No Limiar dos Mundos escrita por Claen


Capítulo 16
A insurreição de Kyrios




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O relato de Gaida estava se tornando cada vez mais interessante e os gêmeos se concentravam para não perder nenhum detalhe, mas mesmo assim, ainda não era algo fácil de se acreditar. A narrativa continuava parecendo ser o enredo de algum livro de fantasia, não algo que de fato alguém poderia ter vivenciado. Mas Heloísa e Miguel se abstiveram de fazer mais questionamentos a respeito da veracidade da história, porque por mais fantasioso que aquilo poderia ser, eles já haviam passado daquela fase inicial de dúvidas e negações, e Gaida pôde prosseguir contando sua história sem muitas interrupções da parte de seus ouvintes.

— Com o tempo, Kyrios foi ficando ainda mais poderoso e ambicioso. Ele havia se convencido de que todos poderiam viver eternamente, já que era exatamente isso que a Rainha Árya fazia desde sempre. Ele não achava justo apenas ela viver indefinidamente, enquanto todos inevitavelmente encontrariam o seu fim algum dia e passou a expressar seu descontentamento aos quatro cantos do mundo, fazendo com que muitos começassem a compartilhar de seu pensamento. Ele afirmava que a rainha conseguia conservar sua juventude indefinidamente, porque havia encontrado um modo de aumentar o nível de absorção da energia de Vartaris e ele não descansaria enquanto não conseguisse descobrir como fazer aquilo também.

“Não demorou muito para que Kyrios cumprisse o que havia prometido e começou a ensinar aos outros como fazer o mesmo. Foi aí que as coisas saíram do controle e nosso mundo começou a ruir.”

“Ele acusava nossa rainha de manter isso em segredo apenas para que ela pudesse reinar absoluta, mas logo Vartaris mostrou que ela tinha razão em permanecer em silêncio sobre a possibilidade de viver eternamente. Quando as pessoas começaram a pegar mais do que Vartaris era capaz de oferecer, o equilíbrio entre as pessoas e nosso mundo deixou de existir. Nossas florestas começaram a morrer, nossos rios a secarem, e terremotos e erupções começaram a causar destruição por todos os lados.”

“Ninguém sabia direito o que estava acontecendo ao nosso mundo, ou melhor, não queriam admitir que eles próprios, com sua ganância e desejo pela imortalidade, estavam matando Vartaris. A Rainha Árya precisou intervir e tomar uma atitude drástica, criando uma lei proibindo que a população explorasse o planeta desenfreadamente, porque se continuassem naquele ritmo, Vartaris em pouco tempo se acabaria. De que adiantaria viver para sempre em um mundo que estava morrendo? Esse “para sempre” certamente seria bem menos do que imaginavam.”

“Muitos entenderam e se arrependeram de suas atitudes, mas outros tantos, não. Eles passaram a seguir Kyrios ainda mais cegamente, sempre correndo atrás da ilusão da vida eterna e acusando a rainha de ser hipócrita. Eles continuavam questionando o porquê de somente ela poder usufruir da energia do planeta sem moderação, enquanto eles eram proibidos.”

— Mas nessa questão, eu concordo que eles tinham um argumento válido... – interrompeu Miguel, pensativo. – Concordo que não era justo que eles destruíssem seu mundo apenas pela vaidade da vida eterna, mas se a população como um todo não podia usufruir desse privilégio, por que ela podia?

— Você tem razão e a Rainha Árya também reconheceu que estava errada, porém ela só fazia isso no intuito de continuar ajudando as pessoas. Quando a lei sobre a proibição foi decretada, não foram abertas exceções, nem mesmo para ela. Daquele dia em diante, ela prometeu que seria como todo vartariano, e não haveria mais privilégios.

— Menos mal. Só demorou um pouquinho para perceber isso, né? Mas enfim, antes tarde do que nunca... – comentou Miguel.

— Devido a essa nova lei, muitos vartarianos passaram a ser considerados criminosos, mas Kyrios e seus seguidores não pretendiam desistir, muito pelo contrário. Eles apenas mudaram um pouco seus planos e foi assim que eu e o seu mundo nos tornamos seus alvos também.

— Você também? – indagou Heloísa.

— Sim. Minha habilidade de criar portais se tornou bastante atrativa para Kyrios. – revelou Gaida. – Apesar de sua ganância, Kyrios não era estúpido, ele sabia que sua majestade tinha razão e que aquele consumo desenfreado da energia vital de Vartaris realmente logo mataria o planeta, então ele passou a buscar lugares parecidos, que pudessem fornecer o suprimento de energia que ele desejava e nessa sua busca ele encontrou o planeta Terra: um mundo cheio de vida e muitas vezes maior do que o nosso, repleto de uma natureza abundante e exuberante da qual ele poderia retirar toda a energia que quisesse. Ele e seus seguidores poderiam ficar dezenas de anos por aqui, como parasitas, absorvendo a energia e matando seu mundo pouco a pouco assim como fizeram com o nosso. Seu único problema era conseguir cruzar essa fronteira entre os mundos.”

“Assim como eu, Kyrios também conseguia abrir portais para outros lugares e foi assim que ele encontrou a Terra. Entretanto, sua habilidade era limitada, assim como a da Rainha Árya, e ela só lhes permitia ver outros lugares, mas não ir até eles.”

“Sabendo que eu era provavelmente a única pessoa em toda Vartaris capaz de chegar à Terra, ele foi até mim e tentou me convencer a ajudá-lo a atravessar, mas eu me neguei. E mesmo que tivesse aceitado, seria impossível para mim atravessar a ele e todos os seus seguidores. Vocês viram o estado em que fiquei apenas de transportar nós três para cá. Eu certamente morreria e não conseguiria fazer o que ele desejava. Se bem que ele não se importava com seus seguidores do modo que eles imaginavam. Kyrios não estava verdadeiramente preocupado se eles iriam atravessar para o outro mundo, o que lhe importava era que ele atravessasse. Mas minha recusa foi apenas mais um contratempo, pois ele não pensou em momento algum em desistir. Essa impossibilidade momentânea de cumprir seu plano, só fez com que ele adiasse um pouco as coisas.”

“Ele então começou a pesquisar e a estudar documentos antigos, onde descobriu que Vartaris e a Terra eram algo conhecido como “mundos irmãos” e que em algum lugar de Vartaris, existia um portal natural que unia esses dois mundos, por onde seria possível qualquer um fazer a travessia sem precisar da ajuda de ninguém. E esse lugar especial é... exatamente onde nós estamos. Esse é o limiar de nossos mundos. Ou melhor, já foi um dia...”


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