Watch Dogs: Ghosts of London escrita por BadWolf


Capítulo 7
Cavalo de Tróia


Notas iniciais do capítulo

Olá!!

Aiden ainda está se recuperando da surra, mas como sempre, a nossa Raposinha não consegue se afastar por muito tempo de confusão...

Boa leitura!



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  -O que houve com o seu rosto?!

            -Bom dia para você também, Sr. Schmitz. – respondeu rispidamente Aiden, ao entrar no caminhão. Chegou até a bater à porta pesadamente, algo que Schmitz odiava. Havia se passado mais de vinte e quatro horas desde a surra e os sinais de espancamento em seu rosto estavam até mais evidentes, impossíveis de se disfarçar. Pensou em usar um par de óculos escuros para esconder o olho roxo, mas sempre se sentia um idiota quando o colocava na cara.

            -Calma, rapaz. Estou preocupado. Primeiro, você me liga no meio da madrugada dizendo que não vai poder trabalhar no dia seguinte. Até aí, tudo bem. Você sempre foi um bom empregado, assíduo, mas imprevistos acontecem, né? Aquele fettuccine da Maddie estava uma delícia, mas também não caiu legal no meu estômago, sabe? Pensei que tivesse tido uma diarreia...

            -Não foi uma diarreia, como pode ver.

            -Isso deu para perceber. Mas quem foi que bateu em você desse jeito?

            Explicar todo o desenrolar da briga causava desgosto a Aiden, mas ele precisava admitir e contar toda a verdade, por mais que se sentisse fraco por ter sido derrotado dessa forma.

            -Aquele babaca do Rooney, o ex-namorado da Maddie. Ele me cercou na estação de metrô com mais uns amiguinhos dele a tiracolo...

            -Que covardia! Nunca gostei daquele sujeitinho, nunca! Aconselhei tanto a Maddie a respeito dele, mas sabe como são os jovens de hoje em dia, não escutam ninguém! Foi ao hospital?

            -Não chegou a tanto. Deu para me virar em casa, mas estava me sentindo muito moído. Por isso precisei faltar. Agora, será que dá para mudarmos de assunto?

            -Tudo bem, você é quem manda. – assentiu Schmitz, ligando o velho caminhão. Tinha muitas entregas a fazer, sabia. Precisou adiar algumas entregas do dia anterior, pois parte delas precisava de um ajudante devido a quantidade de caixas, de modo que trabalhariam até tarde para repor o que ficou faltando ontem. Trabalho, trabalho e mais trabalho. Talvez tudo que Aiden estivesse precisando, para esfriar um pouco a cabeça e esquecer toda a merda que acontecera naquela noite.

            Passou o dia inteiro circulando com o caminhão por Londres. Tantas entregas que chegaram a almoçar quase às quatro da tarde. Como receberam uma gorjeta depois de uma entrega, resolveram comer em um restaurante de comida oriental, na Chinatown, ao invés do típico fast-food de todos os dias. Era um restaurante com preço bem convidativo e tinha todo um clima oriental, com uma música tranquila sendo tocada ao fundo. Os garçonetes mal sabiam falar inglês, mas eram simpáticos.

            -Schmitz... Será que você... Poderia não contar à Maddie sobre o que aconteceu comigo?

            Ocupado com um yakisoba de frutos do mar, Schmitz não estranhou o pedido de Aiden nem um pouco. Terminou de mastigar, encarando o justiceiro com seriedade.

            -Acho melhor mesmo não contar. Maddie tem muito medo de Rooney. Na última vez em que ele foi agressivo com ela, a minha sobrinha se trancou no quarto dela por uma semana. E qual foi a consequência disso? Ela perdeu o emprego. Era até um emprego bom, em uma loja de roupas, mas não perdoaram o sumiço dela... Quando penso nas coisas que minha sobrinha perdeu por causa daquele calhorda, meu sangue chega a ferver...

—Posso imaginar. – respondeu Aiden, bebendo mais refrigerante. Sabia bem porque sentia a mesma coisa agora.

—Sabe, as leis do nosso país não protegem mulheres como ela. Maddie já foi à polícia várias vezes, algumas vezes até acompanhada por mim, mas os policiais sempre ignoram as queixas dela. Não prendem esse moleque, não melhoram nem mesmo o patrulhamento do bairro, mesmo sabendo que é lá que ele sempre fica. A polícia dá de ombros, fica dizendo que ele não fez nada, que não chegou a agredi-la fisicamente, só verbalmente, e que isso não é suficiente para colocá-lo atrás das grades. Sabe, parece que estão só esperando uma tragédia acontecer para fazer alguma coisa.

            -Se depender de mim, uma tragédia irá acontecer, realmente, mas não será com ela.

            O tom intimidante de Aiden assustou Schmitz, que passou a encará-lo.

            -Não gosto quando você fala desse jeito.

            -“Desse jeito” como?

            -Sei lá, como se fosse um assassino a sangue frio. Parecia que a qualquer momento você iria levantar dessa mesa, ir até Rooney e encher a cara dele de tiros. Não que eu não tenha vontade de fazer isso, mas violência nem sempre é o caminho, Aiden.

            -O mundo seria um lugar melhor sem ele. - disse Aiden.

—Pode até ser, mas não cabe a você fazer isso. Pense nas consequências, rapaz. Você vai matar Rooney, e depois? A polícia vai investigar e te colocar na prisão, e Maddie não vai ficar mais com você. Minha sobrinha não gosta desse tipo de coisa, por isso ela foge tanto de Rooney. Matá-lo só vai torna-lo  mais parecido com ele. E acha que Maddie vai querer ficar com você depois disso? Você vai perdê-la para sempre!

            -Sim, eu sei. Mas não dá mais para ficar esperando que a polícia faça alguma coisa. Um dia Rooney pode realmente cumprir com suas ameaças e matar Maddie. E então, como será? Uma das coisas que aprendi é... – ponderou Aiden, com a voz levemente embargada. - ... é que depois da morte, nada mais pode ser feito.

            Depois de pagarem a conta, Aiden e Schmitz caminharam de volta ao caminhão. Ainda havia mais cinco entregas a serem feitas pela cidade. O GPS do veículo, por sorte, apontava para um trânsito calmo para os padrões normais de Londres, sinal de que não ficariam trabalhando até muito tarde.

            -Adoro andar pela principal e não ver absolutamente ninguém na minha frente! Não sei que milagre aconteceu hoje! – comemorava o velho caminhoneiro Schmitz, enquanto dirigia. Ocupado com seu celular, Aiden verificava a caixa de e-mails. Havia um e-mail de Jackson, mas ele resolveu não abrir naquele momento. Abriria mais tarde.

            -Maddie, Volker.. Meus sobrinhos dão muito trabalho. Maddie te contou sobre Volker?

            -Contou, sim. É motivo de preocupação, realmente, mas nada que não se resolva com uma conversa apropriada. Talvez ele só esteja precisando de uns conselhos de um adulto.

            -Eu tentei aconselhar, sabe? Mas ele não me escuta. O garoto tem problemas comigo porque... Bem, eu traí a tia dele. Isso foi há muito tempo, mas ele não me perdoou por isso. Acho que falta nele uma figura paterna. Acho que seria bom você se aproximar dele, sabe? Ele odiava Rooney da mesma forma que eu, e para dizer a verdade, você é o namorado mais decente que Maddie já teve na vida. Aposto que vocês vão se dar muito bem, até porque ele é um viciadinho em celular igual a você.

            -Eu não sou “viciadinho” em celular, Mr. Schmitz. O senhor que é antiquado demais.

            O velho riu, enquanto buzinava o caminhão para pedir passagem.

            -O problema é encontrar esse garoto em casa. Mas quando encontrá-lo, seria bom se você pudesse conversar com ele.

            -Eu disse isso a Maddie anteontem, no jantar. Nessa idade, conselho de alguém de fora é mais valioso do que de sua própria família.

            -Isso foi de experiência própria? – sondou Schmitz. Aiden inalou. Pensava em como responder aquela pergunta, mas decidiu ser sincero na medida do possível.

            -Sim. Não quero entrar em detalhes, mas já aprontei muito quando mais jovem, e não escutei ninguém dentro de casa. Mas Volker terá uma sorte melhor do que a minha. Poderá escutar alguém que passou por coisas bem parecidas que ele. Claro, se ele está realmente envolvido com o Clã Kelley, afinal é só o que estamos concluindo a julgar pelo comportamento dele. Pode não ser nada disso.

            -Então... Você já se envolveu com gangue, é isso?

            Aiden inalou profundo. Deixou escapar mais do que devia. Precisava ser mais cauteloso.

            -Digamos que sim.

—Fica tranquilo. Todo mundo já fez merda alguma vez na vida. Você não foi o primeiro e nem será o último.

            Quando Aiden chegou em casa, o noticiário na TV já estava terminando. Era quase nove da noite. Apesar do trânsito bom, o caminhão de Schmitz precisou ter o pneu trocado e isso demandou tempo e esforços. Agora a velha “Raposa” chegava em casa, exausto e com mãos e camisa suja de graxa. Pegou a camisa, jogando-a sobre o cesto de roupas sujas, abriu uma lata de cerveja bem gelada e pensou em dormir, mas uma última notícia chamou sua atenção.    

            “Cresce o número de prisões envolvendo crianças e adolescentes. Parece que o Clã Kelley está aliciando menores nas áreas mais pobres de Londres. Os alvos mais frequentes são pobres, imigrantes e jovens sem teto...”

            A cena de um grupo de adolescentes dentro de um camburão, algemados e com seus rostos encharcados de lágrimas imediatamente fez Aiden recordar-se de sua vida em Chicago. Entrou no mundo do crime muito jovem. Com treze anos, já fazia parte de uma gangue. Andava pelo bairro com uma pistola velha na cintura, se sentindo o grande maioral da área. Lembra-se bem de seu primeiro trabalho na gangue: vigiar o carregamento de cigarros contrabandeados. Foi sortudo, pois nunca chegou a trocar tiros com policiais, muito menos ser preso, mas quase toda semana acabava se envolvendo em brigas com outros garotos do bairro. Ele era o pobre menino irlandês revoltado, que queria resolver tudo na base do soco. O que o salvou de ter morrido com uma bala na cabeça antes de chegar aos vinte, sem dúvida, foi o mundo dos computadores. Sempre teve fascínio por eles, ainda que fossem tão inacessíveis para alguém como ele, vindo de uma família bem pobre. Mas um dia, acabou conseguindo um. Um computador velho, que um viciado em drogas estava vendendo debaixo de um viaduto por moedas, cuja procedência só Deus sabia, mas Aiden não se importou. Desbravou aquele computador como se estivesse diante de um mundo completamente novo. Era como se domasse um touro bravo, arredio, mas o rapaz fascinado não desistia. Não tardou até que descobrisse sua melhor habilidade: códigos. Aprendeu em pouco tempo a dominar o sistema, e em pouco tempo aquele computador velho não parecia ser mais capaz de supri-lo. Foi um cartaz no metrô de Chicago que o fez começar a frequentar uma universidade, como mero ouvinte de aulas de computação, e quando deu por si, já estava aprendendo coisas novas, muito além do que ele, um gângster, poderia imaginar. Logo o mundo do crime naquela pequena gangue do subúrbio de Chicago acabou sendo pequeno demais para ele e, bem, o resto é História.

            E por ironia do destino, Volker parecia se enveredar pelo mesmo caminho. O avanço da tecnologia estava dificultando o acesso de jovens ao mercado de trabalho, e meninos como Volker acabavam embarcando em empregos precários. Não era difícil entender o fascínio que a vida fácil de gânsgter provocava neles. Aquela sensação boa de pertencer a algo, de ter amigos que pensam o mesmo que você, de conseguir comprar com facilidade coisas que sua mãe te prometia no Natal e nunca comprava... Aiden conseguia compreender tudo isso muito bem, e sabia também o destino que lhe reservava, se ele seguisse esses mesmos passos.

            Uma vez Jackson lhe disse que era possível ajudar pessoas sem disparar um único tiro. Aiden nunca se imaginou fazendo isso, mas agora enxergava em Volker um propósito: libertar um jovem sem oportunidades de ter um destino parecido com o seu. Tudo isso sem matar ou ferir pessoas. Talvez sua vida andasse tão entediante assim porque lhe faltava um propósito, que ele acabou por ceifar ao cortar de vez sua vida de justiceiro: ajudar pessoas. Era isso que lhe movia nos tempos de “Raposa”, e agora seria isso que o moveria nos novos tempos de Aiden Pearce.

            Mais uma vez, foi até o alçapão em seu quarto. Sequer mexeu na caixa de armas dessa vez. Pegou uma mochila e colocou algum equipamento de informática, entre eles um robô-aranha. Poderia ser útil, pensou. Estava determinado a ajudar Volker, mas para isso precisava saber no quê exatamente ele estava se metendo, afinal ninguém tinha certeza de que era o Clã Kelley. E como Volker não parava em casa para que pudesse perfilá-lo, só restava investiga-lo pelo computador. Se ele era realmente tão fascinado assim por computadores, sua vida toda estaria lá.

            Pegou o metrô até os arredores do apartamento em que Maddie dividia com seu irmão, Volker. Aiden entrou em um beco, dando a volta no quarteirão. Não queria ser visto por Maddie com o rosto espancado da surra de Rooney, por isso precisava agir com discrição. Buscou os fundos do prédio. Desviou de um grupo de mendigos e um usuário de drogas. Pulou discretamente alguns muros, até chegar aos fundos. Um homem fumava enquanto conversava ao telefone sobre política, alheio a presença de Aiden. O vigilante aposentado olhou para cima. Sabia que Maddie morava no quarto andar, mas não tinha certeza qual das janelas daquele andar era a certa. Descobriu através da posição de um outdoor que se recordava de ter visto da janela deles. Erguendo seus olhos, notou que as janelas que queria estavam fechadas – principalmente a de Volker, que era a de seu maior interesse. Para alguém misterioso, era até normal que estivesse assim. Acima de Maddie, havia mais dois andares, mas um detalhe lhe chamou a atenção: a tubulação.

Subiu com um pouco de dificuldade na sarjeta, quase transbordando de tanto lixo, e por fim conseguiu acessar a escada de emergência dos apartamentos. Estava agora no topo do prédio. Ventava bastante, e do alto era possível escutar todos os sons da cidade: sirenes de polícia, ambulância, buzinas de automóveis, máquinas a todo vapor... Ao fundo, escondido entre os prédios, era possível ver um pouco do rio Tâmisa.

Acessando o celular, buscou o wi-fi da casa, numa tentativa de se conectar ao computador de Volker, mas ele parecia estar completamente desligado. O jeito seria acessá-lo remotamente. Como bater à porta de Maddie e pedir para conhecer o quarto de Volker não estava em seus planos, o jeito seria invadi-lo pela tubulação. Por sorte, carregava em meio aos equipamentos de sua mochila um robô-aranha. Colocou o aparato no chão, passando a controla-lo pelo celular.

—Sua vez, vai! – disse ao robô, como se ele pudesse compreender sua ordem. Aproveitando-se de uma tampa de tubulação aberta, o robô-aranha, controlado através do celular de Aiden, percorreu um longo caminho, indo inclusive parar no quarto errado: o de Maddie.

O quarto estava organizado e limpo. Tinha um pôster de uma cantora canadense pop, já desbotado pelo tempo, um violão com corda arrebentada, empoeirado e claramente não tocado há um tempo. “Não sabia que você sabia tocar violão, Maddie”, surpreendeu-se o justiceiro. Na prateleira, uma pilha de livros de romance, daqueles bem açucarados. Havia algumas roupas espalhadas pelo quarto, boa parte delas uniformes que a jovem deixou sobre a cama, provavelmente depois de um dia inteiro de trabalho e sem qualquer ânimo de organizar – sentimento que agora Aiden sentia muito bem. Ainda que estivesse ali para espiar Volker, Aiden estava curioso para saber o que mais poderia encontrar a respeito de Maddie. Avistou pela câmera do robô-aranha um notebook rosa. Chegou a aproximar o robô para hackeá-lo, mas desistiu ao ouvir passos.

—Fodeu, é a Maddie! – exclamou Aiden, conduzindo pelo controle o robô até debaixo da cama, para escondê-lo das vistas dela. Foi a saída mais rápida para não ser pego, mas ao mesmo tempo a mais complicada de sair, pois a cama dela ficava encostada à parede. Estava tudo escuro ali, e tudo que o microfone conseguia captar era os passos da jovem sobre o assoalho do quarto. Tirou os sapatos, e a julgar pelo movimento da cama, sentou-se sobre ela. Parecia cantarolar alguma música, que era familiar a Aiden. Provavelmente tocava em uma rádio, que ele escutou enquanto andava pela cidade. Aprendia essas músicas quase que por osmose.

O telefone tocou.

—Oi, Suzan! Estava mesmo esperando você me ligar! Como foi de férias? Ah.... Aham... Sim... Nossa, que ótimo, minha amiga! Caramba! Que incrível! Eu fico muito feliz em ouvir isso de você. Quem? O Rooney? Argh, nem me fala daquele filho da puta!

Foi a primeira vez que Aiden escutou Maddie, uma menina que sempre lhe pareceu tão doce e meiga, simplesmente xingar alguém ao telefone. E com razão, pois o alvo de seus xingamentos era Rooney, claro, mas isso não deixou de choca-lo.

—Já fui na polícia, sim, mas aqueles policiais são tão idiotas... É, ele está envolvido com bandidos, sim. Parece que é o Clã Kelley, não sei. É, foi por isso que nós terminamos. Aham... Sim, sim... Mas olha, eu já estou em outra. É... Sim, sim...

Nesse momento os olhos de Aiden se arregalaram. Será que ela estava falando dele?!

—Ele trabalha com o meu tio. Sim, o meu tio, o caminhoneiro. Lembra dele? Isso. Olha, eu acho que ele realmente não tem muita grana, não, mas no momento não estou me importando com isso. Não, não. Rooney vivia me dando presentes caros e olha no que me meti... Não, não. O Aiden é diferente. Quero dizer... Ele é bem mais velho do que eu, mas... Quantos anos? Ah, acho que uns quarenta.

Uma risada se seguiu.

—Não, ele ainda não me levou para cama, acredita? Ele é um tanto desajeitado nessas coisas, sabe? É, meio “paradão”. Dá para perceber que não tem muita prática. Virgem?! Ah, não. Não, quero dizer, eu espero que não! Dizem que homens virgens são traumatizantes! Espero que não seja... Não posso perguntar uma coisa dessas a ele, né?! Que cabimento, Suzan...

Aiden afundou o rosto. Então era isso que Maddie pensava de mim? Meu Deus... Eu realmente devo estar muito enferrujado com mulher, a ponto de uma delas simplesmente achar que sou virgem!

—Olha, Suzan. Eu acabei de chegar do trabalho e preciso tomar um banho. Pode ser? Sim, depois você me liga, amiga. Até mais.

O robô aranha permaneceu na mesma posição. Então, roupas começaram a cair sobre o chão. Pelas cores captadas na câmera, era o uniforme de garçonete de Maddie. Ela claramente estava se despindo para tomar banho, bem ali, a apenas alguns centímetros das lentes de seu robô e...

Eu não posso ser tão cafajeste assim! Maddie está indo tomar banho e não posso simplesmente espiá-la! Isso seria cretinice demais, pensou Aiden. Ao ouvir o som do chuveiro, Aiden tirou o robô debaixo da cama e o fez sair do quarto. Pulando, o robô alcançou novamente a tubulação, torcendo para que agora finalmente chegasse ao quarto certo: o de Volker.

—Caralho... – surpreendeu-se Aiden com a “decoração” do quarto de Volker. Havia pôsteres de bandas de rock por todo lado, em especial de uma banda que Aiden já havia visto em algum lugar, mas não lembrava bem qual era... Um drone enorme estava pendurado no teto, servindo como decoração. Em uma prateleira, troféus de ciência, provavelmente dos tempos de colégio, além de livros de física. A cama estava uma verdadeira bagunça, com camisas e meias espalhadas por todo o lado. Havia sobre uma escrivaninha um gabinete. Estava desligado. Com uma das perninhas, o robô-aranha ligou-o pelo botão, e um conjunto de luzes passou a iluminá-lo. Era daqueles coloridos com fita de neon, bem chamativo, provavelmente usado para games. Aproximando o robô-aranha, Aiden o conectou a máquina remotamente. Instalaria nele um vírus para ser capaz de hackeá-lo.

Mas isso estava muito longe de ser fácil.

—Mas que porra é essa?! – o justiceiro se surpreendeu quando seu celular o avisou quanto a um “superaquecimento inesperado” no robô-aranha. O vírus ainda estava sendo carregado para a máquina quando a temperatura do robô-aranha começou subitamente a subir, e de modo acelerado. Não havia qualquer outra explicação senão a mais improvável: o computador de Volker estava reagindo ao ataque. Aiden até tentou retirar o robô, abortar a infecção do vírus, mas antes de conseguir, perdeu a conexão com o robô imediatamente após o som de um curto-circuito.

Não acredito que o computador dele simplesmente “fritou” o meu robô-aranha, pensou Aiden, um tanto indignado. Decerto a máquina estava protegida por um firewall bastante potente, sofisticado a ponto de “eliminar” o invasor provocando um superaquecimento brutal. Duvidava muito que isso fosse obra de um reles pedreiro amante de drones, não. Esse Volker com certeza tinha uma expertise daquelas com tecnologia. Realmente te subestimei, pensava Aiden.

Mas agora, havia outro problema. O robô-aranha.

Se Volker era capaz de proteger seu computador dessa maneira, receptar o sinal através dos restos de um robô-aranha espião encontrado conectado ao seu computador não seria lá um desafio. E se rastreasse, certamente chegaria em ninguém menos que Aiden Pearce. Alarmado, o justiceiro só tinha uma certeza: precisava recuperar o que sobrara de seu robô, e bem rápido!

Descendo mais uma vez as escadas de emergência, a única saída que restava era arrombar a janela do quarto de Volker e invadir o quarto dele. Tirou da mochila uma chave de fenda e começou a forçar a janela, até que ela cedeu. Entrando no quarto, Aiden correu para seu robô-aranha, destruído graças ao curto provocado pelo computador. Catou uma a uma todas as peças queimadas, recolhendo-as em sua bolsa. Agora que já estava ali, o jeito era invadir o computador mesmo assim. O primeiro passou era quebrar o firewall, e Aiden imaginava como. Com sucesso, conseguiu espetar um pendrive na máquina, copiando o máximo de informações possíveis. Analisaria com calma em casa. Agora, precisava dar o fora.

Assim que retirou o pendrive, uma estranha luz vermelha se acendeu no monitor. Parece que todo o quarto tinha alguma espécie de sistema de vigilância que detectou sua invasão. Mais uma vez, Aiden se sentiu subestimando a capacidade de Volker. O que quer que fosse, precisava dar o fora dali. Porém, assim que colocou sua mão sobre a janela, o hacker foi atingido por uma carga elétrica, tão forte que poderia tê-lo matado, se ele não tivesse se jogado da janela. Nunca antes o vigilante odiou tanto a sensação de choques elétricos. Despencando livremente da janela, Aiden teve sorte de cair exatamente sobre a sarjeta abarrotada de lixo, que ajudou a amortecer sua queda.

Ainda atordoado pelo choque, Aiden demorou a conseguir se levantar. Acabou surpreendido por Maddie, a encontra-lo caído sobre a sarjeta de lixo.

—Aiden! – exclamou a garçonete, enquanto ajudava o hacker a sair do meio do lixo. – Você está bem?! Como foi parar aí?!

O hacker preferiu não responder. Pensava em que boa desculpa daria. Acabou se deixando conduzir por Maddie até o apartamento dela, mal sabendo a jovem que ele havia acabado de sair dali.

—Meu Deus, você está machucado! Mas essas feridas não parecem ser de agora...

Pronto. Tudo que ele não queria era que ela encontrasse-o nesse estado. Teria de mentir.

—Eu fui assaltado depois do jantar. – preferiu mentir.

—Meu Deus! E por que não me contou nada?

—Não queria preocupar você, só isso. – explicou, enquanto recebia da jovem um copo de água.

—Mas o que você está fazendo aqui, e a uma hora dessas, Aiden? E por que despencou daquela altura? Poderia ter morrido!

—O lixo acabou amortecendo a minha queda. – buscou tranquiliza-la o vigilante.

Maddie, entretanto, estava muito longe de estar tranquila.

—Sorte sua que o caminhão de lixo não passou hoje, senão a caçamba estaria vazia e você viraria uma panqueca! Mas afinal, o que deu em você para se pendurar no meu prédio desse jeito?

—Eu... – terminou Aiden de beber água. – Eu queria fazer uma surpresa para você.

Ouviu de Maddie uma risada.

—Se queria transar comigo, é melhor tocar a campainha da próxima vez.

Aiden pigarreou. Nunca se sentiu tão constrangido como agora.

—Eu sou mesmo um idiota.

Aiden já estava no apartamento de Maddie, recebendo alguns cuidados dela. Na verdade, a troca de um curativo.

—Deixa para lá, seu bobo. Pelo menos você está bem, e isso é o que importa. Quero dizer... Agora está fedendo mais do que um porco graças a esse lixo, mas ao menos está vivo. E por favor, não faz mais esse tipo de estripulia, hein? Nem eu e nem você somos mais adolescentes para tentar impressionar o outro desse jeito.

—Acabei com o clima. É melhor eu ir para casa e...

Antes que Aiden pudesse concluir sua despedida, Maddie pulou em seu colo e começou a beijá-lo ferozmente. As palavras da jovem ainda ecoavam em sua cabeça. “Ele é um tanto desajeitado nessas coisas...Dá para perceber que não tem muita prática...” Isso só o encorajou a retribuir aqueles beijos com a mesma ferocidade, o que a deixou surpresa.

—Nossa, você está tão... Diferente! Nem parece a mesma pessoa! – respondeu Maddie em quase um sussurro, enquanto sentia a barba de Aiden roçar em seu pescoço. Por fim, o vigilante a ergueu pelas pernas, não cessando o beijo. Do sofá, caminhou com Maddie, pernas atadas a seu quadril, até o quarto dela. Jogou-a sobre a cama, onde continuaram a se beijar apaixonadamente. Começaram pouco a pouco a retirar suas roupas. Mas notou que, em algum momento, Maddie não parecia mais retribuir a seus beijos.

—Aiden... Não está se esquecendo de alguma coisa?

—Hm?

Ela o pegou pelo rosto, impedindo-o de continuar a beijar seus seios. Estava ofegante de desejo, tanto quanto ele, mas bastante séria. Pairando sobre Maddie, o vigilante a observava, perplexo, sem compreender o que ela estava querendo dizer.

—A camisinha, Aiden. – explicou Maidden, por fim. Suas palavras foram como um banho de água fria para o justiceiro.

—Eu... Er, eu esqueci. – admitiu Aiden, rolando para o outro lado da cama. Ouviu de Maddie um suspiro desapontado.

—Então acho que é melhor pararmos por aqui.

—Você não tem em casa?

—Não.

—Bom, eu posso ir na farmácia, se quiser...

—Esquece. Até você voltar de lá, o clima já acabou. Aff, depois dessa, eu vou até dormir. Você deveria fazer o mesmo.

Aiden pigarreou, envergonhado.

—Maddie... Desculpe. É que eu não namoro tem um tempo.

—E queria me fazer uma surpresa, né? Entrando na janela do meu quarto, sem camisinha.. Você trepa com todas as suas ficantes sem camisinha, Aiden?

—Eu não tenho ficantes, Maddie. Isso é coisa de gente jovem. Mas também não sou virgem.

—Que você não é virgem, ao menos deu para perceber. Mas não dá para negar que é um descuidado. Por que não toma um banho para relaxar?

Aiden levantou-se, se sentindo desconfortável até em andar. Pelo jeito, só lhe restava um banho frio agora. Saiu da suíte do quarto de Maddie vestindo apenas sua cueca box. Começou a procurar por suas roupas no quarto dela, espalhadas em meio a delas, mas foi detido por Maddie.

—Por que não dorme aqui comigo?

O justiceiro riu com o convite. – Pensei que tivesse sido expulso do seu quarto.

—Já está muito tarde para você voltar para casa. Podemos dormir juntos. Contanto que se comporte, é claro.

O convite até que veio bem a calhar, pensou Aiden. Não estava muito afim de retornar para casa tão tarde, e como Maddie morava no mesmo prédio que o Sr. Schmitz, poderia acordar até um pouco mais tarde, para ir ao trabalho com ele.

Aiden deitou-se ao lado de Maddie naquela pequena cama de solteiro. Puxou o extenso e felpudo cobertor rosa sobre os dois. A cama dela era tão apertada que precisou quase abraça-la para conseguir caber nela, o que estava longe de ser algo ruim.

            -Parece que o Sr. Schmitz terá uma grande surpresa ao me ver na portaria do seu prédio amanhã cedo. – comentou Aiden, fazendo Maddie sorrir.

            -Acho que ele vai ficar feliz.

            -Feliz pelos motivos errados, né?!

            Maddie recostou a cabeça sobre o peito do vigilante.

            -Não fica irritado com isso. Não vai faltar oportunidade para fazermos amor.

            “Fazer amor”. Aiden nunca ouviu essa expressão antes, pelo menos nunca quando envolvia a si mesmo. Não teve namoradas, apenas algumas prostitutas preferidas em Chicago, ou algumas mulheres que queria o mesmo que ele: uma noite apenas, mais nada. Talvez o mais concreto que sentira por alguém, até então, foi por Clara, mas nunca aconteceu de verdade. Mas Maddie era diferente. Ela era mais do que uma mulher bonita de bom espírito: ela representava uma oportunidade, uma nova vida. Mais estável, mais tranquila, tudo que ele precisava para recomeçar. Conseguia se imaginar facilmente passando os (quantos?) anos de vida que lhe restavam ao lado dela.


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Notas finais do capítulo

É, não foi dessa vez, hein...
Ai, esse Aiden... A Maddie tem que fazer tudo mesmo, né? Impressionante...
Eu disse para vocês que ele era atrapalhado, não disse?

Mas acordar na casa da namorada no dia seguinte ainda terá suas consequências...
Aguardem o próximo capítulo!

Obrigada por acompanharem e não deixem de me dar um feedback!



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