Um Reino de Monstros Vol. 1 escrita por Caliel Alves


Capítulo 19
Capítulo 4: Liberdade ainda que tardia - Parte 4




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/804754/chapter/19

Nipi pulava entre as caveiras fugindo dos ataques do sabre de Clapeyron. Este por sua vez mostrava uma coragem e jovialidade que fizeram Nipi ficar assustado.

O monstro simiesco trajava sua pesada armadura prateada que cobria todo o seu corpo. Abaixo dela, uma resistente cota de malha. Isso fazia com que os seus movimentos ficassem pesados e pouco articulados. Ele levou as suas patas aos ombros e desatou os feixes das ombreiras.

Droga, ele é muito rápido para alguém da idade dele...

— Venha, Nipi, ainda não terminei com você.

— E não terminará, derrotei até mesmo o seu filho Jacs que era mais forte do que você, porque perderia para um velho gagá?

— Não serei um velho gagá quando eu despedaçar toda a sua armadura e trespassar sua barriga gorda com o meu sabre.

Foi o necessário para o mapinguari ficar assustado. O mestre de armas sabia de sua fraqueza. O velho espadachim continuava em seu encalço.

A volta deles, flandinos e monstros entravam em choque. As lâminas provocavam um som rascante quando entravam em contato com os ossos das caveiras. Em cada canto, um dos cavaleiros confrontava o seu inimigo com orgulho.

As caveiras eram destroçadas, e logo o seu ossuário se reconectava, fazendo com que os cavaleiros flandinos as tivessem que enfrentar uma vez mais.

O vento agitou a barba lanosa de Clapeyron, ele empunhava o seu sabre com a guarda alta. Nipi, não podendo mais fugir por estar indo à uma viela, iniciou uma postura defensiva. Slim, o aço do sabre chocou-se com as braçadeiras prateadas.

Sem as ombreiras, as articulações dos braços agora possibilitavam movimentos mais ágeis por parte dele, mas também permitia ataques nos ombros.

— Seu traje de gala está se esvaindo, meu caro mapinguari.

— Maldito, maldito, seu, seu maldito!

— Você falou “maldito” três vezes na mesma frase, deve ser mentira.

Aplicando um pouco de peso no punho do sabre, Clapeyron afastou Nipi. O monstro resfolegava como um cavalo. Começou a bater no peito como uma fera selvagem. Rugia e batucava com as grandes mãos no peitoral floreado da couraça.

— Não me subestime, seu humano imundo. Eu sou o capitão da Guarda Municipal de Monstros...

— E eu sou o melhor mestre de armas do mundo, agora prove que eu estou errado.

— Não precisa pedir duas vezes.

O monstro trotou na direção de Clapeyron como se fosse um touro furioso. O mestre de armas manteve a lâmina em riste e esperou que o capitão viesse até ele. O choque de ambos foi tão forte que a poeira descreveu diversas espirais no ar.

Os dois mediram forças enquanto os joelhos se flexionavam ora para frente, ora para trás. Os músculos de Nipi se retesavam debaixo da camada de pêlos espinhosos.

Do punho, o espadachim mantinha a força no sabre com grande dificuldade. Sua luta se tornava ainda mais difícil devido ao fato de ele não poder aplicar golpes mortais, a não ser se realmente precisasse. O que não estava disposto a fazer era admitir essa derrota frente a Zarastu. Não via mais a possibilidade de perder para mais ninguém.

Droga, esse macaco tá me dando canseira, que vergonha!

— Vamos, Clapeyron, parece que o seu aço enferrujou.

— Aço flandino é inoxidável, seu babuíno almiscarado.

— Eu sou um mapinguari com corpo de gorila, seu cavaleiro fajuto.

— Isso me magoou muito, sabia?

— Irei fazer você sofrer ainda mais.

Nipi tomou a lâmina do sabre com as duas mãos espalmadas e tentou envergá-la. Rapidamente, o velho espadachim o golpeou com um chute, o afastando.

Ele tentou quebrar o meu sabre, mas que safadinho!

Nipi resfolegava, havia tomado uma atitude precipitada. Tentara remover a arma das mãos do espadachim, o que de certo modo exigia mais habilidade que força.

O monstro pensou em como faria para derrotar Clapeyron. A sua grande força não o ajudava, pois, mesmo que pudesse destruir uma parede com um tapa, não conseguiria ferir alguém com golpes mais velozes que uma rajada de vento.

O mapinguari era mais esperto do que os seus inimigos imaginavam. E não podendo combater o oponente desarmado, resolveu se armar também, equilibrando as coisas.

Nipi foi até um poste de iluminação e tomou a haste balançando a mesma. O comandante dos cavaleiros flandinos ficou um tanto apreensivo, o poste era de ferro e possuía cerca de três metros, possibilitando que o mesmo fosse usado em ataques a distância.

— Ei! Destruir os postes de iluminação pública é vandalismo, seu cretino. Opa!

Nipi arrancou o poste junto com uma emaranhada raiz de ferro e concreto, que fazia do poste um perigoso malho. O capitão sacudiu sua improvisada arma como uma hélice. Metade das caveiras foi arremessada ao longe com o seu movimento. O mapinguari arreganhou os dentes afiados e vociferou com voz animalesca:

— Eu vou matar você agora, seu humano nojento!

O monstro soltou uma grande distância e preparou um golpe de martelo em Clapeyron. O mestre de armas se concentrou e fez uma postura diferente. Recolheu um pé atrás, e pôs o outro à frente, parecia uma postura de dançarino.

Os braços se estenderam e se cruzaram segurando o sabre que estava na posição horizontal, e na altura do ombro. Os olhos estavam fechados. As formas do espadachim passaram a vibrar, como se estivesse a tremer de frio, embora suasse.

Nipi girou a haste no ar e preparou o golpe que para ele definiria a vitória. Trunck, o malho improvisado se tornou um bastão. O movimento tinha sido tão rápido que foi impossível para o mapinguari perceber como ele tinha acontecido.

Como líder da companhia enviada à Flande, ele tinha confrontado muitos dos cavaleiros flandinos mais poderosos. Inclusive, tinha se confrontado com Jacs, que havia considerado o mais forte dentre eles. Mas o mestre de armas Clapeyron estava sendo um desafio ainda maior.

Como um velho consegue ser tão rápido?

Não houve tempo para pensar numa resposta, a haste defendeu o golpe, mas, ele não a impediu de causar estragos. Uma fenda transversal foi aberta na couraça prateada.

— NÃO! Minha armadura.

— E lá se foi mais um pedaço do ultraje a rigor.

Havia um grande motivo para Nipi, um monstro tão selvagem usar uma armadura como àquela. Sirius, o seu general atroz, havia lhe dado a couraça antes de partir para o assalto a Flande. De todos os Generais Atrozes, Sirius era o que mais prezava o instinto guerreiro, não à toa, o seu batalhão era o mais combativo de todos.

Graças aos serviços prestados, capitão Nipi teve o direito de ostentar essa bela armadura prateada. Zarastu a entregou pessoalmente, atando os seus feixes com as próprias mãos.

— Não, a armadura que general Sirius me confiou para que eu entrasse nesta cidade caindo aos pedaços em triunfo! Não irei perdoar você, Clapeyron.

— Tudo isso por um naco de metal?

— Não tripudie de mim!

— Engraçado, você disse “cidade aos pedaços”? Seu ingrato, essa cidade ficou assim por sua causa. Só por isso ela está entregue às moscas, mas isso vai demorar pouco, logo-logo iremos purificá-lo deste mal que é a monstruosidade.

— Não me trate como um inválido.

De um salto, ele bateu o bastão em Clapeyron, que se desviou. Ele continuou a atacar, o mestre de armas se desviava e rebatia os ataques inimigos.

O mapinguari estava babando furioso. Os seus ataques, embora poderosos, não estavam surtindo o efeito desejado. Isso aumentava a sua ferocidade ainda mais.

A lâmina do sabre fazia curvas no ar e rebatia as investidas do monstro. Clapeyron sorria como se estivesse se divertindo. Há muito tempo não lutava assim.

Não pense que deixarei escapatória para você, Clapeyron. Eu odeio os espadachins. Eu odeio os humanos. Eu odeio todos vocês, não passam de pragas neste mundo, existe um motivo para o nosso deus Enug querer a extinção de vocês. Precisamos realmente fazer com que vocês cheguem até o mais profundo dos infernos... Argh!

O fluxo de pensamentos de Nipi foi interrompido devido uma dor aguda e lancinante em seu ombro esquerdo. O sangue começou a escorrer pela ferida aberta. O símio tremia dos pés à cabeça. Clapeyron, como se fosse um fantasma, estava atrás dele.

— Devia cuidar melhor da sua guarda...

Tentando um último ataque, Nipi revolveu os bastões de ferro e tentou acertar o espadachim. Este, por sua vez, se esquivou e manteve distância. O monstro ficou desesperado.

A dor, o estresse da luta, e ver os seus comandados perdendo a batalha foi demais para ele. Saindo em disparada, o capitão correu a esmo derrubando quem aparecia na sua frente. O espadachim se permitiu sorrir naquele instante.

— A caçada ao macaquinho danado continua...

Clapeyron saiu em disparada, Nipi ia à direção da Guarda Municipal de Monstros.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Um Reino de Monstros Vol. 1" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.