Um Reino de Monstros Vol. 1 escrita por Caliel Alves
Tell tinha Index empoleirado no topo da cabeça. Clapeyron e Dumas vasculhavam o alojamento em busca de um misterioso objeto.
Quando ele foi finalmente encontrado, o mestre de armas deu um enorme sorriso.
Para Saragat que também assistia a cena, não viu nada demais, entretanto, ficou em silêncio. Tell também parecia decepcionado.
— Esta será a sua espada de treino.
— Uma espada bastarda?
Saragat não conteve a língua. Index voou em volta da espada que tinha cabo de madeira, uma guarda em formato de cruz e dois gumes. Ela tinha uma bainha de couro cru.
— Não é uma espada comum, é uma lâmina de treinamento flandina.
Dumas sorriu e a jogou para o garoto que a pegou no ar de modo desajeitado.
— Mestre Clapeyron, eu peço desculpas se estou sendo ousado, mas, como essa espada irá me ajudar?
— Para olhos desacostumados, essa espada não passa de uma velharia. Mas no fundo, ela é quem garante a nossa maestria na esgrima. Tente empunhá-la.
O garoto a segurou com as duas mãos e não conseguiu. As veias saltaram no rosto, mas ele não levantou o seu gume.
— Anda, garoto fraco. Levanta esse monte de ferrugem logo!
Saragat gritou, mas não surtiu efeito, a espada continuou grudada no chão.
— Mas, mas como essa espada pode ser tão pesada?
— Hungh, talvez você esteja bem fraquinho mesmo, Tell.
— Até você, Index?
— Só se é apunhalado pelos seus, Tell.
A descontração diminuiu após Saragat ter dito essas palavras. Dumas pousou as mãos nos ombros do garoto e disse para que eles o acompanhassem. O conjurador mascarado foi na direção contrária.
— Espere, aonde vai?
— Não sou espadachim.
— Será interessante para melhorar as suas habilidades em combate.
Saragat virou-se para Dumas com um olhar rijo como pedra e disse ironicamente:
— O que? Você vai me ensinar o que eu já esqueci?
Saragat saiu e ninguém tentou impedi-lo. Index voou de volta para o garoto e comentou:
— Ele deve ter problema de memória.
— Vamos, espero lhe ensinar alguma coisa antes do almoço.
O quarteto saiu do acampamento e tomou a mesma rota que Dumas usava até a beira do regato. Aquela área não costumava ser vigiada pelos monstros. A espada de lâmina enegrecida pesava a cada passo nas mãos do jovem Lisliboux. Quando eles saíram do corredor de pedra, o garoto ficou aliviado.
Dumas e Clapeyron adentraram a floresta com o garoto estafado. Index ajudava Tell trazendo a mochila com suas mãozinhas.
A floresta tinha árvores imensas, entre elas, havia diversos pinheiros e araucárias.
Numa clareira aberta por árvores tombadas, o grupo parou. Depois de uma pequena pesquisa, Dumas voltou dizendo que a área estava limpa.
— Tudo bem, agora nós vamos começar...
— Por um momento, eu achei que carregar a espada seria o treinamento.
Clapeyron coçou a sua barba lanosa e deu um sorriso amigável. Retirou o seu sabre e o ergueu no meio de um raio de luz. O flash se tornou vários feixes prateados.
— Geralmente, treinamos os jovens com lâminas pesadas como essa. Entre o sabre, o florete, a rapieira, o estoque e a espada, o melhor é que você manuseie está aqui. Você não tem treinamento eficiente em qualquer arma, não possui, portanto, o reflexo para empunhar estoques e rapieiras, velocidade para usar o florete ou a habilidade para manusear um sabre. Temos que aumentar a sua força também, pois, lutará com inimigos maiores que você.
— Ao menos, ele terá explosão, mestre Clapeyron.
— Mas sem a disciplina o arsenal de um guerreiro se torna um peso.
Tell arfava, suado e cansado, ouvia toda a conversa perto de um desmaio. Depois da explicação, Clapeyron pediu para que o espadachim se colocasse em frente de um tronco. Metade de uma árvore seca estava de pé.
O garoto logo entendeu que eles usavam as suas habilidades para coletar madeira enquanto treinavam. Index e Tell observaram atentamente.
— Agora veja, meu filho Dumas. Atinja essa árvore com o Coup de Foudre.
Esse era o mesmo golpe que o jovem havia usado para inutilizar as caveiras. Dumas ajeitou as mangas de sua camisa de seda. Uma brisa fresca lambeu os seus cabelos longos e encaracolados. Entrando em postura de ataque, desembainhou o seu sabre num corte vertical, ao que pareceu um único movimento.
Com a mesma elegância que o rapaz combateu os monstros no beco, golpeou o tronco. Num primeiro momento, nada aconteceu.
— Será que ele errou, Tell?
— Acho que não, Index.
Dumas embainhou o sabre novamente, e com uma nova lufada de vento, o tronco dividiu-se no meio. Tell ficou impressionado como um tronco tão largo havia sido cortado de modo tão rápido.
Clapeyron ficou satisfeito com a expressão do garoto. Dumas voltou para perto do mestre de armas. O velho espadachim se aproximou de Tell e apontou para o tronco.
— Quero que você faça o mesmo.
— Eu não posso...
— Só saberá se tentar.
O jovem, com algum esforço, arrastou a espada até em frente ao tronco. Fez um enorme esforço, mas a lâmina não conseguia ser levantada.
Index sobrevoava-o falando palavras de otimismo, a espada só conseguiu ser erguida há muito custo. E quando a espadada aconteceu, errou o alvo. O garoto jogou a espada no chão, o desânimo estava em seus olhos.
— Não dá, não consigo.
Dumas se levantou e pegou o seu sabre novamente, empunhou-o com maestria.
— Vede, Tell, é assim que se empunha uma lâmina. “A lâmina é a extensão do seu braço”, meu pai dizia isso quando eu era criança.
— Meu avô disse para eu ser forte, mas eu não consigo.
— E porque você não segue os seus ensinamentos?
— É porque eu não sou um grande mago igual a ele, tá bom!
Tell se levantou e empurrou Dumas com as duas mãos, correu floresta adentro com olhos lacrimosos. O jovem nobre virou-se para Clapeyron.
— Que garoto birrento.
— Não diga isso, Dumas. Todos temem o caminho da espada.
— O que eu vejo aqui é que ele não tem talento nenhum para a esgrima.
— Ele não foi treinado por tal por falta de tempo e quem lhe ensinasse, eu deixo o treino do garoto sobre a sua responsabilidade.
— O QUÊ?
Dumas tinha o queixo caído, ele não queria ficar responsável por um pirralho. Não tinha nada contra Tell, só não tinha a paciência para ensinar.
— Gostaria que fosse atrás dele e o trouxesse para o almoço, treinarão aqui.
— Mesmo que ele tenha um grande potencial latente, uma semana não será suficiente.
— Não o quero espadachim até o fim da semana, você tem apenas três dias.
Dumas ainda tinha o queixo caído quando Clapeyron entrou na Cidade Subterrânea.
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