- Você acha que o que aconteceu essa manhã vai influenciar Aaron ou Brandt? – Perguntei, ainda levando em consideração o assunto passado.

- Kyle desistindo de matar ela?

- É. Eles não precisavam fazer nada antes. Não quando parecia que Kyle faria por eles.

- Eu vejo o que você quer dizer. Eu falarei com eles.

- Você acha que será o suficiente? – Perguntei sério, eu não conseguia confiar apenas nisso.

- Eles me devem, eu salvei a vida dos dois. Se eu pedir a eles, eles ficarão na deles.

- Você apostaria a vida dela nisso? – Levantei ambas a sobrancelhas, arregalando os olhos.

Paramos um pouco, esse silêncio não estava bom. Só faltava Jared ser tão idiota assim, Peg precisava de muita proteção.

- Nós ficaremos de olho nela. - Jared finalmente disse.

Mais uma vez ficamos em silêncio, o que Jared queria tanto me dizer?

Todas as minhas perguntas, ele respondeu tenso. 

- Você não vai comer? - Jared perguntou.

Claro que eu não ia comer agora, primeiro por que eu não podia deixar Peg sozinha, e segundo por que eu não queria deixá-la sozinha.

- Eu acho que vou ficar por aqui um pouco... e você?

Jared não me respondeu, ele deveria estar pensando coisa errada de mim. Claro que estava, ele apenas pensava isso.

Mas Peg era diferente, não apenas pelas atitudes que eu fazia com ela. Claro que eu não ia aprontar nada, nunca aprontei com ninguém, imagine com ela...

Mas essa não era a questão, ela era diferente. Percebia que a mente dela era pura, meio que ela não reagia aos contados físicos. Bem, isso era apenas uma teoria.

- O que? – Perguntei. - Há algo que você queria me dizer Jared?

- A garota ali dentro... - Jared disse devagar.

- Sim. – Respondi antes que ele continuasse.

- Aquele corpo não pertence a ela.

- E...? – Falei com um tom de ironia.

- Mantenha suas mãos longe dele. – Falou duro.

Agora era ele que estava com ciúmes, eu ri. 

- Está com ciúme é? – Dei um risinho.

- Essa não é a questão.

- Realmente. – Eu disse sarcástico.

- Peg parece estar cooperativa com Melanie. Quase como se fossem amigas. Mas obviamente é Peg quem toma as decisões. E se fosse você? Como você se sentiria se você fosse a Melanie: Se você fosse invadido desse jeito? Se você estivesse preso e alguma outra pessoa dissesse ao seu corpo o que fazer? Se você não pudesse falar por si mesmo? Você não gostaria que suas vontades, as que fossem conhecidas, fossem respeitadas? Pelo menos pelos outros humanos?

- Okay, okay. Você tem razão. Eu vou manter isso em mente.

- Como assim “manter isso em mente?”. – Jared me encarou.

- Eu vou pensar sobre isso. – Respondi calmo.

- Não há nada o que pensar. - Jared retrucou. - O corpo e a pessoa presa lá dentro pertencem a mim.

- Você tem certeza que Melanie ainda sente... 

- Melanie sempre será minha. E eu sempre serei dela. – Ele me interrompeu antes que eu completasse a frase.

Ficamos mais uma vez em silêncio.

- Mas e se fosse você? – Perguntei olhando o ponto de vista da Peg. - E se você tivesse sido enfiado no corpo de um humano e tivesse sido solto no meio desse planeta só para se encontrar perdido entre os seus iguais? E se você fosse uma pessoa tão boa que você tivesse tentando salvar a pessoa que a vida você tinha tirado, quase se matando para tentar levar ela de volta para a família dela? E se então você se encontrasse cercado de alienígenas agressivos que te odiavam e machucaram você e tentaram te matar, de novo e de novo? – Minha voz falhou com as lembranças, eu tinha ajudado com uma parcela disso. - E se você continuasse tentando fazer o possível para salvar e ajudar essas pessoas apesar de tudo? Você não mereceria uma vida também? Você não teria merecido isso?

Jared não respondeu, ele apenas se preocupava com Melanie. E eu apenas me preocupava com Peregrina, era ela que eu amava, e eu queria mais do que seu bem.

- Compreendido? – Perguntei.

- Eu... Eu vou ter que pensar sobre isso.

- Faça isso.

- Mas ainda assim... – Ele começou a falar, mas eu interrompi.

- Não se preocupe demais. Peg não é exatamente uma humana apesar do corpo. Ela não parece responder a contato físico como um humano faria.

Jared riu, não gostei nenhum pouco disso, não havia motivos para dar risinhos.

- É essa sua teoria?

- Qual é a graça?

- Ela é capaz de sim de responder a contato físico. – Jared falou, um tanto convencido. - Ela é humana o bastante para isso. Ou o corpo dela é, pelo menos.

Então ele teve sua prova, o que será que ele fez para comprovar isso? Ele teve contato físico com ela então? O que tanto esses dois fizeram juntos?

Meu rosto esquentou de ciúmes, não conseguia pronunciar nenhuma palavra, virei a cara.

- Com ciúme O’Shea? – Ele me perguntou, eu continuei com o rosto virado.

- Na verdade... Estou. Surpreendentemente. – Eu tentava controlar a voz. - Como você saberia disso? – O encarei.

Ele hesitou.

- Foi… meio que um experimento.

- Um experimento? – Falei bravo.

- Não foi bem do jeito que eu esperava. Mel me bateu. – Ele sorria.

- Melanie... te... bateu?

Meu corpo começou a se estremecer com isso, fiquei rígido. Me posicionei com as pernas abertas, uma na frente da outra. Olha a forma que ele falava, como se só Mel estivesse lá. Eu estava bem disposto a voar pra cima dele e o encher de socos.

- Com certeza não foi Peg. Você devia ter visto a cara dela... – Ele ainda zombava da cara dela, eu fechei o punho. - O que? Hey Ian, se acalma cara!

Jared agitava as mãos enquanto eu rangia os dentes e mostrava meu punho cerrado. Indo em direção dele, lentamente.

- Você pensou por um momento o que isso deve ter feito a ela? – Perguntei irado.

- Mel? – Idiota.

- Não idiota, com Peg! – Gritei.

- Feito com Peg? – Jared perguntou, como se fosse inocente.

- Ah! Sai daqui. Vai comer alguma coisa. Fique longe de mim por algumas horas.

Eu não me conformava como ele podia ser tão nojento, ele que era o verme da história, nem pensava nela. Abri a porta com força e a fechei na cara dele, sem fazer barulho e acordar Peg.

Só que Peg não estava dormindo... Ela estava acordada e tinha escutado tudo o que falamos lá fora. Fiquei surpreso, meio sem graça, ela tinha escutado que eu gostava dela, bom... Ela tinha percebido isso.

Acho que fui o único a não perceber, isso era bem estranho, mas verdade. Ela sabia dos meus sentimentos, só me restava confessar.

Virei a cabeça para porta para ver se eu escutava Jared indo embora, senti que ele já tinha ido. Esperei mais um momento, suspirei e sentei no colchão, longe de Peg.

- Eu acho que não fomos tão quietos quando pensei. – Falei, tentando mudar de assunto.

- O som se propaga nessas cavernas. – Murmurou.

Não sei ao certo, mas posso jurar que meu rosto ruborizou de vergonha. Abaixei a cabeça por um momento, depois voltei a encarar seus olhos.

- Então...? – Eu disse envergonhado. - O que você acha?