Teoria do Caos escrita por Thea


Capítulo 3
Capítulo 3 - O bater das asas de uma borboleta




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Capítulo 3 - O bater das asas de uma borboleta

1971

Às vezes tudo que basta para mudar tudo é uma única pessoa entrar em nossas vidas. 

Ou ao menos era isso que a mãe de Remus Lupin costumava dizer.

Ele nunca tinha tido um exemplo positivo daquilo em toda sua vida, mas acreditava na mulher de olhos cansados que o colocava para dormir todas as noites. Hope Lupin era uma mulher incrivelmente inteligente, apesar da falta de sorte da sua vida.

Como nascida trouxa já tinha sido jogada naquele mundo estranho sem aviso – embora ela dissesse que nunca teria escolhido outra vida, o menino de cabelos castanhos claro e cheio de cicatrizes duvidava se era ao todo verdade. Ela tinha se casado ainda cedo, logo que saiu de Hogwarts, com o namorado da escola e tinha sido feliz ao lado de John Lupin por exatos dois anos antes de se descobrir grávida.

Remus nasceu numa noite de lua cheia – o que ele considerava um presságio e tanto. Hope sempre dizia que aquela tinha sido a noite mais feliz da vida dela. E a felicidade durou por mais seis anos, até o pai do garoto irritar quem não devia.

Poderiam se passar mil anos, o menino ainda teria pesadelos com aquela noite.

Lembrava bem da sensação de medo crescente em seu peito. Dos olhos animalescos. Do bafo quente e grotesco contra sua pele. Dos dentes contra seu braço e da dor que o tomou. Se lembrava de gritar e chorar pela mãe. Mas pior que isso, se lembrava de ouvir o grito de desespero dela quando apareceu.

Do choro que a tomou enquanto se agarrava a ele e de como seu pai tinha xingado o mundo inteiro gritando de raiva e dor. Lembrava de uma discussão entre os pais e de como ela tinha acabado com ele sendo levado ao hospital bruxo. Remus tinha ardido de febre até os remédios fazerem efeito e ele apagar, não sem antes ouvir o médico dizer “não há o que fazer, sinto muito”. Tinha acordado várias vezes e sido embalado pelo carinho da mãe e os murmúrios de “meu menininho”.

John tinha aguentado firme, por dois anos após a primeira transformação de Remus – tinham amarrado ele no celeiro e selado o lugar com magia. Ainda mantinham aquela solução.

Quando Remus completou oito anos, o pai os deixou.

Saiu para beber em um dos inúmeros bares que frequentava toda noite e nunca mais voltou.

Nunca receberam nenhum aviso do Ministério, da policia trouxa ou de algum necrotério, então tanto a esposa como o filho imaginavam que ele continuava livre e vivo.

Desde então eram só eles dois.

— Remus, querido, pode me ajudar aqui?! – mesmo o grito de ordem dela tinha um tom afetuoso de mãe, pensou.

— Estou indo! – o menino respondeu largado o livro sobre criaturas mágicas em cima da mesa e seguindo para o quintal, de onde vinha o som.

As coisas tinham ficado apertadas financeiramente depois que o pai os deixou, mas Hope nunca tinha deixado de cuidar da casa ou de focar na educação do filho. Nenhum dos dois tinha pretensões que o menino fosse para Hogwarts, mas nada disso impedia que ela ensinasse o máximo que sabia para o filho. E, novamente,  Hope era muito inteligente.

Eles tinham aulas de matérias trouxas pelas terças e quintas, aulas de matérias bruxas às segundas e sextas, e do que Remus tivesse interesse durante as quartas e sábados.

Aquela era quarta e Remus tinha escolhido criaturas mágicas. Uma parte dele ainda tinha esperança que, se lesse bastante, poderia achar alguma cura milagrosa que ninguém tinha notado em um dos livros.

— Querido, pode ir ao mercado para mim? – a mulher pediu, estendendo algumas – O sabão acabou e eu to precisando terminar essas roupas antes de ir para a casa da Sra Smith.

Hope era uma daquelas pessoas que acreditavam que não havia necessidade de usar magia para tudo. Ela tinha duas mãos, podia muito bem lavar as roupas sem uma varinha. E trabalhando como lavadeira em casas trouxas não podia mesmo usar magia. Além do mais ela nem mesmo tinha certeza se o filho teria a autorização de ter uma varinha, então precisava mostrar o máximo de exemplo que podia.

— Tudo bem – o menino concordou enfiando as mãos no bolso – onde está o dinheiro?

— Dentro do armário. Obrigada, querido, você é meu anjo.

Remus pensou que a última coisa que podia definir ele era a palavra anjo, mas não disse nada, só pegou o dinheiro avisando que estava de saída e fez o que foi pedido.

Morar em um bairro trouxa tinha suas vantagens.

Obviamente as criança estranhavam o menino cheio de cicatrizes que não ia a escola deles e mal saia de casa – ele já tinha ouvido as histórias que inventaram, mas ele e a mãe tinham decidido que seria melhor estudar em casa, no ritmo dele, que tentar acompanhar o ritmo dos trouxas e perder dias e dias na lua cheia. Trouxas eram ignorantes à magia, mas não eram burros, ele sabia. E não podiam correr o risco de colocar alguém em perigo por fazer amizade com Remus – mesmo que pensar isso esmagasse o coração de Hope.

Ao menos as pessoas ali não olhavam com medo para Remus a cada passo que ele dava. As senhorinhas da rua da mercearia até mesmo eram simpáticas com ele e o chamavam de “menino doce" de vez em quando.

Mas aquela manhã não foi uma delas que ele encontrou.

Descia a rua da mercearia quando uma garota de cabelos ruivos se jogou em seu caminho, saltando em frente a ele. Remus deu um pulinho pra trás no susto.

— Oi, você é o menino da casa fantasma, não é? – ela perguntou de uma vez, curiosa.

— Casa fantasma? – ele repetiu confuso.

Ela acenou concordando.

— Os meninos da rua me disseram para ficar longe de você porque você é maluco e que ficou assim porque vive numa casa cheia de fantasmas que gritam de noite inteira – a menina explicou o avaliando de cima a baixo com o olhar – você é mesmo maluco?

Remus pensou em comentar que com aquela blusa amarela listrada e os cabelos laranja bagunçados como um furacão, era ela quem parecia maluca.

— Sou – disse, por fim, voltando a andar.

Ela o acompanhou.

— Não parece.

Remus não respondeu então ela continuou:

— É por isso que não vai à escola do bairro? Porque acham que você é maluco?

Novamente sem resposta.

— Eu também não vou para a escola deles – os olhos de Remus passaram por ela rapidamente antes de voltar a encarar seu destino, no final da rua. Ela não se importou em continuar tagarelando – quer dizer, eu já fui para a escola, antes de me mudar para cá, mas em setembro eu vou para um internato. Foi onde meus pais estudaram. Eu to bem empolgada, sabe? Eles são divididos por casas, grupos, tipo times. Eu quero muito ir pra mesmo time que meu avô foi, mas acho que vou acabar indo pro mesmo que minha tia e ela é um saco, vai dizer que é porque eu pareço com ela…

Remus estava mesmo tentando acompanhar, mas no tempo que levou para chegar até a mercearia, comprar o sabão e voltar até onde tinha a encontrado, a menina simplesmente não tinha parado de falar.

Merlin, como ela conseguia falar tão rápido?

— Ah! É minha casa – ela apontou para a casa amarela subindo uma pequena escadaria. Uma menininha mais nova, de cabelos negros os observava desconfiados – aquela é minha prima, acho que é melhor eu ir ficar com ela ou ela vai dedurar para minha mãe que eu sai. Você não me disse seu nome.

— Remus – ele respondeu baixo ainda confuso com o caos que era aquela garota.

— É um prazer, Remus, eu sou a Sarah – ela abriu um grande sorriso – a gente se vê depois.

E como tinha aparecido ela se foi.

Subindo a escadaria como um furacão.

Remus olhou por um momento e, dando uma risada fraca, tomou o caminho para casa.

☙✿❀✿❧

Ele ainda pensava na menina estranha quando entrou em casa procurando pela mãe, mas ao contrário do esperado ela não estava no quintal terminando as roupas e sim sentada na mesa da cozinha servindo chá a um desconhecido.

O homem possuía cabelos e barba num tom prateado, longo o suficiente para prender no cinto, e usava vestes longas, uma capa púrpura que arrastava pelo chão e botas com saltos altos e fivelas. Quando os olhos dele se fixaram em Remus, o garoto notou que eles azuis claros, num tom luminoso e cintilante por trás dos óculos em meia-lua.

— Remus, querido! – a mão da mãe tremia um pouco, mas ela não parecia assustada, parecia nervosa – esse é o Diretor Dumbledore, de Hogwarts.

A boca do garoto abriu e  o olhar dele recaiu sobre o homem novamente.

— Oi – foi tudo que conseguiu dizer, num murmúrio.

Dumbledore sorriu pacificamente para ele.

— Olá, Remus. É um prazer conhecê-lo. Tenho uma proposta para você.


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