Um Reino de Monstros Vol. 1 escrita por Caliel Alves


Capítulo 20
Capítulo 4: Liberdade ainda que tardia - Parte 5




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Index se aninhava no cabelo de Tell como se quisesse se esconder do imenso monstro. A caveira sorria guturalmente. Arnaldo e Dumas se posicionaram defensivamente à frente de Tell. Os cidadãos de Flande estavam assustados por todos os fenômenos que tinham presenciado naquela batalha.

Nipi havia fugido, Leona estava desaparecida e ainda não haviam localizado o paradeiro do atual Barão de Flande. Mas a caveira gigante foi algo totalmente inesperado.

— E então, qual desses insetos eu devo pisar primeiro?

Duas gotas de suor escorreram pelo rosto de Dumas. Estava apreensivo, todos estavam em risco. Os golpes daquele monstro tinham alcance muito maior.

— Droga! Temos muitas pessoas aqui, vamos evacuar a área. Tell, fique com o Arnaldo. Vocês dois, evacuem o local e levem os feridos daqui, bem como todos os purificados para o mais longe possível deste monstro.

— Vai ficar com toda a diversão só pra você?

Arnaldo se pôs à frente de Dumas, o jovem nobre alisou o rosto com as mãos.

— Eu também quero ajudar!

Tell pôs o Monstronomicom em uma alça nas costas, desafiou o monstro com o sabre em riste.

— E eu posso ajudar ainda mais.

Index sobrevoou o Lisliboux e ficou observando a reação chocada de Dumas.

Parece que eu não tenho o mesmo senso de liderança que o meu pai.

— Se vocês não se decidem, eu escolho por vocês.

A caveira gigante levantou o seu enorme e ossudo pé direito, e fez um gesto de pisar um grupo de flandinos que estavam olhando a cena de modo atônito.

— Vão, fujam!

Thomp, Dumas defendeu o peso do corpo esquelético com a força de seus músculos. O sabre se envergou com a força do golpe.

— O que estão esperando, Arnaldo e Tell, retirem essas pessoas daqui. Depois me ajudem, por favor, salvem os flan... di... nos.

A caveira recuou o pé devagar e seu corpo bamboleou para trás a desequilibrando.

Tell e Arnaldo passaram a ajudar as pessoas que estavam desacordadas ou os que não podiam andar. Os flandinos foram levados para o local mais seguro do Baronato, a Cidade Subterrânea. Nem mesmo a caveira gigante poderia fazer mal contra eles lá.

— Agora sou só eu e você, saco de ossos.

— Contemple, humano, a glória de nosso deus Enug. Somos seus servos e filhos, e mesmo assim, nós podemos usar a magia divina sem ter que lançar nenhum rogo. A cada dia o nosso exército aumenta, enquanto vocês fogem como ratos acuados para o esgoto. E mesmo quando lhes é dado uma chance de vida melhor, vocês aproveitam para se rebelar contra o nosso julgo? Oh, tola humanidade!

Dumas achou aquela palavras uma ofensa à sua inteligência. Não era possível que os monstros fossem tão cínicos a acreditar que o domínio deles trouxesse benefícios.

— Me parece que como você não tem cérebro, é até difícil debater ideias com você.

A caveira soltou mais um dos seus sorrisos estrondosos, parecia o som do mar batendo nas pedras. Depois, ela apontou o dedo de modo acusador para Dumas:

— Vocês, seres humanos, se acham superiores. Ferem os seus semelhantes, muitas vezes pelas costas. Rezam aos Deuses Virtuosos, e minutos após à oração, se põem em pecado.

Dumas encarou a caveira gigante entortando a cabeça. Já tinha ouvido o sermão de muitas pessoas, mas nunca de um monstro, principalmente um tão feio. O espadachim manteve a conversa com cuidado, não se deixaria abater por uma caveira.

— Então vos disseste que o Reino dos Monstros e o plano de Sua Majestade Zarastu são o que o mundo sonhou?

— Mas é claro! Ele significa o poder, o poder é o que move o mundo. Sem ele o mar não estrondeia, os ventos não revolvem a terra, o exército não derrota as tropas inimigas. Como não estar agraciado com o poder de Enug?

Dumas estava ganhando tempo para que assim as pessoas tivessem tempo de escapar. Percebendo que não havia mais ninguém em perigo, ele simplesmente avançou contra a caveira. Com um movimento do pé, ela preparou um chute em Dumas.

O espadachim veio correndo e deslizou por debaixo da sola dos seus pés. O chute ainda resvalou um pouco em seus cabelos cacheados. Se aproveitando por estar nas costas do inimigo, o jovem nobre se aproveitou para lançar um ataque surpresa. Mas a caveira lançou mão de uma nova conjuração.

— Ímpetus.

O monstro pisou no chão e a terra passou a tremer. As casas chacoalharam como se não estivessem mais construídas sobre o solo, muitas desabaram. As casas de tijolos amarelos e fachadas de madeira verdes ficaram em frangalhos no chão. As que não caíram ficaram condenadas, pois, estavam tortas.

— Seu monstro infeliz, essas casas são patrimônio cultural do nosso Baronato.

— Huonhuonhuon! Esperava mais dos cavaleiros flandinos. Derrotar um de nós parece ser fácil, mas derrotar todos juntos me parece um tanto mais difícil, não?

Dumas brandiu o sabre e se pôs a correr. Subiu num monte de destroços para conseguir impulso, e pulou preparando um golpe no rosto da caveira gigante.

— Coup de Foudre.

Sliz, Dumas, no entanto, foi interceptado pelo monstro em pleno ar, que o segurou pela cintura.

— Veja, humano. Em toda a criação, tu és a coisa mais fraca que já inventaram. É como um caniço se curvando à brisa do vento.

— Argh, arf, podemos ser frágeis a ponto de nos dobrar, mas nunca quebramos.

— Isso pode muito bem ser mentira, vejamos se o que diz é verdadeiro.

Como se Dumas fosse um brinquedo, ela passou a apertar o espadachim pela cintura. Seus ossos faziam sons quebradiços, as suas costelas pareciam ser oprimidas à marteladas. Tentando encaixar um golpe com o sabre, ele perdeu a força nos braços devido à dor e deixou a arma cair.

A caveira gigante tinha uns dez metros, e Dumas desconhecia qualquer outra técnica que pudesse aplicar com as próprias mãos. A caveira o pôs perto de sua face ossuda e branca, e bafejou em seu rosto:

— Humano insignificante. Se resolvesse colaborar conosco, tua glória seria mais honrosa que a de um simples mártir.

— Eu n-não, s-sou como Gumercindo, aquele desgra-çado.

— Gumercindo fez a melhor opção, diferente de vos, que não viu a imensidão da nossa Coroa, nem a proporção do nosso poder. Agora pereça, humano ingrato.

Dumas tentava em vão retirar os dedos esqueléticos da sua cintura, mas a força com que eles estavam constringindo o seu corpo o fez vomitar. Seus braços golpeavam inutilmente a caveira gigante que mantinha a mesma pressão.

Por um momento, a sua vista embaçou, não conseguia enxergar mais nada. A dor era tamanha que aos poucos o seu próprio tato foi falhando. Os nervos estavam entrando em colapso. Aos poucos o seu corpo foi ficando relaxado. Perdeu os sentidos.

Então é assim? Minha vida acaba destituída de qualquer honra...

— Flux lux.

— Coup de Foudre.

A última coisa que Dumas viu foi à caveira receber um forte facho de luz na face e cair de costas. As mãos ossudas que o prendiam lhe soltaram o corpo. Uma brisa leve percorreu o seu rosto. Era como aqueles sonhos em que estamos caindo e caindo sem acordar, e enquanto caímos, o corpo se move devagarzinho.

Apesar de ter durado poucos segundos, a queda lhe pareceu uma vida inteira. As nuvens formavam figuras, entre elas, se viu nos campos de Flande. Correndo entre bosques de araucárias e pinheiros. Jacs, Clapeyron, seu pai e sua mãe, todos...

Quando ele chegou ao solo, os seus olhos se fecharam bruscamente.


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