Watch Dogs: Ghosts of London escrita por BadWolf


Capítulo 20
Um Templário Incomoda Muita Gente


Notas iniciais do capítulo

Bom, pessoal. Chegamos ao penúltimo capítulo.
Próximo já será o Epílogo.
Obrigada por acompanharem até aqui e boa leitura!



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            Quando a garrafa de vinho foi posta sobre a mesa, Aiden Pearce mal pôde acreditar. Se a memória não o falhasse, foi exatamente esta a garrafa de vinho que havia levado em seu primeiro jantar na casa de Maddie, e agora, estava sobre a mesa para outro jantar. Dessa vez, bem mais especial.

            -Pensei que o vinho que comprei no supermercado estaria relegado ao esquecimento.

            -Nem tanto. Estou preparando frutos do mar e vi na receita que ele combina. O seu sobrinho gosta de frutos do mar?

            -Que me recorde, sim. Muito embora eu não seja a pessoa mais recomendada para falar quanto aos gostos de Jackson. Ainda mais quando ele é um adulto.

            -Também preparei suco de laranja, caso ele não beba nada alcóolico.

            O suspiro involuntário de Maddie chamou a atenção de Aiden. Desde cedo, ela estava enfiada na cozinha, inventando uma série de pratos mirabolantes, tentando pensar qual seria o gosto de um jovem adulto estudante de tecnologia e morador da metrópole mais cosmopolita do mundo.

            -Maddie, não precisa se matar só para tentar agradar o Jackson. Se a gente comprasse um yakisoba no restaurante chinês aqui do lado, ele também comeria de boa. Ele não é esse cara mimado que você está pensando...

            -Aiden, ele está fazendo um doutorado e trabalha para uma das maiores empresas de tecnologia do mundo...

            -Besteira. Jackson está longe de ser um burguês idiota. Você vai ver quando conhecê-lo. Agora, relaxa. Está tudo maravilhoso.

            As palavras de Aiden pareciam ter causado alívio a Maddie, que foi até seu quarto mais uma vez verificar sua aparência no espelho. Usava uma roupa bonita, porém prática, e também havia cortado o cabelo na semana passada. Terminava agora de retocar a maquiagem quando a campainha tocou.

            -Deve ser ele. – disse Aiden, levantando-se para abrir a porta. Era sete da noite em ponto, e se Aiden não tivesse certeza quanto a nacionalidade norte-americana de Jackson, poderia dizer que ele era um britânico de verdade. Sem dúvida havia adotado para si a famosa pontualidade dos ingleses.

            Tio e sobrinho se cumprimentaram à porta. Tão logo adentrou ao apartamento, Jackson foi recepcionado por Maddie. Impressionou-se com sua beleza e simpatia, mas precisava admitir que ela soava “normal” demais para um carinha como seu tio. Talvez por isso fosse tão especial a Aiden. No fundo, parecia representar o que deveria ser o começo de uma vida “normal”, que parecia ser o objeto de desejo de um hacker de 55 anos em vias de se aposentar.

            -Oi. – disse Jackson, um tanto tímido. – Então, você é a famosa Maddie?

            -Famosa? Não sei para quem! – exclamou a jovem, depois de cumprimenta-lo.

            -Não tem como descrever de outra forma a pessoa que simplesmente tirou o celular criptografado do meu tio. Nem a minha mãe conseguiu acreditar quando soube.

            -Olha, eu não tirei nada, eu juro! Ele é que me entregou!

            -Eu sei. Ele fez isso porque ama você. Não à toa queria tanto te conhecer.

            Jackson entregou uma caixa de bombons a Maddie, que as recebeu com um grande agradecimento.

            -E a sua mãe? Por que não veio? – perguntou Aiden.

            -Ela... Então... Ela não quis vir comigo, tio. Não por sua causa ou por causa de Maddie, longe disso. É que... Ela ainda não tem coragem de encarar...

            -Sim, eu sei. Tudo bem. – disse Aiden. Já havia conversado com Nicki semana passada e havia notado que sua irmã não se sentia preparada para reencontrar Alan Pearce, o terror de seus pesadelos infantis. Não poderia culpa-la, sabia. Precisava dar tempo a ela.

            -E quanto a... Ele? – perguntou Jackson, claramente inseguro quanto à forma correta de chama-lo. Aiden pigarreou.

            -Ele está trabalhando com o caminhão dele. O seguro entregou um caminhão novinho para ele essa semana e, desde então, está trabalhando igual um louco. Não vai aparecer aqui, pois contei a ele do jantar e também da possibilidade de Nicki estar aqui, e ele deu uma desculpa qualquer. No fundo, ele não queria causar mal-estar a ninguém. Vamos dar tempo ao tempo, Jackson.

            -Tudo bem, tio.

            O jantar transcorreu de forma bastante animada. Jackson encheu Aiden de perguntas quanto ao que estava fazendo nos últimos tempos, pois estava há um mês sem conseguir se comunicar com ele direito. Aiden estava agora usando um celular muito simples, que só servia para o básico: ligações e SMS. Algo jurássico demais para alguém como ele, mas Jackson sentia-se conformado por ver que estar longe da vida de hacker não era nenhum sacrifício: na verdade, ele até parecia mais feliz e tranquilo. Talvez os especialistas não estivessem exagerando quando disseram que se afastar um pouco do celular era algo até desintoxicante.

            -E os estudos? Como estão?

            -Estou quase concluindo o doutorado, tio. Ainda bem, pois não sei como as coisas vão ficar agora que a Skye Larsen morreu. – comentou o jovem.

            -Eu vi a notícia sobre a morte dela. Impressionante... Colocar mentes humanas em computadores? Nem sabia que isso era possível... – comentou Maddie.

            -Sim. – limitou-se a dizer Jackson. Tanto ele quanto Aiden eram testemunhas dos bizarros experimentos que ela estava praticando às cegas. Apesar de um de seus experimentos ter sido fundamental para trazer Aiden de volta à vida, ambos sabiam que ela havia ultrapassado uma perigosa linha e precisava ser contida. Coube ao Deadsec fazer isso.

            -Você tem um ótimo currículo, Jackson. Se o pior acontecer, não vai ficar parado.

            -Foi o que a minha mãe disse também. Mas apesar das coisas bizarras da Larsen, ela era uma visionária. Eu a admirava muito. Se não tivesse enlouquecido a esse ponto, tenho certeza de que ainda teria muito a contribuir com a humanidade. E no fundo, acho que ela via algum potencial em mim. E é isso que me dá mais orgulho. É algo que vou levar comigo para sempre.

            Estavam comendo uma sobremesa quando Maddie decidiu ligar a TV. Passava uma espécie de comício político, a ocupar a grade que deveria ser de um programa jornalístico, sinal de que era coisa importante. Mas para Aiden Pearce, que pouco ligava para políticos em geral, nada havia de interessante naquela tela. Teria pulado de canal, se seus olhos verdes não tivessem imediatamente pairado sobre o político a liderar aquele comício. Sua visão fez o vigilante se assombrar.

            -Mas aquele lá é o Starrick!

            -Você conhece esse cara, tio? – perguntou Jackson, surpreso. Olhou para o lado. Sentiu-se mais à vontade para falar com Aiden, ao notar que Maddie estava ao telefone com alguém.

            -Mais ou menos. Ele não havia sido expulso da Albion pelo Nigel Cass?

            Jackson assentiu.

            -Sim, foi o que deu nos jornais. Parece que foi revelado que ele estava prestes a puxar o tapete do Cass, com provas forjadas a respeito de desvio de recursos da Albion, mas não deu em nada, como sempre. Ainda assim, o Conselho da Albion o expulsou.

            -Uma vitória e tanto do Cass. Esse cara já estava colocando as asinhas de fora e com certeza iria dar a volta nele. Mas o que ele está fazendo na televisão, e como... Candidato?

            -O senhor está mesmo por fora, tio. Ele foi anunciado como candidato a Prefeito de Londres na semana passada.

            -Puta merda! – assombrou-se Aiden. Tudo que conseguia pensar era em Darcy. É verdade que os planos de Starrick foram por água abaixo graças ao trabalho de cooperação entre o Deadsec e Darcy. Como os dois trabalharam juntos, era algo que Aiden não tinha como saber. Estava há um mês longe dessa vida, mas a julgar pelo que havia visto nos noticiários, a assinatura do Deadsec e de Darcy nisso eram visíveis. Mas parece que derrubar Starrick da Albion não foi o suficiente para deter o desejo de poder do templário.

            -Eu não vou votar nele, pode ficar sossegado. Mas muita gente vai. Sabe, o pessoal que não é a favor da Albion. Não sabemos se ele vai ganhar, pois está muito acirrado. Ele está vindo como “o candidato anti-sistema”, dizendo que foi chutado da Albion porque pensa diferente deles. Aí o povo que está a favor do Deadsec está vendo nele uma boa opção.

            -Que idiotas.

            -Mas o que o Deadsec pode fazer? Lançar um candidato? Lógico que não. O jeito vai ser esperar que o povo escolha certo dessa vez.

            -O povo nunca escolhe nada, Jackson. Se algo mais drástico não for feito, Londres será dele. Olha lá, o comício dele está sendo transmitido ao vivo na TV... Olha só, quanta gente presente... Que merda...

            Aiden aumentou o volume da televisão, para conseguir escutá-lo. Precisava admitir, o cara tinha carisma de sobra. Falava, sorria e acenava como um verdadeiro político, usando palavras de ordem contra a opressão da Albion e se dizendo a favor do povo. Coisa alguma, sabia Aiden. O cara era rico graças a décadas de exploração justamente do povo, nada mais ali que massa de manobra, iludida com suas promessas vazias. Enxergava o povo como um instrumento, um meio para o fim que desejava alcançar, que nesse momento era a cadeira da Prefeitura de Londres. E amanhã, o que seria? O trono da Rainha?

            “Povo Londrino! Na semana que vem, o destino dessa cidade estará em suas mãos! Uma segunda chance para Londres é possível!” – gritava Starrick ao microfone, enquanto o povo o aplaudia. Aiden, que observava o discurso até com certo desânimo, não conseguia deixar de pensar que a humanidade simplesmente não valia nem metade da fé de alguém. Por vezes as câmeras focavam em um ou outro cidadão presente no comício, mais animado, e era nítido que a maioria deles era pobre. Seriam certamente os que mais sofreriam na grande máquina de moer gente que os templários queriam transformar Londres.

            Mas uma movimentação no fundo da tela chamou-lhe a atenção.

            Era verdade que havia muitos seguranças. Mas um deles – ou seria uma delas? – andava naquele palanque como se flutuasse. Perfil baixo, escondido. Quase invisível aos olhos que o confrontavam, fosse ao vivo ou pela TV. À exceção de um deles em específico.

            -Darcy! – exclamou subitamente Aiden ao vê-la. Ela estava infiltrada no grupo de seguranças.

            -Mas quem é Darcy, tio? – tomou-se de pasmo Jackson.

            -É uma longa história. Jackson, é melhor você prestar atenção a esse discurso. Algo muito importante está prestes a acontecer, eu tenho certeza.

            -Nossa... Ok, então. Não sabia que de uma hora para outra você havia se tornado um grande entusiasta de política...

            -Shh! – pediu Aiden, aumentando o volume ainda mais. Tanto que chamou a atenção de Maddie.

            -Por que deixou a televisão tão alta assim? Os vizinhos vão acabar reclamando da gente! – pediu a jovem, mas foi silenciada por seu namorado. Sua reação estranha e desproporcional ao discurso de um mero político provocou risos em Maddie.

            -Bom, o discurso desse cara deve estar mesmo emocionante.

            -Ou está prestes a se tornar... – começou a desconfiar Jackson. Talvez seu tio estivesse enxergando algo naquela TV que seus olhos não compreendiam. Uma coisa é certa. O que quer que estivesse prestes a acontecer, para atrair a atenção de Aiden Pearce, certamente não era pouca coisa.

            -Você viu isso?! – aturdiu-se Jackson. Foi tudo muito rápido. Um dos policiais, que parecia fazer tranquilamente a segurança de Starrick, simplesmente correu pelo palco e... Bom, não deu para ver direito, mas parecia ter saltado sobre Starrick. Depois disso, um tumulto generalizado começou a acontecer. Da televisão, só o que era capaz de ser visto era a multidão a gritar, correndo de um lado a outro, nervosa. Por uma fração de segundos, a câmera pegou o corpo de alguém no chão, no centro do palco, com um microfone à mão.

            -Meu Deus... Será que...?

            -Starrick está morto. – decretou Aiden. Um jornalista ao fundo começou a narrar ao fundo o que parecia ser um atentado político, transmitido em cadeia nacional. Estava claro que o guarda infiltrado – Darcy, na verdade – estava tentando fugir, mas os seguranças agora atiravam para matar. Mas com grande presteza, a Assassina se esquivava das balas, que ricocheteavam na estrutura metálica do palanque, e também nas caixas de som. Restava saber por quanto tempo ela seria capaz de escapar de tamanha represália, pois o cerco estava cada vez mais se fechando...

            - Ela ficou louca! Vai acabar morrendo desse jeito! – exclamava Aiden, apreensivo.

            -Ela quem?! – estranhou Maddie.

            -Darcy! – apontou Aiden para câmera. – Foi ela quem matou o Starrick! Que louca de merda!

            O nome soou como um estalo em Jackson. Soubera por uns amigos do Dedsec que uma tal de Darcy havia aparecido no esconderijo deles. Ouvira dizer que ela pertencia a algum tipo de seita, mas sem muitos detalhes do que exatamente se tratava. Como seu tio a conhecia, não fazia a menor ideia. Sinal de que o mundo era um lugar pequeno mesmo.

            -E agora, tio? Essa tal de Darcy está por conta própria! Não há o que fazer para ajudá-la...

            -Tem razão. Realmente não podemos fazer nada. Ela me ajudou com o seu tio, me ajudou também a escapar da Albion quando estava sendo caçado por eles, e agora estou de mãos atadas. Não posso retribuir ao que ela fez por mim e.. O quê?!

            Aiden tomou-se de surpresa ao perceber seu celular criptografado, estendido a ele.

Por ninguém menos que Maddie.

—Ajude-a, então.

—Maddie...

—Foi um erro ter permitido que você se afastasse tanto assim dessa vida, Aiden. A tecnologia em si não é má. Quem tem o poder de fazê-la trabalhar para o bem ou para o mal sempre será nós mesmos. E a escolha agora é sua.

Ainda um tanto abnegado, Aiden por fim pegou seu celular de volta. Por sorte, estava carregado ainda. Olhou para televisão mais uma vez. Darcy estava cada vez mais encurralada, e dessa vez, estava chegando também uma equipe de forças especiais. Até mesmo um helicóptero se aproximava. Ela não duraria muito tempo, pensou.

—O que você vai fazer, tio?

Aiden olhou para seu celular. Mexeu em algumas pastas armazenadas em sua memória, com um leve receio em seus olhos.

—Um blecaute.

—O quê?! – surpreendeu-se Jackson. – Mas essa tal de Darcy está há quilômetros de distância daqui! Não vai dar para alcançar a área do comício!

—Jackson... Uma vez, eu provoquei o maior blecaute da história de Chicago. Deixei a cidade inteira sem luz. Nunca mais repeti nada igual. Eu tenho um código aqui, um código que pensei que nunca sairia do papel, que estava apenas na teoria, nunca testado... Mas ainda mais potente que o blecaute que eu fiz em Chicago, em 2013. Se esse meu novo código estiver certo... Londres inteira ficará às escuras.

Tanto Jackson quanto Maddie engoliram seco. Aiden reteve-se. Deixou seu dedo pairado diante de uma das teclas de seu celular. Parou e pensou naquela noite em Chicago. Na quantidade de acidentes que vira na rua, no caos generalizado que provocara. Uma coisa é deixar um quarteirão inteiro sem luz. Outra muito diferente é uma cidade inteira. Mas dessa vez, se estava certo, o código havia sido melhor. Antes, a luz demorou cerca de uma hora para retornar. Dessa vez, seria por poucos minutos – ou assim ele esperava. Se estivesse errado, ainda que milimetricamente errado, poderia levar um dia inteiro para retornar, e os danos colaterais de deixar uma metrópole do porte de Londres completamente sem luz seriam insuportáveis demais para ele carregar.

Por fim, apertou. E tudo ao seu redor tomou-se de escuridão. Absolutamente tudo. Dava para ouvir o som das voltagens, alarmes de carro disparando, tanto por perto quanto por longe. Assustada, Maddie chegou a gritar, apavorada e também incrédula. Jamais pensou que aquilo que havia visto apenas em filmes seria possível, ainda mais vindo das mãos de ninguém menos que Aiden, que naquele momento só pensava se havia dado certo ou não. Darcy estava muito longe dele, quase que do outro lado da cidade. Se seu código deu realmente certo... O apagão aconteceu lá onde ela estava também, o que certamente lhe deu a brecha perfeita para escapar do cerco policial.

Foram dois minutos na mais completa escuridão, mas que mais pareciam uma eternidade. Até que a luz, por fim, voltou. Todos voltaram seus olhares à televisão. Sem qualquer sinal, nada mais havia naquela tela senão chuvisco.

—O senhor conseguiu, tio! – exaltou-o Jackson. Aiden parecia aliviado. A transmissão do canal de TV foi completamente interrompida, o que demonstrava que esse apagão provocado por seu telefone não foi algo local. Foi algo grande, muito grande. Sem saber o que estava acontecendo, já que estava sem as imagens da TV, só o que Aiden poderia fazer era torcer para que tivesse sido abrangente o suficiente para alcançar Darcy e ajudá-la a escapar.

—Meu Deus! – assustou-se Maddie. – Você fez tudo isso sozinho?

—Sim. Bom, espero que esse pico de energia não tenha causado a morte de ninguém.

—Acho que não, tio. Foi rápido demais.

—Não me refiro a isso, Jackson. Quero dizer os prováveis acidentes de carro que causei. Já parou para pensar que todos os semáforos de Londres simplesmente apagaram em um horário de grande movimento da cidade? Quantas mortes essa minha brincadeirinha não provocou?

—Não pensa assim, tio... – tentou acalmá-lo Jackson. – Esse apagão não foi igual ao de Chicago. Lá ficou horas sem energia, eu lembro. O daqui não foi o suficiente para causar tantos danos, tenho certeza. Não vamos pensar no pior, está bem? O importante é que você salvou sua... Er... Amiga?

—Ela foi uma pessoa que me ajudou muito, e só. Além disso, ajuda o Deadsec também.

Quando o sinal de TV voltou, o repórter ainda estava descomposto, tentando processar a extensa pauta que precisava apresentar. O corpo de Starrick ainda estava no local, aguardando perícia. A Albion estava protegendo-o com uma espécie de cordão de isolamento, para evitar a aproximação de curiosos. Ainda que a perícia no cadáver ainda não tivesse sido realizada, estava claro que a causa da morte foi um profundo corte na região do pescoço, o que explicava todo o sangue espalhado pelo chão do palco, a respingar o microfone. Quanto ao assassino, havia desaparecido, se aproveitado – premeditariamente? – do apagão que derrubou Londres, e só Deus sabia onde ele estava. A única informação que tinham era que havia se infiltrado com um uniforme roubado da Albion.

Ocupados a assistir TV, todos os presentes se surpreenderam com a porta a se abrir de surpresa. Era Volker. Estava vestido com uma camisa xadrez repleta de rabiscos, calça jeans rasgada e tênis esportivo. Além disso, usava outro corte de cabelo estranho e moderno. Mais um para a coleção.

Mas tão logo entrou no apartamento, Volker se arrependeu de ter escolhido voltar para casa.

—Peraí, você não é o Volker, do...

Aiden pigarreou fortemente, dando uma cotovelada em Jackson, forte o suficiente para interrompe-lo.

—Sim, do... Clube de xadrez, sim. – respondeu Aiden, provocando estranheza em Maddie.

—Xadrez? Desde quando gosta de jogar xadrez, Volker?

O jovem hacker estava atônito, sem saber como reagir. Conhecia Jackson de vista, de alguns protestos do Deadsec, muito embora o rapaz não tivesse lá muito tempo para se envolver com profundidade na causa. Chegou até a ser atendido por ele, quando tomou um spray de pimenta na cara. Não fazia ideia o que diabos ele estava fazendo ali.

—Bom, meu irmão é mesmo uma caixinha de surpresas. Não sabia que você conhecia o sobrinho de Aiden, Volker. – explicou Maddie, surpreendendo ainda mais o hacker.

—Ah, sobrinho de Aiden... Que mundinho pequeno, não é mesmo? Er... Bom, pelo visto eu estou interrompendo um jantar de família. Vou para o meu quarto. Com licença.

—Mas que indelicado, Volker! Jackson, me desculpe. – disse Maddie, constrangida. – Meu irmão é mesmo um antissocial sem qualquer tipo de educação. Não sei com quem ele aprendeu essas coisas. Com certeza não foi com os nossos pais.

Volker deixou sua irmã falando sozinha, se enfurnando em seu quarto, fechando a porta com força para acabar com qualquer discussão. Era melhor ser taxado de antissocial maluco do que hacker do Deadsec. Ainda mais porque havia acabado de fazer sua parte em ajudar Darcy a matar o tal de Starrick e a última coisa que queria naquele momento era problemas. Já os carregava demais.

Retirou seu casaco – que na verdade nem era seu, havia pego no chão – e uma enorme mancha de sangue se revelou sobre sua camisa. O sangue já estava seco, mas ainda fedia. Era muito, muito sangue. Por sorte não era dele, mas isso não o fazia se sentir melhor. Longe disso.

Ouviu a porta bater. Era Aiden pedindo para entrar. O hacker retirou rapidamente a camisa suja de sangue, e só então abriu a porta. Jogou rapidamente a camisa em um canto, mas ela não passou despercebida por Aiden.

—O que você quer?

—Eu sou um cara experiente o bastante para sentir cheiro de sangue à distância.

—Merda... – balbuciou Volker.

—Fiquei preocupado com você. O que houve dessa vez?

O rapaz sentou-se sobre sua cama, e antes que pudesse dizer qualquer coisa, começou a chorar descontroladamente. Trancando a porta, Aiden puxou sua cadeira gamer e sentou-se bem próximo dele. O rapaz não tinha nenhum ferimento visível, o que só fez o hacker acreditar que estava bem. Olhou para a camisa, jogada em um chão do quarto. Apesar de amassada, era visível a mancha de sangue sobre ela.

—O sangue não é seu, pelo visto. – concluiu o hacker.

—Não. O sangue é de um guarda da Albion que... Que eu tive de matar.

Aiden suspirou profundamente. Agora entendia o desespero de Volker. Foi a primeira vez que ele matou alguém e estava em choque com isso. Aiden, que teve essa mesma sensação há muitos anos, achava que ela deveria ser reservada para pouquíssimas pessoas, e Volker certamente não seria uma delas. Era jovem, tinha um futuro pela frente, uma família.

—Isso é quase que inevitável para o caminho que você escolheu, Volker.

—Eu não queria matar aquele homem! – exclamava o rapaz, em lágrimas. – Não queria, eu juro!

—Mas matou. – completou o vigilante. Após um forte suspirou, continuou. – A primeira pessoa que matamos na vida é aquela que nunca esqueceremos. Eu matei pela primeira vez quando tinha dezesseis anos. Éramos da mesma gangue, mas o cara queria me foder. Aí brigamos com canivetes. Saí com uns cortes, mas o cara acabou morrendo depois que cravei meu canivete na barriga dele. O nome dele era Matt. Lembro até hoje da cara dele cheia de espinhas, e principalmente de todo o sangue que ficou nas minhas mãos... Depois dele, vieram tantos que nem contei mais. A pergunta que me faço é: isso é o que você deseja para sua vida, Volker? Pois ainda dá tempo de sair dela.

—Não. – disse o rapaz, engolindo o choro. – Estava tudo certo, Aiden. Era para eu espetar um pendrive com um vírus e infectar o computador de Starrick, e então seria transmitido no telão do comício um vídeo do Dedsec denunciando as falcatruas dele. Não foi difícil consegue o acesso, mas quando o pendrive ainda estava carregando o vídeo, esse segurança me viu mexendo no computador! Estava prestes a alertar o restante da segurança da minha presença ali através do rádio e... Eu fui para cima dele! Eu me senti igual um animal!

—Foi o seu instinto de sobrevivência falando mais alto, o que dá no mesmo. Mas continua.

—E então, eu vi uma caneta sobre a mesa, e eu... Oh, eu enfiei a caneta bem no pescoço dele! Foi tanto sangue que jorrou na hora, que tudo que fiz foi correr e... Acho que desapontei meus amigos do Deadsec. Eu os abandonei para fugir, eu...

Aiden suspirou, levemente sem paciência.

—Você fez sua parte, não fez? Então foda-se o que eles pensam de você. Agora, vai tomar um banho, e pelo amor de Deus, taca fogo nessa camisa. Se sua irmã encontra essa camisa ensanguentada por aqui...

—Por favor, não conta para ela o que eu fiz... – pediu o jovem, enxugando as lágrimas.

—Não vou contar, muito embora ela merecesse saber os rolos que você está se metendo. Mas isso é entre você e ela, que são irmãos. Não tenho o direito de me meter nisso. Agora, banho.


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Notas finais do capítulo

Aiden e seu celular, uma dupla dinâmica que nem mesmo o amor pode separar kkkkk
Agora a gente se vê no Epílogo!
obrigada por acompanharem e deixem aquele review bacaninha!



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