No Limiar dos Mundos escrita por Claen


Capítulo 17
Viagem forçada




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Ao ouvirem aquilo, os dois entenderam que o que haviam sentido quando chegaram naquele lugar era mesmo algo muito especial, mas Gaida continuou sua narrativa.

— Quando a Rainha Árya soube dos planos de Kyrios de invadir o seu mundo, iniciou-se uma verdadeira corrida para ver quem descobriria primeiro onde ficava o já esquecido portal mítico. Por sorte, nós fomos os vencedores dessa “corrida” e passamos a proteger o lugar até encontrarmos um modo de impedir Kyrios de cruzá-lo.

“Contudo, Kyrios tinha a intenção de atravessá-lo mesmo que à força, então ele e seus aliados começaram a formar um pequeno exército para combater os guardas reais e tomarem o lugar. Sabíamos que uma batalha se iniciaria, então precisávamos tomar medidas mais drásticas e só encontramos duas opções para deter Kyrios e seus aliados: fechar o portal ou destruí-lo. Mas nenhuma das tarefas era fácil.”

“Descobrimos que o lugar era protegido por uma força desconhecida para nós e que para que conseguíssemos destruir o portal seria preciso um poder descomunal que nós não possuíamos, então a única opção real seria fechá-lo de algum modo. Sua majestade tentou usar suas habilidades para fechá-lo, mas fracassou, então ela me pediu para que também tentasse, já que minhas habilidades nesse quesito eram maiores, e eu atendi ao seu pedido.”

“Foi estranho, mas por mais incrível que pudesse parecer, eu estava conseguindo obter algum resultado, só que era muito difícil. Fazer aquilo me exauria de uma forma que nunca tinha acontecido antes, então o processo era extremamente vagaroso. Eu ficava horas em frente a ele, olhando para essa floresta, cuja imagem lentamente desvanecia, para conseguir resultados mínimos e precisava parar constantemente para descansar e recuperar minhas forças. Definitivamente vimos que era possível fechá-lo por completo, mas o processo levaria meses e Kyrios aproveitou esse tempo para armar um plano de ataque e agir.”

“Depois de algum tempo, seu exército finalmente entrou em ação e aí teve início a batalha que temíamos, onde muitas vidas foram perdidas. Que ironia... pessoas jogando suas vidas fora, na tentativa de obter a vida eterna... Sinceramente, eu nunca consegui compreender esse desejo irracional que os levou a esse ponto. – confessou Gaida, abatido. – Os dois lados tiveram baixas, mas o confronto foi inevitável, porque ele não era apenas por Vartaris, mas pela Terra e seus habitantes também.”

“Apesar de estarmos em maior número, Kyrios era obstinado e conseguiu chegar ao limiar dos mundos. Meus queridos amigos Bellator, Gennaios e Áxios compunham a última barreira. Enquanto eu tentava a todo custo fechar o portal, eles lutavam para me proteger. Inclusive, a própria Rainha Árya, pela primeira vez, usou suas habilidades de batalha para me proteger também.”

“Eu queria ajudá-los, mas sabia que não era forte o suficiente para isso e, se tentasse, só acabaria os atrapalhando. A única coisa útil que eu podia fazer era me concentrar na minha tarefa, então fechei meus olhos e continuei o que estava fazendo. Foi terrível escutar os gritos de dor e o som da destruição que vinham de trás de mim, mas num determinado momento, uma voz se sobressaiu acima de todas as outras e chamou pelo meu nome. Era Kyrios. Naquele momento eu me desconcentrei. Abri os meus olhos e me voltei para ele. Ali, pela primeira vez, eu vi toda a cena de destruição que ele havia causado.”

“Além dele, alguns de seus seguidores também tinham conseguido chegar até lá, mas estavam exaustos e muito feridos. Meus amigos não estavam muito melhores. Estavam caídos, mas ainda se esforçavam para se levantar e voltar à batalha. Kyrios gritou para que eu parasse ou então ele me mataria, mas eu não podia parar. Não, depois do esforço de todos. Então eu me virei novamente para o portal e continuei, já indo muito além de minhas forças para terminar a tarefa de qualquer jeito, nem que fosse a última coisa que eu fizesse.”

“Irado com minha insistência, ele me atacou pelas costas. Caí a apenas alguns centímetros do portal e ele se aproximou, confiante, porque sabia que eu não conseguiria detê-lo. Me chutou para me tirar do caminho e senti que ele tinha razão, pois não havia mais nenhuma força em mim e eu mal conseguia me mover. Numa última tentativa patética de impedi-lo, caído, segurei-o pelo tornozelo. Ele apenas riu e me deu outro chute, ainda mais forte do que o anterior e escutei minhas costelas estalarem. Mas por mais ridícula que tenha sido minha tentativa de detê-lo, ela foi suficiente para distraí-lo e deu à Rainha Árya uma chance para que ela se aproximasse sem que ele se desse conta.”

“Curiosamente, ela o abraçou e começou a chorar, deixando-o sem reação e a mim também, mas de repente a atmosfera ao redor deles começou a mudar. Os pedregulhos próximos e todo tipo de destroços começaram a levitar. Ele ficou assustado e tentou se livrar do abraço, mas ela devia ser muito mais forte fisicamente do que aparentava, porque ele não conseguiu se libertar. O corpo da Rainha Árya começou a emanar uma energia brilhante e ela olhou para mim, quase como se estivesse se despedindo e foi aí que tudo aconteceu. A explosão.”

“Toda a ação me pareceu levar um bom tempo, mas na verdade aconteceu numa fração de segundos. Primeiro houve uma luz muito forte, depois veio a onda de choque que me tirou do chão. De repente senti meu corpo sendo arremessado e não consegui fazer absolutamente nada, a não ser me deixar ser levado e atingido pelos destroços que voavam junto comigo. Quando todo o turbilhão violento passou, eu finalmente aterrissei, mas acabei batendo a cabeça em algo e perdi a consciência.”

“Não sei por quanto tempo fiquei desacordado, mas quando voltei a mim, eu estava aqui, no meio desta grande floresta, completamente desorientado e exaurido. Somente depois de algum tempo, quando minha mente se acalmou, foi que percebi que não estava mais em Vartaris. Eu estava ferido e não tive forças nem para me mover durante algumas horas. Só fiquei aqui, caído e imóvel, e durante esse tempo, a única coisa que conseguia fazer era pensar.”

“Era bastante óbvio que eu não estava mais dentro da grandiosa caverna em Vartaris onde o portal se localizava. Eu estava em meio à floresta que eu tinha observado diariamente durante quase três meses. Eu havia atravessado e estava na Terra, rodeado por essas pedras marrons, destroços da minha terra natal que vieram comigo.”

“A energia liberada pela Rainha Árya foi tão forte que parece ter conseguido fazer o que achávamos sem impossível: destruir a estrutura não só do portal do lado de Vartaris, mas o lado da Terra também, como vocês podem ver.”

— Depois disso, eu nunca mais consegui voltar ao meu mudo. – disse ele, colocando a mão através do que havia restado da estrutura, mas sem conseguir fazer nada de extraordinário. –  Não sei o que realmente aconteceu do outro lado. Se a explosão tirou a vida de todos os que estavam próximos ao portal e eu fui o único sobrevivente, porque fui jogado para cá. Ou se a explosão foi numa escala muito maior... Não sei de mais nada. Acho que essa passagem foi realmente selada para sempre. Só que o que eu não entendo, é que mesmo assim, eu deveria ser capaz de voltar a Vartaris usando minhas habilidades, sem precisar deste portal, mas também nunca consegui fazer isso. Por mais que eu me esforce, eu apenas consigo ver algumas imagens de lá, mas imagens paradas, como numa apresentação de slides. Não consigo mais cruzar a barreira entre os mundos e por isso, não sei se meu mundo ainda existe, ou se chegou ao fim depois de tudo o que aconteceu.”


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