Um Reino de Monstros Vol. 1 escrita por Caliel Alves


Capítulo 4
Capítulo 1: Páginas em branco - Parte 3




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/804754/chapter/4

Tell descia a estrada pensando em como vovô Taala era solitário. Desde o desaparecimento de seus pais, aquele homem tinha se tornado uma pessoa envolta em mistérios e segredos demais.

Com um sorriso, o garoto pegou a mochila e abriu o embrulho retirando o livro. A capa negra tinha uma única inscrição em letras douradas: Monstronomicom.

Por um momento, ele observou o livro em suas mãos. Analisou a situação, seu avô nunca tinha lhe mostrado o tomo, e sempre o tinha por perto. Tell imaginou que motivação levaria seu avô a lhe dar a sua maior obra e levá-lo para longe?

O jovem pôs o livro de volta na mochila e passou a subir a estrada, retornando à velha mansão. Em pouco tempo estava no velho portão. Mesmo não tendo a mesma sensibilidade mágica que o avô, pressentiu que algo estava errado.

Sem pensar duas vezes, abriu a porta. O susto foi tremendo. Não reconheceu o cenário. A plataforma xadrez flutuava, quatro estranhos convidados estavam presentes.

— Vovô!

— Fuja, meu neto.

Os invasores se viraram. Zarastu percebeu que o Monstronomicom estava nas mãos de Tell. Os monstros ficaram sem saber o que fazer naquela situação.

— Vocês, peguem o garoto. Ele está com o livro.

— Já disse para SOLTAREM O MEU AVÔ!

A voz saiu embargada, mas alta. Tell abaixou a cabeça e segurou o livro no peito com a mão esquerda, as letras começaram a brilhar intensamente. Apontou a sua mão direita na direção de Zarastu, uma esfera de luz se formou.

— Projétil de Luz.

Após o disparo automático, a esfera aumentava de tamanho a cada metro que avançava. Os monstros tentaram defender a esfera de energia, mas Zarastu pediu para que ninguém interferisse.

— NÃO SE INTROMETAM, acham que não posso desviar desse ataque?

A esfera passou por entre os monstros atingindo Zarastu em cheio... Thum... Apesar da força do ataque, o mago não se feriu.

— Viram como eu não... Unhg.

Taala, aproveitando a distração causada pelo seu neto, saltou para a plataforma e segurou o oponente pelas costas, o imobilizando.

— O que pensa em fazer?

— O que deveria ter feito há muito tempo.

— Eu não vou deixar, seu maldito. Sirius, pegue o fedelho.

Rapidamente, o lobisomem alcançou Tell e o suspendeu pela garganta.

— Vovô, me ajude.

— Solte-o, Zarastu! A sua luta é comigo, não seja um covarde.

— Solte você primeiro, então.

— O que devo fazer com o garoto, rei Zarastu?

— Acabe com...

Uma aura avermelhada começou a cobrir Zarastu e Taala. O rei dos monstros percebeu qual era o plano de seu oponente e deu um sorriso amargo.

— Acho que já não tem mais tempo de vida para fazer essas coisas, meu velho.

— Cale-se, eu sempre guardo o melhor para o final. Tell de Lisliboux, filho de Taran, eu deixo todos os meus sonhos e um futuro como herança para você.

O velho lacrimejou enquanto Zarastu ria de modo insano. Tell não entendeu aquelas palavras, mas sentiu que elas eram verdadeiras.

O corpo de Tell foi sumindo aos poucos, até as garras de Sirius segurarem apenas o ar. A última visão do garoto foi ver seu avô e Zarastu num clarão rubro. Antes de sumir ele fez questão de memorizar cada um daqueles inimigos.

O garoto sentiu o seu corpo se tornar transparente. Por um momento a visão, audição e tato já não existiam mais. Só a sua consciência permanecia a mesma.

Em poucos segundos, o seu corpo se materializou numa rua movimentada. Seus sentidos foram voltando aos poucos, a cabeça doía e sentiu uma enorme vontade de vomitar.

Depois do mal-estar provocado pelo enjoo, Tell só voltou a enxergar depois de alguns minutos. As cores foram pouco a pouco se definindo. O azul do céu sem nuvens, o calçamento de pedras cinzentas e os de vendedores em suas barracas multicoloridas.

Muitos vendedores gritavam os preços de suas mercadorias, outros falavam de suas qualidades. Diversos animais também contribuíam com o barulho.

Embora não soubesse onde estava, Tell encontrava-se numa praça movimentada. Com receio, pôs o livro dentro da mochila. Por um momento, o garoto ficou analisando aonde havia chegado, e teria descoberto se não fosse atropelado.

— SAI DA FRENTE!

Tell se virou. Mas não teve tempo de desviar do homem que corria em sua direção... Thump! O jovem estava tão distraído que não reparou que alguém corria em sua direção em toda a velocidade. Não houve como o corredor parar, e os dois se chocaram.

O garoto foi nocauteado e o corredor esperneava reclamando e pedindo que Tell saísse de cima dele. O jovem achou aquela figura um tanto exótica.

O estranho trajava uma capa negra por cima de roupas longas e folgadas, com gola alta como se fosse duas orelhas de cachorro. Em sua cabeça, estava uma máscara onde era possível ver apenas os olhos azuis e a boca fina. Em sua mão direita havia um pequeno cetro, com uma joia escura na ponta.

— Eu falei para você sair da frente, você é surdo ou o que, seu pivete?

Tell não conseguiu se desculpar, o outro acidentado gesticulava e gritava alto.

— Vejam, ele está ali, e também tem um comparsa. Ataquem-nos!

No final da feira um enorme grupo corria em direção a eles. Na queda, ambos ficaram entrelaçados no chão e demoraram a levantar.

O encapuzado passou a correr. E para confundir os perseguidores, pediu a Tell que também corresse. O garoto ao invés de dar no pé, tentou convencê-los.

— Olhem, eu não fiz nada de errado. Eu não estou com ele, nem sei como cheguei aqui.

O garoto tentou demonstrar a sua inocência, mas os perseguidores não pararam de correr em seu encalço. Para Tell, os perseguidores pareciam uma espécie de guarda municipal, e não eram nada comuns, e sim um grupo de monstros.

Como temia que o livro caísse nas mãos dos monstros, o garoto correu mais rápido que o encapuzado, o ultrapassando rapidamente.

— Eu disse para você correr seu idiota, mas não na mesma direção que eu!

Era tarde demais para que pudessem se dividir, os monstros já haviam declarado ambos como cúmplices. Tell tentou iniciar uma conversa.

— Moço, eu cheguei aqui minutos atrás. Aonde é que eu estou e porque os monstros estão te perseguindo?

— É uma longa história, moleque. Eu não tenho tempo para ensinar caipiras a viver na cidade grande.

O garoto achou o desajeitado corredor encapuzado alguém muito rude.

— Me desculpa. Eu só queria ajudar. Talvez tenha sido apenas um mal-entendido.

— Você é retardado? Acha que dá pra levar monstros no papo? Conseguiu o quê com isso, sabichão? Você sabe quem é o líder da Guarda Municipal de Monstros? Não? Nem queira! Ele é um mapinguari, um poderoso guerreiro do Reino dos Monstros.

— O Reino dos Monstros?

Tell ficou assustado com essas palavras. Zarastu tinha um reino de verdade agora!

— Como um reino de monstros surgiu sem que ninguém fizesse nada?

— E como é que eu vou saber? Eu não estudei ciências políticas, só sei que é um reino de verdade, e cidade após cidade a Horda aumentou de tamanho. Mas isso não é da minha conta. Eu só tento que sobreviver nesse mundo maldito. Mas os problemas iguais a “você” vêm até mim. Eu devo ter um imã para o azar, só pode ser isso.

Tell em toda a sua vida nunca tinha visto alguém tão mal-humorado. Além da agressividade, o encapuzado fazia tudo parecer negativo.

Eles correram tanto pelas ruas da cidade que já tinham deixado a feira para trás há muito tempo. A cidade parecia ser bem grande, porque atravessaram diversas ruas em zig zag.

— Você sabe para aonde estamos indo, encapuzado?

— Desculpe, eu não tenho o mapa da cidade.

— Porque você é tão mal-humorado, hein?

— Olha aqui garotinho, eu estava em plena fuga para fora desse lugar cheio de aberrações, até que apareceu uma barreira: você.

— Mas eu já te pedi desculpas...

Os monstros continuavam a avançar cada vez mais. O encapuzado pensou em se dividir com o garoto, mas seria melhor reservá-lo para o caso de ser pego. Poderia até fazer uma troca com os monstros: sua fuga pela prisão do jovem.

— Olha garoto, se quiser sobreviver, é melhor ficar perto de mim.

— Obrigado.

O encapuzado poderia ter se comovido com a sua confiança, mas só tinha uma coisa em mente, sobreviver. As prisões da Horda não eram nada generosas com humanos.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!