Teoria do Caos escrita por Thea


Capítulo 1
Capítulo 1 - Truques de mágica


Notas iniciais do capítulo

A história vai intercalar os anos então se atentem ao ano presente antes do capítulo.



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“O bater das asas de uma borboleta num extremo do globo terrestre, pode provocar uma tormenta no outro extremo no espaço de tempo de semanas”.
— Edward Lorenz

Capítulo 1 - Truques de mágica

1971

É um fato erroneamente propagado a crença de que crianças não percebem o que está acontecendo. Na verdade, é muito mais comum que uma criança perceba o que está acontecendo antes mesmo dos adultos.

Lily Evans certamente percebia.

Percebeu o divorcio de seus pais chegando muito antes que seus pais percebessem que o casamento não tinha mais salvação, então quando sua mãe sentou no sofá para contar para ela e Petúnia que o pai delas não voltaria para casa depois daquela viagem de negócios, Lily não se surpreendeu.

Isso fazia cerca de três anos e às vezes ela ainda se perguntava se a culpa tinha sido dela. Se o pai tinha finalmente se cansado dos seus “truques de mágica” involuntários. Ela tentava mesmo não ser tão estranha, era verdade.

Não tinha sido de propósito que fez os produtos que o pai vendia sumirem por horas para ele perder o trem, muito menos tinha sido proposital transformar o bolo de carne horrível que sua mãe insistia em cozinhar num bolo de chocolate gigantesco – e Petúnia tinha ficado bem grata. Ela ainda se lembrava de quando tinha ficado estressada e feito as coisas flutuarem na sala de estar pela primeira vez… seus pais tinham cogitado chamar um exorcista quando acharam que ela e Petúnia tinham dormido. Sua irmã tinha até abraçado ela enquanto Lily chorava pelo pai ter dito que não podiam ter uma “garota possuída” em casa.

Agora, aos 11 anos de Lily, as coisas eram mais difíceis entre as irmãs.

Petúnia tinha 13 anos e se preocupava demais com as aparências para não repreender Lily quando ela, inconscientemente, fazia algo bizarro em casa. A mãe delas, Amélia, passava a maior parte do tempo no emprego de jornalista que ajudava a pagar as contas então as meninas só a viam pela manhã e pela noite. O pai delas, Harold, era muito empenhado no seu trabalho de vendedor da fábrica localizada perto de onde moravam; sempre viajando pela Grã-Bretanha, o que fazia com que as meninas só o vissem nas datas comemorativas – momento em que Harold e Amélia erguiam uma bandeira branca de trégua e passavam o notável tempo de 6 horas no mesmo lugar sem se alfinetar.

Não era bem visto, mesmo no bairro em que viviam, que a mãe delas fosse uma mulher divorciada sem nenhuma pretensão de se casar. Lily particularmente não estava nem aí.

Ela e Petúnia davam conta de se virar sozinhas.

As tarefas eram divididas e, como não tinham adultos para vigiá-las além da velhinha da casa ao lado – que passava tempo demais preocupada com seus gatos para se importar em realmente vigiá-las –, as meninas tinham certas liberdades que deviam compensar o fato de terem crescido um pouco cedo demais.

Também não eram solitárias, apesar da ausência dos pais. Petúnia tinha meia dúzia de amigas insuportáveis e falsas dela, e Lily tinha Severo Snape.

— Lily, seu amigo estranho está aqui! – Petúnia gritou e a ruiva pode ouvir a porta se fechar em seguida.

— Cozinha, Sev! – gritou de volta e os passos no corredor logo deram visão a um garoto magricela de cabelos negros meio oliosos – to fazendo bolo de chocolate, to testando a receita pro aniversário da minha mãe.

— Lily…

— Eu sei que ainda falta uma semana, mas se eu não testar não vou saber qual o melhor sabor e…

— Lily, posso…

— E também, sendo honesta, eu estava entediada porque as férias são um saco…

— Lily! – o tom a fez parar confusa e virar para ele, encontrando o amigo com um sorriso enorme no rosto segurando uma carta lacrada – chegou.

A ruiva arregalou os olhos, largando a vasilha cheia de massa em cima da mesa e dando um gritinho empolgado também.

— É sério?! – perguntou praticamente arrancando o papel das mãos dele.

Gravado numa letra bem escrita e floreada, o verso continha.

Sr. S. Snape 

O segundo quarto,

Rua da Fiação, 11

Cokeworth

Lily virou o envelope olhando o lacre de cera com um brasão. Severo já tinha lhe mostrado aquele brasão antes, gravado numa carta perdida que a mãe dele guardava escondida do pai.

Os dois tinham passado inúmeras tardes pensando em como seria a vida deles se uma carta daquelas chegasse para os dois.

Todo e qualquer conhecimento do que ela – talvez – fosse vinha de Severo Snape.

Quando eles se conheceram ela estava chateada com Petúnia e acabou fazendo o cabelo da irmã, impecavelmente loiro, se emaranhar em nós que demorou uma semana para desfazer. Snape não fugiu, não chamou ela de aberração nem teve medo. Ele fez uma pequena florzinha surgir na mão dela e explicou o que eram bruxos, trouxas e, principalmente, o que era Hogwarts.

E ali estava ele, sendo convocado a escola de magia que os dois sempre imaginaram.

— É mesmo de Hogwarts – ela ainda estava meio boquiaberta – o que diz a carta?

— Não sei, deixei para abrir com você – ele respondeu fazendo o coração dela se aquecer um pouco pela consideração do amigo.

— Então vamos abrir – decidiu, parando apenas para passar a massa batida para a forma de bolo e colocar ela no forno. Estragar comida era um pecado que ela não se permitia.

Puxou Severo pelo braço correndo escada acima até o quarto que dividia com a irmã e parou, encarando o amigo.

A mão do garoto tremeu um pouco enquanto abria o envelope.

— Leia em voz alta – Lily pediu recebendo um aceno em respostas.

ESCOLA DE MAGIA E BRUXARIA DE HOGWARTS 

Diretor: Alvo Dumbledore 

(Ordem de Merlim, Primeira Classe, Grande Feiticeiro, Bruxo Chefe, Cacique Supremo, Confederação Internacional de Bruxos) 

Prezado Sr. Snape, 

Temos o prazer de informar que V. Sa. tem uma vaga na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts. Estamos anexando uma lista dos livros e equipamentos necessários. 

O ano letivo começa em 1º de setembro. Aguardamos sua coruja até 31 de julho, no mais tardar. 

Atenciosamente, 

Alvo Dumbledore

— Sua coruja?! – Lily repetiu abrindo um sorriso empolgado – ai meu Deus, você vai para Hogwarts! – o sorriso dela fraquejou um pouco, uma pontada de inveja a atingiu – isso é incrível, Severo. Você é mesmo um bruxo!

— Você duvidava? – ele tentou brincar, mas ele mesmo parecia anestesiado.

Lily sentou na cama pensando.

— Vai ter que me contar tudo sobre Hogwarts quando vier me ver nas férias e não aceito não como resposta. Se me trocar por amigos bruxos mais legais que eu você tá muito encrencado, Sr Snape – a voz dele tinha um tom de brincadeira para disfarçar o desapontamento.

— Do que está falando? Você vai para Hogwarts! – Severo parecia mais certo daquilo que qualquer outra coisa na vida.

Lily deu de ombros ainda mantendo o sorriso calmo no rosto.

Tinha aprendido há alguns anos que chorar pouco adiantava.

— Eu não recebi carta nenhuma, Sev. 

— Ainda. Falta um tempo até 31 de julho, sua carta vai chegar – Lily não estava tão certa assim – além do mais, você é nascida trouxa, o processo pode ser diferente.

Estava prestes a dizer que ele podia ter se enganado.

Talvez Lily nunca tenha sido uma bruxa.

Talvez ela só fosse estranha.

Talvez seu pai estivesse certo e Lily estivesse realmente possuída.

Pensando bem devia convocar um padre com urgência, estava muito tempo atrasada.

Mas antes que tivesse tempo de verbalizar qualquer coisa, Petúnia abriu a porta. E algo mais surpreendente que qualquer magia aconteceu: ela estava calada.

Não só calada, mas pálida como uma vela, como se tivesse visto uma assombração e assombração ao invés de dizer “buh” tivesse lhe oferecido uma xícara de chá.

— Tunie? – Lily deu um salto da cama se aproximando da irmã – o que você tem? O que houve?

Petúnia piscou os dois olhos, a encarando.

— Nós… temos visita.

☙✿❀✿❧

A mulher aguardando parada na sala de estar das Evans devia ter cerca de 45 anos, cabelos castanhos bem arrumados em um coque apertado e usava óculos de hastes quadradas. Não fosse pela capa de um azul brilhante, Lily poderia facilmente confundi-la com uma das professoras da escola fundamental que estudava.

Era uma figura estranha de se encontrar na Rua da Fiação. Tinha uma certa pompa que faltava ao lugar e muito mais abertura à imaginação a rodeando que as pessoas ali possuíam.

Ela parecia tão confusa quanto os três estavam, mas Lily supôs que isso se devia ao fato de ter três crianças a encarando ao invés de um adulto.

A ruiva se adiantou dando uns passos à frente já que Petúnia, quem geralmente assumia o trabalho de lidar com visitantes, parecia assombrada o suficiente para isso.

— Boa tarde, senhora. Minha irmã parece não está se sentindo muito bem no momento, a senhora poderia explicar quem é e o que faz na minha sala? – Lily sabia bem que Petúnia não deixaria alguém entrar na casa delas sem motivo.

— A senhorita deve ser Lily Evans – a mulher não parecia estar fazendo uma pergunta – eu sou a Professora Minerva McGonagall, vim falar com você e com seus pais a respeito da senhorita. Poderia chamá-los para mim?

Lily avaliou a mulher com um olhar de desconfiança.

— Minha mãe está no trabalho e meu pai viajando, terá que se contentar com nós duas… três – olhou para Severo pelo canto do olho, que parecia ter ganhado na loteria – a senhora não quer se sentar, sra Mcgonagall? Aceita um pedaço de bolo?

Não esperou a resposta para se virar para o amigo.

— Vê se o bolo tá pronto, por favor.

O garoto assentiu, mas olhou para ela murmurando “carta” com um sorriso empolgado ao se retirar. O corpo de Lily inteiro se eletrizou em antecipação, entendendo.

Se encaminhou, arrastando a irmã até o sofá e se sentando em frente a mulher que, meio sem reação, se sentou também.

— Devo dizer que de todas as reações que tive nesse verão, a sua está sendo a mais peculiar, srta Evans – Minerva admitiu –, mas eu ainda preciso falar com seus pais. Sua mãe vai demorar?

Lily encarou o relógio na parede e negou com a cabeça.

— Cerca de uma hora ou duas – voltou o olhar para a mulher mais velha – a senhora pode adiantar o assunto?

Minerva cogitou perguntar se ela tinha mesmo 11 anos, mas ao invés disso, assentiu, se rendendo daquela vez. Merecia dá alguma explicação depois de assustar Petúnia Evans. 

Foi um erro de cálculos, obviamente; não esperava que a menina aparecesse para jogar o lixo no beco lateral da casa bem quando estava voltando à forma humana.

Ela tinha dado um gritinho, mas não tinha corrido, pelo contrário, tinha gritado um nome: Lily. E por isso, Minerva teve que explicar que tinha vindo falar com a irmã dela sobre uma escola de magia. Na sua experiência, as crianças trouxas que cercavam os nascidos trouxas sempre entendiam – às vezes antes dos adultos – do que ela estava falando.

— Tenho uma carta para a senhorita – puxou do bolso o envelope e estendeu para a menina.

Lily encarou o envelope com a sombra de um sorriso enquanto ela virava a carta encarando a mesma letra floreada que tinha visto na de Severo.

Srta. L. Evans 

Cama da direita, 

Quarto do 2º andar,

Rua da Fiação, 9

Cokeworth

A mão dela tremeu um pouco enquanto rompia o lacre.

Era a mesma carta que o amigo tinha recebido, só que ao invés de ser direcionada a ele, estava direcionada a ela. Lily virou para olhar para a direção da cozinha, vendo Severo trazer algumas fatias do bolo cortado para eles com o maior sorriso do mundo. Olhou para o outro lado e encarou a irmã que lia a carta junto com ela.

Petúnia ergueu o olhar, boquiaberta, para ela.

— Você é uma bruxa – foi a primeira coisa que saiu dos lábios da loira desde que tinham se sentado – você é mesmo uma bruxa…

— Isso explica muito, não? – a ruiva tentou brincar, ainda nervosa.

— Eu te disse, Lily! – Severo tinha entregue o bolo a Minerva e colocado os outros em cima do centro, se sentando ao lado das meninas – falei que o processo podia ser diferente!

Minerva o encarou com os olhos astutos.

— Já ouviu falar sobre Hogwarts, srta. Evans?

Lily concordou.

— Um pouco. Severo me contou o que a mãe dele contou para ele.

McGonagall buscou na mente o nome.

Dumbledore tinha permitido que olhasse a lista de alunos daquele ano quando pediu que ela entregasse as cartas daquele ano. Eram aproximadamente 200 crianças na lista, mas ela lembrava do nome “Severo Snape” porque lhe tinha parecido um nome cruel para se dar a uma criança. Ela trabalhava a 20 anos como professora e sabia como crianças podiam ser cruéis, reproduzindo ensinamentos dos pais, e um nome daqueles era um prato perfeito para brincadeiras cruéis. 

— Bem, isso deixa as coisas um pouco mais simples para mim – admitiu olhando as crianças – a senhorita tem uma vaga em Hogwarts desde que nasceu. Todos os bruxos da Grã-Bretanha tem seu nome cotado para nossa escola desde o momento de seu nascimento. Como é o caso da senhorita e do sr. Snape. Obviamente é uma escolha sua aceitar a vaga, mas magia descontrolada ou abafada é um risco para o bruxo e seus familiares, e para a sociedade trouxa e bruxa também.

— Eu preciso pagar algo por isso? – Lily perguntou pensando momentaneamente na mãe. Sabia que não teriam dinheiro para uma escola cara.

— A escola tem seus próprios recursos que cobrem os custos dos estudos dos alunos. A senhorita só precisará pagar pelos seus materiais, mas caso não possa, pode recorrer ao fundo de apoio da escola. Recebemos muitos materiais doados de ex-alunos todos os anos.

Lily assentiu olhando para Petúnia.

— Acha que eles me deixariam ir? – a pergunta saiu como um murmúrio – você ficaria bem sem mim se eu fosse, Tunie?

A loira a encarou meio surpresa pela pergunta. 

A inveja estava corroendo Petúnia, mas ela nunca privaria a irmã daquela oportunidade quando ela mesma queria ir para Hogwarts com Lily.

— Vai ser mais fácil parecer normal sem você fazendo coisas esquisitas na escola – respondeu, sabia que Lily entenderia e teve certeza que ela entendeu quando sentiu os braços a rodeando. Revirou os olhos abraçando de volta – mamãe não vai reclamar, não se preocupe.

Lily fungou, feliz pelo apoio da irmã e virou para o amigo, abrindo um enorme sorriso ao declarar: 

— Nós vamos para Hogwarts!


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Notas finais do capítulo

Comenta ai na moral.



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