Watch Dogs: Ghosts of London escrita por BadWolf


Capítulo 6
Só Trabalho Sozinho


Notas iniciais do capítulo

É claro que o namoradinho da Maddie não ia aceitar concorrência tão facilmente...

Onde será que Aiden acordará? Em um necrotério clandestino? Afundando no rio Tâmisa?
Vejamos o que reserva ao nosso hacker...

Boa leitura!



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Por quanto tempo ele ficou apagado, Aiden não sabia dizer. Do lugar imundo onde estava, fechado e sem qualquer tipo de grade, era impossível saber se era dia ou noite. Acordar amarrado em uma cadeira, em terreno inimigo, era uma situação que ele jamais esperou se meter desde o dia em que jurou a Jackson que estava aposentado da vida de Vigilante. Parece que o problema sempre me encontra, por mais que eu lute para me manter afastado, lamentou o vigilante. Seu rosto estava sujo, provavelmente de sangue, e sentia uma dor insuportável na área das costelas. Provavelmente tomou uma surra ainda inconsciente. Parece que a covardia de Rooney realmente não tinha limites. O que uma garota tão bacana como Maddie viu nesse imbecil? Aiden não conseguia deixar de se perguntar.

            Suas mãos e pés estavam amarrados por uma corda. Aiden tentou se libertar, mas não conseguiu. Olhou em volta. Era claramente algum tipo de esconderijo do Clã Kelley, a julgar pela letra K pichada por todo o canto. Havia celas que mais pareciam jaulas, sujas de sangue e vômito seco. No teto, correntes penduradas e aparatos de tortura claramente nunca usados. Objetos decorativos que só acrescentavam à atmosfera de terror que aqueles bandidos gostavam de provocar em suas vítimas. Ouvia o barulho de algum tipo de maquinário ao fundo, mas não dava para saber o que estava acontecendo. Ao fundo, tocava uma música pop dos anos 80, em uma rádio mal sintonizada.

            -Ei! Acordou, cara?

            Aiden virou-se, ignorando a forte dor de cabeça. Havia uma pessoa em uma das celas. Estava presa tal como fosse um animal. Usava uma máscara de... Porco?!

            -Pode-se dizer que sim. E quem é você?

            -Quanto menos você souber, é melhor.

            -Eu posso dizer o mesmo. Mas será que dava para me dizer o que diabos um cara fantasiado de porco faz aqui?

—Eu estava tentando acabar com a cadeia de suprimentos do Clã Kelley e acabei capturado.

            Aiden olhou para o rapaz, que a julgar pela voz, não deveria ter nem vinte anos de idade. Muito provavelmente um adolescente. Usava uma camisa de banda de rock indie, um casaco de jeans bem simples e a calça rasgada. Nada naquele garoto dava sinais de ser alguém preparado para simplesmente enfrentar uma gangue perigosa como o Clã Kelley. Mas aquela máscara...

            -Você é do Dedsec? – o rapaz perguntou, por fim. Aiden bufou.

            -Não.

            -Então, eles ainda vão chegar.

            -Não acompanha mais o noticiário? O Dedsec já era, garoto. Acabou junto com os atentados.

            -Eu sou do Dedsec de Londres. Estamos nos reconstruindo.

            -Desde quando o Dedsec recruta gente despreparada? O desespero deles é tão grande assim?

            -Não sobrou quase ninguém do grupo original e os poucos que restaram estão recrutando todos que querem se juntar à Resistência, mesmo os de pouca habilidade. Além disso, ninguém nasce sabendo. Aposto que um dia você foi igual a mim.

            -Minha vida foi muito diferente da sua, moleque. Olha para suas roupas. Dá para ver que está embarcando nessas loucuras todas porque está entediado do videogame. O problema é que isso não é um jogo de videogame. Se você morrer, acabou. Já era. Não dá para voltar o save.

            -“Voltar o save”? Caralho, qual foi o último videogame que você jogou? PS2?

            -Ah, cala essa boca!

            Uma explosão interrompeu a conversa. Era nítido que foi o suficiente para deixar aquela colmeia de bandidos nervosa, agitada. Aiden tentou se sacudir outra vez na cadeira, com o intuito de se libertar, mas não conseguiu. Repentinamente, a trava eletrônica da cela do rapaz se abriu, e ele conseguiu sair. Sua primeira atitude foi correr até Aiden para libertá-lo. Massageando os punhos machucados pelo atrito com a corda, Aiden se levantou. Encontrou seu celular sobre a mesa, junto com o que deveria ser também do outro menino. Um celular customizado e criptografado, tão parecidos que só se tornavam distintos graças a capinha colorida do rapaz. Tal fato não passou despercebido por ele.

            -Você também é um hacker? – questionou o jovem, surpreendido.

            -Longa história. Agora, vamos dar o fora daqui.

            Ao tentar correr, a dor em suas costelas foi lancinante, mas não o suficiente para detê-lo em sua fuga. A saída estava bem próxima dali, mas havia bandidos do Clã Kelley por toda a parte, nervosos com uma suposta invasão. Gritavam a todo momento por algum tipo de hacker que estava fazendo os carros subitamente se mexerem sozinhos e explodindo transformadores aleatórios. Sem dúvida, obra de alguém do Dedsec, que estava ali para resgatar o tal garoto com máscara de porco.

            -Deveríamos enfrenta-los! – agitou-se o mascarado. Claramente não queria ficar esperando pelo resgate sem fazer nada. Queria fazer alguma coisa, nem que fosse algo bem estúpido, constatou Aiden. Preciso intervir antes que esse moleque me enfie em roubada.

            -Estamos desarmados! Precisamos fugir evitando combate aberto. Vem, me segue!

            -Mas...

            -Apenas me segue, porra! E vê se me segue discretamente, sem fazer barulho. Você anda mais pesado que um elefante.

            -O senhor é muito mal-educado, sabia? – resmungou o mascarado, que apesar de estar um tanto furioso com as ordens de Aiden, acabou por segui-lo. Andavam quase que engatinhados, com os joelhos próximos do chão, passando de cobertura a cobertura. Ainda assim, havia uma enorme área do pátio que era bastante iluminada. Não dava para chegar até o portão sem passar por ela e, por consequência, sem ser visto pelos caras do Clã Kelley.

            -Caralho! Andar em um palco de teatro é mais discreto do que isso! E agora? – antes que o mascarado pensasse em alguma coisa, ela notou Aiden digitar alguns comandos em seu celular, e imediatamente um enorme apagão caiu sobre aquela área, deixando os carros enlouquecidos, alarmes disparando e todo tipo de drone no céu caindo desligado no chão. Nem o equipamento dos guardas escapou ileso, provocando choques atordoantes em todos eles.

            -Que foda! Como você conseguiu fazer isso?

            -Vamos! Precisamos correr, e depressa! – correu Aiden, sendo imediatamente seguido por seu companheiro mascarado. Andaram por umas boas quadras, até parar em um carro qualquer, estacionado. Após arromba-lo usando um comando de seu celular, Aiden ligou a ignição e pôs-se em fuga dali, cantando pneu.

            -Você deveria entrar para o Dedsec, sabia? – dizia maravilhado o rapaz.

            Aiden teve vontade de rir, mas a dor nas costelas foi maior do que seu senso de humor com aquela piada.

            -Infelizmente terei de declinar do seu convite. Só trabalho sozinho.

            -Mas o que você fez lá foi incrível! Suas habilidades fariam toda a diferença na Resistência. Puxa... O tanto de coisa que você poderia fazer para ajudar o Dedsec... Precisamos salvar Londres da Albion!

            -Meu tempo de ter fé na Humanidade e embarcar em causas impossíveis já passou, moleque. E se quer saber, eu conheço o Dedsec de longa data, o que só reforça a minha recusa em me juntar a vocês. E, para ser bem franco, depois de ver a total irresponsabilidade deles em aceitar qualquer um, e ainda por cima jogar gente despreparada e sem treinamento no meio do fogo cruzado, penso que nem deveriam mais existir.

            -O senhor é bastante amargo.

            -Acredite, se continuar a levar essa vida, chegar na minha idade assim é um fato inevitável. Ajudei a derrubar muita gente e no fim, não deu em nada. Agora, onde eu posso te deixar?

            -Na primeira estação de metrô que passar. De lá, vou para casa sozinho.

            -Ótimo.

            O jovem mascarado finalmente retirou o adereço de porco que ocultava sua identidade. Era mais jovem do que Aiden imaginava. Muito provavelmente não deveria ter nem vinte anos de idade. O rosto cheio de espinhas, o cabelo castanho em um desses cortes modernos, além de usar um piercing no nariz. Um moleque. Essa constatação só deixou Aiden ainda mais irritado com o Dedsec. Como poderiam ser tão irresponsáveis, a ponto de jogar essa molecada jovem e despreparada para lutar contra bandidos e mercenários? Apesar de seu descontentamento, decidiu não tocar mais no assunto. Não adiantava. Meninos como ele, quando contrariados por alguém mais velho, sentiam-se ainda mais dispostos a continuar fazendo merda.

            -O senhor está ferido. – constatou o rapaz, ao voltar seus olhos para o rosto de Aiden. Sua barba levemente grisalha estava manchada de sangue.

            -Superficial, nada que uns bons curativos e uma boa noite de sono não resolvam... Droga!

            -O que foi?

            Aiden olhou para o relógio no carro. Daqui a duas horas, começava o seu trabalho de entregas. Impossível, concluiu. Estava muito ferido e sem condições de ajudar o Sr. Schmitz com o caminhão de mudanças. Teria de faltar ao serviço pela primeira vez, algo que o velho Schmitz não merecia. Tudo graças ao cretino do Rooney. Mas ele me paga...

            -Nada. – disse, desconversando. – Mas afinal, que tipo de coisa estava rolando naquele galpão, a ponto do Dedsec mandar alguém como você?

            Aiden pensou que o rapaz não fosse falar, mas pelo contrário, ele até apareceu animado em contar informação que, aparentemente, deveria ser tratada com o mais absoluto sigilo. Ainda mais que, dada a forma como fugiu dali, a operação não deu certo.

            -Aquilo é um centro de distribuição de cocaína. A droga chega de países como Bolívia e Colômbia em tonéis descaracterizados e é embalada ali, e depois distribuída a traficantes por toda Londres. O Clã Kelley criou uma empresa de fachada para tocar a operação sem chamar a atenção. Estava ali para tentar identificar o chefe da operação.

            -E, pelo jeito, você não conseguiu.

            -Não deu tempo. Acabei pego por um deles enquanto tentava hackear o computador. Ainda sou um pouco lento com alguns códigos...

            -Se é lento, não deveria se enfiar em galpões com bandidos armados até os dentes.

            -Mas eu preciso treinar minhas habilidades.

            -Escolhe um bootcamp, porra. Ou vai para um fórum na internet, sei lá, qualquer merda. Ainda se usa fórum? – perguntou Aiden, temendo estar desatualizado. Em seus primeiros passos na informática, o que mais fez foi fazer perguntas em fórums (alguns na deep web) usando um codinome, e nunca ficou à beira de tomar um tiro por isso. Por que os jovens de hoje em dia tinham tendências tão suicidas?

            Coube ao jovem mudar o rumo da conversa.

—E você? Dá para ver que é também um hacker. O que estava fazendo ali?

            Aiden bufou. Não estava afim de compartilhar detalhes de sua vida pessoal, muito menos de seu passado. Ainda mais porque o rapaz, mesmo sendo um hacker, não o reconheceu. Decerto pela roupa. Não usava seu sobretudo de couro nem o boné que lhe era tão característico, quase que uma marca pessoal do vigilante. Parecia um cara qualquer.

            -Ao que tudo indica, um desafeto meu trabalha para eles. Não era algo que eu esperava, mas talvez me ajude no fim das contas. – comentou Aiden, sem entrar em mais detalhes.

            -Eles te deram uma boa surra enquanto você estava apagado. Pelo que entendi, foi porque você espancou um pessoal deles. Se não fosse a invasão do Dedsec, você provavelmente estaria morto a uma hora dessas.

            -Ou eu teria escapado de uma forma ou de outra. Não é a primeira vez que lido com gente dessa espécie, sei me virar. E eles vão ter o troco que merecem.

            -Se precisar de ajuda... – ofereceu o rapaz. Aiden fingiu que nem ouviu.

            Aiden desacelerou o carro, ao ver a sinalização das placas apontando para a proximidade de uma estação de metrô. Estacionou o carro diante dela. O jovem pegou sua máscara de cabeça de porco, mas antes de descer do carro, fez um último apelo.

            -Tem certeza de que...?

            -Eu trabalho sozinho, já disse. – interrompeu-o Aiden, já cansado da mesma ladainha. Acenou com uma despedida, fechando o vidro do carro sem olhar para trás. Precisava agora voltar para casa, e como todo velho cão ferido de briga, se recolher, lamber as feridas e esperar o novo dia para recomeçar. Atormentava-lhe a ideia de faltar ao trabalho e deixar o Sr. Schmitz desamparado, mas sabia que era necessário. Precisava usar o dia que havia pela frente para se recuperar e voltar inteiro, ainda que duvidasse que os hematomas em seu rosto sumissem em menos de 24 horas de repouso.

            Passou em uma farmácia, comprou alguns medicamentos e curativos – velhos conhecidos de seu tempo de vigilante – e finalmente chegou em casa. Quase desabou no sofá, mas sabia que se sentasse naquele momento, iria desmaiar de cansaço e dor. Só depois de lavar bem o rosto de sangue seco pôde ter uma dimensão do estrago. Seu olho estava roxo e havia um corte no supercílio. Seria impossível passar despercebido por ao menos uma semana, e a desculpa de um “acidente doméstico” seria estúpida demais para ser usada. Teria de ficar longe de Maddie por uns bons dias. Não estava afim de mentir para ela sobre o que aconteceu, além de odiar admitir que o babaca do Rooney levou a melhor sobre si. Ainda que ele tivesse sido covarde do início ao fim, seu orgulho estava ferido demais para isso.

            Mas talvez com o Sr. Schmitz ele pudesse ser transparente. Jogar limpo com ele. Contar do envolvimento de Rooney nesse espancamento. O velho merecia saber a verdade, concluiu Aiden. Mas hoje não contaria. Hoje não. Deixaria isso para outro dia. Amanhã, talvez. Hoje não.

            Pegou no telefone, ainda um tanto abnegado por ter que dar a má notícia a ele.

            -Oi, Mr. Schmitz . Tudo bem? Então, infelizmente amanhã não poderei ir ao trabalho. Pois é, eu realmente peço desculpas. Prometo que isso não vai acontecer novamente. Não, eu estou bem. Foi só um probleminha pessoal. Nada com que se preocupar, tá certo? Depois de amanhã te vejo no horário de sempre, então? Sim, pode descontar do meu salário, sem problemas. Sim, eu entendo. Tudo bem. Obrigado. Prometo que vou te compensar. Até mais. – desligou Aiden, por fim. Com um suspiro, deitou no sofá e dormiu pesadamente.


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Notas finais do capítulo

E parece que Aiden encontrou um dos vários NPCs aleatórios recrutados pelo Deadsec! kkkkk
Aliás, o que vocês acharam de "Watch Dogs: Legion"? Eu achei a premissa de recrutar as pessoas na rua até interessante, mas... Acho que ficou faltando personalidade e deixou a campanha muito vazia. Nem se compara à DLC "Bloodline", que para mim merecia ter sido um game próprio ao invés de um adicional.

Obrigada por lerem até aqui e deixem aquele review esperto!



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