Um Reino de Monstros Vol. 1 escrita por Caliel Alves
Rapidamente as pessoas foram postas dentro do bueiro que dava para a entrada da Cidade Subterrânea. Index sobrevoava Tell com ar desesperado.
Arnaldo fechou o bueiro e fez um sinal para as pessoas de olhares atônitos.
— Vocês todos fiquem aí, e só saiam quando julgarmos seguros. A batalha não vai demorar muito.
— Tell?
— Sim, Index?
— Nipi fugiu em direção à sede da Guarda Municipal de Monstros, Clapeyron está em seu encalço.
— E Dumas?
Arnaldo abaixou-se na linha dos olhos de Index. A criatura ficou um tanto assustada com aquele olhar penetrante que o esquálido cavaleiro lançava sobre ele.
— E-ele, e-ele está em perigo.
— A caveira gigante o derrotou?
— Não, é por outro monstro.
Tell e Arnaldo se olharam e passaram a correr. Tell empunhou o seu sabre.
— Não sabia que podia localizar monstros, Index!
— Só posso conhecer, ou melhor, lembrar aquilo que a sua mente está apta a conhecer, Tell.
***
Dumas fechou os olhos, o seu corpo despencava livre da própria gravidade. Duas mãos o envolveram e dois corpos se chocaram no chão com um grande estrondo.
Arnaldo abraçou Dumas e serviu como um escudo humano para proteger o amigo. O choque fez o flandino cuspir saliva misturada com sangue. Ambos desfaleceram.
Do outro lado, o monstro caíra em cima de uma casa e espatifara toda a sua estrutura. A esmerada construção virou uma pilha de ruínas. A Polimerização Mágica foi desfeita e as caveiras se espalharam pelos escombros, formando uma pirâmide de ossos.
— Index, rápido, antes que elas se juntem novamente.
— Tá bem!
O garoto retirou o livro de suas costas e iniciou o ritual de purificação. As luzes fulguraram sobre os corpos como uma lâmpada ilumina à noite.
— Te peguei, miau!
Leona havia aparecido. Index voou e se agarrou às costas de Tell. Ele temia a alma de gato. O filho de Taran ficou sem reação, ela havia aparecido bem diante dele. As garras afiadas se cravaram na capa do Monstronomicom. O garoto não fraquejou.
— Largue!
Esse garoto, ele parece estar mais corajoso, mesmo assim não será páreo para mim...
— Porque eu deveria largá-lo, miau?
— Você irá largá-lo.
— Quem disse isso?
Leona viu sua grande força enfraquecer. Seus braços recuavam para trás.
— M-mas, mas como isso pode acontecer? Miau!
Mesmo se contorcendo, Leona não conseguia controlar o próprio corpo. Uma sensação inquietante percorreu seus pêlos. Tell saltou para trás. A alma de gato permanecia como uma estátua. Seu corpo se contorcia de modo estranho.
Observando o chão, ela percebeu algo inacreditável. A sombra de Tell se alargava e se conectava a sua. Aos poucos a sombra foi se desfazendo e se materializando. Quando o incrível o fenômeno terminou, Saragat apareceu na frente dela armado com o seu cajado. Leona continua imóvel, pois a sombra dele estava conectada à sua.
— Já terminei, Saragat.
— Ótimo. Agora sou só eu e você, gatinha manhosa.
— Não, não, miau.
— Tell, vá verificar Dumas e Arnaldo, depois purifique está aqui.
— Como, como você pôde?
— Ora, podendo.
A sombra de Saragat, embora estivesse segurando o cajado com os braços cruzados, sua sombra executada um movimento de subjugação a sombra de Leona, de modo que apenas com a sua sombra ele conseguiu imobilizá-la.
Com os olhos, a alma de gato notou a magia divina usada pelo conjurador. Até mesmo a sua voz foi interceptada pela sombra. Saragat sorriu, bocejou ironizando Leona.
— Sinceramente, eu esperei mais de uma alma de gato. Na verdade, esperei muito mais de todos vocês. Acaso você achou que era a única esperando a hora certa de atacar? A todo o momento eu me afastei da batalha pra pegar você. Com a sua conjuração Corpo Diáfano, poderia ficar oculta durante toda a batalha. Me escondi na sombra de Tell, eu sabia que ele seria o seu alvo devido ao Monstronomicom. Depois que você deu as caras, as coisas ficaram bem mais fáceis, usei a magia divina Prisão da Sombra.
— Eu... não serei derrotada por você.
— Será que não? Como um conjurador, eu não estou gastando nada da minha energia aqui. Posso ficar aqui até que o cansaço físico abata um de nós dois.
Tell voltou correndo com Index empoleirado em sua cabeça. Ele resfolegou antes de falar.
— Arnaldo e Dumas parecem bem, pode terminar o seu trabalho.
Saragat pôs a mão nos olhos de Leona, que mesmo assim tentou se livrar dele, sem sucesso. O servo de Nalab concentrou-se e recitou um dos seus rogos.
— Ser que desfruta da vida, vede a sombra? Abraça as trevas em profunda contemplação... Caligem.
Aos poucos as pupilas de Leona se fecharam. Não demorou muito para que ela adormecesse. Tell ficou com os olhos esbugalhados.
A sombra de Saragat largou a alma de gato, voltando ao normal, refletindo os movimentos do dono. Leona desabou no chão como se todos os seus sentidos tivessem sido bloqueados.
— Mas que magia divina incrível, Saragat!
— Sim, essa é uma das magias mais poderosas concedidas aos conjuradores de Nalab. Com ela eu posso bloquear a minha escolha qualquer um dos seis sentidos responsáveis pelo recebimento, processamento e transmissão da realidade no indivíduo.
Tell meneou a cabeça contando nos dedos da mão, Saragat entendeu, o jovem perguntou:
— Seis?
— Sim tapado, paladar, audição, olfato, tato, visão e...
— E?
— A mente.
— Inicie o processo de purificação logo!
— Tá bom, que mau humor.
Tell abriu o Monstronomicom e realizou o ritual. Aos poucos a figura monstruosa deu lugar a uma bela jovem com cerca de quinze anos de idade. Sua pele era negra, os cabelos cacheados e longos. Tinha argolas e uma bandana escura e puída na cabeça.
Usava uma bermuda rota e um sapato de solas gastas. Uma blusa listrada concluía as suas vestimentas. No cinto de couro largo, um punhal de prata.
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