Um Amor de Natal escrita por Mari Pattinson


Capítulo 4
Macarrão com queijo e salsicha


Notas iniciais do capítulo

Oie, pessoal!

Hoje o capítulo saiu um pouco mais tarde por motivos de: ESSE CAPÍTULO NÃO IRIA EXISTIR (com a exceção da primeira cena).

Mas aí eu pensei que seria legal ter um pouco mais de desenvolvimento entre certas personagens antes de me aproximar do final da história, então esse é meio que um "capítulo extra".

Quero agradecer à: MelBlack, novacullen, Zezinha e Liv Cullen pelos comentários no último capítulo ♥

E, sem mais delongas, espero que gostem!



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01 de dezembro, 12:00h

─ Mais um dia sem febre, é um sinal muito bom ─ disse o Doutor Cullen, checando a minha temperatura no termômetro. Eu havia tido uma pequena infecção no corte em minha bochecha alguns dias depois de minha chegada, então estava de repouso e seguia todas as ordens dele à risca, pois queria melhorar logo.

Detestava o fato de atrasar a ida de meus amigos à ONG, sabia o quão ansiosos eles estavam para conhecê-las, então disse-lhes para irem na frente; Paul e Tyler aceitaram – embora tivessem vindo me visitar quase todos os dias na última semana –, enquanto Alice preferira ficar “comigo” – mas acabava passando a maior parte do tempo com o filho mais velho dos Cullen, os dois até pareciam um casal.

Estava feliz por ela, mesmo que ainda não tivesse admitido, era nítida a atração que um tinha pelo outro, mas minha amiga era teimosa demais para dar o braço a torcer. Os dois estavam na cozinha com “o Cozinheiro”, terminando de preparar o almoço, enquanto eu desfrutava da companhia do Senhor e da Senhora Cullen na sala de estar.

─ Deixe-me ver esses pontos ─ o Doutor puxou delicadamente o curativo de meu rosto e sua “cara de paisagem” me fez ter a certeza de que fosse lá o que ele estivesse vendo, não devia estar muito bonito, o que devia complementar o meu visual esverdeado (meus hematomas já haviam mudando de cor).

Ele, então, limpou ao redor de minha cicatriz, desculpando-se quando eu fazia alguma careta de dor, e colocou um novo curativo – um pedaço fino de gaze com um esparadrapo em cada ponta.

─ Obrigada ─ murmurei, assim que ele terminou.

O Doutor sorriu para mim e sentou-se do outro lado do sofá para que Dona Esme pudesse cuidar da parte verde de meus machucados; os dois, rotineiramente, se dividiam em cuidados comigo – às vezes até Jasper e Edward se arriscavam – e meu coração se enchia de amor toda vez em que eles demonstravam estarem preocupados comigo.

Nas ruas, eu tinha a Alice, Tyler e Paul, e eles sempre foram o suficiente, mas o que o casal que nos acolhera me oferecia era diferente; os garotos eram como meus irmãos e o Sr. e a Sra. Cullen, como meus pais.

Dona Esme passava seus dedos delicadamente sobre meus hematomas, espalhando uma pomada em minha pele, enquanto me fitava com seus olhos doces e profundamente verdes.

─ Está bem melhor, Bella, logo vai estar com seu rosto completamente limpo ─ disse ela num tom encorajador.

─ Graças a vocês dois ─ falei, meu peito cheio de gratidão àquele casal que mesmo sem obrigação alguma, havia aberto a porta de suas casas, de suas vidas, à quatro completos estranhos.

─ Você sabe que não podemos controlar sua genética, Bella ─ o Doutor Cullen brincou, rindo e eu o acompanhei ─ Se está melhorando, metade dos créditos vai para você mesma.

─ Trinta e três vírgula três por cento, na verdade ─ corrigi-o, mordendo o lábio inferior quando ele franziu o cenho ─ Dividindo cem por três, nós temos a minha melhora: trinta e três vírgula três por cento graças à minha genética, mais trinta e três graças aos medicamentos e mais trinta e três graças a vocês ─ expliquei, ganhando um par de sorrisos como resposta.

─ Ela tem razão ─ a voz de Edward ressoou pelo ambiente e me sobressaltei no sofá. Ele punha a mesa da sala de jantar com a ajuda de Jasper e Alice, e tinha um pequeno sorriso nos lábios ─ Matematicamente falando, eu quis dizer ─ completou, me encarando daquele jeito que deixava minhas pernas bambas.

Desviei o olhar para a mesinha de centro da sala de estar. Eu detestava a forma como Edward me afetava, porque sabia que ele jamais se sentiria da mesma forma em relação a mim. E apesar de nossas conversas serem sempre cercadas de muita tensão, nós também mantínhamos uma distância segura um do outro, porque ambos tínhamos a consciência de que, assim que eu melhorasse e fosse para a ONG, ele me esqueceria.

Eu sempre seria bem-vinda na casa dos Cullen, mas eu também nunca deixaria de ser a garota que havia sido salva, como tantas outras antes de mim e tantas outras que, com certeza, ainda haveriam de aparecer na vida deles.

─ Não sabia que era boa em matemática ─ Edward continuou falando, o que chamou minha atenção; ele não costumava se dirigir a mim tantas vezes num curto espaço de tempo, menos ainda quando não estávamos sozinhos.

─ Foi por causa dela que pararam de passar a perna em mim ─ Alice falou, piscando na minha direção.

Ri, levantando-me para ajudá-los também. Já havia ficado de molho por tempo demais e não queria abusar da boa vontade deles.

─ Me digam, o que posso fazer? ─ perguntei, observando que eles já haviam colocado o número certinho de pratos, talheres e copos na mesa.

─ Pode sentar sua bunda enorme e gostosa no sofá e esperar a gente terminar ─ Alice resmungou, apontando para o mesmo lugar de onde eu tinha saído e não pude evitar corar quando risadinhas ressoaram pela sala.

─ Alice! ─ repreendi-a, obtendo como resposta ainda mais risadas.

─ Acho que o Edward concorda com ela ─ Jasper provocou e quando olhei para o Cozinheiro, ele tinha os olhos arregalados e as bochechas tão vermelhas quanto as minhas.

Ele estava espiando a minha bunda?

─ Edward! ─ Dona Esme ralhou, olhando feio para ele, que fugiu rapidamente para a cozinha e eu fiquei sem saber aonde esconder a minha cara.

─ Eu te disse que ele baba por você ─ Alice sussurrou de modo que apenas eu pudesse ouvi-la.

Olhei-a. Ao mesmo tempo em que queria acreditar nela, uma parte dentro de mim gritava que aquela história era um absurdo. Ainda não fazia sentido, para mim, que um rapaz como Edward pudesse sentir... Atração por mim.

E então eu vi Jasper rodeando o corpinho de Alice com os braços e em seguida, dar um beijo na bochecha dela; era nítido que ele não sentia pena dela, nem vergonha, nem nojo. O passado dela não fazia diferença, mesmo que ele tivesse tido toda a paciência do mundo para ouvir as histórias dela – como ela havia me contado –, era o futuro dos dois que realmente importava.

E quando Edward retornou para sala com uma vasilha enorme cheia de macarrão com queijo e salsicha – o prato que ele havia descoberto, na noite anterior, ser o meu preferido –, uma pontada de esperança surgiu em meu peito: talvez, eu estivesse errada durante todos aqueles dias. Talvez, ele pudesse sim sentir algo além da compaixão, por mim.


03 de dezembro, 18:00h

─ Você deveria fazer essa macarronada todos os dias ─ falei, sentada de frente para o fogão, enquanto observava Edward usar o escorredor para tirar a água do macarrão recém-cozido.

Eu tentava não chorar ao picar a cebola, mas falhava a cada segundo. Funguei pela enésima vez e Edward riu.

─ Se fizesse o mesmo prato todos os dias, todo mundo ia enjoar dele, não acha? ─ perguntou, arqueando uma sobrancelha para mim, o que lhe conferia um olhar extremamente sedutor e tive que me concentrar em não babar.

Ainda não acreditava que teria aquele rostinho só para mim naquela noite: Jasper e Alice haviam saído para “dar uma volta” – e eu suspeitava que aquele era seu primeiro encontro – e o Sr. e a Sra. Cullen tinham viajado para outra cidade da região, em busca de ingredientes e alimentos mais em conta para o Natal da ONG – e passariam o final de semana todinho fora.

Dessa macarronada? Acho que não ─ afirmei, arrancando mais uma risada dele ─ Mas essa cebolinha está me maltratando. ─ Fiz um biquinho e empurrei a tábua de vidro, em que a estava picando, na direção dele, que revirou os olhos.

─ Prefere cortar os tomates, então? ─ perguntou, empurrando a tábua que ele usava na minha direção. Fiz uma pequena careta que não passou despercebida por ele ─ O que foi, realmente não gosta de tomates? Só do molho que eles produzem?

─ Eu costumava amá-los ─ confessei, só então me dando conta de que havia aberto uma brecha para ele perguntar sobre o meu passado. E foi exatamente isso o que Edward fez.

E então contei a ele sobre Eric e o sanduíche estragado. Edward foi um ouvinte melhor do que eu esperava; não me interrompeu enquanto eu falava, nem se importou que tivesse chorado sobre os tomates conforme as lembranças invadiam a minha mente. Pensar que, por pouco o meu amigo não havia sido salvo, que ele também poderia estar ali comigo, era doloroso demais.

─ Eu sinto muito, Bella ─ disse Edward com seu tom de voz suave, após alguns instantes de silêncio indicarem que eu já havia terminado de contar a história ─ Eu... Só posso imaginar o que você teve que passar durante esse tempo todo. ─ Ele olhou para o meu rosto ainda coberto de hematomas, educado demais para fazer um comentário mais direto, mas eu sabia que estava bastante curioso.

─ Pode perguntar, Edward ─ murmurei, sentindo-me pronta para falar mais sobre o meu passado. Aparentemente, ter falado sobre Eric havia me ajudado a abrir a caixinha em que havia guardado o meu coração junto àquelas lembranças ─ Ouvi dizer que perguntar não ofende ─ brinquei e ele me esboçou um sorriso.

─ O que te levou às ruas? ─ Ele foi bem direto, mais do que eu tinha imaginado que seria.

─ Você quer a resposta curta e direta, ou a história detalhada e comprida? ─ Foi fácil captar em seu olhar que ele preferia a segunda opção e suspirei antes de começar a contar a minha própria história. Contei desde o que sabia sobre meu pai, até o momento em que Jasper havia aparecido (e me salvado junto de meus amigos).

 

...

─ Você... Já deve ter ouvido muitas histórias como a minha, não é? ─ perguntei a Edward, assim que terminei de falar e ele não esboçou qualquer traço de surpresa em suas feições.

─ Sim e não ─ respondeu, enquanto alternava olhares entre mim e a panela de molho de tomate borbulhante ─ Cada história é única, embora elas possam ter pontos em comum. Muitas meninas saem de casa por motivos semelhantes aos seus ou aos de Alice, mas dificilmente são tão idênticos a ponto de se confundirem.

─ Acho que entendi o que quis dizer ─ falei, levantando-me da banqueta e me aproximando dele, ou melhor, da panela ─ Posso mexer?

─ Você não vai queimar, vai? ─ Ele me fitou, divertido, e estreitei meus olhos para ele.

─ Quantos anos acha que eu tenho? ─ Arqueei uma sobrancelha e repeti a pergunta que ele me fizera na primeira madrugada em que passei naquela casa.

Edward gargalhou e, como uma boba encantada, não pude deixar de rir.

─ Só não queime, porque esses foram os últimos tomates que a gente tinha. E você me contou que tem 18 anos, embora pareça mais velha ─ provocou-me e arfei, o que lhe fez rir ainda mais.

Eu não acredito nisso! ─ Coloquei a mão sobre meu peito, fingindo estar ofendida e tudo o que recebi como resposta foram mais risadas.

─ Não pela sua aparência ─ falou, piscando para mim ─ O seu jeito só é muito mais maduro do que o da maioria das garotas da sua idade, mesmo aquelas que passaram pelas ruas ─ explicou-me.

─ Achei que minha cara arrebentada me deixasse mais envelhecida ─ brinquei e ele me olhou ligeiramente preocupado.

─ Ainda dói muito?

─ Dói um pouco menos a cada dia ─ respondi.

─ Você ainda não me contou como conseguiu isso. ─ Ele gesticulou para o meu rosto ─ Disse até que número que calça, mas nem chegou perto de me contar como acabou com o rosto todo machucado.

Edward tinha razão, mas eu me sentia muito constrangida só de pensar em falar sobre aquilo; ele pareceu entender, nas entrelinhas, quando demorei para respondê-lo, e esboçou um sorriso solidário:

─ Não precisa me contar, acho que já entendi ─ murmurou, soltando, enfim, a colher de pau que estava usando para mexer o molho e meneou com a cabeça para que eu assumisse a sua posição.

─ Eu não fiz, sabe? ─ falei, após alguns minutos de silêncio. Ele, que cortava as salsichas em rodelas, parou e me encarou, o cenho franzido ─ Eu não consegui fazer, e foi por isso que acabei com a cara desse jeito ─ tentei explicar sem ser muito explícita.

─ Ah... ─ Ele mordeu o lábio inferior e acenou positivamente com a cabeça ─ Agora eu entendi.

─ Me sentia péssima, porque era Alice quem sempre transava em troca da nossa comida; ela estava sempre querendo me proteger, mas eu sabia que não era justo. Então... Na noite em que finalmente tentei fazer alguma coisa, acabou não dando certo ─ murmurei, desviando o olhar para a panela, enquanto mexia o molho com a colher, envergonhada demais para sustentar seu olhar.

“E aí o seu irmão apareceu. Imagino que teria perdido a metade do meu rosto se não tivesse vindo para cá, isso se não acabasse morta na tempestade ou por falta de tratamento médico”.

─ Eu sinto muito, Bella, por tudo o que te aconteceu ─ disse ele, aproximando-se de mim...

Quase desfaleci quando ele colocou os braços ao meu redor, seu corpo forte pressionando o meu contra a bancada – talvez com intenções menos sexuais do que eu realmente tenha percebido. E então vi o que ele estava fazendo: apenas colocava as salsichas cortadas dentro da panela.

Claro que ele poderia simplesmente ter pedido licença para eu me afastar, mas quem estava reclamando de tamanha proximidade, não é? O meu corpo, certamente, não!

─ Não pare de mexer ─ murmurou, a voz rouca tão perto de meu ouvido pode ter me confundido e me feito mexer outras coisas ─ A colher, não seus quadris, pelo amor de Deus! ─ Ele segurou minha cintura enquanto me olhava intensamente.

Todos os pelos de meu corpo estavam arrepiados e minha respiração entrecortada combinava perfeitamente com a dele.

─ Precisamos ir ao mercado, então ─ sussurrei, fitando seus lábios entreabertos, tão próximos dos meus que se ele se inclinasse um milímetro, nós nos beijaríamos.

Eu imploraria para que Edward me beijasse se não soubesse que restavam poucos dias para nos separarmos em definitivo, para cada um seguir com a sua vida.

─ O que?

─ Precisamos comprar mais tomates, ou você acha que enquanto estiver aqui vou querer comer outra coisa? ─ Arqueei uma sobrancelha e ele deu uma risada antes de soltar a minha cintura; também ri ao notar que nós dois estávamos corados feito dois adolescentes bobos.

─ Você é uma ótima quebradora de tensões ─ ironizou e lhe mostrei a língua.

─ E você as constrói como ninguém ─ sussurrei, corando ainda mais quando percebi que ele havia ouvido e me encarava com um sorrisinho malicioso nos lábios.


06 de dezembro, 01:30h

─ O que vocês fazem para o Natal? ─ perguntei, deitando-me no tapete felpudo do “quarto secreto” de Edward.

O terceiro andar era um pequeno sótão que Edward usava como um “quarto de descanso”. No início, achei a ideia bem bizarra, afinal, para que mais poderia se utilizar um quarto? E então, eu descobri mais alguns hobbies dele: ele amava ler, jogar videogames e desenhar.

No centro do quarto, estava o tapete azul felpudo em que estava deitada. A esquerda, um sofá-cama cinza e, ao lado dele, uma estante de madeira cheia de livros e pastas com alguns desenhos de sua família e amigos da ONG que fizera ao longo dos anos. De frente para o sofá havia um móvel com uma TV e um videogame de última geração – que eu nem fazia ideia do modelo. No teto, uma claraboia que me permitia ver a Lua Crescente e as Estrelas brilhando no céu.

Edward levantou-se do sofá e deitou-se ao meu lado. Senti sua mão bem próxima da minha e tentei ignorar o arrepio que senti quando nossos dedos se roçaram, mas era difícil já que o motivo para tanto desconcerto estava a tão poucos centímetros de mim.

─ Geralmente a gente faz uma ceia junto do pessoal da ONG ─ disse ele, encarando a claraboia. Ele ficava ainda mais lindo sob a luz noturna, que contornava seu rosto com suavidade e evidenciava ainda mais seus traços de divindade grega ─ Bem, geralmente eu faço uma ceia junto do pessoal que também gosta de cozinhar.

“E alguém sempre se fantasia de Papai Noel, por causa das crianças. Ano passado foi o Jasper, você precisava vê-lo com as roupas com enchimento. Vou procurar uma foto para te mostrar depois” contou-me rindo e eu o acompanhei “Nós sempre tentamos arrecadar sacolinhas pra dar presente pra todo mundo, mas as crianças sempre são as mais atendidas e ainda bem que os adultos entendem”.

─ Deve ser meio complicado, mesmo assim. Quem é que não gosta de ganhar presentes nessa época, né? ─ falei e Edward concordou com a cabeça.

─ Mas eles disfarçam bem. Eles preferem a barriga cheia e, infelizmente, a gente não dá conta de comprar comida e dar presentes, principalmente porque, nessa época, a gente também atende pessoas que têm casa, mas que estão com alguma dificuldade de se manter; então, para elas não ficarem sem a ceia, acabamos dividindo com elas também.

─ Eu não sabia disso. Quantas pessoas vocês atendem?

─ Temos um número fixo de cinquenta pessoas que moram lá na ONG... Bem, cinquenta e duas se contarmos Paul e Tyler e mais duas se contarmos com você e Alice. Estamos chegando no nosso limite de vagas, que são 65. Mas como te falei, nessa época nós chegamos a atender até mais que o dobro.

─ Uau! ─ Estava verdadeiramente impressionada, era bastante gente!

─ Por isso é até bom que você esteja aprendendo alguma coisinha ou outra na cozinha ─ disse ele, piscando para mim e eu ri ─ Vamos precisar de todas as mãos possíveis nesse ano, ainda mais depois daquela tempestade.

─ Ei, eu só aprendi a fazer molho, até agora e você me distraiu o tempo todo, então é bom me dar mais algumas aulas para eu não fazer feio justo com a ceia de Natal ─ contrapus e ele revirou os olhos.

Eu te distraio? ─ perguntou, fingindo estar bravo, mas percebi o orgulho por trás de seu tom de voz ─ Você precisa aprender a focar mais, então ─ falou, fechando os olhos e sorrindo vitorioso quando arfei, indignada.

─ Sou a pessoa mais focada que conheço. A culpa não é minha se você pegou na minha cintura! ─ Foi a minha vez de sorrir vitoriosa quando ele arregalou os olhos e me fitou constrangido.

─ Eu... Pe... Olha só, quem está me distraindo é você! ─ resmungou, desviando o olhar para a claraboia de novo.

─ Não fiz nada além de dizer o que aconteceu na sexta-feira, se você não consegue manter suas mãos para você, o problema é seu! ─ zombei e Edward bufou adoravelmente.

Ficamos alguns instantes em silêncio e preocupei-me quando ele virou a cabeça para mim e me deu um sorriso torto, como se tivesse mais uma carta na manga:

─ Não fui eu quem fiquei rebolando contra a cintura do chefe da cozinha, foi? ─ Ele cruzou os braços fortes e ergueu uma sobrancelha.

Escondi meu rosto envergonhado entre minhas mãos e Edward gargalhou antes de tentar puxar meus punhos delicadamente.

─ Não precisa ficar assim ─ murmurou quando percebeu que eu não iria ceder ─ Eu sei, eu sei, eu quem te distraí, admito ─ completou e eu abaixei minhas mãos, encontrando seu olhar divertido ─ Não foi intencional, confesso. Foi meio que no impulso, sabe? Num momento eu estava cortando as salsichas e no outro eu estava, hum... Atrás de você.

O modo como ele disse “salsichas” e “atrás de você” me fez desatar em rir. A minha mente boba – e ligeiramente infantil – juntou as duas coisas e eu só conseguia pensar numa salsicha gigante atrás de mim.

─ O que foi? ─ perguntou intrigado, enquanto eu tentava recuperar um pouco do meu fôlego.

─ Eu só conseguia imaginar que você era uma salsicha gigante... ─ falei, enxugando algumas lágrimas no canto de meus olhos e vendo-o estreitando os dele para mim.

─ A única salsicha que você vai encontrar em mim está dentro das mi... ─ Edward se calou, percebendo que estava prestes a falar algo inapropriado e senti minhas bochechas queimando.

Oh, céus, ele estava mesmo falando sobre as partes íntimas dele?

─ Foi mal, Bella. Não quis te deixar constrangida ─ disse ele, esboçando um sorriso ─ Vamos deixar isso para lá? Sem salsichas?

Ele ergueu o dedo mindinho e eu ri, entrelaçando o meu ao dele.

─ Só na macarronada ─ falei ─ Que, aliás, você bem que podia fazer amanhã de novo, né? ─ Olhei-o esperançosa e ele gargalhou.

─ Ainda precisamos ir ao mercado ─ lembrou-me e fiz um biquinho ─ Podemos ir de manhã cedinho pra dar tempo de fazer para o almoço ─ ele cedeu e eu abri um sorriso enorme.

─ Obrigada por atender aos meus desejos, mas vamos combinar que a culpa é sua. Eu nunca comi um macarrão tão gostoso quanto o seu ─ pontuei, ganhando mais uma gargalhada ─ E é melhor parar de rir desse jeito antes que Alice e Jasper acordem!

Ele riu ainda mais e eu tapei sua boca com a mão direita, esperando abafar seus sons. Aos poucos, foi parando de rir e, aliviada, retraí minha mão lentamente, até que fosse seguro.

─ Não se preocupe, os dois devem estar acordados agora ─ murmurou ele, um pouco ofegante, e riu (mais baixo) de minha expressão surpresa ─ Vai me dizer que não percebeu sua amiga se esgueirando no quarto dele logo depois que viemos para cá?

─ Claro que não! ─ exclamei, ainda surpresa ─ Você ficou bisbilhotando os dois, é? Porque daqui de cima não dá pra ver o que acontece lá!

─ Não, eu não fiquei bisbilhotando os dois ─ Edward revirou os olhos ─ Foi na hora em que fui pegar nosso chá ─ Ele apontou para as duas canecas vazias sobre o móvel da TV ─ Não se preocupe que fui bem discreto, a Alice nem percebeu que eu a vi.

─ Uau, você é meio agente secreto agora... Mas será que os dois estão mesmo? Eles podem estar só conversando, como nós dois ─ argumentei.

Tudo bem, eu não era tão ingênua, mas não dava para ter certeza sobre o que os dois estavam fazendo.

─ Pergunte para Alice de manhã. Eu sei que os dois já estão bem avançados na questão física ─ revelou, surpreendendo-me novamente.

─ Como é? Ela não me contou nada a respeito disso! ─ Eu estava um pouco chateada e me perguntava o motivo de Alice me esconder aquilo.

─ Talvez ela ache que você não esteja pronta para saber esse tipo de detalhe ─ disse ele e encarei-o meio brava ─ Não, não estou chamando você de criança! ─ Revirou os olhos ─ Mas tem coisas que, hum... Se você ainda não fez, pode ficar meio... Traumatizada?

─ Traumatizada?! Eu vivi meus últimos dois meses nas ruas! Você acha mesmo que existe algo que ainda possa me deixar traumatizada? ─ esbravejei, sentando-me e gesticulando com meus braços.

Só então percebi estar sendo meio ogra quando Edward se encolheu. Ele só tentava amenizar um pouco a situação e eu sabia que não estava totalmente errado; Alice deveria ter seus motivos para não me contar certas coisas.

─ Me desculpe, você tem sua parcela de razão ─ murmurei, voltando a me deitar do seu lado ─ Vamos voltar a falar sobre a ONG? ─ sugeri, aliviada quando ele concordou e não me expulsou de seu quarto após meu pequeno ataque.


02:15h

─ Nós não temos uma política completamente assistencialista, sabe, Bella? Por mais que possa parecer. Com as aulas que a gente oferece, estamos conseguindo emancipar essas pessoas de verdade. Algumas até voltam, já formadas para trabalhar conosco e é isso o mais gratificante ─ disse Edward com um sorriso lindo nos lábios.

─ Quantos anos você disse ter mesmo? Depois a velha sou eu, né? ─ brinquei, cutucando seu ombro e fazendo-nos rir.

─ Posso estar te enganando, posso ser um vampiro de duzentos e cinquenta anos prestes a sugar seu sangue delicioso todinho ─ provocou, deitando de lado e me puxando pela cintura; eu arfei quando ele colocou a cabeça em meu ombro esquerdo e respirou profundamente.

Estava arrepiada e meu coração quase saía pela minha boca de tão acelerado.

─ O que pensa que está fazendo? ─ resmunguei para disfarçar o quão afetada estava me sentindo, mas ele apenas riu, enviando vibrações e mais arrepios pelo meu corpo todo.

Edward ergueu o rosto e me encarou enquanto mordia o lábio inferior, tão sedutor e hipnotizante como sempre. Levei minha mão até sua boca e, com a ponta dos dedos, delicadamente desfiz sua mordida.

Ele riu e inclinou a cabeça na direção da minha, seus olhos fixos em meus lábios. Fechei meus olhos em antecipação, ansiosa pelo que viria, e silenciando a voz dentro de minha cabeça que dizia que aquilo não era uma boa ideia. Senti seus lábios roçando nos meus e ergui minhas mãos ao que eu achava que era seu pescoço.

Mas o que quer que lhe tivesse dado coragem, o fez mudar de ideia e ele sussurrou um “boa noite” antes de beijar minha testa carinhosamente. O calor de seu corpo não estava mais lá quando abri meus olhos, nem quando me sentei, sozinha, em seu tapete felpudo. Quis bater em seu quarto e lhe perguntar o que estava acontecendo, por que ele tentava me confundir daquela forma, mas entendi que não valeria a pena.

Se Edward havia mudado de ideia, era porque sabia que nós não daríamos certo e eu estava grata por ele ter percebido a tempo, antes de nos envolvermos demais e acabarmos nos magoando.


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Notas finais do capítulo

Não me matem por isso!
Eu sei que vocês estão super ansiosas pros dois ficarem juntos, mas eu não podia fazer isso sem mostrar um pouco do desenvolvimento da relação deles - mesmo que eles ainda não estejam juntos romanticamente.

Nos vemos amanhã e, por favor, deixem a opinião de vocês nos comentários ♥

Beijos,
Mari



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