A escuridão escrita por Lola


Capítulo 3
Herói


Notas iniciais do capítulo

Boa Leitura ♥



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Elisa Narrando  

Hoje eu tenho 16 anos, não sou uma adolescente comum, por tudo que já expliquei. Nunca tive namorado, nem nada do gênero, pois eu sou praticamente condenada: tenho de me casar com outro portador de XP, com a mesma deficiência genética, possibilidade quase impossível. Por isso e por tudo me tornei uma pessoa fechada, na escola tenho apenas uma amiga, a Marina, com quem eu compartilho tudo. Ultimamente, os garotos mais idiotas da minha sala tem me perseguido e isso me deixa extremamente irritada.
— Filha o Jorge vai contigo até a porta da sala com o guarda sol! – Jorge era meu irmão, como ele ia para a faculdade cedo também, ele passava com mamãe para me deixar na escola.
— Não precisa mãe. Eu vou correndo. – insisti, como sempre. Em dias de muito sol, ele sempre me acompanhava até a porta da sala, me protegendo. E sempre chegávamos bem cedo, para que ninguém ficasse se questionando nada.
— Ta cedo Elisa, quase não tem gente na escola. Deixa de frescura. – ela disse com autoridade. Resmunguei qualquer coisa e aceitei calada. Entrei na sala e fui para a última carteira. Ninguém sabia, mas aquela sala havia sido escolhida propositalmente, por mim. Ela era totalmente contra o sol, e eu me sentia mais protegida ainda depois do diretor ter trocado todas as lâmpadas, com certa gratidão pelo meu caso.
— É... Elisa? – uma garota perguntou ao chegar na porta.
— Oi. – respondi receosa. Não a conhecia.
— Você poderia vir até aqui para que eu te perguntasse uma coisa? 
— Você não pode vir aqui? – perguntei estranhando a atitude dela.
— É que eu estou realmente com um problema nas pernas e eu não posso fazer muito esforço, por isso mesmo precisava de você aqui... Eu queria uma ajuda... – ela disse quase se agachando e fazendo um semblante sofrido. Não sei se devia, mas me levantei indo até perto dela.
    Ouvi uma risada ao fundo e algumas mãos me agarraram. Empurraram-me com muita força para o pátio e enquanto eu tentava voltar, puxavam meu macacão, mostrando minha regata e... Minha pele!
— PARAAAAA! – gritei apavorada. “Se expor ao sol significa por em risco sua vida” “Não brinque com isso Elisa” as frases da dermatologista ecoavam na minha cabeça.
— Elisa! – alguém disse meu nome e eu vi dois braços fortes em volta de mim, correndo para o lado oposto. – Se veste. – ele ordenou, puxando meu macacão para cima e depois olhou para o sol, tentando inutilmente tampar a visão. – Você ta protegida aqui? – ele perguntou preocupado. Era Iuri, o garoto que fazia parte da turma que eu citei anteriormente. Não sei o porquê de ele estar me ajudando, mas eu não iria agradecer. Muito menos ser amiga dele.
— Não. Só lá dentro. – apontei com a cabeça para a sala.
— Vamos pra lá então?
— Tem que ser rápido. – respondi e ele me deu a mão, correndo velozmente comigo. Assim que chegamos dentro da sala ele voltou, gritando com os amigos.
— VOCÊS ESTÃO LOUCOS?
— Qual é Iuri? Vai ficar defendendo a etzinha agora?! Até parece que ta apaixonado.. Ui.. – Pedro o provocou.
— Ela pode se vestir como ela quiser, ser como ela quiser.. isso não dá o direito de ninguém tentar machucá-la. – Tudo isso mexeu tanto comigo que eu nem mesmo percebi uma coisa... O Iuri me tirou do sol... Ele... Ele sabe que eu não posso ficar no sol.. Como ele sabe?! Meu Deus.
— Se eu souber que vocês tentaram fazer mais alguma coisa com ela, eu quebro a cara dos três! – ele ameaçou voltando para a sala.
— Como você esta? – perguntou se sentando em frente a minha carteira. Eu ainda recuperava o ar e tentava entender o motivo daquilo tudo.
— Bem. E você? Quero dizer... Por que me defendeu? Por que quis me proteger?
— Eu não sei... Só agi. – ele parecia esconder algo. – Por que você não pode ficar no sol?
— E você não sabe? – perguntei bem desconfiada.
— Claro que não! – ele encarou o chão.
— Ok, não deu certo dessa vez. Você sabe. – suspirei revirando os olhos.
— Olha, eu não queria saber.. Na verdade, seu caso é muito excepcional, não tinha como não saber... É uma doença tão rara. – ele ia dizendo cheio de nervosismo. Ele sabia que eu não gostava de falar sobre isso, ou pelo menos que eu escondia de todos o meu problema. – Não que todos saibam, eu mesmo não sabia, é só que eu conheço esse tipo de roupa... Eu já imaginava e conclui com a sua reação.
— Não espere que eu acredite nisso. Mas tudo bem. Eu não ligo pela forma como você ficou sabendo. A minha médica tem autorização de divulgar a respeito... Todos querem saber, é um caso único.
— E você não gosta de falar. Acertei? – ele perguntou enquanto as pessoas entravam na sala.
— Com certeza! Não é legal falar do quanto você é diferente das outras pessoas. Me sinto uma anomalia.
— Vi que temos algo em comum, então. – ele respondeu e suspirou, entristecido.
— Você... – eu disse observando seu corpo. – Realmente. – Sorri. – Mas pelo menos você não corre o risco de morrer por causa delas.
— Como não?! Se caso eu não conseguir um emprego decente, o que minha mãe vive falando que vai acontecer, eu vou passar fome e vou acabar morrendo embaixo da ponte. – ele tentou quebrar o clima estranho.
— Ninguém morre de fome. – rolei os olhos.
— Bem se vê que você não passou necessidades na vida. É mais uma riquinha do Carlos Chagas. – ele debochou com certa repulsa.
— Se você estivesse preocupado em estudar invés de julgar as pessoas saberia que não se morre de fome e sim de desnutrição.
— Da na mesma. A desnutrição se deu em decorrência da fome! Ok?
— Bem se vê que você é mais um carinha estúpido do Carlos Chagas. – revirei os olhos em discordância e acabei desviando o olhar para a sala, vendo que a maioria dos alunos já haviam se instalado em seus lugares.
— O estúpido aqui vai se sentar. Por nada pela ajuda. – Não me importava com a reação dele, eu o odeio assim como odeio os outros e ele não precisava sentir pena de mim e nem tentar me ajudar.


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Notas finais do capítulo

Até o próximo ♥



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