Um Amor de Natal escrita por Mari Pattinson


Capítulo 3
O Cozinheiro


Notas iniciais do capítulo

Oi pessoal!

Voltei com mais um capítulo! Era pra ter saído mais cedo, mas a conexão não está muito boa hoje, então estou correndo aqui para não atrasar mais ainda.

Muitíssimo obrigada às meninas que estão comentando: MelBlack, novacullen, Dany Pinheiro, ju, Zezinha, pcavah e Valk. Vocês tem feito os meus dias muito mais coloridos ♥

Espero que gostem desse capítulo e, antes de lê-lo, quero saber de seus palpites: Quem é "O Cozinheiro"?



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22 de novembro, 00:30h

O Doutor Cullen havia acabado de passar uma pomada anestésica ao redor do corte em minha bochecha e me conduzia até a cozinha, onde meus amigos, minha família, estavam.

A cozinha, realmente o cômodo atrás da grande abertura na parede da sala de jantar, era igualmente ampla e igualmente linda. As paredes eram revestidas de azulejos brancos com alguns detalhes folhais e o piso era de porcelanato escuro – era semelhante ao que eu tinha na minha antiga casa, mas, certamente, de uma qualidade infinitamente superior. Os móveis eram de madeira, com muitos armários e vários equipamentos/aparelhos tão modernos, que eu jamais imaginei um dia ver com os meus próprios olhos.

No centro, uma bancada que faria o queixo da Rachael Ray cair e nunca mais se levantar: tinha toda a parafernália de uma cozinha supermoderna, incluindo um fogão elétrico e se eu não soubesse a profissão do Senhor e da Senhora Cullen, eu diria, facilmente, que os dois eram chefes de cozinha, então, qual não foi a minha surpresa ao ver o provável “quarto elemento" das fotos diante do tal fogão, mexendo em algo numa frigideira.

Ele era o rapaz mais lindo que eu já tinha visto – isso porque o tempo nas ruas me fez ter contato com vários rapazes bonitos. Estava cabisbaixo, prestando atenção no que fazia e os cabelos acobreados e desalinhados impediam-me de ver seu rosto com muita clareza, mas só o seu porte era suficiente para me aquecer por dentro. Ele era tão alto quanto Carlisle e os músculos de seus braços não me deixavam dúvidas quanto à sua hereditariedade: ele era um Cullen!

Por que eu achava isso? Porque eram os mesmos braços do Doutor e do Oficial – eu estava bem atenta, embora minha atenção não tivesse nada a ver com qualquer interesse meu em relação a eles!

Meu estômago roncou vergonhosamente quando um cheiro gostoso de panquecas e queijo derretido invadiu minhas narinas e o som foi o suficiente para despertar a atenção do “Cozinheiro”. Ele ergueu a cabeça e me permitiu ver os olhos mais verdes e mais hipnotizantes do mundo. Um arrepio intenso percorreu meu corpo todo, minhas pernas fraquejaram, como se feitas de gelatina, e corei feito uma garotinha tola que caía tolamente na falácia do “amor à primeira vista”.

Eu não era mais uma garotinha, mas encarar o Cozinheiro me fazia sentir completa e ridiculamente como uma.

E então eu percebi seu olhar em meu rosto; ele parecia levemente chocado e desejei ter um saco para poder esconder todos os machucados em minha pele. E, por um segundo, preocupei-me com o que ele pensaria de mim, esquecendo-me de que normalmente não me importaria com aquilo.

O rapaz balançou a cabeça negativamente, como se querendo sair de um transe e me esboçou um sorriso antes de voltar sua atenção às panquecas.

─ Coma um pouco, enquanto a pomada faz efeito e depois dou alguns pontos aí ─ disse o Doutor, afastando uma das banquetas livres em frente ao balcão e gesticulando gentilmente para que eu me sentasse entre Alice e Tyler, e de frente para o Cozinheiro.

Meus três amigos já se deliciavam com as panquecas e minha boca salivou com a perspectiva de também prová-las.

─ Obrigada, Senhor ─ murmurei, sentando-me. A superfície da banqueta era tão macia, que meu bumbum também quase o agradeceu; não conseguia pensar em um lugar tão acolchoado em que já tivesse me sentado antes e o fato de ter passado os dois meses anteriores em bancos duros e frios, acentuava ainda mais toda aquela diferença.

O meu pequeno agradecimento pareceu chamar a atenção do Cozinheiro, que ergueu os olhos para mim por alguns segundos antes de tornar a baixá-los para a frigideira. Pude notar um pequeno rubor em suas bochechas e perguntei-me se minha aparência o deixava tão desconfortável a ponto de não conseguir me encarar.

Queria dizer a ele que, por trás de todos aqueles roxos e machucados ainda havia uma garota que, por mais estranho que fosse admitir, adoraria ter um pouco da atenção de um cara tão bonito quanto ele.

No que eu estava pensando?

─ Bellaaa! ─ Alice exclamou, chacoalhando a mão esquerda na frente de meu rosto e quase me fazendo pular de susto.

Ela me sorriu maliciosa assim que a encarei e não demorei muito para entender o motivo: o rapaz me olhava com seu par de esmeraldas ansiosamente – como se prestes a fugir dali – e corou de novo antes de desviar o olhar para a frigideira e voltá-lo para mim.

─ Você quer tomates na sua panqueca? ─ ele perguntou educadamente, mas a sua voz (a mesma que tinha ido oferecer comida a mim e a Alice quando eu ainda estava com os cabelos embaraçados) combinada com seu olhar intenso fez algo se remexer dentro de mim (e não era somente pela fome).

Eu estava arrepiada e completamente hipnotizada pelo seu olhar e quis enfiar a minha cabeça num saco – ou num buraco bem fundo debaixo da terra – quando meus amigos começaram a fazer piada:

─ Xii, acho que a Bella bateu a cabeça com muita força! ─ disse Tyler, cutucando meu ombro com o dele.

─ O gato comeu sua língua, Bella? ─ Paul me provocou, arqueando uma das sobrancelhas para mim.

Corei miseravelmente com as insinuações deles, enquanto todos – inclusive o Cozinheiro – riam da minha cara.

─ Responda o menino, ou ele vai achar que você tem alguma coisa, Bella! ─ Alice sussurrou entredentes, apoiando o cotovelo na bancada e colocando a mão na frente da boca para disfarçar.

─ Ah... ─ murmurei, atraindo a atenção de todos, mas, principalmente, do Cozinheiro. E quando nossos olhares se cruzaram, quase soltei um palavrão ao perceber que havia esquecido sua pergunta.

Era impossível pensar em qualquer outra coisa senão a beleza de seus olhos verde-esmeralda, de seu nariz ligeiramente torto e seus lábios naturalmente rosados que, como eu havia notado, se esforçavam muito para não rir ainda mais de mim.

─ Desculpe, você... Pode repetir a pergunta? ─ pedi, corando ainda mais quando ele, de fato, soltou uma pequena risada.

Pelo menos ele era mais educado do que meus amigos, que desembestaram a gargalhar e me encolhi em meu assento.

─ Gente, cala a boca! ─ resmunguei, cutucando Alice e Tyler e olhando feio para Paul, que apenas deu de ombros.

O Senhor e a Senhora Cullen nos olhavam divertidos, mas não proferiram uma só palavra, como se realmente quisessem nos deixar o mais à vontade possível.

─ Tomates? ─ perguntou o Cozinheiro, apontando primeiro para uma vasilha de vidro cheia de tomates vermelhos e picadinhos, e em seguida para a massa de panqueca que ele acabara de tirar da frigideira.

─ Não, obrigada ─ limitei a minha resposta diante de uma nova onda de risinhos e cochichos paralelos sobre a minha falta de atenção, ou, nas palavras dele “meu hiper foco no Cozinheiro”.

Na verdade, eu amava tomates, mas a última vez que tivera a chance de comê-los, foi quando algum babaca achou que seria engraçado dar um sanduíche estragado para Alice e eu dividirmos. O pior? Ela havia pagado por eles e nós só não ficamos doentes, porque percebemos a tempo de não comê-lo. Eric, um dos garotos que costumava ficar conosco, não havia tido a mesma sorte e, sem atendimento médico, falecera algumas noites depois.

Ainda não tinha, dentro de mim, a confiança para comer aquela fruta vermelhinha e esperava que a impressão pudesse mudar com o tempo.

─ Só queijo? ─ o Cozinheiro tornou a perguntar e eu assenti, sentindo meu estômago borbulhar de fome, bem como daquela mesma sensação esquisita sempre que ele me olhava, ou melhor, me hipnotizava com o olhar. Ele deu mais uma risada adorável e colocou algumas fatias de queijo dentro da panqueca antes de enrolá-la ─ Molho?

Observei o molho branco na panela ao lado da frigideira e meu estômago roncou mais uma vez e mais risadas ressoaram pela cozinha. O Cozinheiro me olhou divertido e assim que concordei com a cabeça, ele me lançou o sorriso mais caloroso – em todos os sentidos – e despejou uma quantidade generosa de molho sobre a panqueca.

Em seguida, empurrou o prato na minha direção – o que fez meu estômago roncar pela milésima vez – e me estendeu uma faca e um garfo, enquanto me olhava com certa curiosidade. E, novamente, quis esconder todos os meus machucados; era estranho estar diante de um homem tão bonito com meu rosto naquele estado tão deplorável, ainda sabendo que mesmo em condições normais, ele dificilmente me notaria.

─ Obrigada, Senhor ─ murmurei, pegando os talheres de suas mãos e corando ridiculamente quando nossas peles se tocaram; não bastavam seus olhos e sua voz, eu também ficaria hipnotizada por seu toque?

Era como se todo o meu ser tivesse se tornado a ponta de meus dedos, parcialmente segurando os talheres e, ao mesmo tempo, tocando os dele. Tudo o que eu sentia era ele, tudo o que eu queria sentir, estava bem à minha frente, e perceber aquilo fez o meu coração disparar em antecipação.

Nossos olhares estavam grudados um no outro e estava tão concentrada nele que não tenho certeza se Alice havia realmente me chamado, ou se era apenas fruto da minha imaginação.

Por sorte, um barulho vindo da porta da frente despertou a atenção de todos e eu não precisei virar chacota novamente – a minha cota já estava super esgotada! Em segundos, o Policial entrava na cozinha, todo coberto de neve. Os olhos de Dona Esme se arregalaram e ela correu para o lado do filho, tocando-lhe o rosto e – provavelmente – checando se ele não estava ferido.

─ O que houve, filho? Seu plantão não era até de manhã? ─ o Doutor Cullen perguntou, mais calmo do que a esposa.

─ Toque de recolher para a cidade toda, está vindo aí uma tempestade de neve das bravas ─ respondeu o Oficial ─ Dispensaram os “mais jovens”. ─ Ele revirou os olhos, como se não concordasse com o que tinha acontecido.

─ Graças a Deus! ─ exclamou, Dona Esme, parecendo aliviada que o filho estivesse são e salvo ─ Tire essas roupas molhadas antes que fique doente! ─ Ela ordenou, pinçando o colarinho da camisa dele, que novamente revirou os olhos.

Seu gesto fez com que olhasse, de relance, para onde eu e o Cozinheiro estávamos e só então me dei conta de que eu não havia pegado os talheres de suas mãos e, portanto, as pontas de meus dedos ainda tocavam as dele. O Oficial deu um sorrisinho de canto de lábios, mas não falou nada, muito porque – acredito eu – Dona Esme o empurrava para a área de serviço – segundo ela – para que ele deixasse as roupas molhadas lá.

─ É melhor comer antes que esfrie, fica mais gostoso ─ o Cozinheiro sussurrou para mim, sorrindo e me dando uma piscadela.

Novamente, meu coração se encontrava disparado e seus gestos me deixaram tão desconcertada, que eu me atrapalhei e abri a mão, ou seja: os talheres caíam na bancada, em alto e bom som, enquanto eu virava o centro das atenções mais uma vez.

02:00h

─ E então, vai me dizer que o Edward não é o maior gostoso? ─ Alice me perguntou, enquanto se acomodava debaixo dos lençóis, ao meu lado, numa das camas de nosso quarto provisório.

Estávamos tão acostumadas a dormirmos juntinhas, em espaços diminutos, que era estranho pensar nela dormindo do outro lado do quarto, mesmo que a poucos metros de distância. Além do mais, a cama era espaçosa o suficiente para que não precisássemos nos encolher tanto assim e era a coisa mais confortável que já havia me deitado em minha vida toda.

─ Quem é Edward? ─ perguntei de volta, meio sonolenta.

Apesar disso, o meu rosto dolorido dificilmente me deixaria descansar tão cedo. A minha bochecha recém costurada latejava, mesmo com todo o cuidado do Doutor Cullen em passar a pomada anestésica e, logo após as panquecas – porque eu estava faminta e o Cozinheiro foi gentil o suficiente para me fazer mais duas—, me dar um analgésico, que provavelmente ainda não fizera efeito.

─ Quem é Edward? ─ Alice riu, em desdém, mas parou quando eu a encarei confusa ─ O cara que te serviu três panquecas?

A dúvida em seu tom de voz me fez automaticamente arquear uma sobrancelha para ela – o que, por consequência, me fez gemer de dor por ter utilizado o músculo de meu rosto de maneira tão abrupta. Ela me olhou preocupada, mas assim que eu a assegurei de que estava bem, começou a tirar sarro de mim:

─ Você não pode ser tão distraída assim, Isabella ─ Alice zombou.

─ Não é culpa minha que ninguém me disse o nome dele ─ resmunguei, evitando fazer muitas expressões para poupar-me de sentir mais dor.

Alice pareceu ponderar por alguns segundos, mas, no fim, concordou comigo, porque era óbvio que eu tinha razão.

─ Essa tempestade veio “cronometradinha”, você não acha? ─ perguntou num tom malicioso. Dei de ombros, não entendendo sobre o que ela estava falando, o que a fez bufar e me encarar como se eu fosse uma criança ─ Bella, hello, você vai poder passar bastante tempo com o gostosão. Eu duvido que os Cullen nos joguem na rua de novo, no meio dessa tempestade e...

─ Alice, eles têm uma ONG! Não nos jogarão de volta na rua! ─ lembrei-a.

─ Sim, sim, que bom que eles ganharam a sua confiança, não é? ─ disse ela, apertando os olhos e não parecendo em nada com a garota super esperançosa que havia tomado banho comigo; então, um estalo se deu em minha mente, e foi a minha vez de rir.

─ Eu não acredito, Alice! ─ exclamei ofegante, ignorando as pontadas de dor em meu rosto ─ Você só está assim porque o Policial voltou pra casa, não é?

─ Xiu, Bella! ─ Ela tapou a minha boca com as mãos, enquanto eu me esforçava para me recompor.

O problema de Alice era o fato do cara bonitinho e gentil ser um policial; eu sabia que não tinha nada a ver com uma possível desconfiança dela para com os Cullen.

─ Você quer acordar a casa toda?

─ Você quer acordar o Policial ─ afirmei, provocando-a e ela, mais uma vez, bufou ─ Se um é “gostoso”... ─ Fiz aspas com os dedos ─ O outro também deve ser, são irmãos, afinal.

─ Você só está assim porque o gostosão ficou vidrado em você, não é? Sua sortuda! ─ disse ela, sorrindo para mim com aquela mesma expressão sonhadora de mais cedo.

─ Ele ficou vidrado em mim, Alice? ─ Revirei os olhos; ela devia ter ativado o modo “sonhadora demais”, porque nada daquilo fazia sentido ─ Acho que foi o contrário, eu fiquei vidrada nele ─ admiti, enrubescendo sob seu olhar divertido.

─ OWNT, Bella você gostou dele mesmo? ─ perguntou-me, apertando e cutucando meu ombro direito de maneira irritante ─ E nem venha com essa, só você mesma pra não ter visto o cara quase babar quando te olhou pela primeira vez.

─ A sensação que eu tive foi como se eu tivesse jogado ácido nos olhos dele, ele mal conseguia olhar pra essa minha cara de...

─ Isabella! ─ Alice me repreendeu antes que eu completasse a frase.

─ É a verdade, Alice, e sejamos sinceras, mesmo que eu sinta algo estranho dentro de mim toda vez que olho para ele, não significa que eu esteja apaixonada, gostando dele, ou algo do tipo. E muito menos que a recíproca seja verdadeira. Já viu um cara como ele com uma garota como eu?

─ Por que está se diminuindo desse jeito? ─ repreendeu-me novamente, seu olhar sério e desgostoso ─ Até porque, não teria cabimento você tentar me jogar para cima do irmão dele, se acha que não somos boas o suficiente para eles!

─ Não foi isso que eu quis dizer, Alice, isso não tem nada a ver com você, fique com o seu Policial, vai, e me deixe dormir em paz ─ resmunguei, fechando meus olhos com força e ignorando os cutucões e chamados dela, que soltou alguns palavrões quando não a respondi, mas logo parou e, assim que o silêncio se instalou no quarto, permiti que a inconsciência me envolvesse.

Ela me levou para um mundo de sonhos e fantasias recheado de olhos verdes esmeralda intensos, acolhedores e super hipnotizantes.


04:00h

Acordei com vontade de fazer xixi. Desvencilhei-me dos lençóis e saí pelos pés da cama, para não despertar Alice, e estremeci quando uma corrente de ar gélido passou pelo meu corpo. Aproximei-me da porta da varanda e tudo o que vi foi o céu escuro e, dele, bolas brancas de diversos tamanhos caíam diretamente no chão, ou eram levadas por fortes rajadas de vento: a tempestade já havia começado! E eu estava grata por ter um teto sobre minha cabeça num momento como aquele!

Caminhei até o banheiro, onde fiz minhas necessidades e estava lavando as mãos quando ouvi um barulho fino e agudo vindo do lado de fora do quarto, será que alguém havia se machucado? Sequei minha pele rapidamente e abri a porta para o corredor, deparando-me com o Cozinheiro agachado aos pés da escada que levava ao terceiro andar da casa.

Vi alguns estilhaços do que quer que tivesse se quebrado e calcei o par de pantufas lilás e felpudas que Dona Esme havia me emprestado antes de sair do quarto; não que a sola delas fosse dura o suficiente para proteger meus pés de se machucarem, mas era melhor do que nada.

Aproximei-me dele calmamente, controlando as batidas do meu coração – que já queriam aumentar de ritmo –, e o Cozinheiro não demorou muito para notar minha presença. Seus olhos inicialmente se arregalaram, como se ele não estivesse esperando que eu aparecesse, mas logo se suavizaram e então se tornaram culpados.

─ Eu te acordei, me desculpe ─ disse ele baixinho, levantando-se e, estando mais pertinho, fazendo-me perceber a grande diferença entre nossas estaturas: minha cabeça não passava de seu peito!

─ Na verdade eu já estava acordada ─ murmurei, não conseguindo evitar que um sorriso escapasse de meus lábios.

─ Insônia? ─ ele me perguntou, sorrindo-me de volta e o meu coração falhou uma batida. Mesmo com a escuridão do corredor, eu ainda conseguia ver toda a sua beleza; ele era tão lindo que mais parecia um deus grego do que um ser humano!

─ Não ─ respondi, ainda em tom baixo ─ Necessidades fisiológicas apenas ─ completei, desviando o olhar para o chão quando minhas bochechas queimaram. Por que eu me sentia idiotamente envergonhada de admitir aquilo para ele?

Não tinha motivos! Ele também fazia xixi, não fazia?

O Cozinheiro deu uma pequena risada e ergui meu olhar para seu rosto; ele me fitava de uma maneira adoravelmente esquisita, como se eu fosse, ao mesmo tempo, a pessoa mais frágil e mais forte que ele já vira.

─ Antes tais necessidades do que insônia, não é? ─ sussurrou ele, gesticulando para o chão, onde eu conseguia ver pedacinhos de algo branco que havia se quebrado ali.

─ Você sofre muito?

─ Não é muito costumeiro, mas, por algum motivo, ainda não consegui dormir hoje... ─ admitiu, encarando-me com tanta intensidade que era como se fosse capaz de ver através de mim, de enxergar a minha alma.

─ Isso é bom e ruim... Quero dizer, com a tempestade, você vai ter bastante tempo para descansar ─ expliquei rapidamente o meu ponto de vista antes que ele me achasse maluca. Ele apenas riu baixinho antes de concordar com a cabeça.

─ E isso porque Jazz está em casa, então é uma preocupação a menos, sabe? Sempre que ele está de plantão, principalmente à noite, eu e mamãe ficamos muito preocupados; meu pai também fica, mas é mais tranquilo ─ disse ele, sentando-se no quarto degrau da escada e dando um tapinha no espaço ao lado.

Dei-lhe um pequeno sorriso, sentindo-me aquecida por dentro, por saber que ele queria conversar comigo – uma completa estranha recém-abrigada em seu lar –, mas não lhe obedeci; sentei-me um degrau acima, de modo que não precisasse contorcer meu pescoço para continuar olhando para seu rosto.

Ele riu de minha atitude e, por mais confortável que fosse a distância entre nós, a escada era mais estreita, então, no final das contas, não havia tanto espaço assim e eu conseguia sentir seu hálito suave de menta contra o meu rosto, tamanha a nossa proximidade. Só esperava que meu hálito estivesse tão agradável quanto o dele!

─ Então... Jasper é o Policial e você é o Cozinheiro da família? ─ perguntei, apoiando meu queixo em minhas mãos e ganhando um sorriso largo (e lindo) como resposta.

─ É... Pode-se dizer que sim, embora eu não tenha estudado exatamente para isso ─ ele respondeu.

─ E para quê você estudou, se me permite saber? ─ Eu não conseguia mais me controlar (ou à minha língua). As perguntas saíam automaticamente, como se eu estivesse curiosa e necessitada por saber mais sobre aquele homem.

─ Não estudei para nada, quantos anos acha que eu tenho? ─ perguntou, em tom surpreso e ligeiramente ofendido.

─ Ah, droga, me desculpe, não quis insinuar que era velho, de maneira alguma! Eu só achei sua postura tão madura que, merda, me desculpe mesmo ─ tagarelei, um pouco amedrontada, não queria que ele me expulsasse de sua casa no meio daquela tempestade!

Ele então abriu um sorriso divertido – que fez o meu coração disparar – enquanto me encarava:

─ Relaxe! ─ disse ele, contendo uma risada ─ Tenho 20 ─ respondeu minha pergunta silenciosa ─ Fiz um curso técnico de informática e dou aulas na ONG e numa escola, mas a minha verdadeira paixão é a cozinha. Ainda estou juntando um dinheiro para fazer um curso de gastronomia.

Perguntei-me por que ele não utilizava os recursos dos pais – já que eles claramente tinham muita grana e eu duvidava que se importariam de pagar por um curso do próprio filho.

─ Ah, eu sei o que você deve estar se perguntando ─ continuou ele, ainda me encarando; eu apenas estava aliviada de não tê-lo ofendido ─ Por que não uso o dinheiro dos meus pais, não é?

Assenti timidamente ao passo que um arrepio percorria o meu corpo inteirinho devido a intensidade com que o Cozinheiro me olhava.

─ Eles já têm despesas demais, sabe? Pode não parecer, mas eles ajudam muita gente e sei que se eu trabalhar um pouco mais, vou ter condições próprias para bancar o meu curso. Fora que, eu não estaria totalmente desamparado, já que ainda moro com eles.

─ Entendi ─ murmurei, corando novamente quando ele se mexeu e nossos rostos ficaram ainda mais próximos um do outro. Era difícil enxergar com as luzes apagadas, mas meu encanto por ele parecia não se quebrar nunca, muito pelo contrário, me sentia cada vez mais hipnotizada.

Até que o Cozinheiro franziu o cenho, e seu olhar focado no curativo em minha bochecha lembrou-me de que eu era mais uma das pessoas ajudadas por seus pais e jamais passaria daquilo. Não que não estivesse grata por todo o acolhimento, mas o meu coração se apertou em meu peito ao entender tais pensamentos.

Ele abriu e fechou a boca, algumas vezes e eu sabia que provavelmente buscava jeitos de me perguntar sobre meus machucados, mas eu fui mais rápida e me levantei antes que ele dissesse qualquer coisa. Não faria diferença alguma falar de meu passado; esse seria esquecido no momento em que outras pessoas necessitando de ajuda chegassem em sua vida.

─ Afinal de contas, o que foi que aconteceu aqui? ─ perguntei, levantando-me da escada e me agachando para pegar alguns estilhaços. Estaria mentindo se dissesse que não estava curiosa para saber o que ele havia quebrado.

Ele pigarreou, me acompanhando e agachando-se ao meu lado e, como num filme clichê de romance barato, nós tentamos pegar o mesmo estilhaço, o que fez nossas mãos se tocarem e meu corpo todo se arrepiar de novo.

Quando olhei para ele, o Cozinheiro tinha o cenho franzido e os lábios entreabertos, e algo dentro de mim me empurrava na direção dele, como um ímã, e eu quis muito me atirar em seus braços. Porém, seu olhar percorreu o meu rosto todo e lembrei-me de todos os motivos para aquela ser uma péssima ideia; eu estava quebrada por dentro e por fora e duvidava muito de que alguém como ele me olharia por qualquer motivo além de compaixão – ou, no pior caso, nojo e/ou pena.

─ Dei... Deixe que eu arrumo isso, fui eu quem quebrei, era uma caneca, pode ficar despreocupada ─ murmurou, tirando sua mão da minha rapidamente e confirmando os meus pensamentos. Pelo menos era compaixão, e não nojo.

Suspirei, antes de assentir com a cabeça, deixar os estilhaços num cantinho, e me levantar, era melhor assim. Sou só mais uma pessoa que está sendo ajudada por seus pais, reforcei aquele pensamento.

Murmurei um “boa noite”, e recebi um de volta, antes de entrar em meu quarto provisório e fechar a porta atrás de mim. Estava aliviada que Alice não tivesse acordado – já tinha sido constrangedor demais vivenciar aqueles momentos sozinha com o Cozinheiro e não precisávamos de testemunhas.

Com um mix de sentimentos dentro de mim – gratidão e esperança, mas também um pouco de tristeza que eu não entendia muito o motivo de senti-la –, deitei-me novamente ao lado de minha melhor amiga e lutei para pegar no sono.


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Notas finais do capítulo

Então, o que acharam?

Obrigada, mais uma vez, por todo o amor e apoio nos comentários!

Nos vemos amanhã com mais um capítulo, okay?

Beijos,
Mari.



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