Saga Sillentya: as Sete Tristezas escrita por Sunshine girl


Capítulo 5
IV - Verdades omitidas


Notas iniciais do capítulo

hello, voltei!!
(o hábito de acordar cedo nunca morre em mim)

eu teria postado ontem mas não tive tempo para revisar o capítulo e corrigir os erros... e o problema é q eu tenho limite de tempo aki(uma hora naum dá pra nada!!) mas fazer o q, ordens da chefia!!

mas enfim!!
Boa leitura!!



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Capítulo IV – Verdades omitidas

 

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- E então, querida, o que acha? – perguntou minha mãe pela milésima vez, girando o enorme vaso decorado com entalhes de todas as cores, transbordando flores de todos os tipos de sua boca. Aquela devia ser a vigésima vez que ela tentava um arranjo diferente para aquele vaso, é claro que eu a encorajava, elogiava os frutos de seu trabalho árduo, embora a meus olhos as combinações parecessem sempre as mesmas, todas sem graça demais para mim.

 

Dirigi-lhe um olhar doce, pelo menos o mais agradável que consegui, depois mais uma vez, elogiei o produto de mais uma de suas tentativas.

 

- Está ótimo, mãe.

 

Minha mãe tornou seus olhos para a sua obra de arte, analisando cada detalhe que estava contido ali. Eu suspirei, sabia que no instante seguinte ela iria desfazer e recomeçar tudo de novo.

 

- Não sei, está muito chamativo! – acusou ela, franzindo o nariz ao notar o defeito em sua obra de arte.

 

- Está perfeito, mãe. Acredite em mim.

 

Debrucei-me um pouco mais sobre o balcão de vidro que continha inúmeros vasos de todos os formatos, cores e tamanhos. Eu ainda tentava iniciar a tão “temível” conversa com minha mãe. Não que ela fosse se importar, na verdade depois que a palavra “trabalho escolar” tivesse sido empregada nela, minha mãe relaxaria. Eu só não sabia como contar a ela. “Mãe, amanhã não virei trabalhar, tenho um trabalho de escola com um garoto novo que veio de um intercâmbio. Chego antes do jantar.”

 

Sacudi minha cabeça, eu não falaria desse jeito tão abertamente. Quem sabe se eu omitisse alguns pequeninos e insignificantes detalhes. Por exemplo, ela não precisava saber que meu trabalho seria com um garoto e muito menos que ele era novo na cidade. Principalmente italiano, minha mãe parecia ter aversão a tudo o que fosse oriundo do pequeno país europeu com formato de bota.

 

Certa vez ela deu um chilique em um restaurante, quando saímos para comemorar um de seus aniversários. E assim que o garçom serviu o prato que transbordava molho de tomate e massa, minha mãe recusou-se veemente a comê-lo. Foi um vexame e tanto.

 

Eu tive de lembrá-la de que estávamos em um restaurante de comida italiana, e então ela lançou-me um olhar acusador, um que me deixou assustada por dias. “Por que você não me avisou antes, mocinha?”,ela me dissera.

 

Inspirei fundo novamente, minha mãe era em geral muito distraída, ela quase sempre só se dava conta do que havia feito ou de onde estava quando alguém a chamava de volta para o planeta terra.

 

Mas eu sabia exatamente aonde a sua cabeça se encontrava, no fantasma de seu passado. No fantasma de meu pai. Ela nunca conseguira esquecê-lo, esse era o motivo pelo qual ela evitava os outros homens, como se estivesse se preservando para ele, esperando que algum dia ele voltasse para ela.

 

Ela sofria com aquela perda, ainda. Uma perda que a devastara tanto, que mutilara sua alma e destroçara seu coração que tanto o amara um dia. Eu sei disso porque cresci testemunhando a sua dor.

 

E embora ela negasse, eu podia ver em seus olhos negros, a minúscula chama de esperança arder, com suas últimas forças ela lutava para não se apagar, porque eu sabia que no dia que aquela chama de esperança morresse, minha mãe iria junto com ela.

 

Era por esse exato motivo que eu sabia que não podia deixá-la, minha mãe era superprotetora quanto a mim, mas eu sempre soube que isso era medo de ficar completamente só, de perder a única coisa que o destino decidira não lhe arrancar, eu.

 

E era mais do que isso também, porque quando minha mãe olhava para mim, eu sentia em seu olhar, eu sentia em sua expressão, que ao me encarar ela tentava encontrar um pedaço de meu pai, um pedaço que não pôde ser apagado. Algo dele que eu levara comigo em meu código genético e que permaneceu cravado em mim, mesmo após a sua morte.

 

Cruzei meus dedos, e tornei a fitar minha mãe. Mais uma vez ela havia desfeito o imenso arranjo, espalhando flores para todos os lados e remontando-o de outra forma.

 

-Mãe? – eu a chamei.

 

Ela elevou seus olhos negros e grandes até mim, um sorriso estampado nos lábios rosados, esperando que eu prosseguisse em meu discurso.

 

- Sim, querida?

 

Inspirei fundo mais uma vez, reunindo a coragem necessária para falar-lhe.

 

- Mãe, a senhora não se importaria se eu não viesse trabalhar amanhã? – perguntei-lhe meio temerosa.

 

- Tem algo programado? – ela perguntou ainda sorrindo.

 

- Na verdade não, é só um trabalho de escola que eu terei de fazer amanhã depois da aula na biblioteca da escola.

 

- Trabalho?

 

- É, uma redação sobre Shakespeare. Não se importa, não é?

 

Minha mãe riu um pouco, enquanto suas mãos ocupavam-se do vaso imenso, enfiando flores pela sua boca estreita.

 

- Claro que não, querida. Sabe que seus afazeres escolares vêm em primeiro lugar. Eu posso me virar sem você. – disse ela, lançando-me uma piscadela.

 

- Tudo bem, então. - concordei, embora soubesse que a pergunta crucial vinha no instante seguinte.

 

- Você vai fazê-lo sozinha?

 

Estremeci um pouco. Minha mãe era boa quando se tratava de ler minha linguagem corporal e minhas feições. Endureci meu rosto, tentando não transparecer nervosismo, enquanto vasculhava minha mente a procura de algo que pudesse despistá-la.

 

- Na verdade não, o trabalho será em dupla.

 

- Hmmm... – minha mãe deu de ombros, voltando sua atenção ao vaso, porém, algo me alertava de que o assunto não estava encerrado. E meu pressentimento mostrou-se verdadeiro.

 

- E quem exatamente é o seu parceiro?

 

Gelei da planta dos pés a raiz da cabeça, minha mãe era realmente muito boa! Semicerrei os olhos, tentando parecer completamente despreocupada.

 

- Um garoto lá na minha escola... – interrompi meu discurso por alguns segundos e depois prossegui, disfarçando o nervosismo em minha voz. – novo...

 

- Aluno novo? – ela repetiu, exaltando-se, seus olhos deixaram o vaso e passaram a encarar-me fixamente.

 

- Sim. – assenti. – ele veio para South Hooksett fazer um intercâmbio durante esse semestre.

 

Minha mãe pareceu desconfiada, mordeu os lábios, tentando claramente encerrar nossa conversa por ali. Suspirei aliviada, não tinha sido tão difícil. Eu sabia que no fundo ela estava tentando confiar em mim, embora nem sempre eu tenha mostrado-me merecedora dela.

 

E de fato aquela conversa não voltou a se repetir. Quando nosso expediente acabou, minha mãe fechou a loja, e prosseguimos para nossa casa, o trajeto no carro foi bem silencioso. E eu a imaginava praticamente mastigando a própria língua para não insistir comigo naquela conversa outra vez.

Mantive-me afastada de qualquer razão ou motivo que nos levasse de volta a aquela conversa, olhando distraída pela janela do carro, enquanto o centro pequeno da cidade ganhava novas cores e luzes ofuscantes.

 

Foram incontáveis minutos, tensos. Mas assim que chegamos em casa, lar doce lar, eu saltei para fora do carro com minha mochila em posse. Subi as escadas com muita pressa, loucamente desejosa de um bom banho quente.

 

Assim que me vesti novamente jantei em companhia dela, embora o silêncio ainda estivesse presente, incomodando a nós duas.

 

Logo eu já a havia ajudado com a louça suja e cansada demais para esperar que ela decidisse iniciar a conversa novamente, subi para o meu quarto, fechando a porta e lançando-me em minha cama.

 

Por sorte eu não tinha dever de casa naquele dia, mas a tensão em meu corpo ainda me incomodava, e eu sabia perfeitamente que aquele nervosismo não se devia a desconfiança de minha mãe, mas sim ao que eu teria de enfrentar no dia seguinte.

 

Suspirei pesarosa, como faria para sair daquela situação sufocante? Melhor ainda, como faria para sobreviver a ela? Tantas perguntas enchiam meus pensamentos, e a minha falta de repostas para elas só atenuava minha tensão.

 

Sentei-me na cama, ignorando por ora a minha necessidade de dormir para enfrentar o atribulado dia de amanhã. Eu não tinha nenhuma pressa mesmo. Sentada sobre o colchão, meus olhos logo voaram até a mesinha de madeira escura ao lado da cabeceira da cama. Aquilo era apenas um reflexo, instinto, do que eu sempre fazia quando sentia que já estava no auge de minhas forças, completamente esgotada.

 

É claro que eu não estava presente na foto do porta-retrato, não, aquela fotografia havia sido tirada muito antes de eu nascer, quando meus pais ainda estavam na fase perfeita dos “recém-casados”. O local escolhido para a lua-de-mel fora nada mais e nada menos do que uma praia ensolarada do Caribe.

 

As fotos são tudo o que resta dessa viagem, e é claro, que elas ainda são relembradas por minha mãe, mesmo que doa, mesmo que isso a machuque, sim, ela ainda faz questão de lembrá-las, todas elas. Porque foi tudo o que restou de meu pai, as lembranças dos momentos de felicidade que ambos tiveram e compartilharam.

 

Meus olhos observavam fixamente o homem de cabelos castanho-claro, os olhos verdes como duas esmeraldas brilhantes, a tez de marfim, os lábios repuxados em um belo sorriso.

 

Por tantas vezes eu tentei convencê-la eu ir até seu túmulo, visitá-lo, levar-lhe flores, uma viagem até San Diego, mas que não prometia ser assim tão longa. Mas, minha mãe fincava o pé, teimava comigo, e eu não lhe tirava a razão em nenhum momento.

 

Porque eu sabia o quão duro isso seria para ela, ver seu túmulo, enfim poder chorar e derramar suas lágrimas de tristeza sobre ele. Deixar que toda aquela dor morresse ali. Mas, para minha mãe aquilo também significaria outra coisa, algo extremamente doloroso que implicaria na morte da chama de sua esperança.

 

Ela nunca o deixou para trás, nunca se esqueceu de quem ele foi e o que ele significou para ela. E eu sei que quando ela se distrai, olha fixamente para o nada, cantarola uma canção melancólica, é nele que ela pensa, é o rosto dele que ela tenta encontrar, o cheiro dele que seu olfato tenta buscar, algo que infelizmente ela nunca mais poderá sentir, ver ou tocar.

 

Nem mesmo percebi quando eu engatinhei sobre o colchão, rastejando-me até a cabeceira da cama, e minhas mãos agarraram o porta-retrato que continha a foto de minha mãe e de meu pai, abraçados, felizes, sorrindo...

 

Instintivamente abracei o pequeno objeto, encaixando-o em meus braços e deitei novamente sobre o colchão, nem mesmo me importando de puxar o edredom para cima de meu corpo.

 

Fiquei a observar o teto por um tempo interminável, tentando montar o perfil de meu pai, como eu sempre fizera desde que era uma garotinha. Como sua voz devia soar bela, como seus olhos esmeraldinos olhariam para mim, como o calor de seus braços fortes envolveriam-me, embalando-me.

 

Como o seu cheiro deveria ser bom, e como ele chamaria por meu nome, sempre que eu aprontasse alguma. E foi pensando em meu pai, a figura que eu jamais conheci, que eu acabei adormecendo, sendo que em meus sonhos eu estaria em seus braços, derramando a minha alegria transbordante por finalmente tê-lo perto de mim.

 

Quando despertei pela manhã, estava um pouco moída, o porta-retrato ainda estava em meus braços, protestando contra a força que eu exercia sobre ele.

 

Desci e não encontrei minha mãe, ela devia ter saído mais cedo, a fim de repor as tarefas que eu não poderia executar naquele dia porque obviamente estaria ocupada com um trabalho de escola, com um estranho...

 

Repensar nisso fez-me sentir um pouco de indisposição. Mal consegui tomar meu café da manhã, a ansiedade ocupava-se de selar meu estômago e roubar meu apetite. Então acabei ele com apenas meio copo de leite.

 

Peguei minha mochila e disparei na direção da escola, não que de fato eu quisesse chegar logo até lá.

 

Assim que adentrei, rumei para a sala onde teria minha primeira aula, Biologia. A quarta-feira era um dia meio complicado para mim, pois eu já via o bastante da natureza e de sua beleza exuberante na loja de minha mãe, então eu praticamente ficava entediada durante toda a aula.

 

O período pareceu passar como um estalar de dedos para mim, talvez fosse só porque hoje eu desejava que ele avançasse mais lentamente. Por que nós nunca temos o que desejamos?

 

No almoço, sentei-me na mesma mesa, sozinha. Pelo menos até Max aparecer e me perturbar, como sempre fazia. Ah, e ele acabou por roubar meu almoço também, não que eu tivesse sequer tocado nele, ainda ansiosa demais para ter outras preocupações como preencher meu estômago vazio.

 

Depois que o sinal tocou eu me vi mais tensa a cada maldito segundo, sempre me perguntando onde ele estava – eu não o tinha visto ainda durante todo o período – e era impossível imaginar que ele não teria vindo hoje à escola, impossível também era sentir um certo alívio por isso.

 

Quando enfim o último sinal tocou, eu me levantei –com certa dificuldade – da carteira. Dirigi-me até o corredor, andando com uma lentidão exagerada e irritante. Até parecia que eu estava indo para a forca!

 

Acelerei um pouco mais os meus passos, ignorando a minha ansiedade e a minha tensão. Uma parte pequenina de mim ainda esperava que ele tivesse faltado na aula, que eu estivesse livre daquele compromisso tão constrangedor, ainda que ele pudesse ser adiado por talvez dias, eu o faria com muita alegria. Apenas para ter mais tempo para me preparar melhor para o que teria de enfrentar: horas e mais horas encarando-o em um silêncio mortal. Eu poderia até tentar puxar algum assunto, coisas banais e insignificantes apenas para distrair o ambiente tedioso de trabalho escolar, mas eu temia como exatamente ele iria reagir as minhas tentativas frustrantes.

 

Mas, infelizmente, eu estivera enganada, porque ali estava ele, parado, a minha frente, o ombro meio que encostado na parede, o rosto inexpressivo, voltando a ser aquela figura tão cativante e misteriosa que tanto me atraíra.

 

Eu podia estar ficando louca, ou até mesmo paranóica, pois eu podia jurar que não o tinha visto em lugar nenhum durante o almoço.

 

Trinquei meus dentes e reuni o pouco de coragem que tinha, e em passos lentos aproximei-me dele, cautelosamente. Seu rosto permaneceu indecifrável enquanto eu estacava perante sua silhueta imóvel no canto do corredor abarrotado.

 

O silêncio que se instaurou ali foi deveras constrangedor, eu não sabia se devia murmurar um simpático “oi” ou simplesmente bancar a durona e acenar para que ele me seguisse, sem ao menos olhá-lo nos olhos.

 

Santas escolhas!

 

- Er, acho que já podemos ir, então... – murmurei, meus olhos fitando sua face rígida.

 

- Tudo bem. – ele respondeu-me com uma certa frieza em sua voz, talvez eu devesse ter ficado com o oi.

Seguimos pelo extenso corredor, bom, na verdade ele foi à frente, eu apenas o segui em silêncio. Eu teria mesmo imaginado aquele seu comportamento de ontem?

 

Chegamos aos fundos da escola, parando diante da estreita porta, ele esperou por mim, e deixou que eu fosse a primeira a entrar. Eu não o agradeci pelo cavalheirismo como teria acontecido em qualquer filme de comédia romântica.

 

Retirei a alça de minha mochila de meu ombro, passando a carregá-la com as mãos. Estaquei diante do balcão de mármore, debruçando-me sobre ele. Esperei que a mulher se virasse para mim, e assim que o fez ela lançou-me um olhar frio como o gelo. Então ela ainda se lembrava das minhas travessuras do ano passado? Reprimi uma risada, é claro que eu estava na companhia de Max, e fora ele a orquestrar todo o plano genioso. Obviamente que quando fomos descobertos pela brincadeira de mau gosto, fomos os dois para a diretoria e isso me custou dois meses inteiros de castigo, fora a proibição de andar com ele novamente.

 

A bibliotecária encarou-me fixamente, estreitando seus olhos pequeninos por trás das lentes dos óculos. Aquela era Carly Alisson, a responsável por tomar conta da biblioteca e também dos alunos que usavam ela.

 

- Em que posso ajudá-la? – perguntou-me ela, embora o tom de sua voz soasse como adagas, tentando ferir-me.

 

- Viemos fazer um trabalho. – quem respondera na verdade fora Aidan, que já estava ao meu lado, o tom de voz tentando parecer gentil.

 

- Do que precisam?

 

- Tudo sobre Shakespeare. – respondeu ele calmamente.

 

Logo ela desapareceu entre as estantes abarrotadas de livros e em pouco tempo voltou com um amontoado de livros em suas mãos. Ela os depositou sobre o balcão, os olhos voltando-se para mim novamente.

 

- Pronto, aqui estão. Conhecem as regras, qualquer gracinha e estarão encrencados. – embora ela usasse o “nós”, a ameaça estava claramente voltada para mim.

 

Aidan pegou os livros e rumou para os fundos da biblioteca, novamente eu tive de segui-lo, sentando-me quando ele se sentou. Preferi sentar do outro lado, de frente para ele, seria bem menos humilhante do que sentar ao seu lado.

 

Abrimos os livros e iniciamos o trabalho, lendo, relendo, lendo novamente. Eu estava começando a ficar completamente entediada. As horas arrastavam-se, lentamente, e o tempo parecia ter congelado lá dentro.

 

Embora minha mente estivesse concentrada e meus pensamentos dispersos, eu podia notar os olhares dirigidos a mim, por parte da Senhora Alisson, ela estava desconfiada de minha presença ali.

 

Ora ou outra eu espiava o garoto a minha frente, ele parecia tão absorto quanto eu, talvez até mais, e acabou sua redação primeiro que eu. Eu estava enrolando o final da minha de forma proposital, já que o destino decidira lançar-me aos leões, por que não aceitá-lo de uma vez por todas?

 

Fitei-o rapidamente, ele ainda mantinha aquela mesma posição, imóvel, eu mal ouvia sua respiração naquele ambiente terrivelmente silencioso. E decidi despejar minhas dúvidas de uma vez por todas sobre ele.

 

Pigarreei, a fim de chamar sua atenção, deu certo, ele voltou para o planeta terra. Baixei minha mão que continha a lapiseira com a qual eu escrevia. Olhando-o diretamente desta vez, sua expressão agora parecia de expectativa.

 

- Notei que seu inglês é praticamente perfeito, você devia pelo menos cursar um bom curso lá em Nápoles. – supus inocentemente, esperando que ele mordesse a isca.

 

Eu joguei verde a fim de colher maduro, ele arqueou uma de sua sobrancelha, mas seu rosto ainda estava rígido.

 

- Na verdade, minha mãe era norte-americana, apenas meu pai é italiano. – ele corrigiu-me, dando de ombros.

 

Mordi meus lábios, eu já havia dado um passo, conhecido um pequeno detalhe seu, o que poderia ser considerado um prodígio, levando em conta o quão fechado e misterioso ele era.

 

Voltei minha atenção à redação, escrevendo mais algumas palavras, quando vi ele baixar seus braços na mesa, mudando sua posição, porém, os dedos mantinham-se entrelaçados, e seu olhar impenetrável.

 

Levei meus olhos até ele novamente, e foi então que a vi. O grande desenho cravado na pele clara de seu pulso direito, na parte inferior deste. A tinta negra contrastava com a pele, chamando toda a atenção para si, era uma tatuagem, bem grande eu tinha de admitir.

 

O desenho somente que me parecia estranho, nunca o tinha visto, mesmo nos milhares de sites que Max já me mostrara, revelando as suas futuras ambições, o que claramente iria contrariar a vontade de seus pais.

 

Fiquei por vários segundos encarando o estranho desenho em sua pele, o círculo enorme, vazio, com duas linhas que atravessavam as bordas dele, uma na vertical, a outra na horizontal, ambas cruzando-se na pequena esfera negra no centro do círculo vazio.

 

- Tatuagem interessante. – eu murmurei, ainda fitando seu braço direito.

 

Vi que depois disso ele enrijeceu, encolheu o braço, escondendo com a palma da mão grande parte do desenho cravado em sua pele.

 

Ele também não retrucou meu comentário, preferiu o silêncio e isso acabou por deixar-me ainda mais inquieta. Mas, eu não me dei por vencida, bati na mesma tecla, tentando dissuadi-lo daquela sua decisão de permanecer absolutamente mudo.

 

-Deve ter tido muitos problemas com seus pais. – comentei despreocupadamente.

 

- O que? – ele perguntou-me e eu tratei logo de me explicar.

 

- Para conseguir autorização para fazê-la, você ainda não é de maior, é?

 

Novamente ele enrijeceu diante de meus olhos, sua expressão de indecifrável passou a ter um certo toque de hostilidade, então eu sabia que o assunto “tatuagem” estava encerrado. Ele só podia ter se arrependido de tê-la feito, essa era a única explicação para toda aquela esquiva de sua parte.

 

Eu também não insisti mais naquele assunto, voltei minha atenção para a redação, terminando-a pouco tempo depois. Foi então que me dei conta do horário, apanhei minha mochila, equilibrando meus cadernos em minhas mãos.

 

- Está tarde, tenho de ir. – disse a ele.

 

Aidan levantou-se também, apanhando seu material.

 

- Podemos terminá-lo na sexta, eu tenho algo a fazer amanhã. – propôs ele.

 

- Tudo bem. – assenti – Até amanhã, então. – e depois disparei para fora daquele ambiente sufocante e silencioso, correndo para chegar antes que escurecesse a minha casa. No caminho tive tempo para repensar o que tinha descoberto sobre ele naquele dia. Sua mãe havia nascido na América do Norte, isso explicava os eu inglês fluente, e havia também a tatuagem em seu pulso direito. Um desenho tão estranho, mas que lhe causava tanto desconforto. Por que raios ele havia feito ela então?

 

Bufei, eu não entendia nenhum de seus aspectos, muito menos seu comportamento estranho que implicava em oscilações de humor repentinas, e ainda havia aquela aura misteriosa ao redor dele.

 

Eu só sabia de uma coisa, aquele garoto era estranho demais para mim, mas ao mesmo tempo, era atraente demais, envolvente, interessante demais. E eu não podia recusar de forma alguma aquele mistério, eu queria desvendá-lo de qualquer jeito, queria desenrolar a trama misteriosa que o cobria, queria ir a fundo em seus segredos, descobri-los um por um.

 

De qualquer forma eu tinha tempo para fazer isso, a sexta-feira para dar continuidade ao nosso trabalho de escola e também as minhas investigações a despeito dele. Não, eu não desistiria desse mistério, disso eu tinha a absoluta certeza.

 

 

 

 

 


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Notas finais do capítulo

aff quanto mistério!! rsrsrsrsrs
e esse Aidan aí parece comigo, em um dia tá todo feliz, no otro tá cuspinu fogo pelas ventas!! (sim, eu tenhu muitas oscilações de humor e sobra pra todo mundo!!)

agora quanto a tatuagem dele *spoiler on* tem a ver com o que ele é...opaa!! *spoiler off*

e então aticei a curiosidade de vcs?? hahahahaha
próximo capítulo os mistérios continuam a aparecer, é a Agatha vai ter msm muito trabalho!!

obrigada a todos q estão me mandando reviews!! vcs naum tem ideia do bem q estão fazendo a minha auto-estima!! *pulandu de felicidade*
obrigada!!

ateh a próxima!!
Beijosss!!