Chuva no Deserto escrita por Danilo Alex


Capítulo 2
Briga de Bar


Notas iniciais do capítulo

Olá!

Música para ajudar na imersão durante a leitura do capítulo:

https://www.youtube.com/watch?v=wIrzOQyyy5A

Deixa ela rodando aí no modo Repeat, que vai dar tudo certo kkkk

Nos vemos nas notas finais.



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Sob a meia-luz do ambiente, o panorama a se descortinar diante de seus olhos era tétrico: cadáveres por toda parte. Fregueses, coristas, o pianista... Ninguém escapara da matança. Os fregueses estavam espalhados pelo lugar, a maioria estendida no assoalho, mas alguns tinham morrido sentados e, permanecendo às mesas, davam a impressão de ainda esperarem que o barman os servisse, ou contassem com a abordagem de alguma corista mais ousada.

O pianista fora trucidado ainda sentado ante seu instrumento, de modo que se achava debruçado sobre as teclas manchadas com seu sangue, como se dormisse um sono profundo. Havia coristas mortas perto do balcão, sobre as mesas, nos degraus da escada, algumas atravessadas sobre o corrimão de madeira. Uma delas, inclusive, estava presa ao lustre que pendia do teto, imóvel; seu sangue gotejava sinistramente no centro do salão.

E no meio do caos o homem divisou seu alvo.

A causadora de tudo se encontrava displicentemente sentada sobre o balcão polido. Inclinava-se sobre o pescoço de um homem que agonizava com a cabeça em seu colo. Parecia uma mulher apaixonada beijando seu amante. Contudo, ouvindo a chegada do viajante, ela ergueu o rosto, esboçando um sorriso gélido: sua boca, dentes e queixo estavam lambuzados pelo sangue da vítima, a qual era nada menos que o barman do saloon.

Exatamente como Carson lhe adiantara, a garota aparentava por volta de vinte anos. Era loura, cabelos longos e anelados, que usava soltos, descendo pelos ombros magros. Possuía maliciosos e grandes olhos da cor do azeviche. O rosto harmonioso se revelava delicado e atraente, a despeito dos retráteis caninos longos e afiados.

O sorriso transbordava maldade e cinismo. A pele perfeitamente marmórea possuía a alvura própria de quem nunca vê o sol. Media cerca de 1, 76 m, e era dona de um corpo magro, conquanto uma magreza esbelta, elegante, nobre.

Trajava uma calça justa de montaria, uma jaqueta preta feita de couro de bezerro, e calçava botas texanas de cano longo, repleta de ornamentos. Parecia a versão sinistra de uma cowgirl.

A sombria jovem, por sua vez, também estudou atentamente o recém-chegado: um homem alto e forte, rosto anguloso e viril, tez morena de sol, dono de enigmáticos olhos cinza-esverdeados que irradiavam uma melancolia profunda, insondável. O rosto marcante estava sombreado por uma espessa barba por fazer. Tinha os cabelos castanho-escuros lisos relativamente compridos. O homem apresentava ser ainda jovem: apesar de seu aspecto descuidado que o fazia aparentar mais idade, ele devia ter acabado de entrar na casa dos trinta anos. Trajava calças de brim escuro, um sobretudo vermelho-sangue, botas marrons de cano alto e esporas vermelhas. Trazia na cintura um par de Colts negros de grosso calibre. Um lenço preto envolvia seu pescoço taurino, e suas mãos estavam revestidas por luvas de couro que serviam tanto para montar quanto para atirar. A cabeça estava coberta por um chapéu preto, amarfanhado, de abas largas meio dobradas e copa alta. Ele recendia a enxofre, e sua postura não era nada amigável.

A garota sorriu com desdém:

— Ora, ora, ora! Quem diria? Um Renegado por estas bandas! Fazia um bom tempo que eu não me deparava com algum de vocês. Boa noite, forasteiro! – o inglês dela não chegava a ser sofrível, e não era exatamente perfeito, mas se fazia compreender, mesmo com a fala carregada pelo inconfundível sotaque do Leste Europeu.

— Nenhuma noite pode ser boa enquanto você ainda pisar neste mundo. – rebateu o rapaz duramente – Eu não sabia que vocês, vampiros, existiam. Achava que não passassem de lendas. Quando eu terminar o que vim fazer aqui, lendas serão somente o que restará de você.

A loura riu sarcasticamente:

— Que cowboy pouco cavalheiro! Aposto que você não é lá muito popular com as mulheres.

— Você não é uma mulher. – retrucou ele, rangendo os dentes – É uma morta-viva.

 — E o que o faz pensar que é diferente de mim? Um homem em pedaços, dotado de poderes amaldiçoados que adquiriu ao vender sua própria alma ao Diabo...

— Cale-se! – ordenou o Renegado de dedo em riste – Você não sabe nada sobre mim. Não me conhece.

— Já conheço a ponto de perceber sua ingenuidade em acreditar ser capaz de me aniquilar. Eu sou Lenora Von Born, meu rapaz.

Inesperadamente o homem soltou uma risada plena de escárnio:

— Esse nome deveria significar alguma coisa? Porque, sendo franco, nunca ouvi falar. Para mim, você não passa de um alvo, e meus alvos não têm nomes nem rostos.

A vampira sorria com superioridade:

— Uau! Você me parece mesmo um sujeito durão. Diga uma coisa, xerife: posso ao menos saber o nome daquele que veio dar fim à minha existência?

— Se faz realmente tanta questão, me chamo Sean Ridell. Dentro em pouco reduzirei você a cinzas, e saber quem foi seu carrasco não terá te servido de nada.

 — Atiraria então em alguém desarmado? – ela quis saber, fazendo-se de vítima.

— Você não está desarmada. Se metade do que dizem sobre vocês for verdade, as trevas são seu arsenal. É noite lá fora, você está em vantagem. Em todo caso, se preferir, posso oferecer um de meus revólveres.

— Detesto armas de fogo. – respondeu Lenora com uma careta de desaprovação.

— Como quiser. Está pronta?

— Quer dizer que não podemos ser amigos?

— Exato. Quer dizer que vou matá-la, e vou matá-la agora.

O Renegado desviou-se uma fração de segundo da garrafa de uísque arremessada de modo velocíssimo e preciso contra seu rosto. Enquanto procurava entretê-lo conversando, traiçoeiramente a vampira, que estava sentada sobre o balcão, rapidamente apanhara sob ele a garrafa e a jogara com toda a força.

Ouvindo o estilhaçar de vidros contra a parede atrás de si, Sean Ridell se jogou ao chão com agilidade felina, rolando para escapar da segunda e da terceira garrafas, que já voavam em sua direção, tão rapidamente quanto a primeira, transformadas em perigosos projéteis pela força descomunal da vampira.

Após rolar duas vezes pelo velho assoalho forrado de cadáveres, o Renegado parou no centro do saloon: o joelho direito no solo, as mãos apontando a um só tempo o poderoso par de Colts, os quais brotaram entre seus dedos como que num passe de mágica. Roçou os gatilhos num gesto quase desleixado, totalmente despreocupado.

Dois tiros certeiros cruzaram o espaço. Tudo ocorreu indizivelmente rápido.

O par de garrafas de tequila que Lenora empunhava pelos gargalos e que pretendia arremessar contra o pistoleiro simplesmente foi reduzido a uma chuva de cacos enquanto a vampira ainda as segurava. Com um rugido irado, ela viu-se banhada pela bebida âmbar e teve seu belo rosto parcialmente lacerado pelos estilhaços voadores das garrafas.

— Vou arrancar seus membros, sugar seu sangue, devorar seu coração, e depois roer seus ossos! – prometeu Lenora com uma voz gutural, demoníaca, bem diferente de seu timbre natural.

— Pode vir, cowgirl! – zombou o Renegado – Vamos ver se você é tão boa de sela como diz!

Urrando como fera, a pavorosa garota se moveu muito rápido. Abastecida pelo sangue que drenara dos habitantes ali de Gold Fortress, ela parecia imbatível no auge de seus poderes.

Sem que Sean pudesse esboçar reação, a garota praticamente materializou-se à sua frente, cravando brutalmente a sola da bota em seu flanco direito, um palmo abaixo da axila. Foi um chute arrepiante.

Colhido pelo impacto alucinante, o Renegado viu-se projetado de encontro ao outro lado do saloon, derrubando inúmeras mesas em sua queda. No momento em que foi golpeado, ambas as armas escorregaram de suas mãos. Se fosse um humano comum, teria sofrido morte instantânea.

Antes mesmo que se refizesse, Lenora já estava sobre si, pressionando-o contra o chão. Ele sentiu uma dor excruciante na altura do peito, e percebeu que a inimiga tentava arrancar-lhe o coração de dentro do tórax.  A criatura cumpriria seu intento em segundos, caso não fosse impedida.

Segurando o fino braço dela com a mão esquerda, Sean fechou o punho direito para aplicar-lhe um explosivo soco no rosto. Lenora desorientou-se. Aproveitando-se disso, ele usou ambas as pernas com força, fazendo delas uma alavanca, a fim de catapultar para longe a adversária, fazendo-a voar em sentido contrário ao seu.

Ao passo que a estupefata vampira se chocava ruidosamente contra a parede, sem perda de tempo Sean Ridell se levantou tão habilmente como se tivesse molas nos pés. Uma dolorosa fisgada do lado direito fê-lo levar a mão ao local atingido. A respiração era difícil, o ar que entrava nos pulmões queimava como fogo.

— A cadela me quebrou pelo menos três costelas. – chiou o Renegado, furioso.

Lenora também já estava se levantando.

Raciocinando com rapidez, o homem viu seu par de Colts no assoalho. Então, ignorando a dor terrível, ele correu para mergulhar em direção aos revólveres.


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Notas finais do capítulo

Eai, o que estão achando até agora? Já tinham presenciado uma briga de bar assim?
Por favor, deixe suas impressões nos comentários.

Até breve!