ORDO DEORUM - O Legado Divino escrita por luniwrites


Capítulo 2
Capítulo II - Dante


Notas iniciais do capítulo

Hoje estou trazendo o segundo capítulo para vocês!
Peço desculpas pelo atraso, tive alguns problemas com a internet, por isso demorei a atualizar a fic por aqui e pelo Spirit.
Espero que gostem!



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Dante, assim como qualquer pessoa, tinha muitos defeitos, sendo um deles o fato de que era terrivelmente perfeccionista.

O garoto olhou frustrado para sua frente, resmungando consigo mesmo por não estar conseguindo encontrar as palavras certas para a redação que fazia.

“Você precisa relaxar, Dante, você se cobra demais” Ele quase conseguia ouvir a voz de Jasmin dizendo ao seu ouvido. Quando ela fazia isso o rapaz se virava para ela com um sorriso cansado, que ela logo transformava em um sorriso genuíno após beijá-lo no rosto.

— Sinto sua falta. — Dante falou, soltando um suspiro logo em seguida.

Ele ouviu o som de passos se aproximando e torceu o nariz ao sentir o cheiro do colega de quarto, Lucas.

Lucas era um garoto alto, magro, e que parecia ter uma terrível aversão a banhos e a privacidade. Dante se perguntava todos os dias o que ele havia feito contra o diretor do internato para ter sido colocado como colega de quarto do garoto.

— E ai, Daniel?

— Dante. — O loiro corrigiu, enquanto ajeitava os óculos sobre o rosto.

— Tanto faz. — Lucas balançou a mão e foi até ele. — Já tá fazendo a redação que é pra semana que vem? Cê é brabo, viu. Será que depois da pra me ajudar com a minha?

Por “me ajudar” Lucas queria dizer “fazer para mim”. E Dante não era idiota de deixar o garoto se aproveitar dele.

— Olha, na verdade nã-

— Ótimo! — O moreno sorriu próximo ao rosto de Dante que sentiu o estômago embrulhar com o cheiro forte de mau hálito. — Valeu, Danilo, cê é demais.

— É Dant- Quer saber? Deixa pra lá. — O garoto resmungou para si mesmo enquanto Lucas ia até o banheiro.

Dante suspirou, cansado.

Ele ficou de pé e foi até a janela, que tinha vista para o pátio, coberto por diversas árvores. Dante a abriu e respirou um pouco do ar puro que entrou junto com o vento, quando se lembrou do plano que havia marcado para aquele dia.

O rapaz correu até sua cama, e olhando para os lados viu que estava seguro e então tirou de debaixo do colchão um livro. Sua capa dura era azul, e o título “Divina Comédia” estava escrito em belas letras cursivas.

 Dante abriu o livro, mas o que estava contido em suas páginas não eram as histórias sobre Dante, o protagonista, no lugar disso estava um caderno colado por dentro da capa antiga, e nele haviam anotações estranhas feitas com símbolos estranhos. 

Aquelas eram anotações sobre magia.

O loiro olhou para o relógio. Os ponteiros marcavam duas e vinte. Ele tinha trinta e cinco minutos para chegar ao seu destino.

Dante se levantou depressa e saiu do dormitório, passando pelos longos corredores e o saguão de entrada da escola. Quando chegou à portaria deu de cara com Sidney, que o olhou impaciente.

— Onde vai, com quem vai e que horas volta? — O homem perguntou, tirando o olhar da TV antiga que passava um jogo de futebol.

— Vou ao cemitério, sozinho, volto antes das cinco. — Dante respondeu.

— Tudo bem. — Sidney assentiu e ao apertar um botão o portão se abriu. — Ei, garoto! — Ele gritou, antes de Dante sair. — Ela se foi já faz tempo, você ainda é jovem, precisa seguir em frente.

Dante não respondeu, apenas se virou e seguiu seu caminho.

—❋-

Dante caminhou por mais de meia hora. O garoto andava devagar pelas ruas movimentadas. Pessoas apressadas passavam por ele se espremendo, tentando dar a volta no garoto que parecia alheio à movimentação.

Assim que chegou em frente ao cemitério Dante parou.

O garoto ergueu a cabeça e observou a entrada do lugar. A placa com o nome do cemitério era antiga, feita de pedra, e estava tão suja que era impossível discernir seu nome. As árvores ao redor do lugar farfalhavam com o vento, e Dante sentiu um aperto no peito.

Com um último olhar em direção ao cemitério, Dante seguiu seu caminho até o hospital.

Não demorou muito e o garoto logo estava em frente ao grande prédio branco. O hospital Santa Matilda estava lotado, como sempre. Diversas pessoas passavam pela porta da frente e vez ou outra um carro parava logo em frente e seus passageiros desciam dele e iam em direção à velha construção.

Dante engoliu em seco, e juntando toda coragem que tinha dentro de si, ele entrou no hospital.

O garoto foi até a recepcionista, que o atendeu com um sorriso. 

— Boa tarde, eu vim ver um amigo.

— Boa tarde. — A mulher respondeu. — Qual o seu nome, querido?

— Dante.

— Dante do que?

— Só Dante. — Ele respondeu e a mulher o olhou com mais atenção. Seu olhar logo caiu sobre o bordado do uniforme e ela balançou a cabeça.

— Entendi. Qual o nome do seu amigo?

— Denis, Denis Batista. 

A mulher se ajeitou na cadeira e começou a digitar no computador. Após alguns segundos ela assentiu. 

— Achei, ele está na ala 7, quarto 2. Aqui, preciso que coloque isso. — Ela disse à Dante e o entregou um adesivo, que ele rapidamente colocou sobre o peito.

— Obrigado. — O garoto forçou um sorriso e se afastou, indo até a ala apontada pela mulher.

Dante andou apressado pelos corredores procurando pelo quarto certo. O garoto ajeitou o adesivo sobre o bordado do internato, e pela primeira vez em muito tempo agradeceu por viver naquele lugar. 

Não era nenhum segredo que o Internato Severino para Crianças e Jovens em Situação de Risco abrigava um grande número de órfãos. Claramente a atendente do hospital sabia disso, tendo em vista a forma como passou a olhar para Dante depois de perceber que ele era uma dessas crianças. Talvez se não fosse por isso ela não teria deixado o loiro entrar para fazer uma visita ao garoto.

Ele balançou a cabeça, não querendo pensar nisso, e voltou a se concentrar nas informações dadas pela mulher. 

— Ala 7, quarto 2. — Dante repetiu para si mesmo enquanto passava pelo corredor que dava para a ala 5, e mais alguns passos depois ele entrou na ala 7, e logo achou o quarto 2.

Dante bateu na porta, e uma voz feminina o mandou entrar.

— Denis? — Dante perguntou, confuso, olhando para a mulher que usava o uniforme da equipe de limpeza do hospital.

— Ele não tá aqui não, ele foi pegar um ar lá fora, viu? — Ela falou enquanto varria o chão.

— Ah, obrigado. — Dante respondeu e saiu apressado de lá.

Após passar alguns minutos perdido no prédio, procurando por uma saída que levasse ao pátio traseiro do hospital, ele finalmente conseguiu chegar ao seu destino.

Dante olhou ao redor, e logo encontrou quem procurava.

Um garoto de pele escura estava sentado em uma cadeira de rodas, de costas para Dante. Havia um suporte de soro ao seu lado, segurando alguns sacos de remédio que ele imaginou serem para a dor.

— Tá atrasado. — Dante ouviu Denis falar assim que se aproximou dele.

— Desculpa.

— Tá tudo bem, senta ai.

Dante se sentou ao lado de Denis, e se sentiu desconfortável ao ver o quanto o garoto havia piorado desde a última vez que se viram.

Denis era um garoto de treze anos que havia nascido com uma má formação na coluna, que se desenvolveu em uma escoliose severa. O garoto praticamente vivia no hospital desde então, mas por mais que os médicos tentassem, não havia melhora no quadro dele.

Os dois haviam se conhecido na época em que Dante acabara de dar entrada no hospital para realizar uma complicada cirurgia no coração, e se não fosse pelo otimismo de Denis o garoto sabia que não teria aguentado o nervosismo.

— Você tá parecendo bem, Dante. Tá com cara de mais velho. — Denis comentou, a voz soando arrastada, como se estivesse cansado.

— Você também. — Dante respondeu, fazendo Denis sorrir.

Era quase impossível ver o rosto de Denis, tamanho o grau da escoliose. O garoto estava curvado para frente a todo momento, numa posição que devia lhe causar muita dor.

— Não, não tô. Eu sei que você só disse isso pra me fazer sentir bem, por que ou era isso ou era dizer que eu tô parecendo um morto vivo.

— Não fala assim. — O loiro reclamou.

— Mas é a verdade. Você sabe disso. Se não soubesse não teria se oferecido pra me ajudar, né?

Touché.

Dante se ajeitou no banco, assumindo uma postura ereta.

— É esse o livro? — Denis perguntou, apontando para o livro nas mãos de Dante.

— É. Mas antes de começarmos eu tenho que te avisar dos riscos. — O mais velho falou. — Eu nunca fiz nada parecido antes, as chances de isso dar errado são grandes.

— E se der? — O moreno riu. — Não é como se eu tivesse muito a perder mesmo.

— Se der errado, no melhor dos casos não acontece nada, no pior deles você pode morrer. — Dante respondeu.

Denis ficou quieto por um instante.

— Ainda quer seguir com o plano? — Dante perguntou, uma parte dele temendo causar ainda mais mal à Denis.

— Mantenho o que disse, não tenho mais muito tempo de vida, de qualquer forma.

Dante baixou a cabeça e respirou fundo.

— Tudo bem, vou arrumar as coisas.

O loiro ficou de pé e abriu o livro. De dentro dele tirou algumas folhas que estavam soltas e as colocou no chão. Cada uma delas tinha um símbolo traçado, e quando postas na posição certa formaram um símbolo maior.

— Você tem certeza disso? — Dante perguntou para Denis enquanto empurrava a cadeira de rodas do garoto.

— Eu tenho, já disse.

Dante se aproximou do garoto e o ergueu nos braços da forma mais delicada que conseguiu, enquanto seu rosto se contorcia em uma careta de dor por conta do esforço e pôs Denis sentado no meio do símbolo. O loiro respirou fundo e abriu seu livro, procurando pelas anotações certas.

— O que eu faço? — Denis perguntou, olhando nervoso para o mais velho.

— Só fica sentado, sem falar nem se mexer muito.

— Okay. — Ele respondeu, e finalmente Dante encontrou o que buscava.

As instruções estavam escritas na caligrafia cuidadosa de Dante, que havia passado meses reescrevendo-as. No entanto, algumas partes ainda estavam incompletas, visto que muitas das fontes usadas eram antigas e estavam em outras línguas. Dante queria ter mais tempo para trabalhar nisso, mas sabia que se demorasse muito mais poderia ser tarde para Denis.

Dante fechou os olhos e inspirou. Assim que soltou o ar de seus pulmões passou a proferir as palavras gravadas no papel.

O vento ficou mais forte, agitando as árvores e produzindo um barulho alto, quase ensurdecedor. Dante sentiu algo estranho, e sabia ser a magia fluindo pelo seu corpo. Ele se ajoelhou, ao lado de Denis, e ergueu a mão em sua direção.

Assim que a palma do garoto se encontrou com as costas do mais novo, Dante viu um brilho estranho sair de sua mão e se estender pelas costas de Denis. O brilho era completamente preto, quase como se fossem sombras, sugando toda a luz ao seu redor. 

Dante sentiu o nervosismo martelando no fundo da cabeça, ele esperava que estivesse fazendo tudo certo. Mas ele não tinha como saber, agora precisava ir até o fim.

Após alguns segundos ele conseguiu ver a postura de Denis melhorando, de pouco a pouco, e começou a sentir o cansaço da magia agindo sobre si.

Quando Denis virou a cabeça para trás com um sorriso Dante sentiu algo agarrando-o pelos cabelos e o chão escapou de seus pés.

— Oi, filhote de deus. — Uma voz sinistra falou, e a coisa que agarrara Dante o virou para si.

Dante sentiu sua coluna gelar quando percebeu horrorizado que se tratava de um ciclope.

— Me solta! — Ele gritou, fazendo o monstro rir.

Dante ergueu a mão esquerda na direção dele e sussurrou algumas palavras. No mesmo instante o ciclope o largou, soltando um alto grunhido de dor, enquanto levava suas mãos em direção ao seu grande olho.

O loiro olhou ao redor, assustado, e se deparou com uma cena terrível. Denis estava deitado no chão e se contorcia de dor. A escoliose do garoto havia se agravado, ficando num estágio ainda pior do que antes do ritual. A respiração de Dante ficou acelerada e ele congelou de medo.

O ciclope havia se recuperado do golpe de Dante, e estava indo em sua direção com um corte feio sobre o olho, do qual jorrava sangue dourado.

Dante havia sobrevivido a muitas coisas. Ele sobrevivera ao acidente que matou seus pais, sobrevivera ao incêndio no orfanato, sobrevivera à doença no coração. Ele sobrevivera a muito para morrer daquele jeito.

— Sai da frente, loiro! — Uma voz feminina gritou, vinda de trás de Dante, que seguiu sua ordem.

Ao correr para o lado, Dante se virou e viu o exato momento em que uma garota ruiva atirou uma adaga no peito do ciclope.


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Notas finais do capítulo

O que acharam? Por favor não se esqueçam de comentar, assim eu sei que estão gostando e isso me incentiva a continuar!



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