Emerald Heart escrita por SeoLunz


Capítulo 3
III - The Necromancer




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/802761/chapter/3

 

Os risos acalorados adentraram os ouvidos de Chanyeol junto do cheiro de carne assada. Ele conseguia sentir o calor do fogo roçar sobre sua pele e uma leve luminosidade entrar por baixo das pálpebras. Devagar, o feiticeiro abriu seus olhos e, diante dele, um homem estava sentado e impedia que a luz das chamas chegasse até seu rosto e atrapalhassem seu sono.

Quando Park fez menção de sair da proteção dos cobertores, dois pares de mãos seguraram seus ombros e o impulsionaram para baixo. Seus orbes fixaram-se no olhar preocupado de Jongin, acompanhado de um sorriso fraco de alívio. Os dedos compridos do príncipe afagaram as bochechas de seu hyung. Park moveu o rosto para ter mais contato com a palma áspera e quente do namorado.

— Você continua vivo — exprimiu Chanyeol com satisfação.

Jongin pressionou seus lábios com suavidade sobre os dele e sorriu.

— E você também. Tem ideia de como foi arriscado vir atrás de mim?

— Eu senti que alguma coisa poderia dar errado e tive que vir. — Ele respondeu sem desviar o olhar das feições do namorado. — Eu amo você demais para permitir que morra quando posso te ajudar. 

— Também amo você, mas me deixou preocupado. Quando seu amigo expli-

— Baekhyun hyung! — exclamou Chanyeol, interrompendo o namorado.

Ele fez força para que pudesse se levantar. O cenho franzido em feições de dor foi suficiente para que o príncipe herdeiro o ajudasse. Quando estava posicionado, Chanyeol mirou todo o acampamento que havia surgido ao redor. Não haviam barracas, apenas alguns sacos de dormir próximos da fogueira. Uma tênue linha etérea circundava o local num círculo perfeito — um encantamento de proteção para que não fossem perturbados durante a noite. Ao redor da fogueira, três figuras se divertiam com piadas enquanto algo cozinhava.

— Estou aqui, maninho.

O feiticeiro de cabelos rosados acenou para ele do outro lado das chamas. Jongin ajudou com que o namorado ficasse em pé e, com uma das mãos ao redor de sua cintura, ajudou-o a se aproximar das chamas.

— Olá — disseram os dois estranhos em uníssono com sorrisos tão grandes que seus olhos desapareceram.

— Oi.

Foi tudo o que Park disse.

— Este aqui é Kim Minseok, um amigo de infância e excelente arqueiro. — Apontou Jongin próximo à orelha de Park. — E o outro é meu irmão mais novo, Kim Jongdae.

O aprendiz de feiticeiro analisou os dois companheiros do amante com atenção. Minseok tinha cabelos tão escuros quanto a noite e era muito bonito, mas assim como Baekhyun, sua aparência era mais agradável e inocente — como se olhasse para um pequeno anjo —, mas os orbes pretos que brilhavam intensamente com o laranja do fogo, eram sombrios e carregavam um conhecimento velado que dava a impressão de que o rapaz conhecia seus segredos mais profundos.

O irmão de Jongin, entretanto, trazia a beleza da família real, contudo, a única semelhança que o aprendiz de mágico via entre ele e seu namorado, era o cabelo castanho e os traços bem definidos e equilibrados — ainda que em Jongdae fossem mais fortes, principalmente na mandíbula. Diferente do príncipe herdeiro, o irmão tinha uma beleza mais harmônica e transmitia carisma, um sorriso fácil parecia sempre brincar em seus lábios. Em Jongin, entretanto, suas feições e, particularmente, o olhar, pareciam despertar as chamas do desejo em quem quer que o encarasse.

— Então, você é o “ele é perfeito, não posso viver sem ele” que tanto ouvimos falar — comentou Minseok com a curiosidade brincando em seu olhar. 

— Não se esqueça do “é com ele que quero passar o resto da minha vida” — complementou Jongdae segurando o riso.

Auxiliado pelas chamas, Chanyeol sentiu a ponta das orelhas queimarem e Jongin ruborizava aos poucos, enquanto mirava o amigo e o irmão com uma fúria evidente. Byun não suportou segurar mais tempo e acabou rindo, seus olhos encontraram-se com o de Park e o mais novo viu o brilho malicioso em suas janelas escuras junto de um sorriso ladino.

— Não precisa ficar envergonhado, Sua Alteza-

— Baekhyun. — Interrompeu Park com um aviso.

— Meu irmãozinho sempre me disse... como eram mesmo as palavras... — O feiticeiro de cabelos rosa levou os dedos ao queixo e franziu o cenho como se estivesse se esforçando para lembrar de algo. — Ah, me lembrei: “ele tem o olhar mais bonito que já vi, tão sedutor que me dá vontade de montar nele”.

Chanyeol sentiu o rosto arder em chamas e se tornou incapaz de olhar para o namorado ou para qualquer outro ali presente. O trio de piadistas ria, mas nem o príncipe, nem Chanyeol acharam aquela exposição divertida. Jongin passou o braço sobre os ombros do mais velho e trouxe-o para si, debruçando-se sobre ele como que para protegê-lo. Os risos foram parando aos poucos ao notarem que não tinha sido tão engraçado — o aprendiz mais novo não se importava com o humor ácido de seu hyung quando estavam sozinhos, mas era diferente ser exposto dessa forma quando haviam mais pessoas envolvidas.

— Sinto muito, Channie.

— Nos desculpe — disse Minseok. — Fazemos as mesmas brincadeiras com Jongin, mas desta vez passamos dos limites.

— Podem apostar que sim! — exclamou o príncipe inteiramente irritado.

Jongdae pigarreou atraindo o olhar de todos, contudo mirava fixamente o irmão.

— Não faríamos qualquer coisa para desrespeitá-lo ou trataríamos a relação de vocês com indiligência. — Eles se fitaram por alguns minutos como se conversassem por telepatia. — Temos ciência de como ele é importante para você, nos perdoem por passarmos do limite desta vez.

Jongdae encarou Chanyeol com um sorriso sereno e fez uma leve mesura para se desculpar — Minseok seguiu o mesmo exemplo e Byun, que era mais orgulhoso, limitou-se apenas a murmurar um pedido de desculpas para o príncipe, ele trataria de recompensar Chanyeol de algum modo mais tarde.

— É melhor descansarmos, o sol não espera ninguém — sugeriu o arqueiro mirando as estrelas.

Não houveram protestos. Logo mais, todos estavam se acomodando em seus leitos improvisados e se deixando embalar pela canção de ninar entoado pela brisa noturna e o crepitar das chamas. Jongin havia dado um jeito de se enfiar no saco de dormir com Chanyeol, trazendo para mais perto de si. O feiticeiro estava mais que satisfeito em estar próximo do namorado e o príncipe não podia estar se sentindo melhor.

— Você falou sobre ‘nós’ com seus amigos? — perguntou Park num murmúrio sonolento.

— Hm — respondeu Jongin dando-lhe um beijo na testa. — E com meus pais também.

O feiticeiro abriu os olhos e encarou as feições tranquilas do companheiro, analisando o movimento calmo atrás das pálpebras, os cílios longos e a linha perfeita do nariz até chegar em seus lábios que o presenteavam com um sorriso calmo.

— E como eles reagiram quando disse que... quando disse que estava namorando outro homem?

O príncipe fitou o namorado e o apertou mais contra seu peito. Chanyeol conseguia ouvir o bater tranquilo do coração de Jongin, o calor aconchegante de sua pele e o cheiro amadeirado que exalava de sua pele.

— Se sobrevivermos a essa viagem, contarei a você.

— Mas-

— Shiu. — O filho do rei deu um selar singelo no parceiro, interrompendo-o. — Durma um pouco, meu amor, falaremos sobre isso quando for a hora.

Mesmo em protesto, Chanyeol não conseguiu lutar contra o sono e logo adormeceu sobre o peito de Jongin. O príncipe, entretanto, teimou a adormecer. Seus olhos encaravam o céu noturno, decorando as estrelas e sentindo a respiração tranquila do Park Chanyeol contra sua pele. Antes de se render ao sono, tudo o que conseguia pensar era no que o futuro reservava caso as coisas não saíssem como planejado.

...

Chanyeol não se lembrava de ter pegado no sono até a luz da manhã bateu em seu rosto. O aprendiz de feiticeiro se aconchegou ainda mais no abraço de Jongin, relutante em despertar para a jornada perigosa que se seguiria assim que abrisse os olhos. Ele preferiria continuar ali, dormindo e fingindo que tudo não passava de um pesadelo prestes a acabar, percebendo que havia estado com o namorado durante todo esse tempo; apenas um sonho ruim. Mas não teve outra, não demorou para que os demais acordassem e fizessem com que todos abrissem os olhos para receber o amanhã.

O moreno não era do tipo que fazia birra, mas teimou em sair dos braços do príncipe herdeiro que o apertou mais em seu abraço, enquanto os outros preparavam o café da manhã. Pelas vozes animadas, Chanyeol percebeu que o trio se dava muito bem, principalmente Minseok e Baekhyun — pela fina linha debaixo das pálpebras, Chanyeol pode perceber os olhares de Minseok sobre seu amigo e como Byun corava quando os percebia. Ótimo, é a minha vez de fazer piadas, pensou ele abrindo um sorriso mínimo, me aguarde, Byun Baekhyun.

— Vocês encontraram mais alguém vivo? — Jongdae perguntou amarrando os cobertores uns nos outros para facilitar a viagem.

Park e Byun se entreolharam, receosos. Eles não queriam ser portadores de más notícias e tentaram evitar o assunto o máximo que conseguiram na noite anterior. O feiticeiro de cabelos rosas pigarreou:

— Nós encontramos o restante da sua excursão, mas eles não estavam vivos.

— Onde os viram? — Minseok agarrou os ombros de Baekhyun, os olhos arregalados.

— Logo-

— Não temos tempo para isso. — Jongin interrompeu Byun. O arqueiro encarou o príncipe com raiva e surpresa. — Precisamos avançar.

— São nossos amigos, temos que enterrá-los.

Jongdae se colocou entre os dois para apaziguar os ânimos. Chanyeol teve a sensação de que o mais novo dos irmãos era quem geralmente apartava as brigas e mediava as discussões para que não se excedessem, devido sua natureza aparentemente calma.

— Se acalmem. Nini, não fique zangado com isso. Minseok cresceu com vários deles, são amigos íntimos, quase irmãos — disse Jongdae com um sorriso e virou-se para o arqueiro. — Meu amigo, eu sinto muito, mas temos de seguir. Pode ser cruel da minha parte, porém não acho que tenha sobrado muito para prosseguirmos com um ritual de sepultamento.

Nenhuma palavra foi proferida após o confronto. No ar era possível perceber a estranha energia que tinha se abatido sobre o grupo, levando os dois aprendizes de feiticeiro que não era comum que houvesse desentendimentos entre os três.

Eles seguiram por uma trilha que surgiu entre as árvores. Ao norte, era possível ver o contorno cinzento das Colinas do Desespero; um lugar deprimente por mais que o sol iluminasse o interior da floresta e as árvores revelassem belas colorações. Qualquer um que viesse a Floresta das Trevas pelo lado externo, não imaginaria a enorme riqueza que ela guardava — o moreno mesmo não fazia ideia.

Jongdae guiava o grupo com determinação. O fogo da coragem queimava no interior de seus olhos e os pés não hesitavam — mesmo que Jongin implorasse para que fosse com mais cuidado. Ele sempre se preocupava com o irmão e o vigiava quando possível, mesmo que seu olhar fosse direcionado para o namorado caminhando ao seu lado, a mão na cintura para ajudá-lo se tropeçasse, sua atenção estaria focada em todos do grupo — um instinto protetor que poucos conheciam.

— Acho que nunca mencionei que tinha um irmão — comentou Jongin à medida que avançavam.

Chanyeol olhou para ele, mas nada disse. Embora se conhecessem e estivessem juntos a um bom tempo, era notável que jamais tenham mencionado suas próprias famílias um para o outro e percebeu que a única coisa que sabia era sobre sua ligação com o rei.

— Não chegamos a conversar muito sobre nossas vidas quando nos encontramos.

— Isso é preocupante, não é?

— Sim, me faz pensar que futuro teremos juntos sem saber nada um do outro — respondeu o feiticeiro dando o assunto por encerrado.

Jongin observou de esguelha o semblante magoado de Chanyeol se aprofundar. Ele não negava a ninguém quando perguntado sobre seus relacionamentos e sempre dizia que tinha alguém especial com quem sonhava em se casar e ter uma família — ainda que esse último fosse impossível. O príncipe havia doado seu coração para ele quando se conheceram na floresta, havia sentido uma conexão quando o moreno o abraçou sem mais nem menos. O herdeiro do trono entrelaçou os próprios dedos nos de Chanyeol e sorriu para ele, inclinando levemente a cabeça.

— Já acho maravilhoso tudo o que sei sobre você e apenas estes pequenos detalhes são suficientes para fazerem crescer a vontade de te conhecer ainda mais. — Jongin dominava as palavras como alguém em sua posição e status deveriam, porém, o moreno conseguiu notar a sinceridade em cada tom, sendo o suficiente para fazê-lo acreditar que ele usaria tudo ao seu alcance para que continuassem unidos.

Logo atrás do grupo, vinham Minseok e Baekhyun. O arqueiro estava compenetrado na conversa com o pequeno anjo de cabelos rosados, todavia permanecia atento ao que acontecia nas redondezas. Ele tinha plena consciência dos pequenos coelhos escondidos entre os arbustos e dos abutres que, vez ou outra, circundavam o céu. Mas o que mais o incomodava eram os vários de pares de olhos amarelos que os vigiavam, escondidos no meio das folhas escuras. Minseok fez uma anotação mental de quais animais poderiam ser, contudo, dada a leveza dos passos, da quantidade de orbes brilhantes que seguiam seus passos e do número de animais, temeu que fosse uma matilha de lobos.

— Algum problema, Minseok?

— Shiu — respondeu o arqueiro, levando um dedo aos lábios. — Vamos ser emboscados.

— Como é-

Ele não deixou que Baekhyun terminasse, agarrou a mão do rapaz e apertou o passo para junto de Jongin e Chanyeol que estranharam a aproximação repentina.

— Estão nos seguindo desde que saímos do acampamento — avisou Minseok sem mencionar os lobos. — Nos cercaram pelos lados e não ficaria surpreso se houvesse um grupo atrás também. 

— Por que ainda não-

A pergunta de Jongin foi cortada pelo som de vários galhos se partindo. O grupo de lobos, ainda ocultos nas árvores, avançaram para o caminho mais adiante, preparados para atacar o membro desavisado do grupo que continuava a caminhar. O príncipe arregalou os olhos quando percebeu as duas feras grandes demais para serem lobos comuns, cercaram o irmão, prontos para saltarem sobre ele. Chanyeol e Baekhyun não ficaram parados diante a incapacidade do grupo, eles ergueram suas varinhas e sibilaram um feitiço simples; uma palavra corriqueira. 

Como se puxado por cordas amarradas em cavalos, Jongdae foi puxado com tudo para trás no instante em que as duas feras saltaram para pegá-lo, encontrando-se no ar. O irmão mais novo de Jongin caiu no meio do grupo, sendo segurado por Minseok e Jongin para que não se estatelasse no chão. Os dois lobos se recuperaram rapidamente e avançaram sobre eles, Jongin já estava com espada em mãos e foram cortados em pleno ar com extrema maestria.

Um uivo alto preencheu o ambiente próximo a eles. Eles começaram a correr, sendo seguidos pelos lobos. Os animais eram espertos — mais que os lobos comuns Minseok percebeu — era possível sentir as passadas pesadas dos animais sobre à terra, cercando-os nos flancos e por trás como um “U” e os direcionando para a frente. O arqueiro estranhou, imaginando que pudesse haver um desfiladeiro mais adiante, mas não seria possível.

As Colinas do Desespero aproximavam-se à medida que avançavam em sua direção. Alguns lobos tentaram saltar sobre eles, mas eram repelidos por projéteis de energia lançadas pelos mágicos ou alvejados pelas flechas certeiras de Minseok. Um deles se jogou para cima de Jongdae, porém teve uma das patas traseiras feridas por sua rapieira numa estocada rápida e limpa; Jongin tentava afastar os animais que se arremessavam a sua frente com a espada.

Quando chegam a base de seu destino que só agora notaram que “Colinas” era apenas um nome, pois se tratava de uma montanha. Um grupo de quatro lobos estava esperando por eles, o maior dos animais no centro — o alfa da alcateia. Eles se posicionaram de costas uns para os outros, suas respectivas armas apontadas para os animais que os cercavam. Um brilho intenso se originou da varinha de Chanyeol quando entoou um encantamento; um círculo de chamas surgiu ao redor deles para afastar os animais. Os joelhos do feiticeiro se dobraram, ainda não havia entendido que encantamentos elementais minavam muito de sua energia. 

— São Lobos do Advento — explicou Baekhyun, se ajoelhando ao lado do amigo. — Channie, usar um encantamento elemental foi impensado, os Lobos do Advento são imunes a eles.

O alfa atravessou calmamente a barreira de fogo como que para provar as palavras de Byun.

— E só agora me avisa. — Chanyeol reclamou.

— Não precisaria dizer se prestasse atenção nas aulas de Magizoologia.

Os lobos armaram o ataque. O líder do bando, junto dos outros três que estavam com ele, avançaram sobre Jongin que, sem perder tempo e deixando o temor de lado, se jogou sobre eles. Os demais animais circundaram os quatro membros restantes, ameaçando avançar, contudo, seus olhares estavam sobre os mágicos. Jongdae tentava estocá-los com sua arma, enquanto Minseok disparava suas flechas sem sucesso, pois, quando sentiam que iriam ser atacados, saltava para fora do círculo de fogo e surgiam em um local diferente. 

O príncipe herdeiro não estava tendo muita sorte lutando sozinho com os outros lobos. O alfa comandava os ataques dos outros membros da matilha, enquanto permanecia rondando para encontrar alguma brecha nas defesas de Jongin. Quando o primeiro lobo atacou, ele foi rápido o suficiente para contra-atacar e matar o animal, no entanto, o alfa percebeu a abertura em suas defesas e o atacou pelas costas, cravando seus dentes na perna do príncipe. As outras duas feras que haviam restado avançaram sobre o príncipe também que viu seu fim refletido nos olhos das criaturas.

Ele fechou os olhos com força e esperou por seu fim, ouvindo os berros cada vez mais distantes de Chanyeol. Contudo, a morte não o abraçou naquele instante. Quando se atreveu a encarar os animais, eles estavam parados no ar, congelados, e em seguida foram arremessados para longe. O mesmo aconteceu com o líder da matilha e os outros animais — sempre que tentavam atacar seus alvos, alguma coisa os impedia e eram repelidos, sendo jogados nas mais diversas direções sem qualquer compaixão. Foi apenas nesse momento que Jongin percebeu o intenso brilho verde-esmeralda atrás de si.

Encoberto pela forte luminosidade, uma figura de vestes pretas e cinzas caminhava com toda a calma do mundo. O lobo alfa colocou-se de frente a ele, forçando-o a parar. Durante alguns instantes, o grupo teve a impressão de que tinham um debate mental, mas com um movimento da mão, o lobo voou como se não pesasse mais que uma pena. Machucado e com o orgulho ferido, um uivo cruzou o ar e os demais lobos correram junto de seu líder para dentro da floresta. O brilho cessou quase que imediatamente, permitindo que suas feições fossem vistas.

Nenhum dos presentes poderia negar que o homem misterioso era bonito, ainda que uma aura de crueldade invisível aos olhos o circundasse, sua pele era tão pálida e parecia ter a textura de um pergaminho antigo, o nariz aquilino se projetava numa leve curva charmosa; os olhos eram caídos e levemente pintados com sombra preta, dando a impressão de alguém que sempre estava entediado com tudo; seu olhar era afiado e atento como o de uma águia. Mas ainda que fosse um dos seres mais belos que tinham encontrado, era de consenso que ele seria ainda mais bonito sem a horrível cicatriz que cruzava seu rosto do canto superior do lábio esquerdo até a orelha.

— Ora, ora, ora. — Sua voz era melodiosa e calma demais para a aura que o cercava. Ele encarou o pequeno grupo com indiferença, como se fossem tão ameaçadores quanto um grão de areia. — O que fizeram para irritarem meus lobos?

O olhar de Minseok se encontrou com o de Baekhyun. O arqueiro preparava uma flecha com toda a discrição e o feiticeiro de cabelos rosas segurava a varinha, pronto para atacar. Jongin olhou para o irmão e depois para Chanyeol, foi um contato simples, mas eles entenderam que deveriam ganhar tempo e distraí-lo.

— Não sabíamos que eram seus lobos. — Jongdae deu seu melhor sorriso — Eles não pareceram domesticados.

A figura desconhecida fitou-o com um olhar carregado de desprezo. Seus orbes amarelados moveram-se sobre cada um deles, uma ameaça velada brilhava em sua íris.

— Quem é você? — perguntou Chanyeol.

Para o moreno não havia dúvidas de que ele era o necromante. Ele não deu importância para o questionamento do feiticeiro e fixou os olhos no horizonte distante.

— É cortês se apresentar antes, Sr. Park. — Chanyeol arregalou os olhos surpreso por ele saber seu nome. — Eu sou Huang Zitao, o necromante que os reinos sabiamente temem.

Sua confirmação foi o necessário para os enviados do rei agissem. Minseok disparou uma flecha mirando a cabeça do necromante, enquanto Jongin e Jongdae avançaram pelos flancos. Zitao não demonstrou qualquer reação ao ataque, os olhos vidrados na luz azulada emitida pela varinha de Baekhyun. Os príncipes foram arremessados quando se aproximaram dele a partir de uma onda invisível que os impulsionou para trás. Os joelhos de Minseok e Baekhyun dobraram-se como se puxados por um gancho e suas mãos se moveram automaticamente para trás, sendo algemados pela magia translúcida de Huang. Park notou que tudo o que ele precisou para fazer aquilo foi mover um dedo.

— Talvez eu deveria tê-los aconselhado a não serem hostis. — disse olhando para o horizonte. — Será meu primeiro passo quando receber visitantes novamente.

Chanyeol avançou sobre o corpo caído de Jongin e o ajudou a se sentar. O príncipe lançou um olhar mortal para o necromante, mas este não demonstrou qualquer afeição para com o herdeiro dos Kim. Park segurou sua varinha e apontou para a ameaça, a luz esmeralda atraindo a atenção de Tao que o encarou com certa curiosidade. O necromante abriu a palma da mão e o instrumento mágico de Yeol se apodreceu e transformou-se em areia, a esmeralda voou para a mão de Zitao que a analisou, curioso.

Park encarou os minúsculos grãos de areia caindo por entre os dedos com lágrimas nos olhos. Sua primeira varinha, ainda que não tivesse passado muito tempo com ela, foi-se tão fácil quanto uma duna. Ele encarou o bruxo em meio às lágrimas, sentindo o calor e a pressão do braço de Jongin em sua cintura.

— Você não tinha esse direito — vociferou Chanyeol.

— Não me encare desta forma. Bruxos não usam varinhas, elas limitam seus poderes.

— Eu sou um feiticeiro.

— Um estudante de magia que entende tão pouco de sua verdadeira natureza tende a se decepcionar com facilidade, sabe disso, não é? Você é tocado pela magia, Park Chanyeol, não é um mero feiticeiro. — Huang Zitao demonstrava ser um homem mais calmo do que as histórias diziam, mas a aura densa que o rodeava podia ser um indicativo de que sua real natureza não fosse tão tranquila. — Não importa, na realidade, não está em minhas mãos controlar o que vocês acreditam. Mas algo me incomoda, pois, as estrelas revelaram muito pouco sobre o dia de hoje. O que os soldados do reino de Goguryeo fazem em meus domínios?

Jongdae se levantou com esforço e isso atraiu a atenção do necromante. O jovem príncipe caminhou até ele desarmado, sabendo que não adiantaria lutar com ele utilizando de força bruta. Chanyeol achava que Jongin era ameaçador, mas a determinação de Jongdae e o ódio velado em seu olhar, eram suficientes para amedrontar qualquer um. 

O semblante pacifista e tranquilizador já não existia mais, sendo substituído pelo de um homem adulto, o que se esperava do governante de um reino. Jongin seguiu o mesmo exemplo, mesmo através dos protestos do namorado. Ambos os irmãos estavam diante de Zitao.

— Somos filhos de Kim Junmyeon. — Jongdae iniciou as apresentações. — Meu nome é Kim Jongdae, este é meu irmão mais velho, Kim Jongin. 

— Nosso pai nos mandou aqui para encontrarmos o Coração das Esmeraldas.

O necromante demonstrou uma reação verdadeira pela primeira vez. Seus olhos amarelos vagaram de um para o outro. Ele se afastou alguns passos, a mão sobre o queixo pensando seriamente sobre algo. Huang murmurava consigo mesmo, tão baixo que não era possível entender nada. Chanyeol fez menção de levantar-se e ir até o namorado, mas um único olhar dele foi suficiente para deixá-lo petrificado. Conseguia ver refletido em seus olhos a preocupação consigo e o medo que sentia de acontecer alguma coisa; um pedido para que não se aproximasse.

Zitao se virou para encará-los, o semblante mais suavizado.

— Vocês se parecem com seu pai, espero que apenas na aparência. — Mas o nariz é de sua mãe, disso não tenho dúvidas.

Jongin franziu o cenho e olhou para o irmão.

— Conhece nossa mãe?

— Claro, Kim Mei Lan — respondeu o necromante com um sorriso. — Antes era conhecida como Huang Mei Lan, minha irmã.

Devido às expressões de choque no rosto de todos os membros, ninguém esperava por uma revelação como aquela, principalmente Jongin e Jongdae; era praticamente inconcebível devido à criação e as histórias que cresceram ouvindo, cogitarem ter alguma ligação com o temível necromante que vivia naquelas terras.

Os olhos de Chanyeol encontraram-se com os de Baekhyun — ainda preso pela magia do necromante — e estavam surpresos. Desde que iniciaram seus estudos em magia tinham aprendido que, na maioria das vezes, aqueles que nasciam em famílias cujos os ancestrais foram bruxos, eram dotados por dons muitas vezes inexplicados e tinham aptidão para se desenvolverem como magistas poderosos. Mas quando olhavam para os irmãos, não conseguiam identificar qualquer resquício de habilidades místicas.

Minseok permaneceu parado. Como sempre, sua atenção estava voltada para os acontecimentos à sua frente, imaginando o nível de veracidade das palavras de Zitao, mas não podia ignorar o que acontecia nos entornos. O arqueiro temia que os lobos retornassem e, pelo que sabia dos Lobos do Advento, as matilhas eram gigantescas.

— Nós somos parentes?

O necromante ergueu uma sobrancelha ao questionamento de Jongin e, considerando a fama que possuía nos reinos, chegava a ser compreensível. Mas não pode evitar que algo a mais se quebrasse em seu interior ao descobrir que sua irmã nunca falou sobre suas origens ou, possivelmente, qualquer pessoa do clã.

— Sim, vocês são meus sobrinhos — respondeu com indiferença. — Não me surpreende que Junmyeon tenha optado por deixar suas reais origens nas sombras. Na última vez que nos vimos, ele me deu esta cicatriz. Maldita seja a espada que ele carrega.

— Mas a mamãe-

— Odeia o que nossa família representa. — Huang interrompeu Jongdae. — A pequena Mei Lan é uma pessoa doce, mas odeia qualquer assunto relacionado a mim ou está floresta. Não pensou duas vezes em me abandonar aqui quando o pai de vocês a pediu em casamento.

Huang encarava o horizonte sem realmente enxergá-lo; os demais viam apenas a indiferença a tudo que o cercava, o semblante altivo como se fosse superior a tudo que estava diante de seus olhos. Embora não enxergasse nada, ninguém poderia dizer que não estava vendo algo — mágicos viajam constantemente através de suas próprias memórias, principalmente aqueles que foram amaldiçoados com um fardo pesado demais. Ao longe, o uivo dos lobos elevou-se da floresta espantando os pássaros.

— Vamos para minha casa. — Com um estalo dos dedos, os nós invisíveis que prendiam Byun e Minseok se soltaram, permitindo sua movimentação. Zitao começou a subir a montanha sem esperar que o acompanhassem. — Lobos do Advento são demasiadamente temperamentais, talvez eu deva mesmo domesticá-los.

Huang Zitao morava em uma casa enorme quase no topo da montanha — idêntica a uma casa de campo. Chanyeol sentia uma familiaridade inquietante com a mansão de seu mestre, contudo, era mais aconchegante. Seus olhos repousaram na lareira com o fogo baixo e passaram pelos assentos dispostos um em frente ao outro, entre eles, uma mesa em ébano sobre a qual havia alguns livros antigos. No canto direito, uma escada levava para o segundo andar, acompanhada por algumas pinturas envelhecidas — o aprendiz de feiticeiro imaginava que eram membros de cada geração da família Huang.

O necromante deixou seu manto de lado e se sentou em uma poltrona que dava de frente para a lareira, cansado; os olhos amarelados ganhando um tom dourado ao encararem as chamas e a horrenda cicatriz iluminando-se num tom levemente alaranjado. Park percebeu que a aura ameaçadora que acompanhava o bruxo desvaneceu-se como pó, transmutando-se numa energia mais branda, porém ainda mantinha uma força descomunal — duvidava que até mesmo Kyungsoo tivesse um campo áurico mais poderoso.

— Por favor, sentem-se, não lhes farei mal algum. Gostariam de um pouco de chá? — Ele estalou os dedos e um barulho das portas dos armários e gavetas de madeira se abrindo se espalhou pelo recinto; um bule branco, cinco xícaras com seus respectivos pires e um prato com biscoitos, passaram voando com uma incrível velocidade, quase atingindo a cabeça dos príncipes, e pousando sobre a mesa de centro com uma certa graciosidade.

Nenhum dos rapazes estava gostando da situação, principalmente Baekhyun. Chanyeol parecia ser o único a acreditar que Huang Zitao não era uma ameaça como todos fizeram-no acreditar. Ele cutucou Byun nas costelas e acenou com a cabeça, mas o amigo não estava disposto em ajudá-lo quanto a hesitação dos outros membros do grupo.

— Por favor, Sr. Park, não os force a fazerem nada. — Chanyeol se sobressaltou ao ouvir o necromante. — Seu amigo dentre todos aqui, tem motivos para não confiar em mim.

O moreno olhou para Baekhyun buscando alguma resposta, porém, o rosado não parava de encarar o feiticeiro — seu rosto pálido estava quase da cor de seu cabelo e mirava um olhar ferino sobre o bruxo — o moreno agradeceu aos deuses por não terem aprendido a incitar incêndios com o olhar ou Zitao estaria em chamas, dada a intensidade. 

Chanyeol levou uma das mãos aos ombros do amigo e o direcionou a um dos assentos, os demais seguiram seu exemplo, mas mantendo sempre as armas próximas do corpo. Huang parecia achar toda aquela precaução hilária, contudo, fixou-se em Baekhyun.

— Estavam sob sua responsabilidade. — Cuspiu Byun.

O moreno nunca tinha visto o amigo tão sério. Desde que o conhecia, Baek era um rapaz alegre e divertido, sempre fazendo piadas nos momentos mais inconvenientes; um sorriso malicioso cruzando o rosto perfeitamente esculpido. Mas era a primeira vez que conseguia enxergar agressividade em suas feições angelicais. Mágoa talvez?

— Sim, estavam.

— Do que estão falando? — perguntou Minseok mirando de um rosto ao outro, confuso.

Ignorando a pergunta do arqueiro, tanto Tao quanto Baek se encararam por longos minutos. No necromante, a compreensão pelos atos passados era refletida em seu semblante ressentindo, enquanto no feiticeiro de cabelos rosa, o rancor e pesar mesclavam formando uma onda assombrosa de ódio. Por fim, Baekhyun apoiou o queixo sobre as mãos unidas e encarou as labaredas, respirando fundo.

— Eu nasci na Floresta das Trevas.

Chanyeol elevou as sobrancelhas, surpreso.

Ainda que fosse muito extrovertido — mais que o normal — ele nunca havia falado sobre suas origens, entretanto, sabia que Kyungsoo o havia encontrado próximo às fronteiras da Floresta das Trevas. Mas desde que se entendia por gente, nunca imaginou que ele tinha vindo do interior da floresta, então concluiu que havia vivido em uma aldeia próximo e acabara se perdendo ou que os pais tinham morrido e não havia quem cuidasse dele, decidindo tentar a sorte em outros lugares.

— Você nunca me disse isso.

Baek encontrou o olhar do amigo e seu semblante sombrio se suavizou com um sorriso.

— Apenas nosso mestre sabe — revelou. — Antes de você vir morar conosco, nunca tocamos muito no assunto, sempre tentei evitar me lembrar daquele dia. Mas quando ele o encontrou, pedi para manter segredo.

— Por quê? 

— Ninguém confia naqueles que vivem na floresta.

O silêncio caiu sobre o ambiente como se estivesse escondido em um canto esperando para ser chamado; uma sombra que se arrastava lentamente sobre as paredes. A respiração de todos estava pesada e estavam atentos as palavras de Baekhyun, com exceção do necromante, que parecia conhecer a história do feiticeiro como ninguém.

— Não é segredo que existem vilarejos escondidos aqui dentro. — Huang tomou a frente da explicação, levando a xícara com chá fumegante aos lábios antes de continuar. — Muitos alegam terem vistos diabos andando por aqui; seres que pululam o imaginário das pessoas comuns. Então, vocês já devem imaginar que quando alguém diz ter vindo de dentro da floresta, rapidamente é mal vista e acusada de não ser humana. Várias crianças e alguns adultos que são pegos andando sozinhos pelas fronteiras, curiosos para saber como é o mundo lá fora, são mortos pela ignorância daqueles que têm medo do desconhecido.

Uma sombra escura parecia se espalhar pela sala e agarrar a todos, principalmente os soldados do reino. Chanyeol notou o desconforto de Jongin, que encarava as próprias mãos, e o irmão não estava diferente, nem Minseok. 

O feiticeiro já tinha ouvido histórias de como os cidadãos de Lamuria eram intolerantes para com tudo que fosse estranho — ainda relutavam em aceitar ajuda por meio mágicos, por isso Kyungsoo decidiu montar residência fora das muralhas da cidade. Se eram tão fechados para algo que podia auxiliá-los a melhorar como a magia, não duvidava como os supostos habitantes da Floresta das Trevas fossem tratados da pior forma possível.

— Mas qual a relação com a desconfiança que Baekhyun tem de você? — Minseok perguntou o que todos, aparentemente, estavam pensando. 

— Deixarei que o Sr. Byun responda, se for de sua vontade.

Baek encarava os nós dos dedos, desconfortável com toda aquela atenção e Park pareceu compreender que ele não estava tão disposto quanto imaginava.

— Você sabe que não precisa — disse Chanyeol. — Não tem que relembrar um evento doloroso apenas pela curiosidade dos outros.

— Eu sei... mas eu já vim até aqui, quebrei a promessa que fiz de nunca mais pisar na floresta.

— Se eu soubesse não teria deixado-

— Sabe como sou teimoso, não poderia me impedir. — Baekhyun revirou os olhos, desdenhoso, e encarou Park. — Além disso, que tipo de pessoa eu seria se deixasse meu irmãozinho entrar sozinho nesse lugar pavoroso? Não, não, eu precisava vir... tenho assuntos pendentes com meu passado e preciso resolvê-los.

— Baek... — Minseok tentou argumentar.

O anjo de cabelos rosas sorriu para ele e segurou sua mão num aperto reconfortante, um sentimento que o outro feiticeiro conhecia estava escondido no rosto do amigo quando este encarava o arqueiro. Baekhyun voltou seu olhar para o necromante que o observava com curiosidade, ainda sem soltar a mão de Minseok, começou sua história:

— Vocês que vivem do lado de fora conhecem este lugar como Floresta das Trevas e, de um certo modo, tem sentido; não tem como negar que muitos seres estranhos e perigosos habitam o local. Mas quem nasce aqui a conhece por Jardim dos Ancestrais, porque a mata se nutre do poder de nossos antepassados para que continue existindo. Eu cresci em uma aldeiazinha, assim como todos os meus ancestrais, que chamávamos de Contra Maré devido à proximidade que tínhamos com o rio local e ficávamos contra a correnteza. Contudo, os habitantes daqui não são comuns como a maioria, muitos de nós são seres considerados inexistentes como fadas, elfos, anões e uma variedade gigantesca de outras coisas; a grande maioria é inofensiva. Vejam, a miscigenação entre raças é muito comum aqui... bem, o q-que eu quero d-dizer. — Baekhyun olhava para o rosto de cada um totalmente nervoso, a mão apertando com a força a de Minseok com medo de que ele pudesse soltá-la. O feiticeiro respirou fundo. — Eu sou meio elfo e-

— Espera — interrompeu Chanyeol, completamente em choque. — Como é?

O mágico de cabelos rosados observou o amigo atentamente esperando nada além de repúdio; era dessa forma que todas as pessoas que conheceu durante a destruição de sua aldeia agiam com aqueles que não eram totalmente humanos.

— Meu pai era um elfo e minha mãe uma humana — continuou ele, atento as reações do irmão. — Sei que não tenho as características que definem a raça como a beleza e as orelhas pontudas, porém ainda sou metade elfo. Se um dia tiver de pedir asilo na floresta profunda do reino de onde meu pai veio, eles não poderiam me negar isso mesmo sendo um mestiço.

— Só que... nunca me pareceu...

Chanyeol tentava raciocinar em um momento em que a lógica não funcionava. Ele tinha apenas as palavras do irmão, contudo agora entendia o porquê de associar o semblante do rapaz com os de um pequeno anjo malévolo quando ele sorria — agora percebera que seria mais como um elfinho endiabrado.

— Sou o mesmo que sempre fui.

— É claro que você é, acha mesmo que algo assim iria me incomodar? — Park elevou as sobrancelhas, decepcionado. — Sou seu melhor amigo, seu irmão, pode confiar em mim.

— Eu sei disso, mas é-

— Desculpem interrompê-los — disse Jongin com as sobrancelhas franzidas e os ombros tensos. Seu respirar se assemelhava ao de um tigre mal-humorado. — Mas não viemos aqui para ouvir histórias sobre a Floresta das Trevas ou como queiram chamá-la.

— Jongin...

— Sinto muito, Channie, mas estamos correndo contra o tempo.

O silêncio que percorria a sala dissipou-se como vinho em contato com a água. Park abriu e fechou a boca várias vezes, mas nada saia; não tinha como rebater, por mais que estivesse interessado no restante da história do amigo.

O príncipe pareceu perceber um pouco de mágoa se esconder atrás dos olhos do amor de sua vida, mas talvez fosse melhor daquela maneira, pois ainda não havia contado sobre as conversas com seus pais, apenas sabia que seu o rei jamais permitiria que ele se casasse com o feiticeiro. “Dever para com o reino e seu povo é sua prioridade. Quando se é um rei, infelizmente, não se pode ter o que deseja”, foi o que seu pai, Kim Junmyeon havia dito quando o procurou para pedir sua benção. “Ame o feiticeiro, mas saiba que não existe futuro para vocês dois”, essas palavras ainda assombravam sua mente e geravam os piores pesadelos.

— Muito que bem — disse o necromante, descansando as mãos unidas sobre os joelhos. — Duvido que vieram até aqui apenas para conhecer seu tio. Digam-me o que desejam?

Jongin não se atreveu a olhar para Chanyeol, tentaria conversar com o namorado quando tudo estivesse resolvido. Ele fitou o irmão buscando apoio, Jongdae apenas inclinou levemente com a cabeça dando sua benção.

— Nosso pai nos mandou aqui.

Ninguém percebeu, mas o dia passava depressa. As nuvens se dissipavam e o manto negro da noite recaia sobre a terra mais uma vez — era possível ver as estrelas brilhantes ao longe, enquanto a luz do sol ia se afastando. Dentro da casa, o Zitao encarava o sobrinho com certa desconfiança, porém um brilho cômico surgiu em seus olhos e se refletiu em seu semblante num riso baixo.

— É claro que mandou, atrás do Coração das Esmeraldas — disse o necromante colocando a mão sobre o peito para acalmar o coração. — Kim Junmyeon sempre esteve interessado no poder do Coração, mas ele jamais sairá dessa terra.

— Não irá nos entregar? — perguntou Jongdae, levantando-se exasperado.

— Detesto ter que me repetir — falou em meio a um longo suspiro e olhou para o mais novo, a cicatriz esticando-se brevemente quando os músculos da face se movimentavam. — Mas é isso mesmo, não posso entregá-lo.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Sem muita coisa pra dizer hoje, tô bem cansadinho pra fazer textão. Queria agradecer de novo a @suhomyeon pela betagem maravilhosa e, na próxima segunda-feira, estarei postando o último capítulo de Emerald Heart, assim como o bestiário que será disponibilizado aqui nas notas finais. Espero que tenham curtido esse capítulo e nos vemos na próxima semana.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Emerald Heart" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.