Um Reino de Monstros Vol. 1 escrita por Caliel Alves


Capítulo 22
Capítulo 5: Inatural - Parte 2




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Pela primeira vez em anos, o mestre de armas de Flande entrava na extinta sede da Guarda dos Cavaleiros Flandinos. Todas as janelas estavam fechadas, e a porta pela qual entrara se fechou com o vento. O ambiente estava escuro e silencioso. Clapeyron andou a passos vagarosos.

Apenas a folha do seu sabre iluminava a escuridão. O sol já estava se pondo no céu. Por um instante, o homem sentiu uma leve dor no abdômen, uma dor que lhe atacava constantemente em momentos de grande esforço físico.

No início, se queixara dos quadris, mas a dor parecia muito mais concentrada. Foi nesse momento de desconforto que ele acabou sendo atacado pelo mapinguari.

— Ruor, morra, Clapeyron!

A tentativa de defesa foi em vão, a dor aumentou ainda mais se tornando lancinante ao ponto de quase desfalecer. Clapeyron foi jogado contra o balcão da sala de recepção.

Eu nunca dei à luz a uma criança, mas a dor que estou sentindo, bem, deve ser igual...

Antes que pudesse perceber de onde vinha o golpe, ele foi atingido. O ataque o ergueu no ar o deslizando em cima do balcão de granito como se fosse um boneco.

Vush, Nipi caiu com as suas pesadas pernas no balcão. Mas dessa vez, Clapeyron foi mais rápido. Agora o monstro estava mais ágil, pois retirara a pesada armadura do corpo. O espadachim empunhou o seu sabre e esperou um novo ataque do ser.

— Foi muito inteligente para um mapinguari armar essa cilada.

Nenhuma resposta foi dada a essa provocação. Clapeyron continuou cauteloso. A noite se adensava do lado de fora. A escuridão crescia no lado de dentro.

Thump, o mapinguari saltou novamente e desabou sobre o espadachim que o estocou com o sabre, no entanto, não acertara o ponto fraco da criatura.

— Huhuhuhu, quer acertar o meu estômago, não é, Clapeyron? Huhuhuhu, não conseguirá com essa lerdeza.

O monstro mais uma vez sumiu nas trevas que o cercavam. Movendo o sabre, o cavaleiro flandino esperou que o inimigo fizesse outro movimento. Percebendo que um combate às cegas seria perigoso, Clapeyron concentrou a sua força.

— Macaquinho danado, Alizé.

Com um golpe giratório, a rajada de vento provocada pelo golpe quebrou todas as janelas, fazendo com que a luz carmesim crepuscular entrasse na recepção da guarda municipal. Como se fosse um ser lucífugo, o inimigo saltou em desespero para a escadaria que levava aos andares superiores. Clapeyron o seguiu velozmente.

— Macaquinho quer banana?

Com o sabre em riste em posição defensiva, subiu as escadas esperando que o monstro furioso viesse em sua direção. Clapeyron se sentia um pouco confortável. A subida, porém, ocorreu sem ataques.

No gabinete do comandante da Guarda Municipal de Monstros, estava Nipi, desnudado. Seu corpo tremia e seus pêlos estavam eriçados. As costas do monstro subiam e desciam. Ele bufava.

Clapeyron entrou batendo na porta cinicamente. O espadachim o observou por um tempo, depois retirou uma pequena garrafa do bolso do seu longo sobretudo cinzento. Bebeu o seu vinho e gargalhou.

— Você também deveria beber um pouco disso, sabia, isso anima o espírito.

Nipi passou a derrubar as coisas de cima da mesa. Enquanto destruía o recinto com selvageria, o esgrimista viu o pôr do sol e decidiu que antes que o astro deixasse o céu, ele derrotaria o monstro. Sorriu com o seu próprio pensamento, a bebida já fazia efeito.

— Seu humano idiota! Seu animal infeliz, eu odeio os humanos, eu irei matar todos vocês!

Num rompante de fúria, o simiesco começou a jogar os móveis em cima de Clapeyron, que desviava com movimentos trôpegos, como se estivesse alcoolizado.

Isso enfureceu ainda mais o oponente que não podendo mais atacar com os móveis, usou os punhos. A ferida na mão esquerda de Nipi não cicatrizara. Devido a sua desconcentração, as curas não tinham surtido efeito e sua conjuração não pôde curá-lo.

— Destra Divina.

A mão direita de Nipi brilhou como se fosse um meteoro e avançou contra Clapeyron. No entanto, a sua mão esquerda mesmo ferida tentou aplicar o Poaçú. Clapeyron percebeu e se curvou para trás como se fosse desabar, e dobrando-se como papel, fez com que o mapinguari passasse direto por ele, e atingisse a parede ao fundo.

— Hic, esse é o hic-hic, esse é o Coup de Théâtre, eu iria hic, chamá-lo de “A dança maluca do espadachim embriagado”, mas resolvi hic-hic, seguir a tradição dos coup da vida.

Esfregando o nariz e lacrimejando, Clapeyron continuou sua ginga de bebum.

— Alguém como você só merece a morte.

A sentença do inimigo não causou nenhuma reação ao espadachim. Embora fosse uma das poderosas técnicas de seu arsenal, o Coup de Théâtre não era parte integrante das técnicas de esgrima ensinada aos cavaleiros flandinos pela ordem.

Na verdade, sua criação remontava há “uma noite na taverna”. Numa das noites de bebedeira que Clapeyron havia se submetido, ele arranjara briga com um grande espadachim de outra região de Lashra. Com flexíveis movimentos, ou porque não dizer mirabolantes? Ele conseguira derrotar o inimigo.

Depois disso ele sofreu várias sanções por parte do Barão de Flande, o seu irmão mais velho. Por sua vez, o mestre de armas nunca deixará de beber, apenas não fazia uso a qualquer hora.

— Pior que lutar contra um velho espadachim caindo aos pedaços é lutar com um bêbado feito uma hiena.

— Pior que lutar contra um hic-hic, macaquinho danado, é lutar sentindo, hic-hic, fedor desse macaquinho na venta.

Nipi em um salto chegou ao espadachim que recuou e golpeou com o sabre acertando o ar. O mapinguari se abaixara e iniciara um novo ataque com os pés.

Saltando por cima do monstro, Clapeyron estocou com o sabre e apoiou as duas mãos no cabo como se fosse enterrá-lo em Nipi. Que percebeu a tempo e se esquivou. A lâmina ficou cravada no chão, mas rapidamente ela foi arrancada do piso de granito e foi direcionada na direção do capitão da guarda municipal.

— Coup de Gracê!

Slim, girando o sabre nas mãos do oponente, o mestre de armas acertara ambas as mãos de Nipi e se cravara em seu estômago, perfurando-o. Nipi sem poder se mover, olhou fixo nos olhos de Clapeyron. Sua face estava neutra. O mapinguari estava tremendo. O cavaleiro flandino disse confortavelmente:

— Agora você voltará a ser o humano que era...

Nipi começou a andar para trás de modo tão inesperado que nem mesmo o homem teve tempo de ter alguma reação. O álcool deixara os seus movimentos descontrolados. Antes que percebesse, o monstro havia se jogado da sacada do comando da guarda municipal.


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