Watch Dogs: Ghosts of London escrita por BadWolf


Capítulo 19
O Retorno do Pai Pródigo




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            Aiden tocou a campainha. Nos segundos que a porta diante de si demorou a se abrir, ele respirou fundo. Segurava em uma mão um buquê de flores e uma caixa de chocolates. Nunca imaginou, em toda sua vida, estar prestes a encontrar alguém desse jeito. Com o cabelo mais penteado possível, uma roupa bem passada, além de algumas palavras ensaiadas. Mas cá estava ele, diante da porta do apartamento de seu pai. Já havia se passado quase duas semanas desde o incidente com a foto. Talvez ela estivesse mais disposta a perdoá-lo, e principalmente a aceita-lo como ele é – melhor, como ele já foi. Talvez.

            A porta foi aberta por Maddie. Usava o cabelo preso e, apesar de ter ainda algumas olheiras no rosto, dava para ver que estava com a aparência mais descansada. Agora que o velho Alan estava em casa novamente, certamente ela estava conseguindo se sentir melhor.

            -Aiden. – ela o cumprimentou, claramente surpresa por vê-lo. E em especial, pelas flores também. Foi a primeira coisa que Aiden a entregou.

            -Espero que goste. Confesso que foi um tiro no escuro. – disse, um tanto sem jeito. Maddie o olhava como se fosse uma grande incógnita. Nada parecia demonstrar.

            -São bonitas, sim. Vou deixar no quarto do meu tio. – ela disse, agindo como se o presente não fosse para ela. – E esse chocolate?

—Eles são para o meu pai.

—Péssimo presente para um enfermo. Vou ter que esconder, pelo menos até que ele fique bom o bastante para comer.

—Foi mal, não fazia ideia. – lamentou, enquanto entrava no apartamento dele. Sim, poderia ter pensado em coisa melhor, mas o que mais o velho Alan Pearce poderia receber de presente quando sob dieta tão restrita e insossa? Alguém tinha que tentar agradá-lo de alguma forma.

—Como afinal sabia que eu estaria aqui? Hackeou meu telefone também?

            Aiden suspirou. Péssimo sinal. Ela ainda estava magoada e bastante ressentida por tudo que aconteceu.

            -Seu irmão Volker me contou que você está aqui, no apartamento de seu tio, cuidando dele.

            -Entendi. Sabe, eu estava aqui pensando... E espero que você não minta para mim. No dia em que eu te encontrei naquela caçamba de lixo... O que exatamente você estava fazendo? Me hackeando de alguma forma, é? Tentando, sei lá, instalar uma câmera no banheiro do meu quarto ou coisa pior?

            Aiden engoliu uma risada.

            -Não sou um pervertido, Maddie. E não, naquele dia eu realmente estava hackeando alguém, mas não era você e sim, o seu irmão Volker.

            Maddie pareceu pasma.

            -Ah, mas eu sabia! Sabia que toda aquela historinha de você despencando na lixeira para me fazer uma “surpresa” era uma desculpa esfarrapada para outra coisa. Mas o que diabos você queria com o Volker?

            -Queria saber se ele estava aprontando. Você e seu tio pareciam muito preocupados com o jeito misterioso dele, e eu queria ajuda-los. – explicou Aiden, enquanto se sentava no sofá. Recebeu das mãos de Maddie um copo de água, que prontamente aceitou.

            -Parecia, não. Ainda estamos. E pelo visto, você descobriu o que ele anda fazendo.

            -Sim, descobri. E não, não é nada relacionado a gangues ou coisas do tipo, pode sossegar.

            Maddie deixou escapar um suspiro de alívio, sentando-se ao lado de Aiden.

            -Menos um problema, graças a Deus. E você, ainda fugindo da polícia?

            -Olha, se não fosse você a tocar nesse assunto, eu nem lembraria mais disso. Eu sou, nesse meio hacker, uma espécie de “lenda”. Apareço e desapareço, e ninguém tem muita certeza de que realmente existo, de que sou a mesma pessoa...

            -Nossa, isso é muito bizarro, Aiden. Eu joguei seu nome no Google e... Vi umas coisas. A morte de um prefeito de Chicago, uma série de apagões e assassinatos creditados a você...

            Aiden engoliu em seco.

            -E o que você pensa disso tudo?

            Maddie se levantou, confusa. Caminhou de um lado a outro da sala, como se tentasse buscar uma resposta. Parecia claramente confusa, incerta quanto ao que dizer.

            -Muita coisa era antiga, mas... Eu não sei. Não esperava que você fosse um assassino. Você já matou, não é?

            Foi a vez de Aiden inalar profundamente. Era uma resposta difícil, mas necessária.

            -Sim.

            -Quantas vezes? – Maddie perguntou, com a voz trêmula.

            -Eu nunca contei.

            -Santo Cristo...

            Ao vê-la assustada, foi a vez de Aiden levantar-se. Aproximou-se dela, e ao contrário do que poderia pensar, ela não se afastou dele.

            -Maddie... Essas coisas estão no passado. Eu não sou mais esse cara. E essa reportagem, tudo que aconteceu naquele prédio... Primeiro, eu realmente não matei aquele cara. Outra pessoa fez isso, e segundo, eu só agi novamente porque precisava ajudar o seu tio, o meu pai. E consegui. O seu tio não pode ser deportado de jeito nenhum para a Irlanda. Eu tinha que fazer alguma coisa. E não sei resolver coisas assim de outra forma senão sendo “A Raposa” novamente...

            -“A Raposa”... Eu vi esse nome na sua busca.

            -Sim, era uma espécie de codinome que eu usava. Você me perdoa, Maddie?

            A jovem parecia reflexiva. Por fim, suspirou.

            -Sim. Perdoo porque, agora que vi o passado do meu tio, imagino que talvez ele tenha matado até mais pessoas que você, e pessoas inocentes. No entanto, ele se arrependeu e se tornou uma pessoa melhor. Largou essa vida de terrorista para trás, recomeçou.

            -E isso é o que eu mais quero também. Cansei do ciclo vicioso em que estava. E... Um dia, com calma, eu vou contar tudo a você. Como vim parar nessa vida, e porque me afundei tanto nela. Mas não agora. Não vale a pena e é um assunto que ainda me machuca muito. Só queria que você entendesse que não quero mais ser esse cara que você viu nos jornais, na internet.

            -Mas e a polícia, Aiden? – ela perguntou, enquanto sentia o vigilante acariciar seu rosto.

            -A polícia vai me esquecer. Sempre esquecem. Nem procurado na Interpol eu sou.

            Os dois trocaram um abraço forte e demorado. Tê-la de novo em seus braços, ainda que a última vez não tivesse sido nem há tanto tempo assim, estremeceu-o. Sentia a respiração irregular de Maddie sobre seu peito, e a julgar pelos soluços, ela chorava. Chorava sobre seu ombro, talvez porque soubesse que ficar com ele simplesmente caminhava contra tudo que ela sempre acreditou. Ele estava muito longe de ser o cara que ela idealizava, sabia Aiden. Mas nem sempre conseguimos ter aquilo que desejamos. Só o tempo a faria perceber isso, e ele precisava respeitar o tempo dele.

            -Me promete uma coisa, Aiden. – ouviu-a dizer em seu ouvido, quase em um cochicho.

            -Qualquer coisa.

            -Nunca mais se envolva com... Com essas coisas. Incluindo essa deportação de meu tio Alan. Nós vamos resolver isso do jeito certo dessa vez. Com um bom advogado, o que quer que seja. Não quero você enfiado em problemas com a lei. Senão... Senão, terá sido o nosso fim.

            Aiden pensou por um breve momento.

            -Está bem. Prometo a você que não vou mais agir assim. Melhor...

            Os dois terminaram o abraço. Os olhos de Maddie estavam avermelhados, e suas bochechas ainda levemente avermelhadas pelo choro e também um pouco molhadas pelas lágrimas que deixara escapar. E mesmo sendo bastante comedido em relação a demonstrar seus próprios sentimentos, o semblante de Aiden carregava um quê estremecido, de alguém que segurava a emoção às custas de um grande esforço.

            Ele estendeu a ela o seu celular.

            -Esse é o meu celular. Lembra que você o achava esquisito, com a aparência velha? Acontece que ele realmente não é um celular comum. É um celular fortemente criptografado. Nele tem todo tipo de código que uso para... Hackear coisas.

            Maddie estava agora com o aparelho em suas mãos. Sendo capaz de observá-lo de perto, notou que ele já estava bastante arranhado, mas que de perto, era até um tanto bonito. Mas nem de longe parecia ser tão tecnológico.

            -Mas hackers não usam computador?

            -Computador é só uma ferramenta como outra qualquer. A que mais uso é esse celular. Com ele, posso fazer as mesmíssimas coisas que diante da tela de um computador, mas com mais praticidade.

            -Não entendo. Por que você está me entregando o seu celular?

            Aiden suspirou, pegando nas mãos de Maddie.

            -Porque ele é o elo mais forte que tenho com o mundo que quero deixar para trás.

            -Mas e a sua família? Como vai fazer para se comunicar com eles?

            -Não se preocupe, eu sei onde o meu sobrinho mora. Vou me encontrar com ele pessoalmente e explicar tudo. Quanto a ficar sem celular... Depois podemos ir a uma loja e comprar um daqueles bem tijolinhos, que só fazem ligação...

            Maddie riu.

            -E como você vai conversar comigo?

            -Bom, eu posso te ligar, tal como faziam os Neandertais.

            Os dois riram.

            -Você é louco! – exclamou Maddie, ainda surpresa com o que Aiden lhe entregara. Havia muitos casais controladores, que exigiam ter o celular do companheiro, ou a senha para acessá-los quando bem entendessem, mas não eram essas as motivações que levaram Aiden a entregar o seu próprio celular a ela. Se ele não estava realmente exagerando no que contou, sem dúvida sua maior ferramenta para cometer crimes era seu celular, e sem ele, era como se pudesse, finalmente, conhece-lo verdadeiramente, longe de suas mentiras. Talvez como algo perto do cara que ela imaginou que ele fosse.

            Ela levou o celular de Aiden até seu quarto, o trancando dentro de uma gaveta de sua cômoda. Aiden a aguardava na sala. Sabia bem o outro assunto que ele esperava tratar agora.

            -Você contou a ele? – perguntou ele, enquanto caminhava até o quarto de Alan.

            -Não. – respondeu Maddie. – Não contei. Achei que seria melhor que você contasse.

            -E como ele está? Volker não foi muito claro quanto ao real estado de saúde dele.

            Maddie rolou os olhos. – Claro que não. Ele sequer o visitou.

            -Aquele moleque é muito rancoroso mesmo. Enfim, será que ele está preparado para saber?

            -Que você sabe toda a verdade? Olha, eu acho que sim. Na verdade, sinto até que ele está desconfiado disso. Ele pergunta muito de você. Tentei disfarçar e disse que havíamos terminado, o que era verdade, mas ao perceber que ele ficou triste em saber disso, eu tentei atenuar.

            -Ele operou o coração recentemente. Temo que...

            -Não se preocupe, Aiden. Acho que ele vai se sentir pior se souber que você está mentindo.

            Maddie parou diante da porta do quarto de Alan. Não prosseguiu, pois sentiu que aquele momento pertencia à Aiden e mais ninguém. Após o próprio Aiden bater à porta levemente e ouvir um “entre”, um tanto enfraquecido, mas sem dúvida saudável, ele prosseguiu, girando a maçaneta e entrando timidamente no quarto. No fundo, temia que a visão não fosse agradável aos olhos. Sabia que pessoas recém-operadas estavam sempre em um estado físico deplorável, mas para sua grata surpresa, não foi isso que notou.

Alan Pearce estava sobre a cama. O cabelo grisalho levemente despenteado, a barba um tanto por fazer, mas até que não estava tão magro assim. Sinal de que Maddie estava alimentando-o bem – claro, dentro das limitações de alguém que recebeu alta recentemente. Ao ver Aiden, os olhos do idoso pareciam se iluminar, em um tipo de brilho que há muito tempo lhe era ausente.

—Aiden... Estava sentindo muito a sua falta...

—Eu também. – disse Aiden. Curioso. Tinha tanta coisa para dizer, havia imaginado aquela conversa começando de tantas maneiras, e agora... Se sentia incapaz de sequer dizer uma palavra.

—Espero que você e Maddie tenham se acertado. Ela disse que vocês terminaram...

—Sim, é... Mas acho que a gente está se acertando. Pouco a pouco, mas está.

Os dois se encararam por um longo tempo. Aiden analisava Alan agora, com mais calma. Era a primeira vez que o reencontrava depois de tanto tempo. Demorou longos minutos até encontrar naquele rosto envelhecido pelo tempo o mesmo que habitava as piores memórias de sua infância. Muita coisa começou a se passar em sua mente. As discussões pela madrugada entre seu pai e sua mãe. As agressões que ele nunca teve coragem de ver, mas que mesmo colocando o travesseiro sobre sua cabeça, era impossível não escutar. O som de coisas quebradas, sua mãe gritando, pedindo para que ele parasse...

—Está tudo bem? – perguntou por fim, Alan. Com o semblante preocupado, claramente.

Mas as memórias não cessavam. Fluíam agora, como um rio que outrora foi represado e agora desaguava sobre sua terra, sem o menor cuidado, atravessando e destruindo tudo que estivessem em seu caminho. E todas aquelas memórias eram, por fim, inundadas em seu coração. Como o dia em que reuniu o pouco de coragem que tinha e decidiu fazer mais do que só observar chorando as agressões. Ele o enfrentou uma vez. Mas não conseguia lembrar o que aconteceu. Ou talvez fosse só sua imaginação lhe pregando uma peça, inventando uma coisa que jamais aconteceu só para que ele se sentisse melhor a respeito.

Agora não mais conseguia encará-lo. Antes, quando só se lembrava do velho boa-praça Schmitz, que ganhava a vida naquela boleia de caminhão, a ideia do perdão era mais fácil. Mas agora, estava diante de Alan Pearce. O homem que o levava para o pub nas tardes de domingo, que o fez provar cerveja pela primeira vez quando tinha cinco anos. Que chegava bêbado e agressivo em casa, que batia em sua mãe. De repente, todas as coisas que tinha a dizer sobre perdão não pareciam fazer qualquer sentido.

—Aiden, está tudo bem? – perguntou mais uma vez Alan, já nervoso pelo silêncio, e principalmente, pelo semblante sério que havia se formado no rosto de Aiden.

—Acho que não sou capaz de perdoá-lo.

O idoso riu. – Me perdoar? Mas o que eu te fiz?

—Não se faça de cínico. Eu sei quem você é. – disse, com uma voz assombrosa. Apesar da explicação curta, foi o suficiente para Alan tomar-se de susto.

—Meu Deus... Como você descobriu?

—Se te consola, não foi através da Maddie. Ela manteve sua palavra e não me contou que o seu sobrenome também era Pearce. Mas quer saber? Que diferença faz como eu descobri, se você simplesmente decidiu destruir a melhor maneira de saber quem você era? Por que não me contou desde o início?

Alan agora estava com o rosto tomado de lágrimas.

—E-E-E-Eu não tive coragem. Não depois de tudo que fiz. Na mesma hora em que aquele rapaz, o Lucas, me deu seu nome para o emprego em meu caminhão, eu percebi quem você era. Que era... O meu filho. Então, eu fiz algumas perguntas a ele sobre você, o que me fez confirmar que você era de fato o meu filho Aiden, que em uma noite distante simplesmente foi levado de mim por sua mãe, junto com sua irmã. Todos esses anos, eu nem mesmo sabia se você estava vivo, e de repente, você aparece. Eu não tive coragem, desculpe.

Aiden levantou-se da cama, irritado.

—Você estragou tudo, como sempre. Parabéns, deve estar orgulhoso por ter conseguido me fazer de trouxa por tanto tempo. Sabe, agora entendo porque Nicki estava tão ressentida quando contei a ela sobre você, e olha que ela era pequena demais para lembrar de metade das coisas que nós passamos na Irlanda.

—A Nicole está viva? – tomou-se de felicidade Alan. – Como ela está?

—Ela te odeia, é só o que precisa saber. E não conseguia compreender porque eu ainda queria me aproximar de você. Mas agora que estou diante dessa sua cara, eu... Eu me lembrei de tudo. Agora entendo. Eu sabia das agressões, mas elas pareciam lembranças tão distantes, quase que exageros da minha mente de criança... Mas você me fez lembrar de tudo, e agora eu vejo que era tudo verdade.

—Aiden, você não está sendo justo comigo.

—Como ousa me acusar disso? – ergueu a voz Aiden. – Você me faz de palhaço esse tempo todo e ainda diz que não estou sendo justo? Você é ridículo!

A porta abre-se repentinamente. Era Maddie.

—Aiden, você prometeu que não seria agressivo com o meu tio! – disse a jovem, irritada.

—Deixe-o, Maddie. Ele está no direito dele. – interviu Alan. Curiosamente, ele estava bastante calmo para aquela situação, mas o mesmo não podia ser dito de Aiden. Seu rosto estava avermelhado de raiva – ou seria vergonha? – e ele andava de um lado a outro do quarto.

—Se for para ficar agredindo verbalmente meu tio, é melhor ir embora. – ordenou Maddie, irritada com a passividade de Alan. – Ou por acaso esqueceu que meu tio operou o coração recentemente? Se fosse para mata-lo desse jeito, era melhor simplesmente não ter pago por nenhuma cirurgia...

O vigilante caminhou até a janela, que estava aberta. Olhou para o horizonte, pensativo.

—Acho que não sou capaz de perdoá-lo. Pelo menos, não ainda.

—Sabe, talvez eu nunca consiga o seu perdão pelas coisas que fiz, mas isso não me importa. No fundo, sei que não mereço. Fui um péssimo marido para sua mãe, um péssimo pai para você e sua irmã, até mesmo fui um péssimo membro para o IRA. Não estou em busca de seu perdão, filho. Nada vai apagar o que fiz. Mas o que posso dizer é que, quando me dei conta de que havia perdido você, sua mãe, a Nicole, eu... Me descontrolei. Bebi como um gambá por quase um mês, e mais um pouco teria morrido de tanto beber. Então, as coisas começaram a ficar feias para mim no IRA. Não tive outra saída senão fugir da Irlanda. Fui para a Inglaterra, refiz a minha vida aqui, em uma cidade enorme demais para aqueles terroristas me encontrar. Conheci a tia de Maddie e, bem... Reconstruí minha vida do jeito que dava, com muito pouco, e pela primeira vez na minha vida, trabalhando honestamente. Ela era a única que sabia do meu passado. A única. E a que mais insistia para que eu fosse atrás de vocês, mas eu fui covarde. Não tive coragem de procura-los. Só o que sabia era que vocês estavam na América. Com mais esforço, acho até que conseguiria descobrir onde estavam, mas... Eu não quis ir atrás de vocês. Achava que era melhor para vocês permanecerem longe de mim.

—Eu sei como é. – disse Aiden, pela primeira vez depois de um longo silêncio. Curiosamente, havia feito o mesmo com Nicki e Jackson. Sua mãe estava certa quando dizia que ele e seu pai eram mais parecidos do que ela gostaria.

—Filho... Não há como apagar todo esse tempo que vivemos longe um do outro graças à minha covardia, mas seria uma honra para mim me reaproximar de você, pelo menos nesses meus últimos anos de vida que me restam. Já estou velho demais para corroer um passado mal-resolvido.

Aiden engoliu em seco. Afastou-se da janela, reaproximando-se da cama onde estava seu pai.

—Você provou para mim que mudou. Talvez por isso eu tenha demorado tanto para te reconhecer. Muita coisa aconteceu comigo, mas o que posso dizer é que aprendi umas coisas. Uma delas diz a respeito de resolver os problemas de meu próprio passado, mas da maneira certa. Acho que você era a parte do meu passado que estava pendente e que a vida se encarregou de colocar no meu caminho novamente, talvez para que eu pudesse finalmente resolvê-la. E acho que tem razão. Não se trata de perdoar, fingir que nada aconteceu, pois isso é impossível. Se trata de... Segundas chances. – disse por fim Aiden, olhando rapidamente para Maddie, que parecia mais tranquila com o desfecho entre os dois que estava caminhando.

—Aiden... Eu nem sei o que te dizer, filho...

—Não precisa dizer nada, pai. – disse, levando enfim o velho Alan às lágrimas. Depois de um tempo a vê-lo chorar, foi a vez de Maddie sentar-se em sua cama, ao lado de seu tio.

—Chega de emoções por hoje, não é mesmo? Ou seu coração velho e remendado não vai aguentar, tio! – ela disse, com um sorriso.

Sem mais nada a dizer, Alan apenas assentiu em resposta à Maddie, enquanto enxugava as lágrimas. Estremecia, tendo a mão de Aiden sobre seu ombro, a consolá-lo.

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—Vai embora?

Era uma pergunta retórica, feita a Aiden enquanto ele fazia suas malas, pegando um outro pertence que havia deixado dentro do esconderijo de Darcy. A Assassina estava se exercitando há um tempo, fazendo exercício de alongamento em uma barra. Obviamente, para alguém que escalava paredes com tamanha agilidade, estar em forma era mais que necessário.

—Sim, consegui um lugar para ficar.

—Que bom. – disse Darcy, mas tão logo percebeu que foi indelicada, tentou se retratar. – Quero dizer... Não que eu estivesse incomodada com você aqui, longe disso. Já estava até me acostumando com a sua presença no esconderijo.

—Sério? Mesmo com a toalha molhada que eu deixei sobre a cama algumas vezes?

—Não, essa parte não. Mas me refiro, sei lá... Acho que a sua companhia.

Aiden estava terminando de fechar sua mochila quando a Assassina aterrissou ao chão. Ainda arfava, tentando recuperar o fôlego perdido pela atividade física. Usava uma roupa justa, daquelas típicas de academia, e como era perceptível, com aquele estranho símbolo semelhante a uma águia que adornava quase todos os seus equipamentos. Sua testa reluzia de suor.

—Vou sentir sua falta, fixer. Trabalhamos poucas vezes juntos, mas foi bom.

—Vai sentir falta só do trabalho? – perguntou Aiden, um tanto insinuante.

Ela riu, no que mais parecia um ronronar.

—De outras partes também. Foi divertido.

Aiden riu. Se não estivesse tão apaixonado assim por Maddie, certamente avançaria um pouco mais em sua história com Darcy. Nunca conheceu uma mulher com um estilo de vida tão semelhante ao dele, ainda que pertencesse a uma seita de malucos. Mas a julgar pela forma como Darcy o tratava, ela não queria nada muito sério com homem algum.

—A gente se vê, então? – perguntou Darcy.

—Acho pouco provável. Eu fiz uma promessa muito séria e pretendo cumprir. – disse, colocando uma mochila sobre as costas.

—É, o Volker me disse que você não vai mais participar da operação com o Deadsec para derrubarmos o Starrick. Uma pena. Você vai fazer falta.

—Vocês conseguem se virar bem sem mim, eu tenho certeza. – disse Aiden, por fim. – Adeus, Darcy. E boa sorte.

—Adeus, fixer. Ou melhor, ex-fixer. Foi bom ter te conhecido.

—Se cuida, Darcy. E vê se não morre. – pediu Aiden, indo embora definitivamente do abrigo.

 


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Notas finais do capítulo

E chegamos a mais uma reta final, não é mesmo...
Pessoal, em breve posto os últimos capítulos - pelas minhas contas, restam só 2...
Obrigada por acompanharem até aqui e até o próximo cap!

Obs: Ainda tenho planos de escrever uma fanfic curta do Aiden sobre sua relação com a Clara - seria algo também pós-DLC Bloodline e anterior a essa fanfic, então... Vamos ver se um dia sai. Por enquanto, é só uma ideia que fica flutuando na cabeça, sem muito compromisso.



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