Sunshine escrita por bellafurtado


Capítulo 15
Livro II: Capítulo 1 - Acalmando...




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-Fique calma, Peg – pedi baixinho, da maneira mais educada e delicada que consegui.

-Desculpe estar te incomodando, Sunny – ela respondeu, fungando. Secou uma lágrima que lhe escorreu pelo rosto e olhou fundo nos meus olhos, murmurando: - Só estou com medo... pela Mel, sabe? A primeira incursão dela de verdade sem uma alma.

Bufei.

-Peg, relaxe. Ela saiu numa incursão para conseguir seu corpo, lembra? Além disso, ela passou muito tempo com você, e aprendeu muito bem a se virar. Ela está com o Jared. Tudo vai ficar bem... – dei um suspiro, lembrando-me de Kyle.

-Você parece estar tentando se convencer de que tudo vai ficar realmente bem. Me conta o que está acontecendo na sua cabecinha, Sunny – ela pediu, com um sorrisinho caridoso no rosto.

Respirei fundo e assenti.

-É o Kyle – respondi simplesmente.

-O que tem ele?

-Estou preocupada, Peg. E se algo acontecer? E se aparecerem alguns buscadores? Os outros podem até saber se fingir de almas, mas o Kyle não sabe.

-Sunny, o Kyle sempre fica na van. Nada vai acontecer.

-Mas e se dessa vez decidirem mandá-lo junto com os outros? – estremeci. – E se Kyle for a alma dessa vez?

-O quê? – Peg perguntou alto, chocada. – Que besteira, Sunny!

-O que aconteceu? – perguntou uma voz masculina vinda de trás da Peg. Ergui meus olhos para dar de cara com um par de olhos azuis escuros como os de Kyle. O rosto inteiro parecia com o de Kyle, mas haviam algumas diferenças. Era Ian. – Por que todas essas expressões de preocupação, hein garotas?

-Peg estava preocupada com Mel – respondi.

-E Sunny está preocupadíssima com o Kyle, e também está preocupada que eles decidam mandar Kyle ser a alma.

-Kyle? A Alma? – e então, Ian gargalhou. – Francamente Sunny, pense como nós humanos: quem em sã consciência deixaria Kyle ser a alma?

Dei um sorriso.

-Tem razão... – repliquei, respirando fundo e mexendo as mãos nervosamente. - eu só estou com uma preocupação besta mesmo. Quer dizer, faz algum tempo que o Kyle não vai a incursões porque eu lhe peço para ficar e... Ah, esqueçam. Mas que pessoa apaixonada não se preocupa à toa, não?

-É, é sim... – Peg concorda, segurando as mãos de Ian em seu ombro. Ambos felizes.

-Sunny, é sério: não se preocupe – Ian pediu, apertando os ombros da Peg de leve e se abaixando um pouco para me ver. – Kyle já foi em várias incursões. Ele é duro na queda, garota!

Dei um sorriso.

-Obrigada, gente – murmurei. – Ah, aliás, que horas são? Combinei com Jamie que eu o buscaria hoje, já que a Mel não está. Ele vai dormir comigo.

-Ahn... são 12:30.

-Ai, meu Deus! A aula dele acabou há meia hora! Ahn... guardem nosso lugar no almoço e peguem um pouco de comida, pode ser? Já estamos indo!

Peg e Ian deram uma risada, enquanto eu corria pelos túneis, indo para a sala de aula. Bati à porta. Jamie estava sozinho ali. Sharon me olhou com tédio e murmurou:

-Jamie, sua... amiga veio te buscar.

Jamie ergueu a cabeça para me encarar. Deu um grande sorriso e se levantou, agarrando a mochila no chão. Despediu-se de Sharon com um aceno de cabeça e veio na minha direção, dizendo logo em seguida:

-Ei, Sunny – e abriu um sorriso.

-Oi Jamie – respondo, sorrindo também. – Poxa, desculpe a demora... mesmo. Eu estava com a Peg, tentando acalmá-la, e acabei nem percebendo o tempo passando. Desculpa mesmo!

-Sem problemas, Sunny – ele respondeu. – Mas, diz aí, por que você está preocupada?

-Como sabe que estou preocupada?

-Não é difícil, Sunny. É quase como se tivesse um adesivo enorme no seu rosto.

Rolo os olhos e dou uma risada.

-Estou preocupada, Jamie – eu disse por fim. – Você sabe que não gosto nenhum pouco de incursões... e, depois de tanto tempo, deixei Kyle partir numa. Me sinto culpada. Estou preocupada com ele. E se algo acontecer?

-Com o Kyle? – Jamie perguntou surpreso, como que para confirmar. Assenti. – O Kyle, Sunny? Ai céus! Que besteira! O Kyle já passou por tanta coisa que, se você soubesse, nem se preocuparia mais. Sério mesmo, Sunny.

Dei um sorriso fingido.

-Obrigada, Jamie.

Fomos andando até o refeitório. Peg acenou timidamente para nós da mesa onde estava. Ali, ao lado dela, estava Ian. E, na mesa do lado, estava Lily, conversando com Cal. Eu e Jamie corremos até Peg e Ian. Sentamo-nos ali e pegamos nossos pratos.

-Olá, Cal, Lily.

-Oi Sunny – eles disseram.

-Ei, Sunny? – Cal chamou. Olhei para ele. – Você vai ter algum turno nos campos hoje?

-Não que eu saiba, por quê?

-Ahn... er... nada – ele corou. – E você, Peg?

-Ah, sim, eu vou até lá com o Ian.

Cal pareceu visivelmente decepcionado.

-Ahn, Lily? – chamei. Ela me olhou e deu um meio-sorriso. Sua tristeza por culpa da morte de Wes não havia passado nem por um instante durante o ano que passei aqui. – Eu... er... vou com o Ian, a Peg e o Jamie visitar o túmulo do Wes. Sei que vai ser difícil... mas, se quiser, tente ir. Seria legal se você aparecesse.

Mesmo depois de um ano com os humanos, eu ainda era tímida. Acho que é uma característica minha... mesmo que fique mais fraca quando estou com Kyle. Levei a mão ao peito ao lembrar-me dele. A saudade estava me corrompendo completamente. Ela estava visivelmente abatida, mas ainda assim, sorriu.

-Eu... vou sim, pode deixar.

Voltamos a comer. Jamie olhou para a entrada do refeitório e depois voltou o olhar para mim.

-Levo o colchão pro seu quarto que horas, Sunny?

-Quando achar melhor, Jamie. Acho que Kyle não volta tão cedo.

-Ah, mas ele vai tentar voltar o quanto antes, já que você está aqui – Ian disse com a boca cheia de vagem.

-Amor, não fala de boca cheia – Peg pediu gentilmente.

-Ian, eu não sou motivo algum para prender Kyle aqui.

-É sim. Você é a melhor amiga que alguém pode ter – Peg disse inocentemente.

-Amiga! – bufei indignada.

Ian riu.

-Dê tempo ao tempo, Sunny. Peg também me via só como um amigo, mas olha só como estamos agora! – Peg corou. – Além do mais, os sentimentos vão crescendo tão rápido que às vezes você os percebe bem depois. E eu desconfio que é isso o que Kyle sente por você...

Corei.

-Ok, vamos falar de algo mais interessante, tá? – Jamie pediu, enfiando um pedaço de carne na boca. – Amor me dá dor de barriga.

Rimos.

***

Já estávamos no túmulo do Wes. Peg foi até lá primeiro, e murmurou algo para Wes. Ian e Jamie seguiram seu exemplo. Fui até a ponta de terra e disse:

-Ei, Wes... sabe, eu nem cheguei a te conhecer... mas sei que você era uma boa pessoa, porque Kyle me disse isso. E, se Kyle acha que alguém é bom, então essa pessoa realmente deve ser – dei uma risada sem humor e senti uma lágrima escorrendo pelo meu rosto. – A Lil sente muito a sua falta por aqui. Ela anda mal, Wes. Mas, eu prometo para você: vou dar um jeito nela. Espero que você esteja em paz.

Joguei um punhado de terra sobre o local em que Wes fora enterrado. Lily foi até lá. Ela soluçava alto, e teve que respirar fundo por alguns instantes para então dizer:

-Ei amor. — ela sorriu entre as lágrimas. — Você faz falta, sabe. Queria que você estivesse aqui... Eu queria que você estivesse aqui. Ás vezes eu acordo no meio da noite assustada procurando você, como se houvesse acordado de um pesadelo terrível e precisasse ter certeza que ele não era de verdade. Mas aí você nunca está lá para me abraçar e dizer que foi apenas um sonho ruim e então eu choro desejando que isso pudesse ser verdade de alguma forma.

Lily levou as mãos aos olhos, chorando muito e soluçando de maneira forte. Sem saber o que fazer, mas sentindo um aperto imenso no coração, fui até ela e a abracei. Ela me apertou com força, chorando no meu ombro. Imediatamente, me lembrei de Kyle. Era como se, ao vê-la ali, sem Wes, eu me visse sem o Kyle. Porque, se eu o perdesse, eu não teria mais vida.

Lily se recobrou um pouco e continuou:

-Você faz tanta falta, Wes! Sinto raiva de mim mesma por não ter percebido o seu amor antes... nós dois ficamos tão pouco tempo juntos e isso é tudo culpa minha. Mas, mesmo tendo passado pouco tempo com você, aquele foi o melhor tempo da minha vida. Sabe, eu sinto como se eu ainda estivesse aqui, mas não estivesse viva. Todos precisam de um motivo para viver, e o meu era você. E ele continua sendo, sabe? Eu sei que você quer que eu continue, e é só por isso que eu estou aqui ainda. Eu te prometo que um dia vou me recompor.

Ela respirou fundo e apertou os olhos, deixando algumas lágrimas escorrerem.

- Você vai ser sempre minha melhor lembrança. E enquanto respirar, continuarei te amando. Aquela frase que você me disse ainda ecoa pela minha mente... “Eu não sei se a vida é maior que a morte, mas o amor foi maior que ambas”. E é por isso que continuo te amando. Eu e você, junto para sempre – ela falou essa última frase fazendo sinais. – Te amo, Wes.

E, então, jogou sua porção de areia no túmulo. Meu rosto estava inundado de lágrimas. Nesse momento, agradeci por ter meu MP4 e meu caderno no meu quarto. Eu deixaria Lily no quarto dela e iria para o meu, escrever alguma música que me fizesse sentir melhor.

-Obrigada, Sunny – Lily me disse, e eu senti que aquilo vinha do fundo do coração dela.

-De nada, Lil – murmurei, abraçando-a.

Jamie foi buscar seu colchão em seu quarto. Eu e Lily nos despedimos de Peg e Ian. Eu a deixei em seu quarto e corri de volta para o meu, onde Jamie me esperava sentado num colchão.

-Hey, Sunny. Pode me emprestar seu DVD portátil?

-Claro – falei, fungando e enxugando o rosto na manga da blusa do Kyle que eu estava usando. Peguei meu DVD portátil (eu voltei à minha casa uma única vez e peguei tudo o que poderia ser útil para nós, o que para mim incluía o DVD portátil). – Eu não tenho filmes que você goste, Jamie.

-Já cuidei disso, Sunny. Numa incursão que eu fiz há dois meses, paramos num depósito de coisas que as almas iriam incinerar, e entre elas havia um monte de filmes. Enchi uma sacola enorme.

Dei uma risada e me sentei na minha cama. Jamie começou a assistir um filme e eu peguei meu caderno. Tinha que acabar logo aquela música.


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