Eu amava Peg, isso era verdade! Eu não sabia desde quando esse sentimento aflorou dentro de mim, mas sabia que já havia tempo. Não era só proteção que queria lhe dar, era bem mais que isso, era amor!

Um sentimento puro e verdadeiro.

Se não fosse o desgraçado do Kyle perceber... talvez eu demorasse muito tempo para ver. Mas era isso mesmo, preocupação, cuidado, carinho, proteção, ciúmes, amor... eu estava apaixonado! Como Kyle disse em seu vocabulário chulo, eu estava afim dela.

Jared também ajudou minha percepção de sentimentos. Eu deveria ter notado quando senti o ciúmes saindo de mim, vendo os dois juntos. Vendo a atenção que ela dava para ele.

Bom, eu ainda estou com ciúmes dele. Tá certo que ele ama a Melanie e tudo mais... Mas era Peg que estava ali dentro, era ela que eu amava.

Espera, estava mesmo apaixonado por Peg? Ou por Melanie? Essa dúvida passou rapidamente pela minha mente, mas no fundo, eu já sabia a resposta.

Por Peg, claro. Eu conhecia a Peg, não a Melanie, não me importava o corpo, somente a alma. Era um pouco estranho falar isso num mundo onde a aparência era o mais importante... 

O mundo não era o mesmo.

Meu coração palpitava, parecia que não cabia no peito, me deixava nervoso... eu queria ela, apenas ela... cada batida de meu coração parecia uma forma de dizer eu te amo.

Precisava esquecer isso por enquanto. Não que quisesse, ou que fosse possível, mas os caras estavam me chamando para uma partida, e não podia vacilar com eles. Dessa vez eu tinha que vencer Jared, ia dedicar cada gol a Peg.

Nossos jogos eram sempre iguais, se Jared jogava com Kyle, eu perdia. Mas se eu jogava com Jared, era vitória na certa. Para um time vencer, a combinação certa era O’Shea com Jared, fato.

Pra ambos vencerem Jared, a fórmula era outra. O’Shea+O’Shea, humilhação total para o time adversário. Eu e Kyle tínhamos um padrão que ninguém conseguia quebrar, era bem coisa de irmão mesmo, como se ambos previssem a atitude do outro.

Sempre quando pausávamos para beber água, eu olhava diretamente para Peg, era até espontâneo meu olhar. Se fosse antes, pensaria que era apenas proteção.

Jogamos bastante, como aqui não tínhamos noção de hora, eu podia arriscar que foi aproximadamente meio dia. Muitos já estavam exaustos, por mim, eu jogava mais.

- Okay, Okay. - Jeb disse pegando uma tentativa de gol, e escondendo a bola debaixo do braço. - Eu acho que todos nós sabemos os vencedores. Agora, eu odeio ser um estraga prazeres, mas tem trabalho esperando... e para ser honesto eu estou morto.

Ah droga, o dever nos chamava. Justo agora que eu e Kyle estávamos vencendo de lavada! Que droga, Jeb não sabe perder, não é?

Bom, isso tinha um lado bom. Pelo menos agora, eu poderia ficar com Peg, conversar com ela. Ela parecia estar cansada também, eu sabia que esses dias foram ruins.

Passei por Kyle, ele ergueu a mão para que eu batesse na amizade. Ignorei-o, passei direto, sem me importar, só que ele não deixou isso a limpo. Me pegou pelo ombro e me girou, dei um safanão para me livrar de suas mãos.

Kyle tentou me dar um soco no estômago, de brincadeira, mas eu me esquivei com facilidade, ele não conseguia me pegar! Nunca conseguiu, eu ri com as lembranças da nossa infância. Kyle era um bom irmão.

Ele deu um risinho e tentou bagunçar meu cabelo, conseguiu só esfregar o punho na minha cabeça. Eu empurrei a mão pra longe, e sorri com a atitude.

- Bom jogo, maninho. – Kyle me cumprimentou. - Você ainda manda bem.

- Você é um idiota tão grande Kyle. – Respondi.

- Você tem o cérebro, eu tenho a aparência. É justo.

Ele quis dizer que ele era os músculos, isso sim. Ele tentou dar outro soco em mim, mas eu o peguei antes. Prendi ele para trás com uma chave de braço, realmente eu era o cérebro, ele era o burro. Comecei a rir enquanto ele xingava e tentava escapar.

Ele se livrou do meu aperto e saiu resmungando bravo, eu era o irmão mais novo, e ele não gostava de ser vencido nunca. Olhei procurando Peg, ela não saiu nenhum momento de minha cabeça.

Só que mais uma vez eu não gostei do que vi, o ciúmes cresceu dentro de mim. Ela estava com Jared, novamente ele estava se fazendo de bom samaritano e tentando ajudá-la, fui para perto.

- Para onde? – Jared perguntou, eu escutei apenas uma parte da conversa.

- Ah... – Peg pensou um pouco. - Eu não sei ao certo. Eu imagino que ainda tem um colchonete no bu... na área de depósito.

Quer dizer que Jared queria levá-la pra lá novamente? Entrei na conversa sem ser chamado, apoiei meu braço embaixo do dela, para segurar seu peso.

- Eu a levo aonde ela quer ir. – Falei marcando território.

- Nós estávamos discutindo exatamente isso. Ela está cansada, Talvez o hospital...? – Jared sugeriu.

Eu sacudi a cabeça, lá não era um bom lugar, Peg estava cansada de ficar com dores e sofrimento. Ela também negou com a cabeça, não seria fácil lembrar de tudo o que Walt passou.

- Eu tenho um lugar melhor para ela. – Eu disse me referindo ao quarto. - Aquelas macas não são muito mais confortáveis do que rocha e ela está com muitos pontos doloridos.

Jared estava segurando a mão dela, isso me deixou irado de ciúmes. Ele estava querendo comprar briga comigo.

- Por que você não vai almoçar? - Jared me perguntou, tentando se livrar de mim. - Você parece com fome. Eu a levo aonde você havia planejado…?

Eu ri, claro que não ia deixar ele ficar com ela.

- Eu estou bem. E honestamente Jared, Peg precisa mais do que a ajuda de uma mão. Eu não sei se você está confortável o bastante com essa situação para isso. Veja. – Pausei para abaixar e pegá-la no colo. - Ela já teve muita atividade por hoje. Vá você em frente e almoce.

Nós dois nos encaramos por um momento, ele não largava ela. Que saco, estava tão bom senti-la aqui, no meu colo...

- Eu consigo carregá-la. - Jared disse. 

- Consegue? – O desafiei, oferecendo ela.

Jared encarou ela por um longo momento, ele não ia pegar ela, pra ele, ela era uma parasita. Para mim, ela era uma mulher, uma mulher que eu amava!

Enfim Jared soltou sua mão.

- Eu acho que vou só acompanhar vocês. – Jared disse, sorrindo. - Há algo que eu quero discutir com você.

- À vontade.

Jared não falou nada enquanto estávamos no escuro, fiquei meio inseguro, acho que eu já imaginava o que seria. Certamente ele faria a mesma pergunta idiota de Kyle, se eu gostava dela.

Ele só foi falar quando chegamos na praça central, acho que ele queria privacidade dos outros.

- O que você acha de Kyle? – Ele me perguntou.

Dei de ombros.

- Ele se orgulha de ser um homem de palavra, geralmente eu confiaria em uma promessa dele. Nessa situação... eu não vou deixar ela longe das minhas vistas. – Claro que eu não ia me separar dela.

- Bom.

- Vai dar tudo certo Ian. – Peg me disse. - Eu não estou com medo.

- Você não precisa ficar. – Eu a assegurei. - Eu prometo, ninguém vai fazer nada como isso com você novamente. Você vai ficar segura aqui.

Eu poderia protegê-la com a minha vida se precisasse.

- Sim, você ficará segura. - Jared concordou.

- Obrigada. – Peg falou.

Ninguém falou novamente até chegar no meu quarto, eu estava impossibilitado de abrir as portas, então tive que pedir a Jared.

- Você se importaria de abrir? – Perguntei apontando a cabeça para as portas.

Jared não fez nada, eu me virei pra ver o que tinha acontecido. Ele estava com uma expressão cuidadosa.

- Seu quarto? Esse é o melhor lugar? – Jared estava cético.

- É o quarto dela agora.

- Onde Kyle está ficando?

- Com Wes por enquanto.

- E você?

- Não tenho muita certeza.

Nós nos encaramos, o que ele estava pensando? Ele achava que eu ia fazer coisa errada com ela? Que eu ia fazer sacanagem com ela? Puxa vida, ele me conhecia, eu não ia fazer nada impróprio.

- Ian, isso é... – Peg começou a dizer, agora que eu tinha percebido que ela ainda estava no meu colo.

- Oh. – Pensei rápido em uma forma de sumir com ela e continuar falar com Jared sem que ela ouvisse. - Você está exausta, não está? Jared, você poderia abrir a porta, por favor? – Por mim eu não a deixaria sozinha.

Sem dizer nada, Jared socou a minha porta e abriu.

Eu entrei e a coloquei deitada na cama, ajeitei o travesseiro sob sua cabeça, para que ela ficasse bem confortável. Arrumei sua perna para que ela não se machucasse mais, tudo isso com muito carinho e amor.

- Assim está bom? – Perguntei acariciando as palavras.

- Está.

- Você parece cansada.

- Eu não devia estar, eu não fiz nada além de dormir ultimamente.

- O seu corpo precisa dormir para se recuperar.

Ela assentiu, suas pálpebras estavam quase fechadas.

- Eu te trarei comida mais tarde, não se preocupe com nada.

- Obrigada. Ian?

- Oi. – Respondi feliz em escutar meu nome vindo dela.

- Esse quarto é seu. Você vai dormir aqui. – Meu coração quase parou.

-Você não se importa?

- Por que me importaria?

- É provavelmente uma boa idéia, melhor jeito de manter as vistas enquanto você dorme.

- Okay.

Seus olhos fecharam, eu abri um sorriso. Dei um tapinha de amor nas suas mãos e fiquei de pé, agora eu tinha que encarar Jared. Fechei as portas para que ela não acordasse com o barulho de nossa conversa.