Teoria do Caos escrita por Thea


Capítulo 2
Capítulo 2 - O menino que sobreviveu


Notas iniciais do capítulo

Essa história intercala os anos, se atentem ao ano antes do capítulo.



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Capítulo 2 - O menino que sobreviveu

1991

Uma coisa que Petúnia Evans não se importava era em aparentar ser normal. Não que ela fosse uma daquelas mulheres excêntricas que as pessoas costumam dizer que “vão ficar para titia” e existem em todos os cantos do mundo, embora sua mãe tenha sido uma e ela se orgulhava muito da mãe. 

A realidade era que ela simplesmente não se importava com nada disso faziam 10 anos.

Ela tinha sido casada muito tempo atrás com um homem horroroso, dono de um bigode mustache ridículo e de um cargo na firma chamada Grunnings – a empresa de perfurações – que rendia muito para o pouco que ele trabalhava. O casamento tinha rendido um filho – o que, infelizmente, ligava os dois eternamente – e a bela casa de número 4 na rua dos Alfeneiros, onde a mulher ainda morava.

Tinha sido um divorcio difícil e o único motivo dela ainda ter a casa e o filho era que 1) Válter Dursley tinha a necessidade de se mostrar um grandioso homem, mesmo não passando de um porco e 2) não tinha a menor capacidade de cuidar de uma criança.

Quando ainda eram casados seu maior receio do homem era que alguém descobrisse a existência dos Potter, a família de Lily. Ele tinha feito Petúnia se afastar quando descobriu estar grávida e ela nunca se perdoaria por ter aceitado aquilo.

A loira ainda se lembrava bem do dia em que tudo mudou na sua vida de ponta cabeça.

☙✿❀✿❧

Quando eles acordaram na terça-feira monótona e cinzenta, não havia nada no céu nublado lá fora sugerindo que algo estava errado. Petúnia se lembrava bem de estar de bom humor e de ter fofocado algo alegremente enquanto lutava para encaixar Duda na cadeirinha alta.

Lembrava do dia ter sido comum e de ter tentado lidar com uma dúzia de acessos de raiva do filho durante o dia – Deus abençoe o bem que a ausência de Válter fez para Duda, mal dava para considerar que era o mesmo bebê violento que tinha sido.

E lembrava muito bem do jornal passando na TV naquela noite porque tinha atraído sua atenção. Fez com que ela pensasse em Lily e decidisse escrever uma carta para a irmã no dia seguinte perguntando se algo estava acontecendo no mundo dela.

Tinha ouvido o noticiário da cozinha enquanto fazia o chá.

— E, por último, os observadores de pássaros em toda parte registraram que as corujas do país se comportaram de forma muito estranha hoje. Embora elas normalmente cacem à noite e raramente apareçam à luz do dia, centenas desses pássaros foram vistos hoje voando em todas as direções desde o alvorecer. Os especialistas não sabem explicar por que as corujas de repente mudaram o seu padrão de sono – o locutor tinha uma certa felicidade na voz, tinha pensado – Muito misterioso. E agora, com Jorge Mendes, o nosso boletim meteorológico. Vai haver mais tempestades de corujas hoje à noite, Jorge?

— Bom, Eduardo – tinha dito o meteorologista – não sei lhe dizer, mas não foram só as corujas que se comportaram de modo estranho hoje. Ouvintes de todo o país têm telefonado para reclamar que em vez do aguaceiro que prometi para ontem, eles têm tido chuvas de estrelas! Talvez alguém ande festejando a noite das fogueiras uma semana mais cedo este ano! Mas posso prometer para hoje uma noite chuvosa.

Ela tinha paralisado por um momento. Estrelas cadentes em todo o país? Corujas voando durante o dia? Aquilo parecia tanto com coisas de bruxos que parecia impossível que não fosse.

Então quando entrou na sala trazendo duas xícaras de chá, Válter pigarreou nervoso. 

— Hum, hum, Petúnia, querida, você não tem tido notícias de sua irmã, ultimamente? 

Petúnia não conseguiu disfarçar o choque, mas camuflou o nervosismo com aborrecimento fingido. Eles normalmente não falavam de Lily e naquele momento ela não queria mesmo falar porque acabaria comentando seus receios.

— Não – respondeu seca. – Por quê?

— Uma notícia engraçada – Válter murmurou e ela gelou. Se até ele conseguia pensar nisso devia mesmo ser algo do mundo bruxo – Corujas... estrelas cadentes... e vi uma porção de gente de aparência estranha na cidade hoje... 

— E daí? – cortou embora a ideia de bruxos sem tomar cuidado fosse mais um indicador de que estava certa.

— Bem, pensei... talvez... tivesse alguma ligação com... sabe... o pessoal dela. 

Petúnia bebericou o chá com os lábios contraídos. Preocupada. 

Quando tinha sido a última vez que recebeu uma carta da irmã? No aniversário do sobrinho?

— O filho deles... teria mais ou menos a idade do Duda agora, não? – Válter perguntou sondando. Ele não sabia que ela e Lily mantinham contato por cartas. Natais e aniversários, pelo menos.

— Suponho que sim – respondeu, ainda seca. 

— Como é mesmo o nome dele? Ernesto, não é? 

— Harry. Um nome feio e vulgar, se quer saber minha opinião – não era, ela sabia o motivo da irmã ter escolhido o nome e achava lindo. Mas Válter não merecia aqueles segredos entre irmãs.

 — Ah, é – o homem disse parecendo inquieto – É, concordo com você. 

Não tinham continuado a conversa depois disso e Petúnia tinha se forçado a dormir pouco depois de deitar. Uma sensação ruim tomando seu peito. Sensação que só seria explicada depois que acordasse, antes mesmo que o sol nascesse, insônia a corroendo.

Tinha descido para adiantar o café da manhã antes que o filho acordasse e decidiu colocar as garrafas de leite para fora.

E encontrou Harry dormindo em um embrulho de cobertores na frente da sua porta.

Um grito involuntário tinha escapado de seus lábios, acordando o bebê.

Ela reconheceria a criança em qualquer lugar, ele era uma versão em miniatura do pai e estava na sua porta. Tinha que ser uma brincadeira de mal gosto.

Tremendo, abaixou e pegou a criança no colo, notando uma carta lacrada com selo que tinha visto durante sete anos. Selo de Hogwarts.

Aquilo não fazia o mínimo sentido.

Ouviu o choro de Duda vindo do andar de cima e a voz irritada de Válter por ser acordado daquela forma enquanto entrava tentando acalmar Harry.

Não demorou muito para o marido descer com um Duda impaciente no colo.

— O que diabos está acontecendo, Petúnia? Que grito foi esse? O que… isso é um bebê? Porque está…

— Válter, cale a boca! – ela tinha perdido a paciência muito rápido por conta do nervosismo – faça Duda para de chorar, tem uma mamadeira na cozinha. Me… me deixe ver isso…

Encarou a carta, segurando Harry com uma das mãos trêmulas.

O verso tinha apenas o destinatário: “À Sra Dursley”.

Tinha passado anos querendo receber uma daquelas cartas e quando recebia…

Abriu o envelope.

Prezada Sra. Dursley,

Odeio ser o portador de más notícias, mas creio que ao abrir esta carta já deve antecipá-las. Como talvez saiba nosso mundo, o mundo bruxo, se encontrava em uma guerra há quase uma década. Um bruxo tinha poder sobre grande parte do nosso mundo e um grande grupo de pessoas lutou contra este poder de todas as formas possíveis. Sua irmã era uma dessas pessoas.

Na noite de 31 de outubro deste ano, esse homem foi embora. Derrotado de uma forma que nunca entenderemos A criança na sua porta, seu sobrinho, é o responsável por isso. Na noite do dia 31, o bruxo Voldemort invadiu a casa dos Potter. De alguma forma o feitiço lançado ricocheteou e Voldemort acabou desaparecendo. Como deve ter notado, tem uma cicatriz na testa do menino, é a única marca com a qual ele ficou.

Infelizmente, Lily e James Potter não tiveram a mesma sorte.

Sinto informar que o casal foi assassinado tentando proteger o filho.

Não posso supor o tipo de relacionamento que tinha com sua irmã, mas foi um pedido dela que, caso o padrinho não pudesse cuidar de Harry, ele fosse entregue a senhora. É a única família que ele tem no momento.

Peço que cuide dele.

Meus mais sinceros sentimentos.

Atenciosamente,

Alvo Dumbledore

Se não tivesse sentada ela teria caido.

A dor que atingiu seu peito foi tão profunda que ela podia sentir como se um pedaço dela tivesse sido arrancado naquele momento.

Sua irmã… sua irmãzinha…

E eles largavam a criança em sua porta como se fosse um jornal velho.

Ela pouco se importava quem Dumbledore era, ele tinha muita sorte de não estar na sua frente ou magia nenhuma o protegeria.

Queria culpá-lo pela morte da irmã, afinal ele tinha aberto esse mundo para Lily, mas a verdade era que Lily amava aquele mundo, nunca teria o deixado mesmo se não houvesse Dumbledore, James ou Harry…

Petúnia não lembrava da última vez que tinha chorado, mas com certeza não se comparava aquela. Se agarrou a Harry soluçando tanto que os meninos começaram a chorar de novo e Válter fez a única coisa decente a se fazer no momento e a abraçou.

A decência não durou mais que as horas que ele demorou para assimilar a informação da carta e Petúnia se acalmasse. Ela tinha colocado os dois meninos para dormir com uma mamadeira cada e se sentia sugada de energias, exausta.

— Vou ligar para Guida. Ela tem alguns contatos no conselho tutelar, tenho certeza que vamos conseguir colocar ele num orfanato sem chamar muita atenção.

Petúnia ficou boquiaberta.

— O que?

— Não precisa se preocupar, amanhã mal vai passar de um momento ruim, como uma mosca na sopa – Válter garantiu indo até o telefone.

— Uma mosca? – ela enfiou o rosto nas mãos soltando uma risada incrédula – não é uma mosca na sopa, Válter. Minha irmã morreu! Você consegue entender isso?

Ele hesitou como se tivesse usado uma escolha ruim e não falando a maior idiotice já dita pelo homem.

— O que eu quis dizer foi…

— Eu entendi o que você quis dizer e a resposta é não. Nós não vamos mandar o Harry para um orfanato.

— Certamente não vamos ficar com ele – Válter falou como se estivesse falando de um cachorro de rua que tivesse entrado no quintal – Ele é um deles!

— Ele é meu sobrinho!

O silêncio pairou na sala e pela primeira vez ele a olhou como se não a reconhecesse.

Decidiu culpar a insanidade momentânea do luto.

Uma semana depois, quando Remus Lupin apareceu na porta deles para falar com Petúnia – o que levou a mais lágrimas e as garantias que ela cuidaria de Harry e que Remus podia vê o menino sempre que quisesse –, Válter desistiu de culpar o luto e decidiu que bastava. 

Foi ali que as brigas começaram. 

Foi ali que Petúnia levou o primeiro tapa.

Outros vieram durante o ano que se seguiu antes que ela tivesse coragem de terminar tudo.

Deus era testemunha, a coragem não foi por ela. Foi pelo filho e pelo sobrinho. 

E a coragem não veio sem ajuda.

Válter não tinha aceitado bem e não fosse por Remus, a loira não sabia o que o ex-marido teria feito com ela.

☙✿❀✿❧

Quase nove anos depois do divorcio, Petúnia estava bem. 

Tinha voltado a usar o sobrenome de solteira e conseguido um emprego no mesmo jornal que a mãe dela tinha trabalhado durante sua infância e adolescência.

A rua dos Alfeneiros não tinha mudado praticamente nada e, esteticamente, o nº 4 também não. Tudo que mostrava as mudanças eram as fotografias sobre a lareira. 

Dez anos antes havia uma porção de fotografias de bebê, agora as fotografias mostravam um menino grande e loiro e um menino magricela de cabelos negros rebeldes e óculos redondos. Em um carrossel de uma feira, brincando com o computador que Duda tinha ganhado do pai, acompanhados de Petúnia no natal. A mulher até mesmo tinha mantido algumas fotos dela e de Lily na infância só para que Harry pudesse ter alguma lembrança da mãe visível.

Tinha se esforçado para suprir todo o amor que o menino podia sentir falta. 

Duda tinha estranhado um pouco no início e relutado um pouco. Tinha sido difícil evitar as brigas dos meninos pelos primeiros três anos de convivência, mas então a presença de Válter foi sumindo da casa e a agressividade de Duda diminuindo.

Seria mentira dizer que os dois se tratavam como irmãos, mas Petúnia não tinha mais problemas entre os primos. Com exceção de quando Válter estava por perto. E, gostando ou não, aquele era um dos dias.

Era aniversário de Duda.

 


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Notas finais do capítulo

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