou para mim desta vez com expectativa. Claro que eu jamais iria indicar minha própria casa, de jeito e maneira nenhum eu colocaria minha mãe e um garoto em um mesmo ambiente.

 

E então o local ideal veio a minha mente no mesmo instante em que “minha casa” estava totalmente fora de cogitação.

 

- A biblioteca da escola fica aberta até as dezoito. Acho que seria um bom lugar.

 

- Tudo bem para mim. Amanhã, depois da escola, então. – ele assentiu e marcou na mesma frase o horário e o dia de nosso trabalho.

 

Assenti silenciosamente, e então ele lançou-me outro de seus olhares indecifráveis. Enquanto ele se virava lentamente e caminhava na direção oposta a minha, caminhando tranqüilamente pela calçada estreita de pedra da frente do colégio.

 

Permaneci chocada por algum tempo, tentando em vão absorver o que tinha acontecido ali. Eu teria imaginado tudo? Não, eu sabia que tinha sido real, e isso me deixava ainda mais apavorada. Eu não acredito que havia mesmo concordado com isso!

 

Como alguém como eu aceitara fazer um trabalho em equipe com outra pessoa que eu nem mesmo conhecia! Isso era inadmissível em minha mente, estava até mesmo na minha lista de coisas a se evitar. Eu não era boa em me relacionar com outras pessoas, era muito fechada, silenciosa e muito, muito estranha.

 

Depois que a realidade decidira despertar-me, virei-me depressa e comecei a correr, eu ainda tinha que ajudar de minha mãe em sua loja. O que eu estava pensando, afinal? Sacudi minha cabeça e trinquei meus dentes enquanto corria, o que estava feito, estava feito e ponto final. Eu não podia voltar atrás agora. Tinha um trabalho marcado com aquele garoto estranho que eu descobrira não ser tão estranho assim. Bom se ele realmente estava disposto a fazer um trabalho comigo, na minha companhia, então ele era estranho sim.

 

Suspirei, como eu pude acabar em uma situação como essa? Eu me sentia encurralada em um beco sem saída, só que não pelas figuras estranhas de meu sonho e sim por mim mesma, por minhas próprias idiotices.

 

Apressei-me em chegar a loja de minha mãe, que esse dia fora turbulento, isso eu já o sabia, mas que o dia seguinte poderia ainda ser pior, isso eu não imaginava.

 

 

 

 

 


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Notas finais do capítulo

mais um postado!! eu axei que ficou meio curtinho mas foi o máximo q eu pude fazer!! (o meu Deus o q eu fiz pra merece ess tecnico??)
aff qm nunca teve um trabalho desse na vida?? de dar vontade de ser descabelar?? eu já tive vários!!
próximo capítulo...hummmm o q será q acontece nesse trabalho?? os mistérios começam a ser revelados!!
Até a proxima!!
Reviews??
Beijoss!!