ORDO DEORUM - O Legado Divino escrita por luniwrites


Capítulo 1
Capítulo I - Beatrice


Notas iniciais do capítulo

Enfim começamos a aventura! Espero que gostem ;)



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Como toda garota de quatorze anos, Beatrice Portinari tinha um sonho. 

Algumas garotas de sua idade sonhavam em serem famosas, outras sonhavam com o dia que viveriam um romance como nos livros, e outras com a carreira ideal, mas Bea não queria nada disso. 

Beatrice não se lembrava dos últimos cinco anos de sua vida, por isso ela sonhava com o dia que descobriria mais sobre seu passado.

— Querida, pode me passar um pouco daquele fertilizante ali no canto?

— Claro, mãe. — Beatrice respondeu.

A garota olhou na direção para onde sua mãe havia apontado e viu alguns sacos de fertilizante apoiados em uma parede. Ela foi até o fundo da loja e pegou o mais leve deles, um que já havia sido aberto antes e só tinha metade de seu conteúdo.

Ao se aproximar novamente de sua mãe, Beatrice a entregou o fertilizante.

— Obrigada, minha flor. — Clara sorriu, mas ao olhar seu relógio de pulso se virou preocupada para Beatrice. — Querida, você não tinha dito que ia passar na casa da Elga pra fazer um trabalho da escola? — Ela perguntou.

Beatrice arregalou os olhos e se levantou com um pulo. Ela olhou para o relógio na parede atrás de si e percebeu que eram exatas três horas da tarde, e ela havia marcado com Elga que estaria na casa dela às três e quinze.

— Droga, eu me esqueci. — Ela resmungou e se virou para sua mãe. — Desculpa, tenho que ir correndo pra lá.

Clara sorriu e limpou as mãos sujas de terra no avental verde da floricultura.

— Tudo bem, florzinha, só me avise assim que chegar lá, tá bom?

— Pode deixar, mãe.

Bea foi até a sua bolsa e colocou a alça sobre o ombro direito, atravessando seu corpo. Ela caminhou até o balcão e encontrou Orpheu dormindo sobre seu poleiro.

— Desculpa te acordar, amiguinho, mas temos que ir. — Ela sussurrou para a ave enquanto a acariciava. 

Pouco a pouco o urutau abriu seus grandes olhos amarelos e a encarou. Beatrice estendeu seu braço direito na direção dele que se agarrou a ela, e a garota o acomodou em seu ombro.

Beatrice se dirigiu apressada até a porta da frente e a atravessou, dando de cara com a rua movimentada.

Ela andava em um passo apertado pelas ruas de São Paulo. Um vento frio soprou por ela, jogando seus cabelos escuros e curtos sobre seu rosto, o que a fez resmungar. Os chinelos brancos da garota batiam contra o concreto do chão num ritmo como o de um relógio “tic tac, tic tac”, o que apenas serviu para lembrar Beatrice do quanto ela estava atrasada.

A garota colocou a mão dentro de sua bolsa e tirou de lá seu celular. Ela discou alguns números rapidamente enquanto caminhava, e logo uma voz familiar surgiu do outro lado da linha.

— Bea? Aconteceu alguma coisa, amiga?

— Oi, Elga! Tá tudo bem, não precisa se preocupar, — Beatrice respondeu enquanto virava apressada em uma esquina. — eu só me atrasei um pouco porque fiquei ajudando minha mãe na floricultura, sabe?

— Ah, tudo bem Bea, não tem pressa! Ainda são três e dez!

Beatrice se assustou.

— Já? Droga, desse jeito vou acabar chegando aí só às quatro horas. 

Beatrice continuou caminhando quando teve uma ideia.

— Bea? — Elga a chamou.

— Oi.

— Tá tudo bem, você ficou tão quieta… — A garota comentou enquanto Beatrice virava em uma esquina.

— Tá tudo bem sim, eu só— Beatrice começou a falar mas sentiu o ar se esvair ao se deparar com a cena mais bizarra da sua vida.

A apenas alguns metros de distância de onde Bea estava parada de pé, havia uma criatura bizarra lutando contra duas pessoas.

Aquela criatura era humanóide, e Beatrice conseguiu ver que tinha apenas um grande olho em sua testa. A garota teve que piscar algumas vezes enquanto via um garoto atingir o monstro com uma espada de lâmina alaranjada. Aquilo realmente estava acontecendo ou era apenas um delírio bizarro?

— Cuidado, Tristan! — A garota ruiva gritou para o rapaz enquanto se desviava de um golpe do ciclope.

— Bea, o que tá acontecendo? To ouvindo gritos. — Elga perguntou ainda no telefone.

Beatrice estava atônita, mas se forçou a responder.

— Olha, Elga, tô com um imprevisto, talvez eu me atrase mais um pouco.

— Tudo bem, só se cui— Beatrice desligou o telefone antes que Elga pudesse terminar de falar e continuou de pé, assustada, vendo o que acontecia em sua frente.

O garoto, Tristan, deu um pulo para trás, desviando por muito pouco do porrete que a criatura carregava consigo.

— Ei, feioso, eu tenho uma coisinha pra você! — Ele sorriu e estendeu uma mão até o bolso da calça, mas logo arregalou os olhos. — Merda! Cadê meu molotov?

Tristan olhou ao redor e então seu olhar se voltou na direção de Beatrice e ele pareceu assustado para ela.

— Sai daqui! Não é seguro!

Beatrice queria ter seguido o conselho do garoto, mas sentiu suas pernas congelarem e não conseguiu sair do lugar.

— Tristan, o molotov tá na sua mochila, lembra? - A menina ruiva gritou, ainda lutando com o monstro.

O olhar de Tristan foi até o lado direito de Bea, que olhou para o mesmo lugar. Lá ela viu uma mochila preta, caída ao lado de uma lata de lixo.

— Ei! — Ele gritou, chamando atenção de Beatrice.

Ela viu de reflexo algo voando em sua direção, e estendendo uma mão ela interceptou o objeto, que ao olhar melhor viu que era um isqueiro.

— Faz a boa pra gente, por favor!

Beatrice logo entendeu.

A garota correu até a mochila de Tristan e a abriu depressa, procurando por um coquetel molotov, e logo o encontrou. A garrafa de vidro estava repleta de um líquido verde estranho, que ela nunca tinha visto antes na vida.

— Erin!

O grito de Tristan pareceu ecoar pela rua vazia e Beatrice se virou em sua direção.

A garota ruiva havia sido atirada em direção à uma grande caçamba de lixo e estava caída no chão, com uma das mãos sobre a costela enquanto a outra segurava uma adaga com a lâmina no mesmo tom da espada de Tristan.

O ciclope tinha um sorriso sinistro no rosto, quando se virou para Beatrice e viu o que ela carregava em sua mão.

— Fogo grego, contra um ciclope? — A criatura riu, a sua voz macabra soando ainda mais terrível para Beatrice, que estremeceu. — Vocês devem ser os semideuses mais burros que já vi na vida.

Tristan forçou uma risada.

— Ah, bobinho, isso não é pra você, não. — Ele riu, limpando uma lágrima imaginária do rosto. — É pra ela!

Tristan apontou para cima e Beatrice se virou, dando de cara com uma criatura bizarra.

Havia uma mulher sobre uma varanda alta, e ela olhava para eles com um olhar faminto. Metade de seu corpo, no entanto, era como o de um pássaro, e ela se segurava ao parapeito com suas garras, enquanto suas asas estavam fechadas ao seu redor.

— Eu já estava mesmo ficando cansada desse showzinho. — Ela falou e se virou para Beatrice com um sorriso perverso. — Acho melhor não errar, querida.

A garota sentiu sua espinha gelar quando a mulher-pássaro estendeu suas asas gigantescas. Orpheu pareceu inquieto em seu ombro direito quando ela lembrou que segurava o molotov.

— Ninguém te chamou aqui, periquito! — O ciclope rosnou para a mulher que piou agressivamente para ele, logo depois se voltando para a garota.

Beatrice rapidamente acendeu o isqueiro e aproximou a chama do tecido preso à garrafa. Assim que o tecido pegou fogo, Bea assumiu uma posição de ataque, tentando mirar na mulher à sua frente.

Ela conseguiu ouvir um grito de Tristan e viu de canto de olho enquanto ele avançava contra o ciclope. Orpheu piou em seu ombro e voou até a mochila de Tristan. Bea voltou a se concentrar, mas toda vez que ameaçava jogar o frasco com o líquido verde a mulher-pássaro se desviava com rapidez.

Beatrice decidiu arriscar.

Enquanto fazia contato visual com a criatura, ela fingiu que arremessava o frasco, no que a mulher desviou para a esquerda. Beatrice foi rápida e atirou o coquetel molotov antes que ela pudesse se desviar novamente.

Uma explosão de chamas verdes surgiu assim que o vidro se partiu contra o peito da criatura, que em um urro de dor caiu ao chão. Beatrice deu alguns passos para trás e assistiu horrorizada enquanto ela se desfazia em pleno ar, deixando para trás apenas uma poça de um líquido dourado.

A garota se sentiu aliviada, mas então se lembrou que o ciclope ainda estava de pé e se virou para a cena de luta que acontecia ao seu lado.

Tristan pulava de um lado para o outro, tentando se desviar dos ataques do monstro ao mesmo tempo em que tentava atingi-lo, mas a criatura era muito maior que ele e também muito mais ágil. Beatrice olhou para onde Erin estava e viu que a garota tentava se levantar, então foi até ela para ajudá-la.

— Você tá bem? — Ela perguntou para a ruiva que forçou um sorriso.

— Nada fora do padrão. — Erin respondeu mas logo resmungou de dor, voltando a apertar o estômago.

— Vem, vamos tirar você daqui, aquela coisa vai acabar te pegando. — Bea falou enquanto ajudava Erin a andar até uma distância segura do ciclope.

Assim que a colocou sentada ao chão, Beatrice viu Tristan dar uma investida contra o monstro, que com um golpe o derrubou no chão. O garoto foi arrastado pelo asfalto, enquanto sua espada caia na direção oposta.

O ciclope parecia prestes a matar Tristan quando de repente ergueu a cabeça e respirou fundo.

— Sorte sua que tem algo muito melhor por perto, pirralho. — Ele sorriu e deu meia volta, indo embora por um beco escuro.

Tristan e Erin se encararam, então assentiram e ambos começaram a se levantar.

— O que diabos aconteceu aqui? — Beatrice perguntou enquanto ajudava Erin a ficar de pé. — O que era aquela coisa? E aquela outra? — Ela apontou na direção da poça de líquido dourado.

— Não dá tempo de explicar. — Tristan respondeu enquanto colocava sua mochila nas costas. — Aquele ciclope tá indo atrás de algum semideus, não dá pra perder tempo.

— Semideus? — Bea perguntou, confusa.

— Olha, a gente não tem mesmo tempo pra explicar, temos que ir agora.

— Então é isso? Vocês vão simplesmente me deixar aqui? E se aquela coisa voltar?

Erin olhou para Tristan.

— Ela tem um ponto, Erin. — O garoto pegou algo de sua bolsa e estendeu na direção de Beatrice, que percebeu se tratar de uma adaga. — Se quiser pode ir embora, mas se quiser respostas pode vir com a gente, sardinhas.

A garota estendeu a mão, mas Tristan recuou.

— Se vier com a gente não tem mais volta.

Aquele momento pareceu durar uma eternidade, mas Beatrice demorou apenas dois segundos para tomar sua decisão.

Com um olhar confiante no rosto ela pegou a adaga da mão de Tristan, que sorriu.

— Vamos matar aquele ciclope.


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Notas finais do capítulo

Não se esqueçam de comentar o que acharam do capítulo! Assim eu sei no que melhorar e sei que leram, o que me incentiva a continuar escrevendo!



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