Dois meses se passaram sem que maiores problemas acontecessem e Louie rezava para que as coisas continuassem assim. Apesar de ser meio exaustivo namorar escondido, ele e Christopher estavam muito mais próximos do que antes e tudo tinha acontecido por causa de um biscoito da sorte. Por algum motivo ele sempre sorria quando se lembrava desse detalhe.

—Até amanhã! -Louie colocou a mochila no ombro enquanto se despedia de seus colegas de classe, mas foi interrompido antes que pudesse sair da sala.

Uma garota de cabelos loiros e olhos azuis parou ao seu lado. Alice, a representante de classe.

—Louie, posso falar com você um minuto?

—Sim, o que foi?

—Ah, não é nada sério. É aniversário meu e da Elise no sábado, queria saber se você pode ir?

Recentemente Louie havia começado a conversar mais com as pessoas de sua turma. Já que antes ele só ficava quieto no canto, ser convidado para uma festa era um grande avanço.

—Posso sim! -Respondeu entusiasmado, sem pensar muito.

—O que vocês estão fazendo? -Christopher colocou o braço ao redor do pescoço de Louie.

—Que susto Chris! E você é pesado, não se pendure em mim! -Reclamou, mesmo sabendo que o outro não iria parar de fazer aquilo.

—Vocês são mesmo bons amigos! -Alice riu. -Aproveitando que você está aqui Christopher, aqui está seu convite, Louie já me disse que vai, e você?

—É aniversário de vocês duas? Vou sim!

—Então eu e minha irmã contamos com a presença de vocês!

Os três se despediram e os dois garotos seguiram seu caminho. Louie começou a imaginar em como essa situação teria sido se ele e Christopher ainda fossem apenas amigos.

Provavelmente teria de aguentar Christopher dizendo o quanto achava Alice bonita e que gostaria de ter uma chance com ela. Louie nunca se incomodou com esses comentários antes, mas pensar nesse tipo de situação agora era uma espécie de tortura.

—Está fazendo uma cara estranha, o que foi? -Christopher cutucou a bochecha de Louie.

—Nada de mais, é só que você nunca mais falou sobre nenhuma garota que queria pegar.

—Mas é claro que não! Como se eu fosse ficar dizendo essas coisas pro meu namorado! -Suspirou profundamente. -Às vezes você fala cada coisa Louie...

—Você entendeu errado... eu quis dizer que... eu fico feliz que você nunca mais falou sobre essas coisas, porque significa que... -Não chegou a terminar a frase.

—Que eu gosto mesmo de você? Mas eu digo isso sempre! Você pelo contrário só me disse isso uma única vez, e tinha um talvez na frase. -Fez bico.

Essas palavras acertaram Louie como um tiro, ele não tinha a mesma facilidade que Christopher para expressar seus sentimentos, de pôr suas emoções em palavras.  Ele era um pouco melhor com ações, mas ainda sim, as únicas coisas que ele era capaz de fazer sem problema era beijar e dar as mãos.

—Chris, desculpe... eu... eu...

—É brincadeira, brincadeira... sei que esse tipo de coisa ainda é difícil pra você! Pode fazer as coisas no seu ritmo! -Sorriu. -Eu to com uma fome... o que acha de pararmos pra comer um hambúrguer?

Mesmo que Christopher realmente não se importasse por ele ser ruim com demonstrações de afeto, Louie ainda se sentia meio mal com isso, então começou a pensar no que poderia fazer para compensá-lo, e logo teve uma ideia que combinava com a situação.

Ele caminhou até ficar na frente de Christopher, pós as mãos em seus ombros e disse alegremente:

—Chris, por favor, me deixe alimentá-lo!

—A-alimentar!?

—Quer dizer... cozinhar pra você!

Por mais confuso que estivesse pela forma como Louie formulou a frase inicialmente, Christopher estava curioso para saber o que ele prepararia, então consentiu com a cabeça.

Momentos depois os dois estavam no mercado mais próximo. Louie cantarolava enquanto escolhia os ingredientes, cozinhar era uma das poucas coisas que o empolgava de verdade. Christopher observava em silêncio como ele ficava mais bonito quando estava animado.

Com a compras feitas, eles foram para a casa de Louie, onde teriam algumas horas sozinhos antes que alguém aparecesse. Louie foi direto trabalhar na cozinha e encorajou Christopher a relaxar, assistir TV ou tirar uma soneca, e que tudo estaria pronto quando acordasse, mas ele se recusou. Christopher se sentou à bancada da cozinha, queria ver Louie fazendo sua "mágica".

Quando o jovem chefe terminou, ele orgulhosamente levou os pratos até a mesa: lasanha a parisiense, frango ao molho parmesão, uma salada de tomates cereja e um minibolo de chocolate para cada um deles. Assim que ele finalmente se sentou, na frente de Christopher, ficou um pouco constrangido, achando que talvez tivesse cozinhado coisas demais.

—Eu acho que exagerei um pouco...

—Absurdo! -Christopher gargalhou. —Uma refeição quente e um tempo com você, eu não poderia querer mais nada.

Louie sorriu. Ele havia colocado todo seu coração e alma naquela comida para impressionar Christopher. Um gesto provavelmente romântico?

—Tudo bem, hora de comer!

Christopher pegou o garfo mas então parou antes de perfurar o frango. Louie ficou tenso.

—Não posso fazer isso como um selvagem, você cozinhou tudo especialmente pra mim, preciso ser adequado a isso!

Depois de uma primeira mordida cavalheiresca e completamente fora de seu personagem, Christopher apenas continuou comendo sem dizer nada, deixando Louie cada vez mais ansioso. Assim que o prato ficou vazio, Christopher bebeu um pouco de água, se levantou, foi até Louie, que estava confuso com sua reação, e se ajoelhou:

—Mestre Louie, por favor me conceda uma segunda porção! -Pediu dramaticamente. -Nunca experimentei tal sabor antes!

—Ch-Chris, o que você está fazendo? -Riu timidamente.

Puxando-o para fora da cadeira, Christopher passou os braços ao redor da cintura dele.

—É a melhor coisa que já comi! Acho que me apaixonei por você outra vez!.

Feliz por ter recebido tal elogio, Louie o segurou de volta. Ele não se importava de cozinhar sempre que Christopher quisesse, na verdade tinha muitas receitas que queria experimentar.

Eles ainda estavam se abraçando quando Christopher girou e levou Louie até o sofá, o fazendo tombar e cair de costas nas almofadas.

—C-Chris, eu ainda não comi. -Disse um tanto receoso.

Porém Christopher o ignorou e aproveitou o momento para beija-lo. Mas diferente de antes quando eram apenas beijinhos e toques incertos, esse transbordava de paixão. Louie não sabia o que pensar, exceto que essa era a primeira vez em semanas em que ele não estava confuso sobre seus sentimentos por Christopher.

—Louie... -Sussurrou em seu ouvido após o beijo.

—Você realmente gostou da comida hein? -Provocou.

—Não é apenas isso, eu realmente gosto de estar com você...

—Eu me sinto da mesma forma... eu... eu... -Louie decidiu fazer um pouco mais de esforço e finalmente dizer aquilo, finalmente estava pronto. -Chris, eu amo você.

Christopher ficou parado encarando Louie por alguns segundos, completamente surpreso, até que deitou a cabeça em seu peito e o abraçou com força.

—Cara, você é tão fofo que eu tenho vontade de te apertar! É claro que eu amo você também!

Louie ficou vermelho das bochechas até a ponta das orelhas, um: por ter sido chamado de fofo e dois: acho que não preciso dizer o porquê.

Depois de ficarem parados daquele jeito por mais algum tempo, Christopher se levantou e subsequentemente Louie se sentou também.

—Louie... eu estive pensando... -Seu olhar estava sério. -Você não precisa se não quiser, mas... acho que deveríamos...

—Deveríamos?

—Não é nada, deixa pra lá. Provavelmente isso seria um pouco demais no momento. -Christopher deu um salto e pegou suas coisas, se preparando para ir embora. -É melhor eu ir antes que seu pai chegue, te vejo amanhã.

—Espere! Christopher! Christopher! Volte aqui! -Gritou atrás dele, mas em vão, a porta já havia se fechado.

"Um pouco demais no momento"? O que será que ele queria? Se perguntou enquanto voltava para mesa de jantar.