Um Reino de Monstros Vol. 1 escrita por Caliel Alves


Capítulo 26
Epílogo: Um passo para mil milhas




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Parte 1

Depois de se despedir de Flande, o improvável grupo colocou o pé na estrada. Tell já tinha o hábito de estar sempre viajando, mas nunca acompanhado de estranhos. Embora eles tivessem interesse em comum, à companhia deles não havia um mês.

Index se empoleirou como um pássaro no cabelo crespo do garoto, que vestia um colete azul sobre uma camisa branca de mangas longas. Sobre a camisa, uma capa curta e negra, semelhante a uma sobrepeliz. Ela era usada para ocultar o livro que era carregado numa alça nas costas do colete.

A calça fuseau mostrava a parte da canela, seu calçado era um sapato de sola leve e flexível, típica de um espadachim, presente da guarda de cavaleiros flandinos. Rosicler falou:

— Já estamos viajando a uma semana, e não paramos em lugar nenhum...

— Ninguém te mandou vir com a gente.

— Já te disseram que você é muito mal-educado, Saragat?

— Estamos tomando rotas alternativas devido aos postos de controle dos monstros.

Lashra não tinha tantas estradas oficiais como se imaginava. A maioria eram conexões de rotas comerciais. Havia um plano da Coroa de Habsburgos de criar uma estrada real conectando Norte, Sul, Leste e Oeste de Lashra à Cidade Real. Infelizmente, as constantes guerras com os monstros impediram esses esforços de serem realizados com sucesso.

Durante dias seguidos, o trio atravessara florestas e enviavam frequentes relatórios de viagens pelo telemago de Tell aos flandinos.

O mago-espadachim se lembrara da conversa que tivera com Clapeyron sobre o seu avô. O aposentado comandante da Resistência era tão altruísta e esperançoso quanto o garoto.

Rosicler, que tinha o seu estômago roncando, pediu aos demais para descansar. Depois de uma intensa briga, o líder do grupo, Saragat, decidiu que deveriam parar por alguns minutos. O conjurador abriu seu odre e retirou água fresca, e também comida. Tell comeu pouco.

— Se não comer, não vai aguentar a cainhada, pivete.

— O troglodita tem razão. Se você não comer, Tellzinho, não estará forte o suficiente. Alfonsim está cheia de monstros, precisaremos de você bem fortinho.

Saragat ergueu o cajado para acertar a cabeça de Rosicler, mas ela desviou facilmente do golpe. Index riu tanto da cara de bobo do conjurador que rolou pelo chão. Bong, o conjurador acertou a cabeça do guardião com o seu cajado. Um galo enorme saiu da sua cabeça. Index passou a rolar no chão de novo, mas dessa vez de dor.

— Vamos, Tell. Eu não vou bancar a sua babá.

O garoto soltou uma lágrima, e a limpou com a dobra da camisa. Rosicler afagou os seus cabelos crespos. O conjurador ficou sem reação.

— Eu estou com saudade do meu avô. Ele já deveria ter me encontrado.

— Não se preocupe tanto, pois, nós vamos encontrá-lo onde quer que esteja.

— Saí daí sua babaca, veja o que você fala.

— Por que está dizendo isso, chapeuzinho preto?

Saragat ergueu-se alisando a capa novinha. Os olhos claros brilhavam atrás dos buracos da balaclava. Tell, envergonhado, se desvencilhou do abraço de Rosicler.

— Vamos ser realista, Taala confrontou o próprio rei Zarastu e mais três monstros. Talvez três Generais Atrozes de uma só vez, ele pode tanto estar vivo, como também pode estar morto neste momento, é o que eu acho.

— Não seja tão rude com o garoto. Ele não tem culpa se você é quem está aqui...

— Por falar nisso, garotinha, Tell tem a sua missão e a vontade de se reencontrar com o seu avô. Eu tenho ordens expressas da minha deusa para segui-lo e ajudá-lo a realizar essa missão, mas, e você, sua trombadinha, o que é que tu quer aqui?

Rosicler abriu a boca estalando a língua e se levantou do chão balançando à cabeça.

— Olhe aqui, meu bem, saiba que eu tenho coragem suficiente e dotes para contribuir com essa missão. Comigo, missão dada é missão cumprida.

E terminou estalando os dedos. Saragat achou-a uma garota vulgar demais. Tell passou a rir descontroladamente da situação. Index também se juntou às gargalhadas. Saragat e Rosicler perguntaram ao mesmo tempo:

— O que é tão engraçado?

— Não, nada, só estou imaginando que ter uma família dever ser engraçado assim.

— Está errado, a família pode fazer coisas muito mais terríveis que os monstros.

— Não posso dizer muito, perdi minha única família para a Horda.

Saragat e Rosicler depois de dizerem isso, respectivamente, ficaram cabisbaixos. O conjurador guardou a sua mochila e deu ordens para que os outros os acompanhassem. Tell parecia ser o único que tinha esperanças no grupo.

O garoto se levantou também, mastigava um pedaço de pão preto, e decidiu não fazer mais perguntas. A criatura alada voltou a pousar em seu ombro. E assim, em resignado silêncio, o grupo de heróis continuou a sua caminhada pelo meio dos bosques.

***

A caminhada já tinha cerca de mais de um mês pelas rotas alternativas. Pela estrada oficial em cima de cavalos, seria menos de uma semana.

— Tell, olha, eu peço desculpas. Quanto ao seu avô, ele pode estar até na próxima cidade.

— Tudo bem, não precisa ficar assim, eu não guardo mágoa.

— Sinceramente, eu não perdoaria. Imagina se um cara falasse assim comigo, eu quebraria a fuça dele na ora, veio, na moral mesmo.

— Sua boca é muito porca, e sua gramática é péssima.

— Desculpa, princesa de capuz, não foi a minha intenção.

— O q-quê? Cale a boca sua...

— Ei, parem de brigar.

Por um momento, Tell de Lisliboux refletiu sobre todos os acontecimentos até aquele momento, sentia que tinha deixado algo escapar em toda àquela situação. Continuaram a atravessar o bosque a passos rápidos, logo após, chegariam à Alfonsim.


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