PDV: Alice

25 de novembro, 08:00h

─ Bom dia, garotas! ─ Sobressaltei-me ao ouvir uma voz profunda e ligeiramente rouca; estava sentada no sofá da sala, junto de Bella, completamente distraída com o jornal da manhã que falava sobre a interminável tempestade de neve na cidade.

Voltei minha atenção para a direção em que a voz tinha vindo e controlei minha vontade de revirar os olhos e ser mal educada, principalmente por sentir que Bella desaprovaria tais gestos – e ainda brigaria comigo depois. Ali, parado perto de nós duas, estava Jasper, o filho Policial. O tal “bom policial” que eu só tinha visto em filmes.

─ Bom dia, Jasper! ─ Bella foi a primeira a se pronunciar e a forma doce com que ela falara com ele, realmente me fez revirar os olhos.

Ela então me cutucou no braço, uma carranca suave – provavelmente devido à dor que sentia em seu rosto – marcava suas expressões, e meneou com a cabeça na direção do rapaz loiro.

─ Bom dia ─ murmurei, sem dar muita brecha para uma conversa baseada somente em educação (e não numa troca genuína de interesses), e virei-me totalmente para a TV.

─ Estão esperando o Cozinheiro levantar? ─ perguntou ele em tom divertido, sentando-se ao meu lado.

O meu coração deu uma pequena disparada, claro, dadas as terríveis experiências que eu havia tido com outros policiais, decerto tamanha proximidade me causava ansiedade e nada além daquilo.

─ Você não tinha Plantão hoje?

─ Alice! ─ Bella chamou-me, o tom repreensivo. Ela me encarava com uma expressão ainda menos agradável do que a carranca anterior ─ Não estava prestando atenção no que o jornalista falava? Quer que Jasper morra no meio da nevasca?

A bufada que Jasper deu chamou minha atenção. Seus olhos esverdeados fitavam Bella de maneira incrédula, mas logo se suavizaram quando tornou a falar:

─ Por favor, eu sou novato, mas não tanto assim.

Vi pelo canto do olho quando Bella corou, eu sabia que ela estava envergonhada por ter insinuado que ele não era capaz de se cuidar na polícia e não contive uma gargalhada. Ela estava sempre com tanto medo de ofender as pessoas!

Claro que, aquela pessoa em específico fazia parte de uma família que estava nos ajudando, então, provavelmente, era bom não os ofender mesmo, menos ainda um policial!

Calei-me quando percebi que podia estar indo longe demais, mas só então me dei conta de Jasper também ria. Era um som irritantemente agradável, devo acrescentar.

─ Você provavelmente está certa, Bella. Acho que eles não teriam me dispensado se achassem que eu conseguiria sobreviver ─ murmurou ele, parecendo um pouco chateado.

─ Tenho certeza de que eles só estão tentando resguardar os mais jovens para o caso de uma emergência, não é, Alice? ─ Bella cutucou-me novamente e bufei com a ousadia dela de tentar me integrar àquela conversa.

─ Claro. ─ Era melhor não contrariá-la. Ela ficaria bem irritada. E Bella irritada era, muitas vezes, pior do que os policiais.

─ Bom dia! ─ Edward entrava em nosso campo de visão; com a juba ruiva despenteada, ele esfregava os olhos e nos presenteava com um suéter justinho que marcava todos os músculos de seu torso, principalmente os braços.

─ Bom dia, Edward ─ cumprimentei-o, seguida de Jasper.

Um silêncio pairou sobre a sala conforme ele esperava pela resposta de Bella, que não muito diferente da noite em que havíamos chegado, o encarava embasbacada.

─ B... Bom dia ─ disse ela, num volume mais baixo do que o normal, e suas bochechas atingiram o costumeiro tom avermelhado.

─ Bella, por que não vai ajudar o Edward com o café da manhã? ─ Jasper perguntou.

Eu realmente achei que minha melhor amiga não fosse me trocar por um par de olhos verdes, mas foi exatamente o que ela fez. Bella se levantou de um pulo e seguiu um Edward bastante animado até a cozinha.

E então eu estava sozinha com o policial. Tentei voltar a prestar atenção no jornalista, mas Jasper parecia mais interessado em puxar assunto comigo:

─ Não precisa ficar desconfiada, antes de ser um policial, eu sou só um cara ─ disse ele, virando-se de lado para me encarar, como notei pelo canto dos olhos.

Suspirei e contei mentalmente até dez para não ser boca dura. Quando olhei para ele, meu coração tornou a se acelerar. Jasper passava as mãos por seus cachos loiros, desalinhando-os completamente e mordia o lábio inferior.

Não sabia se estava intencionalmente tentando me seduzir, mas algo em meu interior se revirou, querendo que ele se aproximasse mais.

─ O que te faz pensar que tenho problemas com policiais? ─ desafiei-o. Não queria que ele soubesse o quanto estava me afetando, então era melhor me manter firme.

─ Você não é a primeira e, com certeza, não será a última pessoa a ficar relutante em se aproximar de mim por eu ser um policial ─ disse ele.

─ Oh, então tiveram muitas garotas antes de mim? Se elas desconfiavam, algum motivo deviam ter ─ Arqueei uma sobrancelha e Jasper desatou a rir.

─ Eu disse pessoas, não garotas! ─ enfatizou.

Corei quando percebi meu deslize e ele abriu um sorrisinho malicioso antes de colocar uma das mãos suavemente sobre a minha, que estava repousada sobre o sofá. Não consegui disfarçar o arrepio que percorreu o meu corpo assim que sua pele tocou a minha e seu sorriso se alargou.

─ Vamos tomar café? ─ perguntou, levantando-se do sofá e caminhando até a mesa de jantar.

Notei que Edward e Bella já colocavam a mesa e balancei minha cabeça, tentando tirar aquelas sensações esquisitas que permeavam meu corpo. Segui-o, sentando-me de frente para Jasper, que não tirava o sorrisinho besta e convencido dos lábios, embora eu precisasse admitir que ele ficava bastante... Er... Atraente sorrindo daquela maneira.

27 de novembro, 19:15h

─ Por que não dá uma chance a ele? Tá na cara que vocês dois sentem algo um pelo outro, nem que seja só... Vontade de fornicar ─ Bella disse baixinho, cruzando as pernas, debaixo de si.

Observei seus hematomas arroxeados e, ao perceber meu olhar mais focado, ela pegou uma das almofadas do sofá e a colocou em frente ao próprio rosto numa tentativa de esconder seus machucados por alguns segundos. Estava tão preocupada com Bella, que nem tinha conseguido ficar brava com sua insinuação descabida.

─ Vontade de fornicar? Estamos na Idade Média? ─ brinquei, vendo-a desviar o olhar para seu colo.

─ Você vai me dizer que não estava sonhando e gemendo o nome dele no outro dia? ─ Ela ergueu o olhar e arqueou uma sobrancelha em ironia.

─ O que? Claro que não! ─ exclamei, torcendo para o rubor em minhas bochechas não entregar o ouro.

Eu tinha sim, sonhado (algumas vezes) com o Policial Jasper, mas não tinha sido com a mesma conotação com que Bella havia insinuado. Não tinha sido erótico, tinha sido um pesadelo. Era como uma continuação do que teria acontecido se ele não tivesse nos resgatado no início daquela semana.

Bella estava deitada, totalmente imóvel, sobre a neve dura e fria; eu não tinha conseguido parar aquele homem terrível, que havia continuado a agredi-la. A tempestade já havia chegado e levado Paul e Tyler, eu era a única sobrevivente e acabara nas mãos nojentas daquele agressor. Não tinha ninguém para me salvar, mesmo que eu usasse todo o meu fôlego para gritar por ajuda.

E eu gritava o nome da única pessoa que, apesar do cargo, sabia ser a única que nos ajudaria verdadeiramente, sem julgamentos e com toda a paciência e gentileza: um tal policial chamado Jasper Cullen.

─ Foi literalmente um pesadelo ─ resmunguei, dando um peteleco em seu ombro.

Bella deu um sorriso grande demais para quem havia acabado de escutar que a melhor amiga havia tido um pesadelo. Ela fitava algo atrás de mim, ou melhor, alguém.

Quase desmaiei quando vi Jasper, vestido em seu uniforme, encarando-nos com uma expressão meio preocupada e divertida ao mesmo tempo.

─ Então alguém andou tendo pesadelos? ─ perguntou.

─ Com a sua cara, sim ─ provoquei, ao que Bella guinchou e ele caiu na gargalhada.

─ Uau, minha cara é tão feia assim? ─ Ele fez um maldito biquinho que o tornava tão infantil quanto fofo.

─ Não foi isso o que ela quis dizer, tenho certeza! ─ Bella exclamou, olhando-me com uma de suas carrancas preferidas (quando eu fazia algo que a desagradava ou que ela considerava “mal educado demais”).

─ Está tudo bem, ela não vai ser a última pessoa a achar isso ─ ele enfatizou bem o “pessoa” e quando minhas bochechas ficaram irritantemente coradas.

Aquilo era muito raro e o pior, a garota ao meu lado sabia muito bem e desatou a rir.

─ Uau, até piadas internas os dois já têm? O que foi que eu perdi? ─ ela me provocou, encarando-me com seus olhinhos castanhos super curiosos.

─ Você não perdeu absolutamente nada. Ah, Edward, que bom que você está aqui! ─ tentei disfarçar, chamando a atenção do Cullen mais novo que acabara de chegar à sala ─ Vou te ajudar com o jantar.

Levantei-me, ignorando os protestos de “volte aqui” de Bella e as risadas de Jasper.

─ O que foi que deu naqueles dois? ─ Edward me perguntou baixinho, assim que cruzamos a abertura na parede direto para a cozinha.

─ Acho que os dois amam me provocar. A Dona Isabella está doidinha para me ver com o... ─ calei-me. Onde estava com a cabeça para falar sobre aquelas coisas justamente para o irmão da figura em questão?

─ Com o Jazz? ─ Edward me olhou divertido, como se fosse óbvio que eu deveria ter me calado antes.

Revirei os olhos e o cozinheiro sabe-tudo gargalhou.

─ Vamos organizar essa janta e matar esse assunto ridículo ─ sugeri, mas Edward não parecia muito disposto em me ouvir.

─ Sabia que o Jazz já está caidinho por você?

─ Edward, que parte do “matar esse assunto” você não entendeu? ─ resmunguei, tentando ignorar uma parte de mim (para lá de estranha) que vibrava após assimilar suas palavras.

─ Só estou dizendo. Sei que tem ressalvas quanto a policiais, mas veja bem, assim como nem todas as pessoas que tiramos das ruas são iguais, adivinhe só?

─ Os policiais vão na contramão?

Ele me olhou meio preocupado até que percebeu que eu não falava sério.

─ Nem todos.

─ Nem todos ─ concordei, meio contrariada ─ E você?

─ O que tem eu? ─ perguntou em tom surpreso.

─ Também está caidinho pela Bella? ─ Ergui o queixo, orgulhosa quando Edward arregalou os olhos e começou a gaguejar.

Por fim, ele mesmo pediu para mudarmos de assunto e embora o meu lado maldoso quisesse continuar a tentar arrancar algo dele, sabia que era melhor pararmos por ali antes que admitíssemos coisas que, claramente, ainda não estávamos prontos.

Seria pior lidar com tudo aquilo se nos forçássemos a abrir nossas mentes e corações, ao invés de deixarmos o “curso natural” das coisas acontecerem, porque era óbvio que não era apenas a minha vida e a de Bella que estava mudando.