Um Reino de Monstros Vol. 1 escrita por Caliel Alves


Capítulo 12
Capítulo 3: Treinamento árduo - Parte 2




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/804754/chapter/12

No dia anterior...

Numa mesa extensa, um grupo de seletos convivas como banqueiros, latifundiários e comerciantes banqueteavam um farto desjejum.

Havia diversas iguarias, muitas eram apenas petiscadas, e logo eram jogadas no lixo para que outro prato ainda mais saboroso fosse posto em seu lugar.

Em uma das pontas da mesa, um enorme gorila olhava aturdido aquele imenso desperdício de comida, e achou ridículo que numa cidade com Flande, apenas um pequeno grupo pudesse se alimentar decentemente. No fundo, agradeceu a gula dos burgueses, assim o povo flandino não teria força para contra-atacar.

Gumercindo era o mais glutão de todos. Entre uma coxa de frango e uma costeleta de porco, ia-se metade de uma taça de vinho.

A filha fingia se alimentar, ela dava uma garfada e, logo pousava o prato. A atual baronesa entornava taças e mais taças de vinho. Ela fazia cena.

— O que foi, capitão Nipi, não gosta de alimentar-se?

— Desculpe, barão, só não sei o que estamos comemorando.

A filha de Gumercindo se sentia enojada na presença de Nipi. Os mapinguaris não eram nada elegantes na sua concepção de estética.

—Vai deixar ele falar assim com o senhor, papai?

— Perdoá-lo-ei.

O maior banqueiro da cidade ergueu a sua taça transbordando de vinho, e fez uma gesta com os feitos de Nipi quando este sitiou a cidade com sucesso, derrotando a Guarda dos Cavaleiros Flandinos. O mapinguari sentiu o seu ego inflar.

Mais à vontade, pensou em pegar um naco do porco assado e comer a sua carne suculenta. Mas, ao cheirar a carne, ele resolveu não a comer.

— Estou em jejum, para fortalecer o meu espírito.

Gumercindo que, desejava ardentemente que ele provasse do seu prato, lançou mão de outra estratégia. Pegou um cálice e o encheu com vinho tinto.

— Está garrafa eu a reservei especialmente para o senhor, por acabar de uma vez por todas com os problemas dos rebeldes. Tome deste vinho e não irá querer beber outro.

Nipi, de certa forma emocionado, pegou do cálice, e o ergueu até a altura dos olhos. E propositalmente, derrubou a bebida em cima do braço de uma donzela. Como se fosse ácido, o vinho provocou uma queimadura de terceiro grau.

— Angh! Meu braço queima, maldito, argh!

— Se bebesse desse vinho, me parece que não beberia mais nada neste mundo, não é?

Como não ouviu nenhuma resposta, o mapinguari se irritou. E num momento de fúria, derrubou a mesa e entornou o manjar.

— Quem acha que eu sou, Gumercindo? Pensou em algum momento que eu não sabia que minha comida e bebida estavam envenenadas? Eu senti o cheiro de veneno logo quando entrei aqui. Pois bem, daqui a três dias, eu farei a maior execução pública em toda a terra conhecida pelo homem e pelos deuses. Não, farei ainda melhor, depois de matar todos os dissidentes, eu matarei todos vocês.

Depois de proferir aquela horrível sentença de morte, Nipi saiu tilintando a sua armadura. Um dos guardas registrou a cena em sua mente. O mapinguari desconfiava de que os guardas humanos do palácio do barão se tratavam de espiões, mas agora ele teria a chance de provar a sua teoria, precisava de apenas três dias.

A espera era para aumentar o terror, e se divertir com a ideia de uma série de delações realizadas para que alguns salvassem a própria pele.

Desceu os degraus da mansão, e se dirigiu para a sua carruagem. O condutor que nada mais era do que uma caveira, chicoteou os flancos dos cavalos e a carruagem saiu em disparada.

— Pode aparecer, Leona. Eu sei que está aí, apareça imediatamente.

A alma de gato, no entanto, não apareceu. O monstro continuou invisível por precaução.

— Desde quando você me dá ordens?

— Você pode se esconder de muitas pessoas, mas não de mim.

— Isso não significa nada, miau.

— Ao contrário, minha cara alma de gato. Desde o dia em que você pisou as suas patinhas felpudas aqui, não nos deu pista do esconderijo dos rebeldes.

— Vá ao...

Não completou a frase, Leona foi subitamente estrangulada. Apenas os olhos apareceram esbugalhados. O monstro deslizou a sua mão de dedos grosseiros pelo rosto dela.

— Não se atreva!

— Huhuhuhu, não se preocupe, gatinha manhosa, você não faz o meu tipo.

Nipi abriu a janela e lançou Leona para fora da carruagem como se fosse um brinquedo.

Depois de fechar as janelas, o mapinguari ajeitou as suas ombreiras prateadas e respirou profundamente. Pediu ao condutor que o levasse diretamente à guarda municipal. O café da manhã não havia saído de sua cabeça.

O episódio havia sido uma afronta, e agora não podia mais suportar a ideia de conviver na mesma cidade que Gumercindo, achava-o asqueroso. Mais do que antipatia, agora o aristocrata se tornara uma ameaça. Precisava neutralizá-la imediatamente. Nipi gozava de certo respeito entre os monstros pela sua posição.

Entretanto, toda a Horda sabia que ele não era um grande estrategista. Para conquistar Flande, havia consumido grandes contingentes militares. Uma perda inaceitável para os Generais Atrozes, os comandantes supremos da Horda.

— Chegamos, capitão Nipi.

Ele desceu da carruagem e se encaminhou para o centro da guarda. Ao invés de subir pelo edifício, desceu uma escadaria nos fundos de um corredor escuro. Duas caveiras escoltavam a porta de ferro. Quando foi aberta, ela rangeu, movendo-se pesada.

Nipi abriu passagem entre os monstros. As escadarias eram feitas de pedras escuras. Os passos correram íngremes até outra porta de ferro resguardada por uma caveira.

Após essa porta, o que se seguiu foi um enorme calabouço. Celas e mais celas estavam abarrotadas de presos. Homens, mulheres e até crianças, os cavaleiros que não haviam sido mortos ou transferidos, tinham sido presos junto com os seus familiares. Muitas vezes os presos morriam no catre, e só eram retirados de lá dias depois.

Acendendo uma tocha, o mapinguari andou pelo corredor. O cheiro era fétido e o clima tinha um ar pesado. A armadura refletia o brilho amarelado das chamas.

— Veio assistir a nossa miséria, capitão Nipi?

Um dos presos, numa postura de desafio, pôs as mãos nas grades e esperou uma resposta. Nipi voltou-se e bafejou no rosto do espadachim.

Os olhos do monstro brilhavam com uma intensidade selvagem. O homem continuou a encarar o mapinguari, com olhos frios e neutros.

— Não que eu goste de ver essa imagem de desforra, mas gostaria de lhes dizer uma coisa muito interessante que veio a acontecer.

Uma mulher levantou-se trôpega do chão e cuspiu em Nipi.

— Não me diga que os rebeldes tomaram a cidade das suas mãos?

— Oh não, minha querida. Tanto eles, como vocês, irão participar de um novo evento na cidade. Irei executá-los em praça pública. E para cada um que queira ser salvo, deverá entregar mais dois rebeldes. Caso não pactuem conosco, morrerão.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Um Reino de Monstros Vol. 1" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.