Um Reino de Monstros Vol. 1 escrita por Caliel Alves


Capítulo 18
Capítulo 4: Liberdade ainda que tardia - Parte 3




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A batalha se desenrolava selvagem pela praça e ruas do entorno, os monstros, confiantes na vitória devido ao seu maior número, marchavam furiosamente contra os flandinos.

Os cidadãos maltrapilhos e enfraquecidos da cidade, bem como os sofridos prisioneiros, pegaram em armas, e aos poucos o número de combatentes nos dois lados ficou igual.

Dumas partia para cima das caveiras sem dó nem piedade, deixando-as esquartejadas.

Arnaldo ia logo atrás, dando-lhe cobertura e abrindo caminho para Tell. O cavaleiro curioso, olhou para trás e lançou um sorriso. Indagou para Dumas:

— Quem é o moleque?

— Acredite ou não, é a nossa arma secreta, ou melhor, a mais nova liderança da Resistência.

— Não me diga que...

— Sim, Tell, o neto de Taala!

Taala sempre dissera que o neto dele é quem traria o livro até Flande. Arnaldo pensou que agora sim eles teriam chance contra os monstros.

O maior problema que a Resistência enfrentava era a escassez de recursos e o aumento desproporcional do inimigo. Geralmente humanos capturados nunca mais retornavam para as células rebeldes. Lashra vivia sob o jugo da Horda.

Um dos últimos redutos dos rebeldes era justamente a Cidade Subterrânea. Estes, por sua vez, tentavam muito mais sobreviver que lutar.

Flande era sinônimo de luta contra os monstros. Depois de sua derrocada, mais e mais cidades passaram a pertencer ao Reino dos Monstros. Após essa grande vitória, a credibilidade dos monstros aumentara bastante.

— Então quer dizer que você é Tell de Lisliboux? Muito prazer, Tell, CUIDADO!

Com um corte horizontal de seu sabre, Arnaldo havia partido uma caveira ao meio.

— Eu vos purifico.

O flandino não podia deixar de se impressionar com aquela magia. O garoto recitava àquelas palavras e a caveira deixava de ser um terrível monstro e voltava a ser humano.

Esse era o poder do tão sonhado Monstronomicom. Embora essa informação ficasse restrita aos líderes do movimento, todos sabiam que quando os Lisliboux retornassem, teriam uma grande revelação. Talvez uma arma que pudesse derrotar os inimigos definitivamente. Arnaldo, no entanto, nunca imaginara um livro.

Com ele, a monstruosidade era retirada e deixava apenas à essência humana. Não era uma arma, era uma cura. Taala estava devolvendo o direito de homens e mulheres viverem como humanos mais uma vez. Assim o número de monstros caía drasticamente.

Até aquele momento, ninguém sabia o porquê de os Deuses Virtuosos permitirem Enug se manifestar mais uma vez, e mesmo depois de selado, continuasse a praticar as suas atrocidades.

Ninguém também chegou à conclusão de como Enug possuía um conjurador humano. Essa divindade, embora respeitada, nunca havia sido adorada pelos humanos, nem cultuada, a não ser pelas as suas crias, os monstros.

Arnaldo achava a existência dos monstros um desrespeito a natureza, pois, eles não reconheciam nenhuma lei ou ordem que não fosse à destruição.

— Venham monstros, e eu mostrarei o que uma lâmina flandina é capaz de fazer.

As caveiras iam sendo separadas membro a membro, Tell usava o Monstronomicom e lhes absorvia o poder do deus Enug.

Arnaldo percebeu que uma criatura gorducha estava empoleirada na cabeça de Tell, como se fosse um chapéu. Não se atreveu a perguntar sobre o que estava vendo.

— Garoto, tome cuidado com a alma de gato. Ela tem a magia divina Corpo Diáfano, e pode aparecer e se dissolver no ar ao seu bel prazer.

— Está falando da capitã Leona?

O esgrimista estava excitado. Dos monstros que havia conhecido no pardieiro dos calabouços da Guarda Municipal de Monstros, Leona parecia ser a mais poderosa. Mais até do que Nipi, ela mesma sabia disso. A mostra aparecera várias vezes na cela, e narrando para horror geral muitas das investidas da Horda na superfície.

Seu objetivo não era transmitir informações, e sim coletá-las. Arnaldo percebeu a astúcia e acabou por lançar falsas informações para ela. Depois de perceber que o seu golpe tinha dado errado, ela não apareceu mais.

— Eu quero enfrentá-la.

— Quem? Você, Arnaldo, mal se aguenta em pé!

— Saiba que a fornalha do meu coração tem muita lenha para queimar, nobre Dumas.

Uma caveira mais ousada investiu contra Arnaldo, que com pouquíssimo esforço, a derrubou no chão. A caveira ergueu-se e aprumou-se.

— Não pense que ainda fui derrotado, humano. Saiba que nós caveiras somos parte do Batalhão Amaldiçoado, não podemos ser derrotados facilmente.

Todos os que combatiam os humanos sabiam da facilidade de se encontrar e derrotar as caveiras. Difícil era ter que fazer isso por três ou quatro vezes consecutivas.

As caveiras tinham uma conjuração chamada Diáfise. De efeito automático, com ela, o usuário poderia separar as partes do seu corpo antes de um ataque, sem sofrer quaisquer danos, e reconstituir os seus corpos logo após. Isso enganava o oponente e consumia muita da sua energia.

— Está muito confiante, veremos.

Arnaldo colocou a lâmina em riste e lançou um golpe vertical de cima para baixo. A caveira esquivou-se com um sorriso desdentado.

— Viu? Eu não...

Trac-trinc-trenc... Pouco a pouco os ossos começaram a despencar do monstro.

— Tell, faça o seu trabalho.

— Eu vos purifico.

Logo o que antes era uma arrogante caveira, passou a ser um humano.

Dumas lutava com um grupo de caveiras ágeis. Elas usavam alfanjes. O sabre do espadachim rodopiava no ar e rebateu um dos pesados ataques das caveiras. E o número de inimigos só aumentava. Tell e Arnaldo estavam ocupados, ele teria que se virar sozinho.

Um dos monstros, aproveitando um momento de distração dele, o atacou pelas costas. O nobre se curvou e defendeu com o seu sabre. Outra caveira avançou, Dumas a repeliu com um chute. O som rascante da bota chutando a caveira ressoou no seu ouvido. Sentiu asco de toda aquela situação.

Outra caveira deu uma espadada visando decepar o braço de Dumas, que recolheu o corpo para trás. Diferente dos cavaleiros de outras terras que envergavam pesadas armaduras e cotas de malhas, o cavaleiro flandino optava por não as usar. Isso lhe permitia liberdade de movimentos, entre elas: a acrobacia, a submissão e a fuga.

Com esse arsenal, o espadachim conseguia diversificar as suas técnicas de modo que este usava mais da improvisação do que propriamente de suas habilidades de esgrima.

— Peguem esse desgraçado, não o deixem escapar.

Droga, primeiro Leona, agora o nosso comandante, quem irá desaparecer em seguida?

— Vou lhes dar uma chance, seus monstros idiotas: entreguem-se ou os derrotarei.

— O que faremos, tenente?

— Eles usam uma terrível magia que nos transforma em humanos.

— Não importa o que eles façam, continue combatendo. Essa é a nossa chance de derrotar a Resistência de uma vez por todas.

As caveiras, ainda receosas, investiram contra Dumas. O espadachim, controlado, defendeu o ataque. Com movimentos simples e graciosos, os inimigos eram varridos do campo de batalha. A caveira tenente teve o seu corpo desmembrado e voltou a se juntar novamente. Dumas continuou a cruzar espadas com seus adversários.

Havia uma dúzia de monstros ao seu redor. O sabre do espadachim revolveu o ar e desceu se chocando com toda a força com a espada inimiga. A caveira mediu força com Dumas, e ao se separarem, o som de clangor inundou o ar.

Outra caveira desfechou um golpe, mas o cavaleiro se abaixou desviando do ataque. A espadada passou rente ao cabelo de Dumas, cortando uma das suas mechas. O nobre virou-se para as caveiras, tomou distância e preparou um golpe.

— O que ele vai fazer?

— Está concentrando a sua força.

— Não fiquem aí, suas infelizes, fujam!

O tenente havia dado a ordem, mas elas estavam petrificadas de medo.

— Alizé.

A lâmina provocou uma rajada de vento que derrubou as caveiras, as fazendo caírem por terra, espalhadas pelo chão, como as cartas de baralho derrubadas numa mesa. A cabeça do tenente caiu no chão gargalhando. A sua volta havia poucas caveiras. Nipi não estava lá.

— Chega, já estamos humilhando demais a Horda. É hora de mostrar o que nós caveiras somos capazes de fazer. Polimerização Mágica – Forma do Rei Esqueleto.

O ossuário esparramado pelo chão começou a se fundir, se conectar, criando no final do processo um único e gigantesco ser. A caveira gigante gargalhou e atacou os rebeldes.


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