Um Reino de Monstros Vol. 1 escrita por Caliel Alves


Capítulo 24
Capítulo 5: Inatural - Parte 4




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Semanas depois.

O palácio do Baronato estava em festa. Durante vários dias os flandinos e os forasteiros haviam reconstruído Flande, tanto na infraestrutura como socialmente. Depois de reconstruir os casarões da praça principal, a Ordem dos Cavaleiros Flandinos organizou uma festa de condecoração para o novo barão e a reinauguração da sua sede.

No salão do trono, centenas de flandinos e pessoas que haviam sido purificadas da monstruosidade estavam presentes. Essas, por sua vez, estavam muito longe de casa, e mereciam o testemunho dessa transformação no Baronato.

As pessoas estavam dispostas em semicírculo. No centro, Tell, um tanto desconfortável, e Index chamando atenção, Rosicler fazendo à nobre e Saragat com o seu ar de indiferença. No trono, Dumas estava sentado, a sua direita, estava Clapeyron. Arnaldo estava ao lado do mestre de armas, e este, por sua vez, ditou este anúncio:

— Na ausência do barão e da baronesa, e tendo o Reinado sofrido um golpe de Estado, por lei, a autoridade do Baronato passa a ser exercida pelo comandante da Guarda de Cavaleiros Flandinos, nesse caso, eu, Clapeyron Cabral de Algarves, condecoro como Barão de Flande o senhor Dumas Cabral de Algarves.

Dumas se levantou mostrando o seu majestoso traje, vestia uma capa e um colete de tecidos nobres. Um relógio de bolso deixava à mostra sua pulseira de ouro. Abaixo do colete, uma camisa de seda branca. O que poucos perceberam foi às calças rasgadas na altura do joelho e as botas de cano longo.

Clapeyron não se assustou com a quebra de protocolo, as moças adoraram! Os homens viram nessa atitude um misto de ousadia e humildade. O mestre de armas pousou em seu dedo médio da mão direita o anel, símbolo de sua autoridade e direito à nobreza.

Dumas se ergueu sobre intensos aplausos, se curvou perante a multidão e pediu silêncio com um aceno.

— Obrigado a todos, que a graça dos Deuses Virtuosos repouse sobre nós. É chegado o tempo de mudança, e também da verdade. Mas antes que eu possa enunciar tais coisas, por favor, dê um passo à minha frente, o senhor Arnaldo Campos Sales.

A aclamação foi geral. Com um terno de caimento impecável, Arnaldo deslizou pelo piso com os seus sapatos lustrosos e ficou de frente para o barão. A barba feita aumentara a sua jovialidade. Dumas sorriu ao ver o velho amigo feliz.

— A partir de hoje, com a exoneração do atual comandante, Vossa Excelência Clapeyron, eu indico para a vaga de mestre de armas da Ordem dos Cavaleiros Flandinos, e comandante da Guarda dos Cavaleiros Flandinos, o senhor Arnaldo.

Novo júbilo, nem mesmo Arnaldo esperava por essa. Ambos se abraçaram e trocaram gentilezas em mais uma quebra de protocolo.

O barão pegou a dragona de comandante, e a comenda em formato de trevo de quatro folhas da guarda de cavaleiros, e pôs em seu traje, fazendo assim que todos conhecessem a sua posição. Dumas pediu ao seu mais novo líder militar que fizesse um discurso. Arnaldo se virou para os presentes e iniciou:

— Bem, e-eu, n-não sou bom com as palavras, sabe, mas, o que eu quero dizer, é que para mim é uma honra servir a minha cidade. Flande sofreu muito tempo sob domínio da Horda. Mas essa cidade precisa agora mais do que nunca mostrar união, o que provocou a queda de nossa cidade não foi nada mais nada menos do que o egoísmo. A cidade que continua unida, continua forte. Obrigado à Vossa Alteza, o barão.

— Não duvido Vossa Excelência faça um primoroso trabalho nesse aspecto.

Arnaldo voltou ao seu lugar. Uma medalha dourada brilhava no lado esquerdo do seu peito, a luz brilhava como um coração. Sua mulher e filho vibraram muito.

Dumas chamou os três forasteiros. Tell coçava constantemente a garganta devido à gravata borboleta vermelha que lhe tinham arranjado.

Saragat recusara o traje de gala, e usava seu traje preto e remendado. Rosicler usava um deslumbrante vestido branco, com rendas e babados. Seu vestido tinha cauda com laços. O espartilho revelava as suas curvas generosas. Eles se aproximaram meio que intimidados por estarem sendo observados pelo povo.

— Essa linda donzela é Rosicler Cochrane, “a Sagaz”, graças a sua inteligente observação, nós pudemos localizar Gumercindo e a sua sociedade de malfeitores. O plano dele era aproveitar a noite de comemoração e fugir de madrugada, ganhará uma condecoração Herói Segunda Classe. Este é o senhor Saragat, conjurador de Nalab, “o Fervoroso”, por sua vez, foi responsável por nos livrar do inimigo, e através dele, a deusa virtuosa Nalab entrou em contato conosco, e deu relevante castigo aos nossos prisioneiros. Ganhará uma condecoração Herói Primeira Classe. Agora prestem atenção, todos olhem para Tell de Lisliboux, ele será conhecido entre vós como “o Generoso”, se não fosse por você, meu caro Tell, muitos ainda estariam sob o julgo dos monstros, além de receber uma condecoração Espada da Justiça, a mais alta oferecida pela nossa ordem, você ganhará o título de Cavaleiro Flandino por Honraria Benemérita. Digam alguma coisa!

Cada um recebeu a sua comenda das mãos de Dumas como havia sido anunciado por ele. Os três se entreolharam, as gotas de suor respingavam da testa de todos eles. Index cochichou nos ouvidos de cada um dos três. Depois de se darem as mãos, eles falaram:

— Do aço, pelo aço!

Foi o suficiente para gerar uma grande comoção. Os flandinos pegaram os três e os lançaram no ar. Depois de algum tempo, Dumas sentou-se no trono e falou:

— Flandinos, como é bom revê-los! Estrangeiros, sintam-se bem-vindos! Prestem atenção, pois tudo que tenho a dizer é duro de ouvir, mas a verdade, embora doa, é necessária. O avô de Tell, Taala de Lisliboux, o mago mais influente de nossa geração, quiçá de toda a história, liderou à distância a Resistência contra a Horda. O que vocês não sabiam, é o que agora irei revelar. Apurem os ouvidos e deixem as perguntas para o final, pois mesmo eu tenho dúvidas, e teremos o direito e tempo de saná-las...

Dumas começou a narrar todos os eventos culminando na última revolta contra Nipi. Taala, que organizava o movimento à distância, resolveu se debruçar sobre um grande mistério: como os monstros haviam ressurgido, se os mesmos haviam sido extintos e o Mago Dourado havia selado Enug?

Taala então percebeu que os números de humanos desaparecidos era relativo ao aumento de monstros na Horda. Por dedução, ele concluiu que Zarastu de alguma forma transformava pessoas em monstros. Essa suspeita aumentou depois de realizar algumas experiências pessoais.

Ele capturou um monstro, e então aplicou técnicas de hipnotismo e mesmerismo nas cobaias. Descobriu-se com isso que as memórias dos monstros eram implantadas. Muitos até manifestavam resquícios de sua psique humana nas sessões.

— Vossa Alteza perdoe a minha intromissão, mas imagino que isto é surreal!

— Também considerava assim, comandante Arnaldo, mas é tudo verdade. Com o seu poder, após capturar as pessoas, Zarastu as transformava em monstros...

A monstruosidade, de acordo as informações repassadas aos líderes da Resistência, era a amplificação das próprias paixões e pecados humanos pela energia divina de Enug. Cada um dos novos monstros era a manifestação materializada do lado mais obscuro do ser humano.

O egoísmo, ódio, ganância, inveja, desejo de controle etc. todos eles formavam um novo ser destituído de qualquer humanidade. Quanto mais dominado por esses sentimentos, mais monstruosa era a forma, quanto menos envolvido por eles, mais humanizada era a forma.

— Mas, Vossa Alteza, é possível que eles voltem ao normal?

— Mas como poderemos lutar contra os monstros sabendo que um deles pode ser meu marido que está desaparecido?

As pessoas começaram a se manifestar de modo desordenado, Clapeyron pediu calma. Dumas fez um aceno para Tell, que estava com o Monstronomicom em mãos.

— Erga-o para que todos os vejam.

O garoto fez como ele havia pedido, pegou o livro e o ergueu acima da cabeça. Todos ficaram em silêncio e extrema curiosidade.

— Mas não pensem que Taala nos deixou desguarnecidos, este é o neto de Taala e filho de Taran, a quem nos tanto conhecemos. Ele criou um artefacto que possibilitou a purificação da essência monstruosa ou monstruosidade de nossos entes humanos. Ele é o usuário deste artefacto, e lhe foi deixado como herança. Apesar de sua juventude, nós da Cidade Subterrânea o conhecemos como um valoroso mago e grande espadachim.

O povo aclamou as palavras de Dumas, o garoto ficara com as bochechas vermelhas.

— Por favor, não diga isso, estou ficando envergonhado.

O barão pediu a Tell que explicasse o funcionamento do livro aos que ainda não tinham presenciado o seu poder ou não conheciam o fenômeno da purificação.

— Bem, eu hã, quero dizer que... puxa é complicado.

— Por favor, nos diga como ele funciona.

Arnaldo também não conhecia muito do assunto, mas ficava feliz que existisse algo assim. Não admitia que pessoas ficassem presas as formas tão grotescas.

— O Monstronomicom, esse livro dado pelo meu vovô Taala, que está desaparecido por sinal, consegue absorver a monstruosidade e devolver a humanidade às pessoas. Isso, no momento, só pode ser feito em caso de inconsciência do monstro, pois, pelo que notamos, a monstruosidade impede que o livro provoque algum efeito no monstro ainda consciente. Esse aninhado no topo de minha cabeça é Index, o Guardião do Monstronomicom. Ele revela os tópicos do livro, mas só consegue revelar aquilo que está em meu alcance conhecer. O senhor Clapeyron disse que era uma medida de segurança do livro.

Vovô, o senhor é sempre inteligente...

— Como podem ver, povo flandino, essa não é apenas uma oportunidade, mas uma grande chance de derrotar a Horda e fazer com que o mundo volte ao normal, sem correr o risco de os monstros surgirem novamente neste mundo, causando mais destruição.

O povo flandino gritou de alegria, realmente eles estavam felicíssimos. A partir daquele momento, não deviam mais temer os monstros, nem achar que tudo estava perdido. Os desaparecidos podiam retornar, e com isso, as desestruturadas famílias podiam ser unidas e fortalecidas mais uma vez. A sociedade caminharia para o progresso.

Depois disso, os menestréis foram chamados e iniciaram um bailado. Era a primeira vez em anos que Flande comemorava algo sem o medo da Horda. Dumas chamou Rosicler para dançar, ela se fez de tímida num primeiro momento, mas depois aceitou. O jovem barão achou-a belíssima.

A atenção da garota, no entanto, estava no relógio de ouro. Mas resolveu não pegá-lo, estava recebendo gentilezas demais para cometer um ato como este. Depois que se estabelecesse, iria embora, mas antes, precisava preparar o terreno.


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