No Limiar dos Mundos escrita por Claen


Capítulo 11
Finalmente portão adentro




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A luz que vinha de cima, do poste de rua mais próximo, não estava sendo suficiente para que os gêmeos seguissem em frente com a confiança que gostariam, então eles precisaram caminhar lentamente por entre as plantas que encobriam quase tudo. Miguel resolveu ligar a lanterna do celular para conseguir avançar, até que encontrou uma passagem por entre o matagal que levava até a casa. Era uma sensação estranha, a de finalmente estarem tão próximos da casa que tinham visto durante a vida toda apenas do alto, à distância.

Mesmo sendo recebidos por uma convidativa porta aberta, preferiram não entrar na residência, e mantiveram-se há alguns metros. Ali já estava bem mais iluminado, pois a luz do cômodo, que parecia ser a sala, estava acesa, mas o lugar estava silencioso, com exceção da cantoria dos grilos.

— Sr. Gaida, o senhor está aí? – resolveu perguntar Heloísa. – É a sua vizinha, Heloísa da Luz, filha da Dona Ana Sofia e do Seu Heitor. Meu irmão, Miguel, está comigo.

Nenhuma resposta.

— Podemos entrar, Sr. Gaida? – dessa vez foi Miguel quem fez a pergunta.

Finalmente uma resposta.

— Sim, por favor. Entrem. – respondeu uma voz vinda de lá de dentro, mas com certeza não era a voz do Velho Gaida, era a voz do rapaz da noite anterior.

Os gêmeos se entreolharam em silêncio e decidiram entrar, mas com cautela.

Pararam na soleira da porta da sala e confirmaram que era mesmo o rapaz quem estava lá, sentado numa poltrona antiga. Não só a poltrona era antiga, a casa toda parecia ter parado no tempo. Não havia nada quebrado, nem sujo, muito pelo contrário. Não havia muitos móveis, mas era tudo impecavelmente limpo (bem diferente do lado de fora) e organizado, contudo, algo saltou aos olhos dos irmãos: tudo parecia ter no mínimo uns 30 anos de uso, não havia praticamente nada ali que pudesse ser considerado moderno, com uma única exceção para um smartphone na mesinha ao lado da poltrona, de onde o homem misterioso os recebia.

— Sentem-se. – convidou o rapaz, indicando o sofá à sua frente. – Fico muito feliz que vocês tenham decidido vir.

Miguel ajudou a irmã a se sentar e fez o mesmo em seguida, mantendo-se ressabiado ao seu lado.

— Nós gostaríamos de conversar com o Sr. Gaida. Ele está? – foi a primeira pergunta de Miguel, ainda preocupado com o vizinho idoso, que continuava desaparecido.

— Sim, ele está. – respondeu o jovem. – E vocês vão poder falar com ele. Fiquem tranquilos.

— Faz tanto tempo que somos vizinhos, mas nunca fomos apresentados de verdade. Você é parente dele? – indagou Heloísa.

— Pode-se dizer que sim. – respondeu o homem, novamente sem dizer muita coisa e já deixando Miguel impaciente outra vez. O professor era geralmente uma pessoa tranquila, mas aquele homem conseguia tirá-lo do sério com muita facilidade. Ele estava tentando se manter calmo e receptivo, mas seu interlocutor não estava ajudando em nada ao continuar fazendo rodeios que não levavam a lugar algum.

— Olha, nós exigimos ver o Sr. Gaida! Se ele não aparecer aqui agora, eu vou chamar a polícia! – explodiu Miguel de verdade, pela primeira vez, sem conseguir mais se conter.

Curiosamente a reação do homem misterioso não foi a esperada. Ele não pareceu nem um pouco intimidado ou irritado com a ameaça do visitante. Na verdade, as palavras do jovem professor trouxeram um sorriso ao seu rosto.

— Eu estou vendo que vocês estão mesmo preocupados com ele e eu fico muito grato. Agora eu não tenho mais dúvidas de que vocês são realmente as pessoas que eu tanto procurei. – disse o homem com um imenso alívio. Até mesmo sua postura havia mudado e ele parecia mais relaxado.

A cada minuto que passava, os gêmeos entendiam menos e menos a situação e, até aquele momento, não tinham conseguido resposta para nenhuma de suas perguntas. Na verdade, elas já haviam dobrado de quantidade.

— Então, você pode chamar o Sr. Gaida, por favor. – pediu Heloísa com um pouco mais de jeito do que o irmão, mas com a mesma impaciência.

— Não vai ser preciso chamá-lo, ele já está aqui. Esteve o tempo inteiro, observando vocês.

Os gêmeos olharam ao redor surpresos, procurando pelo vizinho furtivo, que tinha conseguido manter sua presença oculta durante tanto tempo. Continuaram olhando e nada.

— Onde? – indagou a moça.

— Aqui. – disse o rapaz, achando graça do desconcerto da dupla. – Muito prazer, eu sou Gaida.

— Ah, para com isso, cara. A gente veio aqui, porque achou que iria ter uma conversa séria com você, mas se você vai continuar com essa enrolação, nós vamos embora agora mesmo e eu vou chamar a polícia! – disse Miguel, muito seriamente, perdendo de uma vez o resto da paciência que ainda lhe restava. – Vamos, Helô!

A irmã também não estava gostando nada daquilo e, dessa vez, concordou com a atitude de Miguel. Os dois se levantaram irritados e seguiram para a porta, mas o homem insistiu na história.

— Eu sei que é difícil de acreditar, mas eu sou mesmo o Gaida. O “famoso” Velho Gaida. – continuou ele, num tom tão sincero, que fez com que os gêmeos repensassem sua decisão. Eles voltaram, ainda ressabiados, e se sentaram novamente. Ficaram um tempo olhando para o homem, com expressões confusas e curiosas em suas faces.

— Como assim, você é o Sr. Gaida? – perguntou Heloísa. – Não filho dele, nem neto dele?

— Bom, essa é uma longa história, que eu queria que vocês escutassem, por mais impossível que ela possa parecer. – pediu ele. – Algo me diz que a garotinha gentil que me deixava flores e bilhetes toda semana, gostaria de ouvir a minha história.

Heloísa corou com o comentário ao se lembrar das coisas que havia feito quando ainda era uma criança, mas isso comprovava que poderia haver alguma verdade no que ele dizia, afinal, ninguém, além do próprio Velho Gaida e de sua família, sabiam sobre aquilo. Ele estava certo, ela queria muito ouvi-lo. Agora, ainda mais.

Miguel ainda não sabia se estava acreditando em toda aquela loucura, mas também estava curioso para saber qual história maluca aquele homem contaria. Seja lá qual fosse ela, verdade ou invenção, certamente seria, pelo menos, algo interessante de se ouvir. E não havia como negar, os irmãos não conseguiam resistir a uma boa história.


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