Watch Dogs: Ghosts of London escrita por BadWolf


Capítulo 13
O Preço A Se Pagar




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            -Recusado?! Mas como assim, recusado?!

            A recepcionista do hospital devolveu a Maddie o cartão de crédito dela. Já era o terceiro que a jovem lhe entregava, e também, assim como os outros, fora recusado pela administradora do cartão, tão logo a atendente tentou passa-lo. A julgar por seu uniforme de garçonete, o motivo não era de se estranhar: falta de limite de crédito.

            -Parece que a administradora de seu cartão de crédito está recusando o pagamento, senhora. Creio que seria melhor entrar em contato com eles e solicitar um aumento de limite para prosseguirmos com a operação.

            -Tente novamente, por favor...

            -Mas senhora...

            -Por favor, tente! – insistiu Maddie, ainda que soubesse que seu pedido era em vão. Como uma mera balconista de pub, Maddie sabia que conseguia pouco crédito no mercado. Passou os últimos dias em uma verdadeira procissão, de banco em banco, atrás de um empréstimo que pudesse bancar a cirurgia de seu tio. Mas 50.000 ETOs... Era muito dinheiro. Chegou a colocar seu próprio apartamento à venda em sites pela internet, ainda que soubesse que não haveria tempo de vende-lo. O tempo estava contra ela. A cada hora que se passava, mais e mais seu tio Alan Pearce precisava de uma cirurgia.

            -Não precisa mais passar o cartão dela, senhora.

            Maddie sobressaltou-se, sendo surpreendida pela voz de Aiden. O justiceiro colocou sobre o balcão da recepcionista do hospital um pen-drive, com um símbolo estranho.

            -Aqui estão os 50.000 ETOs necessários para pagar a cirurgia do Sr. Sch... Quero dizer, do Sr. Pearce. – disse Aiden, não disfarçando o desgosto no tom de voz. Ouviu de Maddie, que estava a seu lado, um suspiro de alívio. Era bom vê-la tranquila outra vez.

            A recepcionista inseriu o pendrive em seu computador. Com uns poucos cliques, deu o veredito.

            -Pagamento confirmado, senhor. Vou alertar a equipe médica para prosseguir com o procedimento cirúrgico junto ao Sr. Pearce. – disse a recepcionista, voltando-se a outro cliente do hospital. Aiden e Maddie distanciaram-se do balcão.

            -Como conseguiu todo esse dinheiro, Aiden?

            Aiden sabia a resposta, mas dizê-la era tarefa impossível. Ainda que não tivesse cometido nenhum crime em específico, Maddie jamais seria capaz de compreender que ele simplesmente hackeou o drone de uma organização ultrassecreta de encapuzados, que pagaram a bagatela de 50.000 ETOs pela descoberta da falha. Absurdo demais para alguém como ala compreender, que dirá acreditar, pensou.

            -Não fiz coisa errada, se é o que está pensando. Um dia, eu vou te explicar tudo com calma. O importante é que seu tio está a salvo agora. – disse, massageando seus tensos ombros.

            -Estou tão nervosa...

            -Está dando para perceber. Aposto que está quase criando raízes na recepção desse hospital. Venha, vamos tomar um café. Conheço uma cafeteria ótima aqui por perto.

            Pela forma como ela devorou as torradas com café, estava certo que Maddie mal estava se alimentando, tamanha era preocupação com o estado de saúde de seu tio. Contou um pouco a Aiden sobre os diagnósticos do médico, cada vez mais preocupantes quanto à demora em realizar a cirurgia.

            -O médico disse que ele pode não resistir à mesa de cirurgia.

            -Bobagem, Maddie. Sr. Schmitz... Quero dizer... Meu pai é um homem muito forte. Ele vai aguentar essa. Até porquê... Nós ainda temos muito o que conversar. Aquele velho não pode morrer sem acertar umas contas comigo antes.

            -Aiden... Eu sei que você tem muitos motivos para odiá-lo, mas... Quando o meu tio acordar, por favor, pega leve com ele. Ele vai operar o coração. Não pode ser submetido a emoções fortes.

            O justiceiro suspirou, abnegado, bebendo mais um gole de café.

            -Eu não me esforcei para juntar essa grana para simplesmente mata-lo com uma discussão acalorada, Maddie. Se o quisesse morto de verdade, era só deixa-lo morrer naquele leito de hospital e não mover uma palha sequer para conseguir essa grana toda. Motivo pra isso não me falta... Ah, quando penso em tudo que minha mãe passou nas mãos dele... As discussões, as agressões, as brigas...

            -Falando em briga... O que houve com o seu nariz?

            Aiden levou a mão ao seu nariz. Ainda estava inchado, graças ao chute que recebera do guarda da Albion, quando em resgate do Lucas. Darcy o ajudou a colocar no lugar, com nenhum pouco de delicadeza, mas era o mais próximo de “assistência médica” que ele poderia receber. Ainda assim, ele estava quase redondo de tão inchado.

            -Eu bati em uma porta.

            Ouviu de Maddie nada mais que um suspiro, em resposta à sua desculpa esfarrapada.

            -Espero que não tenha se metido em problemas para conseguir esse dinheiro.

            -Relaxa, Maddie. Foi só um descuido de minha parte, é sério. Meu nariz não tem nada a ver com o dinheiro, pode confiar.

            -Acho que é melhor não falarmos mais sobre isso. Já me aborreci o bastante por hoje. – decretou Maddie, terminando o café. A julgar por seu tom de voz, não estava acreditando nem um pouco na hipótese de Aiden ter levantado aquele dinheiro de modo lícito, e o nariz torto dele era só mais uma evidência. Mas estava cansada demais para uma discussão. Não que Aiden reclamasse.

O telefone de Maddie tocou, repentinamente.

            -Estranho... Número desconhecido. Deve ser o banco. Deixei meu telefone em tantos... Alô? O QUÊ?!

            Ao perceber que Maddie estava apavorada, Aiden passou a prestar atenção naquela ligação.

            -Sim, ele é irlandês... Escutem aqui, vocês não podem simplesmente prender o meu tio, ele...

            Pronto, agora meu pai está sendo preso. Bem a porra que precisávamos no momento.

            -Como assim, não temos direito de visita-lo?! Escute aqui, eu vou procurar um advogado! Isso simplesmente não existe! Não, o que vocês estão fazendo com ele é errado! Meu tio não é um imigrante ilegal, ele está há décadas em solo inglês e tem cidadania inglesa! Meu tio não é nenhum criminoso e... Como assim, do IRA?! O quê?! Não... – balbuciou Maddie, em seguida de um suspiro. Depois da conversa com Aiden, sabia o que a pessoa do outro lado do telefone estava dizendo. – Olha, eu não sou advogada nem entendo tanto assim de leis, mas mesmo que essa história dele ser um terrorista do IRA for verdade, isso deve ter tanto tempo que com certeza prescreveu! Absurdo! Isso não vai ficar assim!

Após desligar a ligação, Maddie jogou o celular sobre a mesa. Mais um pouco de força e certamente o quebraria.

—A Albion está acusando meu tio Alan de ser um terrorista. O Departamento de Prevenção de Crimes de Imigrantes, ou algo assim, sei lá, parece que descobriu todo o passado de terrorista dele na Irlanda.

—Mas meu pai ainda está hospitalizado. Não pode ir para uma prisão.

—Vão colocar guardas vigiando-o no hospital, e depois que ele tiver alta, ele será preso. Foi decretada prisão preventiva dele e irão solicitar deportação para a Irlanda...

Aiden balançou a cabeça, em pesar.

—O que foi, Aiden?

—Se mandarem ele de volta para a Irlanda, não ficará vivo por lá por muito tempo. Se não for morto pelo próprio governo ou por desafetos, será por seus velhos “camaradas”, afinal eu não sei o que o fez abandonar o IRA e ir para a Inglaterra. Mas desconfio que não tenha sido boa coisa, especialmente para o IRA, e eles não costumam esquecer das coisas com facilidade. Sabe, esse tipo de “vida” que ele levava simplesmente não existe aposentadoria... Alguma coisa ele fez.

—Meu Deus... Para onde você vai? – perguntou Maddie, ao ver Aiden se levantar da mesa.

—Vou procurar ajuda. – respondeu Aiden. Preferiu deixar Maddie pensando ser de um advogado, mas era um outro tipo de ajuda. Dessas que só se falava a partir de um telefone criptografado.

—Alô? – ouviu a voz de Volker do outro lado.

—Pensei que fosse do tipo que só responde torpedo, Volker.

—“Torpedo”?! Nossa, mas isso é tão anos 2000... Peraí, já até sei quem é. Aiden Pearce, “A Raposa”. Fala aí, o que é que está pegando?

—Eu não sou mais “A Raposa”, já disse. E não tem nada “pegando”. Estou ligando para avisar que tem um tal de Departamento de Prevenção de Crimes de Imigrantes na cola de seu tio. Parece que descobriram toda a merda que ele fez na Irlanda e agora ele está em maus lençóis.

—Tá, mas o que eu tenho a ver com isso?

Aiden suspirou.

—Escuta uma coisa. Eu tenho um milhão de motivos a mais do que você para querer ver o seu tio Alan na merda, mas nem mesmo eu estou deixando o cara à mercê, e sabe porquê? Porque eu gosto da sua irmã. E pensei que você se importasse um pouco mais com ela para entender.

Seguiu-se um grande silencio.

—Urgh, está bem. O que posso te dizer é que esse “departamento” é coisa da Albion. Nem mesmo pertence ao governo inglês. É só mais uma espécie de “licença para prender discriminadamente gente pobre e à margem da sociedade” que aqueles mercenários conseguiram. Não que o governo não esteja satisfeito com isso.

—Imaginei que fosse o caso. Bom, preciso tirar o nome do meu pai de lá. Vocês do Deadsec estão o tempo todo tentando sabotar a Albion. Chegaram a fazer alguma coisa com relação a esse departamento em específico?

—Não, ainda não. A verdade é que esse departamento foi criado por um diretor da Albion, mas nós não sabemos muito bem quem ele é, além do codinome Gárgula. Só o que deu para perceber no pouco de dados interceptados é que esse diretor tem uma grande ojeriza a imigrantes. A verdade é que a maioria desses mercenários da Albion tem, então fica muito difícil distinguir quem pode ser.

Aiden parecia inconformado.

—Porra, vocês do Deadsec já foram melhores... Não tem nem mesmo alguma pista melhor do que isso? Ou será que eu terei que fazer tudo sozinho?

—Calma, vigilante... – interrompeu Volker. – Esse Departamento fica em um prédio da Albion chamado Abbaton Tower, bem às margens do Tâmisa. Se você puder dar uma verificada na papelada de lá, hackear uns servidores, talvez consiga achar alguma coisa.

Aiden desligou o telefone. Quando pensou que já tinha resolvido tudo, que nunca mais iria precisar agir como um vigilante, mais merda acontece e mais uma vez ele se vê empurrado de volta para essa vida. Mais uma vez, quebrando a promessa que fez com Jackson. Se ele descobrir tudo que está fazendo... Talvez nunca mais o perdoe. O certo seria jogar limpo com Jackson. Talvez ele me entendesse, quem sabe? Não. Ele ia querer que eu buscasse uma saída na Lei. Mas com que grana iria fazer isso? Contratar um bom advogado na Inglaterra deveria ser o preço de um rim no mercado negro, e pedir dinheiro emprestado a Jackson ou quem quer que fosse estava fora de cogitação. Não. Não havia outra forma, senão lutar contra o sistema. As regras não estavam a seu favor, então precisava jogar sujo, se quisesse vencer esse jogo.

Era hora da Raposa voltar à cena. Mais uma vez.


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Notas finais do capítulo

Esse pai do Aiden tá deixando o pobre hacker cada vez mais enrolado. Quando pensa que conseguiu resolver tudo, mais uma bomba aparece... Pudera, o cara era um terrorista, né? kkkkk
Pior é que nem vai dar para ter uma conversa daqueles com o velho, senão o cara morre de vez.
Vai ter que se segurar, Aiden.
Espero que tenham gostado e até o próximo cap!



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