Watch Dogs: Ghosts of London escrita por BadWolf


Capítulo 14
O Inimigo Do Meu Inimigo


Notas iniciais do capítulo

A RAPOSA vai atacar de novo!!
Que espiral descontrolada está o Aiden, coitado... Torcer para não ser pego!
Boa leitura!



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            Passava das onze da noite e ainda havia uma última pessoa no Abbaton Tower. Era uma torre repleta de escritórios, boa parte deles corporativos, mas havia também os do governo britânico e principalmente, os da Albion. Não à toa Aiden Pearce estava nos arredores. Era lá que ficava o tal Departamento de Prevenção de Crimes por Imigrantes. Não dava para ter um nome mais fascista, pensou. Era como se o mundo estivesse voltando aos anos 30. Coisas inaceitáveis acontecendo, autoritarismo se normalizando... A História nunca cobra o preço. Se repete o tempo todo, e às vezes nem mesmo como farsa.

            Estava em um pub, que ficava do outro lado da rua. Havia tentando hackear o sistema da portaria e segurança da torre, mas não conseguiu ir muito além disso. Havia uma porta criptografada de ponta a ponta no andar da Albion.  Com toda a certeza a presença da Albion tornou a segurança do lugar bastante rigorosa. Havia dois tipos de acesso para entrar e sair: biometria e cartão magnético. E esse acesso, que viria muitíssimo a calhar, estava pendurado no pescoço do cara, sentado no balcão e pedindo uma cerveja, bem próximo de si. Um cara que parecia como outro qualquer do escritório, mas que por ser chefe do TI, tinha esse acesso privilegiado a quase todo o prédio. Mas havia um problema. Era um leitor físico. Não dava para simplesmente copiar os dados. Precisava do cartão.

            O homem já estava bebendo sua terceira cerveja quando Aiden se levantou da mesa. Precisava ser discreto. Não dava para simplesmente roubá-lo. Seria fácil, mas chamaria a atenção e com toda a certeza o sujeito solicitaria o cancelamento do acesso imediatamente. O jeito seria furtá-lo, pensou o vigilante. Já estava chapado o bastante para “perder” o cartão e demorar tempo o suficiente para se dar conta. Estava bem perto do chefe de TI quando alguém sentou ao seu lado, o que fez o vigilante se surpreender.

            Era Darcy. Derrubou um copo de vinho no cara. Propositalmente, é claro.

            -Meu Deus, como eu sou desastrada! – exclamou a mulher, atraindo alguns olhares apesar da atenção do bar estar voltada a uma espécie de debate entre políticos, coisa comum da época de eleições. Aiden precisou se afastar, temendo ser visto. Mas não deixou de notar que Darcy estava... Diferente. Não usava o casaco branco, que quase tampava seu rosto. Seu cabelo de dreads estava à vista e usava uma blusa decotada, além de jeans bem justa no corpo, o que acentuava curvas de seu corpo que o vigilante sequer havia percebido.

            -Nem um pouco, mocinha. Eu é que sou um cara de sorte!

            -Mas eu estraguei a sua camisa! Duvido que uma mancha de vinho desse tipo vá sair!

            -Não é nada que uma lavanderia não resolva... Qual é seu nome?

            -Evie.

            -Evie, que nome lindo! Tão lindo quanto você! – disse o homem, todo derretido. Não era à toa. Era a personificação do estereótipo da área de TI. Gordinho, com a cara cheia de espinhas, par de óculos enorme na cara e cabelo precisando de um barbeiro. Nem deveria estar acreditando em ver uma mulher como Darcy dando em cima dele. A cena patética a se desenrolar diante de seus olhos quase fez Aiden Pearce se desmanchar em risos.

            -Venha, vamos tentar salvar essa camisa... – disse a jovem, pegando na mão do rapaz. Foram até o banheiro, e cinco minutos depois, Darcy saiu sozinha. Com o crachá dele na mão.

            -Não me diga que você matou o carinha nerd... – comentou Aiden, aos cochichos, ficando ao lado de Darcy e abrindo a porta para que ela saísse do pub.

            -Só se foi de amor. Mas não. Não matamos inocentes, Aiden, O Credo não permite. Apenas o deixei, digamos assim... Sonolento. Aposto que quando for acordado por um dos funcionários do pub naquele banheiro ele não vai ter certeza se eu fui um sonho... Ou um pesadelo. – disse a Assassina. Aproximou-se de uma lata de lixo, abriu-a, retirando uma mochila. Dentro dela, havia seu característico casaco branco, e mais uma vez, o capuz passou a ocultar seu rosto.

            -O que pretende com esse crachá? – perguntou Aiden, curioso a acompanha-la do outro lado da rua. Já imaginava a resposta.

            -O mesmo que você, eu pressuponho. Estou atrás da Gárgula. Mas me espanta que esteja atrás dele também. A Irmandade não contratou os serviços de um fixer para isso.

            -Irmandade?! – abismou-se Aiden. – Esse cara está metido com o seu pessoal?

            -Ele é um inimigo declarado, na verdade. Um templário. Só o fato o torna meu alvo, mas há um agravante: foi dele a ordem de matar meu irmão Lucas.

            -Puta merda! – exclamou o vigilante.

            -Você também quer mata-lo? Já aviso que ele é meu.

            -Na verdade, não. Preciso hackear o sistema e tirar o nome de uma pessoa da lista de deportação. Matá-lo não estava nos meus planos, mas se quiser, fique à vontade. – disse Darcy, começando a escalar as paredes externamente. Como Aiden não tinha a mesma habilidade, precisou recorrer a um drone de carga, que conseguiu hackear de uma obra ao lado. Mais pesado, o drone subia devagar com seu peso, quase que acompanhando as escaladas de Darcy. Era inacreditável a facilidade com que ela conseguia saltar e escalar. Aiden nunca viu nada igual, e olha que já conhecera muito praticante de parkour.

            -Fim da linha. – ela disse, ao parar diante de um obstáculo. O drone não subia mais além disso, o que fez Aiden ter que descer dele também. Ao lado de Darcy, o vigilante pôs-se a olhar ao redor. Logo teve uma ideia. Soltou seu robô voador e começou a sobrevoar a área, à procura de um ponto de infiltração.

            -Achei. – disse, ao ver que alguém havia deixado um exaustor aberto do outro lado do prédio. Era espaço suficiente para um adulto passar. Mas havia um problema: havia uma altura considerável do chão. Não dava para prosseguir sozinho. Para conseguirem entrar, precisariam da ajuda um do outro. Como um bom cavalheiro, Aiden ofereceu-se para Darcy conseguir alcançar o buraco, servindo como uma espécie de escada humana.

            -Até que você é bem pesadinha! – exclamou o vigilante, deixando a jovem pisar primeiro em sua mão e depois em seu ombro.

            -Cuidado com as costas! Na sua idade, não volta mais ao lugar. – zombou a jovem. Já dentro do prédio, estendeu a mão para Aiden, que após algumas tentativas de pular, conseguiu pegá-la.

            -E eu que sou pesada, né? Nem um pouco perto de você! – resmungou em troca Darcy, depois de Aiden finalmente subir. Estavam na área de manutenção do prédio. Era tudo um grande breu, o que fez o vigilante acender uma lanterna para saber onde estavam pisando. Subiram uma série de escadarias, até chegar ao andar que desejavam: onde ficava o Gárgula.

            -Escuta, Darcy... – começou Aiden, já perto da porta do escritório. – Sei que você quer matar muito esse cara, mas só ele tem o acesso ao sistema de que preciso. Se você matar ele antes, não vou conseguir o que quero, entendeu?

            A Assassina bufou. Passou o cartão que roubara, e uma luz verde se acendeu.

            -Tá bom. Em consideração à sua ajuda, vou deixar você trocar uma palavrinha com ele. Seja sábio na hora de escolher o que vai conversar, pois depois... Só no Além. – disse a Assassina, ejetando sua lâmina rapidamente.

            Com o rosto coberto por sua máscara, Aiden tirou do bolso seu revólver. Torciam para que não tivesse nenhum aparato tecnológico para defende-lo, mas a julgar pelo nível de segurança que enfrentaram, dificilmente haveria. A porta de sua sala era de madeira, o que fez Aiden dar um bom chute, o suficiente para fazê-la ir abaixo e surpreender o tal “Gárgula”.

            -Mas o que é isso?! – esbravejou o homem.

            -Abre o seu sistema, agora! – gritou Aiden, intimidante. Encostou o cano de sua pistola sobre a cabeça do tal “Gárgula”, que trêmulo, pôs-se a digitar a senha. Toda hora, o olhar do sujeito ia para Darcy. Era nítido que ele sabia quem ela era, e mais nítido ainda que não sairia vivo dali.

            -Parece que a Ordem dos Templários não tem sido muito criteriosa na hora de escolher seus membros, porque, olha só para você. Custo a acreditar que um verme como você matou meu irmão.

            Com Aiden em sua cola, a apontar toda hora o revólver em seu rosto, o homem digitava tudo que o vigilante pedia. Mas não sem responder às provocações de Darcy.

            -Eu poderia dizer o mesmo dos Assassinos, Darcy Clarkson. Um bando de fracassados, que tiveram de fazer um acordo com os templários para simplesmente sobreviver. Vocês trocaram Londres, nos entregaram de mão beijada, só para não morrerem apodrecidos em uma cela. Isso é coragem para você?

            - Sabe, a cada dia que passo em Londres, mais eu vejo que seria legal simplesmente tomar a cidade de vocês de volta. Fazer como meus ancestrais fizeram, os irmãos Frye. Seria ótimo, não é? Fazer o passado se repetir. Curte um remake?

            O homem riu.

            -Aqueles eram outros tempos, Assassina. Hoje temos mais recursos, mais poder, mais armas, mais tecnologia. Enquanto vocês são uns pobretões que nem estão em número suficiente para nos enfrentar.

            -Aí que você se engana, templário. Nunca tivemos tanta liberdade para agirmos como agora, e tudo graças ao quê? À tecnologia. Essa mesma que você diz ser seu ponto forte. Adivinha? É o nosso também. E é com ela que iremos vencer e devolver Londres ao povo.

            Aiden bufou com a conversa. Estava cansado desse papo de mudar o mundo, ajudar o povo, ou talvez porque fosse velho demais para acreditar em Papai Noel e coisas utópicas. Finalmente, conseguiu acessar o setor de imigração. Abriu a lista das deportações agendadas, e lá estava o nome que tanto buscava: Alan Pearce.

            -Agora você vai apagar essa lista.

            -Mas...

            -Agora! – disse, dando dessa vez uma coronhada em Gárgula, mas não muito forte. Sentindo o sangue escorrer sobre a testa, as mãos do templário tremiam, e com a ordem de deletar dada ao computador, pouco a pouco a tela carregava e os dados eram apagados.

            -Sabe o que você ganha ao me matar, Assassina? Nada. – disse, ao perceber que a lista estava já em 90% deletada. Antes que pudesse zombar mais um pouco, Darcy ejetou sua lâmina e cortou seu pescoço, fazendo o homem cair ao chão, afogando-se em seu próprio sangue. Uma enorme poça se formou, cobrindo o tapete que decorava seu escritório.

—A geração anterior à minha – disse Darcy, a observar o corpo do templário estendido no chão – pode ter sido covarde, realmente. Mas eu não serei. Descanse em paz.

Finalmente, a lista de deportação foi apagada. Mas junto a isso, foi disparado um alarme.

—Porra! O filho da puta acionou a segurança! Deveria ter previsto isso! – exclamou Aiden, desesperado. Correram até a porta, que lentamente estava se fechando, e por pouco não acabaram agarrados nela. Voltaram para as escadas, mas já era possível escutar os passos frenéticos dos seguranças da Albion. Seria impossível sair sem passar por um confronto direto com eles.

—Preparado para a briga, fixer?

A resposta de Aiden veio com seu bastão. Em segundos, os guardas encontraram os dois, e uma grande pancadaria generalizada começou a acontecer por lá. Por sorte, não usavam armas de fogo, apenas bastões, mas isso não impediu que Aiden e Darcy não escapassem ilesos de receberem um ou outro golpe. Foi uma luta dura, mais pela quantidade de guardas que pela qualidade deles, mas conseguiram vencê-los.

Aiden arfava em cansaço quando conseguiu quebrar o braço do último guarda. Mal conseguiu se recompor, pois Darcy logo o arrastou pelo braço para fora dali. Alcançaram o mesmo buraco de ventilação com que entraram e desceram. Prosseguiram, até Aiden se dar conta do pior: não havia nenhum drone por perto, o que o obrigava a fazer o mesmo percurso louco que fizera Darcy. Mas como?

—Sabe alguma coisa de parkour? – ela perguntou, ao vê-lo paralisado diante da altura.

—Não tanto quanto você. Porra, e agora?

A Assassina suspirou. – Salto de Fé.

—Salto de quê?!

—Salto de Fé. Olha, não dá tempo de explicar agora. Teremos de saltar no Tâmisa.

Aiden desesperou-se, ao vê-la já na borda do prédio, diante do Tâmisa.

—Peraí, você já viu a altura disso? Nós vamos morrer esmagados se saltarmos!

—Confie em mim. – segurou Darcy em seus ombros. Já conseguiam ouvir os guardas chegando, já em seus calcanhares. Não havia outra escapatória.

—Porra... Mil vezes porra! Eu só posso ter enlouquecido! – gritou, tão logo viu Darcy saltar sozinha. Ouviu de um dos guardas “não se mexa!” antes de fazer o mesmo que ela. Claro, sem a mesma desenvoltura, pois ela mais pulou como se fosse uma acrobata de Olimpíadas. Juntando o pouco de coragem que ainda tinha, Aiden saltou. Sentiu um leve ardor em seu ombro, quando ainda no ar, mas logo o grito foi abafado pela água poluída do rio a invadir sua garganta.

O Tâmisa era mais profundo do que ele pensava, mas emergiu rapidamente. Encontrou Darcy também na superfície da água, e parecia que ela o procurava.

—Você está bem? – perguntou a ele. Recebeu dele só um assentimento.

—Urgh!

—O que foi? Não me diga que quebrou uma perna... – ela comentou.

—Acho que tomei um tiro.

—Merda!

—Foi de raspão, nada demais.

—Precisamos sair dessa água podre. Depressa. – disse Darcy, o que fez Aiden nadar junto a ela para as margens do rio. Andaram para debaixo de uma das pontes que cortava o Tâmisa. Havia ali um grupo de mendigos, a se abrigar do frio da noite ao redor de uma fogueira improvisada em um latão. A essa altura, os guardas da Albion provavelmente pensaram que eles morreram na queda, o que lhes dava alguma vantagem.

—E há quem diga que o Tâmisa foi despoluído. – comentou Darcy, enquanto caminhava pela margem ao lado de Aiden.

—Onde estamos?

—Acho que perto da London Eye. Dá para ver o reflexo dela na água. A Irmandade tem um esconderijo aqui perto. Precisamos cuidar do seu ombro, antes que infeccione com essa água nojenta do Tâmisa. Vamos.

Aiden e Darcy caminhavam pela rua quase que incógnitos. Estavam tão sujos que eram facilmente confudidos com mendigos. Foi uma caminhada pequena até um beco sujo, onde um homem fumava crack e um casal se pegava sem qualquer discrição. No canto dele, havia um armário de energia elétrica, mas quando Darcy o abriu com uma chave, acabou se revelando diante dos olhos de Aiden uma entrada secreta.

Era um abrigo pequeno, mas acolhedor. Nem parecia com a coisa nojenta do lado de fora. Havia uma cama pequena, um armário, uma televisão pequena, um frigobar e, para alívio de Aiden, um chuveiro, mas sem qualquer cobertura e totalmente exposto ao ambiente. O problema seriam as roupas, pensou.

Sentou-se sobre uma cadeira. Ao sentir o sangue esfriar da adrenalina da fuga, logo a dor veio. Ainda sangrava.

—Preciso limpar sua ferida, mas seria melhor se você tomasse um banho primeiro.

—Você tem alguma roupa aí? Claro, que caiba em mim.

Darcy rolou os olhos.

—Vai por mim, aqui há mais roupa masculina que feminina. Esse esconderijo não é só meu.

—Que ótimo. Tudo que não queria era ter que usar um cropped. – brincou o vigilante.

Recebeu das mãos de Darcy toalha, uma camisa branca e calça de moletom.

—Eu vou ficar de costas, não se preocupe. – ouviu de Darcy. A dor no ombro o deixou com dificuldades de tirar a camisa, o que fez a Assassina ajuda-lo.

—A bala foi de raspão. Nem alojou. Só queimou um pouco sua pele. Teve sorte. – comentou Darcy, recostando seus dedos morenos no ombro ferido de Aiden, bem próximo do ferimento, o que provocou em Aiden uma sensação... Estranha. Mas preferiu não ficar pensando muito nisso. Esfregou-se, torcendo para que aquele cheiro de esgoto do Tâmisa saísse de sua pele.

—Não vai tomar banho? – ele perguntou, ao ver Darcy com o kit médico na mão. Havia uma espécie de kit de primeiros socorros em um armário, o que nem causou surpresa a Aiden, dado a vida estranha que ela levava.

—Você pode ter se lavado, mas precisamos desinfetar seu ferimento o quanto antes. Meu banho pode esperar. Infelizmente. – explicou Darcy, enquanto ajudava Aiden a se sentar. A cada mexida com o ombro, mais o vigilante sentia dor. Ela embebedou uma gaze com álcool e pôs-se a limpar a ferida.

—Pensei que nunca mais tivesse que passar por isso. – comentou Aiden, enquanto Darcy fazia sobre seu ombro um curativo.

—Já tomou muitos tiros? – perguntou Darcy.

—Alguns. O mais grave deles me deixou em coma, mas salvou a vida de uma pessoa que amo. E de certa forma, a minha também.

—Você tomou um tiro e esse tiro salvou sua vida? Você é um cara estranho mesmo. – brincou a Assassina, colocando o último esparadrapo. Não era um curativo profissional, mas servia por hora. Ela caminhou para o chuveiro, e ainda que não tivesse pedido por privacidade, Aiden optou por se virar da mesma forma que ela fez, mas sua paz não durou nem um segundo. A TV velha que estava naquele cômodo, desligada, servia praticamente como um espelho para tudo que acontecia no chuveiro, o que fez Aiden se aperceber que Darcy estava a observá-lo tomar banho da mesma forma que ele, ali. Perturbado, o vigilante procurou o controle e a ligou, fazendo o reflexo sumir. Ouviu ao fundo uma risada feminina.

—Você é mesmo um grande cavalheiro, Sir Aiden Pearce.

O vigilante esboçou um sorriso. Ela sabia o tempo todo que ele estava vendo, pensou. Sabia e não se importou. – O mesmo não posso dizer de você.

—Não dá para exigir cavalheirismo de uma dama.

—Touché. – disse, zapeando os poucos canais que passavam naquela TV velha. Um filme adulto, a julgar pelo horário, um programa de culinária, videoclipes dos anos 80... Parou em um filme de época, antigo. Tentava prestar atenção à TV, mas o filme era tão antigo e entediante que simplesmente não conseguia.

Recebeu das mãos de Darcy um pacote de biscoitos. Comeu com avidez. Havia também cerveja, mas estava um pouco quente. Ouviu Darcy reclamar que deixaram o frigobar desligado, mas sem explicar quem exatamente eram “eles”.

—Há mais gente igual a você andando por aí? – perguntou Aiden, curioso.

—Sim, mas não somos muitos. Ainda mais em Londres.

—O Gárgula disse que vocês fizeram um acordo para entregar a cidade.

—O meu avô e os Assassinos de seu tempo, na verdade. Depois de anos de luta, perdemos o controle da cidade. Para evitar um banho de sangue, eles fizeram esse acordo. Os templários ficaram com a cidade, e nós, Assassinos, somos proibidos de até mesmo colocar os pés sobre ela. Por isso o esconderijo. Não podemos ser vistos aqui, do contrário uma guerra pode acontecer. Não deveria estar contando essas coisas para você... – interrompeu-se Darcy, levantando-se. Ainda sentindo o ombro, Aiden levantou-se também, com leve dificuldade.

—Eu já estou mais que consciente que você pertence a algum tipo de seita religiosa maluca.

Ouviu uma risada graciosa de Darcy. Teve vontade de rir.

—Seita religiosa... Há muito tempo não somos envolvidos com religião.

—Você escolheu entrar nisso? Por que? – ele perguntou.

—Não tive escolha. Nasci na Irmandade. Sou de uma família antiga, muito antiga de Assassinos. Nem me atrevo a dizer quantas gerações já temos. – ela explicou, no que Aiden assentiu.

—Imagino o peso que deve ser. Sabe, por mais que eu não tenha absolutamente nada a ver com os negócios do seu pessoal, eu... Não sei dizer, mas eu sinto uma certa familiaridade... Acho que é com o estilo de vida que levei por muito tempo. Toda essa loucura de esconderijos, tiroteios, invasões e... Morte... Eu sei como é.

—E o que te fez sair disso?

Aiden suspirou. Nunca conversou francamente com alguém sobre isso além de Jackson. Mas curiosamente, sentia-se à vontade para falar a respeito com Darcy.

—Estava em uma espiral de violência, gerando mais e mais violência, tudo porque perdi uma pessoa que amava muito e não soube lidar com a morte dela. Busquei vingança, e quando percebi, era como se tivesse perdido a minha alma, me tornado um monstro. Mas uma das pessoas que me amava, e que me afastei, me ajudou a sair dessa. Fez com que eu percebesse que minha vida valia alguma coisa, que eu não era culpado por nada que aconteceu e... – parou Aiden, ao perceber que uma lágrima ameaçava escorrer. – Desculpe, acho que não consigo falar disso sem deixar de me emocionar.

Formou em Darcy um sorriso acolhedor. Ela tocou seu rosto, envolvendo-o por entre seus dedos magros e finos, mas delicados, quase que como uma luva. Fixou seus olhos verdes nos dela, castanhos, que lhe sorriam como um abismo. Talvez fosse. Ele tinha medo. Era como se, diante dela, ele estivesse diante de todo o rastro de destruição que prometera deixar para trás, mas era um medo bom de sentir. E antes que pudesse perceber, seus lábios já estavam sobre os dela. Começou tímido, devagar, como se estivessem a se explorar, a se conhecer. Hesitou, pensando em se afastar, mas quando ela armou suas pernas ao redor de sua cintura e o envolveu em um beijo profundamente intenso, sabia que estava perdido.


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Notas finais do capítulo

EITAAAAAA!!

É, vai rolar exatamente o que vocês estão pensando, meus jovens... ( ͡° ͜ʖ ͡°)
Eu acho que alguém aí vai ficar dividido... Será?!
Pra quem nem par romântico tinha... kkkkk
Bom, não esperem um cap +18, vou deixar a critério da imaginação de vocês.
Próximo cap teremos as consequências tanto dessa noite caliente quanto da invasão da Albion e da morte do templário - claro, não vai passar em brancas nuvens...
Obrigada por acompanharem e até o próximo cap!



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