Um Reino de Monstros Vol. 1 escrita por Caliel Alves


Capítulo 10
Capítulo 2: A Cidade Subterrânea - Parte 4




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Havia naquele rapaz um misto de jovialidade e melancolia. Embora sempre mostrasse um sorriso gentil, qualquer um podia perceber que a morte dos seus pais ainda lhe provocava sofrimento.

Ele andava com a cabeça erguida e o coração subjugado pela dor. Durante as suas caminhadas diárias, ele relembrava tudo o que tinha vivido antes da guerra.

Cada lembrança equivale há toda uma vida. E lá estava o tipo de vida que ele não conhecia. Viver escondido nos esgotos de Flande como se fosse um ratinho acuado.

Tudo vai mudar, agora temos o garoto e o livro. Prepare-se, Nipi, e você, Gumercindo.

— Bom dia, Vossa Alteza.

— Bom dia, madame Jessica.

Para cada um que passava por ele, lhe prestava um grande respeito.

Quando era mais jovem, a nobre criança não entendia o motivo de tantas pessoas lhe prestarem reverência e a importância de sua posição.

Ele era o sucessor do Barão de Flande, diferente de muitos outros jovens de sua extirpe, ele não abusava de sua posição. Preferia as cavalgadas e a falcoaria aos bailes dançantes. Embora adorasse a esgrima, preferia não a usar para ferir as pessoas, e sonhava num dia em que a esgrima pudesse servir apenas como esporte, e não como força bélica.

Quando a Segunda Grande Guerra estourou, todos os sonhos dos jovens morreram com a esperança de uma nova era.

Os monstros... estás formas de vidas desprezíveis foram criadas pelo perverso deus Enug para desequilibrar a criação dos Deuses Virtuosos, e não à toa ele liderou os Deuses Profanos.

Dumas tentou não pensar em que tipo de intento um deus profano tinha em seu coração. Se os Deuses Virtuosos criaram os humanos e a natureza, os Deuses Profanos criaram os monstros e a destruição.

Pouco era conhecido desses embates divinos, mas ele sabia que havia grandes consequências para os seres humanos em toda à Terra.

Dumas andava tão distraído que esbarrou num tabuleiro de maçãs. Como era vendido, ele não podia simplesmente pegá-las e ir embora, ele as tomou nas mãos. O homem logo se levantou e disse:

— Gostaria de uma maçã, Vossa Alteza? Pegue-a.

— Obrigado, bom senhor Gustavo.

Mas ele depositou a mação de volta, o homem ainda rogou para que ele a levasse, mas o jovem não levou nenhuma. Havia fome em seu corpo, mas não a fome que uma maçã pudesse saciar. Sua fome era de liberdade.

Gostaria de uma vez mais cavalgar pelos campos de Flande, sentir a brisa no rosto e ir até os córregos da região, pôr os pés na água corrente... enfim, viver como um ser humano novamente. Não gostava de demonstrar a sua insatisfação, mas odiava viver como um rato naquele esgoto.

Sua vaidade também negava àquela vida, o seu corpo a rejeitava como um todo.

Ele continuou a andar, sem destino, pelos corredores de pedra fria e água malcheirosa. Pegou o sabre e o investiu contra o ar, e a cada passo, ele estocava, cortava e brandia-o.

As coisas haviam mudado. Ele não sentia falta do luxo, da riqueza e das valsas, isso era coisa que só gente como Nipi ou Gumercindo davam importância, ele sentia falta de respirar, sentir-se livre.

— Bom dia, Vossa Alteza! Como está Vossa Alteza? Oh sim, eu estou bem senhora... um belo dia senhor, Unfh!

As ratazanas, ao ouvir o brandir dos seus golpes, pulavam na água e sumiam na escuridão salobra. Como memorizara a planta da Cidade Subterrânea, ele não necessitava nem de guia, nem de uma lamparina. Guiava-se mais pelo instinto do que por qualquer outra coisa.

Gumercindo, seu maldito! Vou enfiar este sabre bem no meio do seu coração.

— Hahahaha, como diria mestre Clapeyron, o ódio faz pesar o aço.

Pondo o sabre na bainha, ele seguiu a passos lentos e controlados. Alguns passos à direita, ele dobrava. Alguns à esquerda, ele descia. Mais à frente, subiu à direita.

A Cidade Subterrânea fora criada no centro, logo abaixo da praça principal. Mas para os desavisados, ele não seguia num simples zig zag, também havia descidas e subidas.

O centro consistia num bolsão revestido com uma espécie de pedra que tinha uma grande propriedade mágica: só permitia a entrada no recinto de convidados. Essa era um dos motivos pelos quais Leona e outros monstros não podiam entrar no refúgio.

Não importava qual o poder do invasor ou as suas habilidades, só entrava quem fosse permitido pelos seus moradores. A cidade de Flande havia sido fundada por um casal de magos, que para proteger a cidade, sacrificaram toda a sua energia mágica para criar a Cidade Subterrânea.

Em todas as partes da cidade havia uma entrada e uma saída para fuga e assaltos rápidos. A que Dumas usava dava para um córrego, o qual ele adorava.

Ele retirou as botas, estava por volta das oito da manhã. Caminhou descalço pela grama, o ar frio do bosque lhe trouxe lembranças já esquecidas. Aquela parte era tão longe da cidade que a Horda não a conhecia.

Dumas retirou a sua lâmina da bainha e a fincou no chão. Depois desabotoou o colete e a camisa também, abriu os braços e cumprimentou a natureza.

Continua tudo lindo como sempre...

— Por favor, pare com o strip-tease.

Dumas virou-se com cara de poucos amigos. Atrás dele, estavam Tell com Index na cabeça, Saragat e Clapeyron com os braços cruzados.

— Quantas vezes eu já lhe disse que um cavaleiro não se separa de sua espada, Dumas, meu filho?

— Com essa é a milésima.

Dumas olhou para si mesmo e depois olhou para as roupas de Saragat e disse:

— Você não sente calor com essa mortalha, não?

— Não, a luz é boa, mas em excesso ofusca.

Dumas girou os olhos.

Um conjurador fotofóbico.

— O que desejam de mim?

— Dumas, nós vamos treinar Tell. Do aço, pelo aço!

O jovem aristocrata tomou o seu sabre, ele e Clapeyron cruzaram as lâminas.

— Do aço, pelo aço! Meu caro Tell.


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