Teoria do Caos escrita por Thea


Capítulo 4
Capítulo 4 - Uma carta para alguém




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Capítulo 4 - Uma carta para alguém

1991

As coisas tinham começado a dar errado muito rápido.

— Más notícias, Válter. A Sra Figg fraturou a perna. Não pode ficar com o Harry – avisou deixando o telefone de volta no gancho e encarando o ex-marido.

Uma das regras idiotas do Dursley, que eles tinham estabelecido para convivência por conta de Duda não se tornar insuportável, era que Harry nunca saia com o Válter. Então sempre que tinham que Duda saia com o pai e Petúnia era obrigada a ir junto eles chamavam Remus. E caso Remus não pudesse, chamavam a Sra Figg.

Harry não era muito fã dessa segunda opção. Todas as vezes que eles deixavam Harry com a Sra. Figg, ele acabava vendo fotografias de todos os gatos que já tivera. Ele podia identificar de cor cada gato falecido e vivo da mulher... Sem contar que a casa inteira cheirava a repolho, então ficava meio difícil de gostar do lugar.

Sendo honesta, Petúnia achava uma regra segura para os dois lados. 

Ela mesma evitaria Válter se pudesse, mas a ideia de deixar Duda sozinho com ele no aniversário não era uma opção.

— E o tal do Lupin? Só serve para se meter na vida dos outros? – o homem reclamou.

— Remus tem um compromisso de trabalho – não deu abertura para perguntas, mas teve que aguentar uma risada incrédula do ex.

Sabia bem o que ele pensava de Remus e não daria brecha para que ele falasse mal do amigo.

— Poderíamos ligar para a Guida – o Dursley sugeriu. 

— Não diga bobagem. Sua irmã detesta o Harry – e ele a detesta, pensou, mas não comentou.

— E aquela sua amiga, como é mesmo o nome dela, Ivone?

— Está passando férias em Majorca – respondeu Petúnia, com rispidez. Odiava como ele agia como se soubesse algo da vida dela mesmo estando a anos separados.

Harry, que tomava o café junto com Duda, arriscou:

— Vocês podiam me deixar aqui.

Ele não se incomodava em ficar sozinho, já ficava por algumas horas pela manhã antes de ir para a escola com o primo. Sabia se virar.

Petúnia não era muito favorável a isso.

Ela tinha sido uma criança que passava os dias sozinha com a irmã e sabia a responsabilidade que era e como tinha sido obrigada a crescer mais cedo por isso. Tinha um certo trauma a respeito daquilo se fosse honesta.

— Sem chance, Harry. Sabe que não gosto disso.

— Eu não vou explodir a casa nem nada – ele brincou

Sua tia ignorou a brincadeira.

— Talvez pudéssemos levá-lo ao zoológico – disse lentamente.

— O carro é novo. Não vou deixá-lo sentado no carro sozinho…

— Eu não estava sugerindo deixá-lo no carro, Válter – revirou os olhos indignada, mas não teve tempo para continuar porque a campainha tocou.

Duda quase saltou da mesa correndo até a porta e logo voltou acompanhado por um menino magricela com cara de rato e a mãe dele, igualmente com cara de rato.

Petúnia não gostava de nenhum dos dois. Pedro Polkiss a lembrava das suas falsas amigas do colégio e sabia bem quão mal teria se dado por conta delas se não tivesse Lily na época.

Ainda assim, era o amigo que o filho tinha escolhido para si e ela tinha que deixar os meninos fazerem suas próprias escolhas.

Meia hora depois Harry estava no carro com a tia, o pai de Duda, o primo e o amigo irritante dele. Compartilhava do desgosto da tia em relação ao amigo de Duda, mas ao menos eles não fariam nada na frente da tia Petúnia, ela mesma sabia disso.

A mulher saiu primeiro e levou os outros dois para comprar os ingressos.

Válter o parou.

— Estou-lhe avisando – disse, aproximando a cara grande e vermelha de Harry. – Estou-lhe avisando, moleque, a primeira gracinha que fizer, a primeira, eu te tranco num armário e sua tia só te encontra no Natal. 

— Não vou fazer nada – Harry garantiu porque, querendo ou não, o homem o assustava –, juro... 

Válter não pareceu acreditar nele.

Mas, apesar da ameaça, a manhã foi melhor do que Harry tinha imaginado. Tentou ficar o mais afastado do resto do grupo que pode. Duda sempre implicava com ele quando estava acompanhado de Pedro. Duda não era um idiota total quando estavam sós, mas era um idiota influenciavel e Harry deixava a tia de fora das brigas deles fora. 

E Harry não queria revidar no aniversário dele

A verdade era que Harry muitas vezes nem tentava revidar, mas algo acontecia.

Como da vez que tia Petúnia tinha errado o corte de cabelo dele e tinha deixado ele quase careca. Duda tinha rido dele e Harry passou a noite toda acordado pensando como seria na escola. Na manhã seguinte, porém, quando se levantou, os cabelos estavam exatamente como antes de cortar. Tio Remus tinha comentado algo sobre “genes Potter” quando lhe contou.

Por outro lado, ele se meteu numa grande encrenca quando o encontraram no telhado da cozinha da escola. Os “amigos” de Duda o perseguiram pela escola, mas para surpresa deles – e de Harry – ele apareceu sentado na chaminé. Tia Petúnia recebeu uma carta muito zangada da diretora de Harry, contando que Harry andava escalando os prédios da escola – tanto ele quanto Duda saíram encrencados dessa em casa.

Naquela manhã ele estava decidido a não deixar seu lado “estranho” se descontrolar.

Era assim que a tia Petúnia chamava. “O lado estranho”. Ela dizia que tudo bem porque sua mãe e seu pai também tinham esse lado.

Harry imaginava que poderia se ofender, mas sabia que ela falava de uma forma carinhosa, do jeito dela.

Ela e Remus já tinham explicado para ele, por alto, o que tinha acontecido com os pais dele – tinham morrido na guerra bruxa –, mas nenhum dos dois gostava de falar sobre aquilo. 

Também tinham contado o que ele era – um bruxo – e Harry mal podia esperar para ir para a escola que seus pais tinham estudado. Não teria que lidar com os amigos de Duda lá.

Os cinco almoçaram no restaurante do zoológico depois de ver metade dos animais, compraram sorvetes – tia Petúnia pagou pelo sorvete dele, já que Válter não tinha demonstrado a menor pretensão de fazer isso – e seguiram para a última parte do zoológico que faltava ver: o alojamento dos répteis.

E foi aí que as coisas desandaram de vez.

O lugar era fresco e escuro, iluminado apenas pelos quadrados ao longo das paredes. E Duda e Pedro não demoraram a encontrar a maior cobra que havia ali… e embora o tamanho fosse impressionante, ela não parecia nada perigosa dormindo como estava. 

— Faz ela se mexer – choramingou para o pai. 

Válter bateu no vidro, mas a cobra não se mexeu. 

— Faz outra vez – mandou Duda. Válter obedeceu, mas a cobra continuou dormindo. 

— Que chato – o menino reclamou e saiu arrastando os pés.

Tia Petúnia revirou os olhos para Harry que acabou sorrindo e acompanhou os outros três para evitar os estragos.

Harry, por outro lado, se encostou em frente ao tanque observando a cobra. Pensou que não era surpresa que ela estivesse entediada, quem não ficaria naquele lugar sozinha e com gente como Válter e Duda perturbando o dia todo.

A cobra inesperadamente abriu os olhos, que pareciam contas. Devagarinho, muito devagarinho, levantou a cabeça até seus olhos chegarem ao nível dos de Harry. 

E piscou. 

Harry arregalou os olhos.

Ele já tinha feito muita coisa estranha, mas encantar cobras e, pior, conversar com elas? Bem… isso era uma surpresa.

— Isso é o que me acontece o tempo todo – ele conseguiu ouvir a cobra perfeitamente.

— Deve ser bem chato – ele murmurou sem saber se a cobra o ouvia. Ela concordou com um aceno de cabeça – de onde é que você veio?

A cobra apontou com o rabo uma placa próxima ao vidro. 

Boa Constrictor, Brasil. 

— Era bom lá? – perguntou e a cobra apontou novamente a placa com o rabo 

Este espécime nasceu em cativeiro. 

— Ah, entendo, então você nunca esteve no Brasil? – A cobra sacudiu a cabeça, mas um grito atrás de Harry fez os dois pularem.

— Duda! Sr Dursley! Venham ver o que Harry está fazendo!

Petúnia tinha gelado. Aquilo nunca era uma boa prévia.

— Cai fora – Duda falou dando um soco nas costelas de Harry, que caiu com força no chão.

— Duda! – ela repreendeu, mas já era tarde.

Num segundo, Duda e Pedro estavam encostados contra o vidro e no momento seguinte o vidro tinha sumido. Eles tinham caído dentro do tanque e, pior, a cobra tinha saído.

Quando a cobra passou rápido por ele, Harry poderia jurar que ela tinha dito: 

“Brasil, aqui vou eu... Obrigada, amigo.”

☙✿❀✿❧

Culpado ou não, Harry passou uma semana de castigo por causa da cobra. Ao menos sua tia Petúnia tinha entendido que não tinha sido intencional. Duda, por outro lado, não tinha sido tão compreensivo, declarando uma guerra silenciosa à Harry que tinha com direito a seus amigos brutamontes como soldados aliados. Por esta razão Harry passava a maior parte do tempo possível fora de casa, perambulando pela vizinhança ou na casa de Remus, pensando no fim das férias, no qual conseguia vislumbrar um raiozinho de esperança.

Hogwarts.

Muitas vezes ele duvidava que aquilo não fosse uma peça que Remus tinha decidido pregar nele com a ajuda de sua tia. Mas tia Petúnia não tinha tão propensão a comédia assim.

E ainda assim havia a questão da carta. Se não houvesse carta, quando setembro chegasse ele iria para a escola secundária. Ao menos teria a sorte de não lidar com Duda. Seu primo tinha uma vaga na antiga escola do pai, Smeltings.

Tanto Harry quanto Petúnia se preocupavam que isso fosse arruinar qualquer mínimo avanço que o menino tivesse feito no quesito educação. E se ele voltasse com os surtos de raiva infantil e as exigências de um presente a mais em cada aniversário? Harry duvidava que sua tia fosse suportar outro Válter. Quase sentiu pena, mas vendo o uniforme horrível da escola numa manhã de julho supôs que Duda já estava sendo castigado pelos deuses do bom gosto.

Válter apareceu naquele dia e Harry escapou para a casa do Lupin.

Duas ruas abaixo da Rua dos Alfeneiros.

O número 4 da Rua das Mariposas, diferente da casa oficial do menino Potter, não tinha tanta pompa. Era uma casa pequena de dois quartos que não mostrava muito pela fachada desgastada com marfim.

Mas dentro? Dentro era o lugar mais perto de um lar que Harry já teve.

Não podia ser injusto com sua tia Petúnia. Ela tinha lhe dado um teto, educação, afeto e proteção quando ele foi deixado em sua porta. Deus, ela tinha terminado o casamento por ele – embora isso, ele supunha, ela era mais grata a ele que ele jamais seria a ela.

Mas Remus Lupin era o mais perto que Harry teve a vida inteira de uma figura paterna.

O homem tinha contado sobre seus pais, tinha lhe ensinado sobre magia, tinha falado sobre Hogwarts e, principalmente, Remus nunca o olhou estranho quando Harry fazia algo involuntário. Tio Remus era seu porto seguro e toda criança precisa de um porto seguro.

— Acho que precisamos ir ao mercado logo, estou ficando sem chocolate – Remus comentou saindo da cozinha com uma fatia generosa de bolo de chocolate para Harry – uma casa com criança e sem chocolate é um crime.

— Até parece que não é você que come a maior parte, tio Moony – o garoto brincou recebendo uma revirada de olhos afetuosa em resposta.

— A culpa é da sua mãe que me viciou – se defendeu sentando ao lado do menino – o programa que você queria ver já começou?

Harry negou.

— Não é um programa, tio, é um filme – uma das bênçãos de se ter Remus por perto, além de todas, era que ele tinha uma pequena televisão que Harry podia usar sempre que queria. 

Os filmes costumavam passar uma vez a cada ano depois que saiam do cinema e ele sempre tinha que brigar com Duda pelo controle da televisão para assistir o que queria. Às vezes, quando tia Petúnia intervia e Duda era obrigado a ceder, planejava alguma forma de estragar o filme para Harry. Não era fácil lidar com o primo, era verdade. E não era como se desse para pausar ou voltar o filme então Harry muitas vezes perdia tudo. 

Então ele preferia correr para casa de Remus sempre que queria assistir algo e todos saiam felizes. Principalmente Remus e Harry que adoravam a companhia um do outro.

Sentiria falta daquilo se fosse mesmo para Hogwarts, o menino pensou.

— Remus – encarou o tio – se eu receber a carta para Hogwarts…

— Você vai – o homem Remus garantiu em meio a fala dele.

— Ainda assim, tem certeza que quer que eu vá? – Harry questionou – quem vai cuidar de você quando estiver doente?

Remus deu um olhar afetuoso para ele apesar de meio divertido.

— Achei que eu era o adulto aqui – brincou – eu sei me cuidar, Harry, e se eu ficar muito doente chamo a sua tia Petúnia, tudo bem?

Os dois sabiam que ele não chamaria ninguém e o olhar do menino deixava isso bem claro.

— Você é igualzinho ao seu pai – Remus resmungou –, mas você vai para Hogwarts, Harry.

— Se chegar alguma carta – o menino murmurou desviando o olhar de volta para a TV.

Ouviram uma pequena batida, como uma bicada, vindo da janela. Já era um som característico e conhecido naquela casa. Já tinha visto, mais de uma vez, Remus receber cartas e correspondência por corujas, bem como o jornal do mundo bruxo que chegava toda manhã. 

— Eu pego! – Harry se prontificou. Adorava ver as corujas.

Abriu a janela e a coruja pousou sobre a mesinha, largando uma única carta em sua mão. O coração de Harry disparou. O envelope era grosso e pesado, feito de pergaminho amarelado e endereçado com tinta verde-esmeralda. O lacre de cera púrpura com um brasão: um leão, uma águia, um texugo e uma cobra circulando uma grande letra “H”.

Ele virou o envelope encarando.

Sr. H. Potter 

O segundo quarto do 2º andar,

Rua dos Alfeneiros 4 

Little Whinging 

Surrey 

Ele abriu a carta meio tremendo de empolgação, o olhar recaindo sobre Remus que levantou lhe dando um sorriso enorme e encorajador.

ESCOLA DE MAGIA E BRUXARIA DE HOGWARTS 

Diretor: Alvo Dumbledore 

(Ordem de Merlim, Primeira Classe, Grande Feiticeiro, Bruxo Chefe, Cacique Supremo, Confederação Internacional de Bruxos) 

Prezado Sr. Potter, 

Temos o prazer de informar que V. Sa. tem uma vaga na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts. Estamos anexando uma lista dos livros e equipamentos necessários. 

O ano letivo começa em 1º de setembro. Aguardamos sua coruja até 31 de julho, no mais tardar. 

Atenciosamente, 

Minerva McGonagall 

Diretora Substituta

— Eu te disse – Remus falou em voz alta e em troca recebeu um abraço apertado do sobrinho, o que o fez gargalhar – parabéns Harry.


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