Emerald Heart escrita por SeoLunz


Capítulo 2
II - Journey to the Emerald Heart


Notas iniciais do capítulo

Como vocês têm passaram a semana? A minha foi muito cansativa, não aguento mais essa palhaçada de aulas online, mas infelizmente não tem muito o que podemos fazer, não é mesmo?! Estava muito ansioso para dar continuidade a fanfic, porém tive que me aguentar para não postar o segundo capítulo antes da hora. Bom, sem mais enrolações, vamos a continuidade da aventura de Chanyeol e Jongin, e não se esqueçam de dar uma olhadinha nas notas finais, okay?



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Os afazeres da manhã seguiram-se normalmente como todos os dias. Depois do café, eles arrumavam a cozinha e os quartos, seguindo para a limpeza do saguão, pois era o início da semana e, depois das aulas da tarde, seu mestre recebia clientes vindos de Lamuria, a capital de Goguryeo. Mesmo assim, uma energia estranha pairava sobre o ambiente e Kyungsoo percebeu que seus ajudantes não tagarelavam pelos cotovelos como era de costume. Byun permanecia pensativo sobre a Floresta, enquanto Chanyeol pensava incessantemente sobre o Coração das Esmeraldas. Independentemente dos motivos para tamanha quietude, o feiticeiro tinha seus próprios problemas para lidar.

Kyungsoo chegou próximo das dez da manhã na mansão, completamente irritado pela noite não dormida. As bolsas pretas abaixo de seus olhos eram sinal de que não deveriam incomodá-lo e, caso tivessem sorte, seriam dispensados das aulas da tarde. Engano deles. Os estudos arcanos ocorreram normalmente, todavia, ao invés de uma aula prática como sempre faziam, tiveram uma aula teórica sobre o ofício dos feiticeiros e teriam de transcrever o código de conduta dos magistas criado pelo primeiro arcanista, Lee Young Joon. O Mestre Do sabia como torturá-los quando estava mal-humorado.

Não obstante o ar irritadiço que pairava sobre a sala de aula, os aprendizes continuavam presos em seu próprio mundinho particular, e Kyung estava se deliciando com o silêncio e a aparente concentração dos seus aprendizes que permitiu que um sorriso surgisse.

Park estava se frustrando cada vez mais, pois alguma coisa dentro de seu coração dizia que Jongin estava em perigo. O aprendiz soltou a pena e levantou a mão. Kyung pode sentir que a pergunta do rapaz não seria sobre o tema proposto e o ignorou, mas por rabo de olho, ele viu que continuava com o braço erguido. Num suspiro lânguido que exalava cólera, ele perguntou:

— O que foi?

— O que o senhor sabe sobre o Coração das Esmeraldas?

O feiticeiro piscou os olhos algumas vezes pensando ter ouvido errado, todavia se recompôs em questão de instantes. Ele franziu o cenho e pigarreou.

— Não sabia que tinha interesse nesse tipo de magia.

— O que quer dizer? — perguntou Chanyeol, curioso.

O mágico percebeu que não tinha escapatória quando Byun também demonstrou interesse na pergunta. Suspirando, ele se levantou da mesa e caminhou pela sala com sua longa capa roxa arrastando-se pelo chão.

— É um artefato cobiçado por muitos feiticeiros, poucos o viram mais muitos o desejam. — O feiticeiro cruzou os braços e se escorou em uma das mesas dispostas pela sala. Seu olhar era nebuloso e parecia encarar uma época muito distante, perdida no rio do tempo. — Segundo narram as histórias, o Coração das Esmeraldas foi forjado por um bruxo versado em artes pouco convencionais.

Chanyeol e Baekhyun se entreolharam.

— Com pouco convencionais o senhor quer dizer... — sugeriu Byun.

— Sim, através de necromancia — completou Kyungsoo. — Durante as Peregrinações Bárbaras que ocorriam há 1500 anos, os bárbaros peregrinos descobriram um pequeno fragmento de esmeralda que, segundo as lendas das tribos nativas daquela região, tinha caído do céu e curado o solo que não dava frutos havia meses. Os povos selvagens que moravam ali disseram que tinham rezado para que os deuses tivessem piedade da comunidade e, em troca da eterna servidão, não permitissem que seus descendentes morressem de fome. Os deuses dos nativos nem sequer tinham nome ou forma, mas ouviram o chamado de seu povo e mandaram uma estrela de brilho verde que atingiu a montanha que abrigava o vilarejo em sua base. Quando os primeiros raios solares da manhã atingiram o imenso cristal, o brilho esmeralda recobriu aquela terra e, em instantes, as plantações cresceram e as árvores deram frutos. Eles viveram em harmonia durante décadas e cumpriram o acordo que fizeram com os deuses, os que morriam eram enterrados junto da grande esmeralda para que pudessem sempre protegê-la e seu povo não soubesse novamente o que era fome. Mas eles não contavam que as histórias sobre a pedra mágica se espalhassem pelo mundo, atraindo a atenção de muitos bruxos e feiticeiros, em especial, o necromante Huang Zitao.

Os aprendizes se entreolharam e Baekhyun percebeu a preocupação nos olhos de Chanyeol. Por debaixo da mesa, suas mãos se encontraram num gesto de conforto e cumplicidade.

— E onde está o coração? — perguntou Chanyeol demonstrando aflição.

O olhar inquisitivo de seu mestre recaiu sobre si e ele franziu o cenho. Seus passos podiam ser lentos e sua estatura diminuta em relação aos meninos, ainda assim quando ele parou diante da mesa de braços cruzados e um brilho perscrutante em seus orbes castanhos, se igualava a um gigante.

— Está preocupado com alguma coisa, Chanyeol?

O moreno engoliu em seco e encarou seu mestre, petrificado.

— O Coração se encontra na Floresta das Trevas junto do bruxo mais maligno que já ouvimos falar, então apague a ideia de ir atrás dele de sua mente. Você não tem as habilidades mágicas necessárias para atravessar a floresta e enfrentar seus perigos, ainda menos para encarar o necromante em um combate direto. — Kyungsoo o alertou, virando-se para os alunos e seguindo para sua mesa. Ele conhecia o aprendiz o suficiente para saber que ignoraria seu aviso, tendo de tomar providências quanto a sua insubordinação. — Tenha foco em seus estudos, jovenzinho, e quem sabe um dia, será capaz de se aventurar pelo mundo.

...

Pela primeira vez, o aprendiz de mágico entendeu que quanto mais ansioso se estava para algo, mais demorado o dia parecia transcorrer. Várias vezes durante suas tarefas da tarde, ele era pego olhando para fora, na esperança de que a tão conhecida coloração alaranjada semelhante às penas de um Meteoro-Flamejante que voava pelos céus do Sul com seu canto e anunciava a chegada da noite, fosse vista. Contudo, teve a impressão de que o crepúsculo demorava propositadamente para chegar, como se quisesse dar continuidade a sua ansiedade. 

Durante toda a tarde, ele remoeu em sua mente pensamentos como “Eles não conseguirão sem magia” ou “Preciso ir ajudar Jongin o mais rápido possível”, mas não pode fazer nada com o olhar vigilante de Kyungsoo. Baekhyun também não saia de cima do amigo, temendo que ele fizesse alguma besteira, porém o garoto de cabelo rosa tinha seus próprios planos para ajudá-lo em sua empreitada.

Por fim a noite chegou e o manto de névoa cobriu o jardim do casarão. Em seu quarto, o mais novo preparava um pequeno alforje com coisas que poderiam auxiliar em sua busca e, obviamente, alguns mantimentos. Ele colocou a cabeça para fora da porta e olhou para ambos os lados do corredor que, como sempre, permaneciam em um silêncio sepulcral. Com passos vagarosos, ele saiu do dormitório procurando evitar ruídos para que Byun não viesse em seu encalço. 

Chanyeol tentou ser o mais rápido possível ao descer as escadarias, mas quando seus pés tocaram o último degrau, o aprendiz encarou o manto roxo adornado em prata de seu mestre escorado em uma coluna, logo abaixo de um candelabro. Sua expressão não demonstrava surpresa, poderia dizer até que estava se divertindo com a situação. O feiticeiro saiu debaixo da luminosidade mágica do candelabro e andou até parar diante do mais jovem que jazia paralisado na escadaria de pedra, completamente assustado.

— Você realmente achou que eu não tinha conhecimento das suas escapadas noturnas para a Floresta das Trevas? — Um sorriso ladino surgiu em seus lábios. — Sou um feiticeiro muito poderoso, Chanyeol, nada do que acontece em minha propriedade passa despercebido aos meus olhos.

— Mestre, eu-

— Não precisa explicar — interrompeu Do. — Eu sei para onde e por quem você vai. Infelizmente, não está em meu poder tomar esta decisão por você. Esqueceria essa ideia tola se eu lhe pedisse?

Park negou, surpreso pela compreensão de seu mestre. Era uma atitude do mais velho que não esperava.

— Neste caso, espero que retorne com vida. Apenas não se esqueça de que as aparências enganam, Chanyeol, nem sempre o que parece ser de fato o é. E, às vezes, deve ouvir mais o seu coração do que as histórias tendenciosas ditas por pessoas pequenas. — O feiticeiro fitou um ponto atrás dos ombros de Park e suspirou. — Ouvir a conversa dos outros sem convite é falta de educação, Baekhyun.

O mais novo virou-se bruscamente para visualizar a figura diminuta que surgia no topo da escadaria, trajando um manto escuro que caíam até os tornozelos sendo unidos por um pingente dourado. Uma tira de couro caixa dos ombros e atravessava o peito de uma extremidade a outra até chegar ao alforje surrado que pendia ao lado do quadril. Depois de vê-lo naqueles trajes, não era surpresa que o de cabelos rosados pretendia seguir o amigo noite adentro, mesmo que todos os seus instintos lhe pedissem para evitar a Floresta das Trevas.

— Você não vai comigo.

— Como se pudesse me impedir. — O mais velho cruzou os braços e inclinou a cabeça levemente para o lado com um sorriso debochado em seus lábios. Os fios rosados de sua cabeleira caiam sobre a testa e tapavam as sobrancelhas arqueadas. — Depois de tantos anos deveria ter aprendido que não posso deixar meu irmãozinho se meter em confusão sozinho, principalmente por causa de um homem. É dever do irmão mais velho espantar os caras que querem sua virgindade... opa, quer dizer, seria... se você ainda fosse virgem.

— Ora, seu-

— Parem os dois! — exclamou Do, interrompendo-os. 

Os dois jovens arregalaram os olhos ao perceberem que ainda estavam na presença de seu mestre — as bochechas de Byun ruborizaram e a ponta das orelhas de Chanyeol queimaram, enquanto ambos encaravam as botas de couro de lontra.

Kyungsoo remexeu nas mangas compridas das vestes e retirou dois gravetos de lá. A princípio, os jovens aprendizes pensaram ser algo para lhes repreender, porém, perceberam rapidamente que se tratavam de varinhas mágicas. O feiticeiro entregou uma para cada um e as pedras localizadas na base das empunhaduras brilharam com intensidade antes de se apagarem. Chanyeol recebeu uma varinha confeccionada da tão desejada madeira de uma faia, contendo consigo os poderes de, ironicamente, uma esmeralda. Já Baekhyun, recebeu uma varinha feita com madeira de cedro e portava uma fluorita.

— São nossas... — começou Byun.

— ... primeiras varinhas — completou Park, deslumbrado.

— Sim, estava as confeccionando faz algumas semanas. Irão precisar de um poder extra para onde estão indo. — Kyungsoo levantou as mãos e apontou as palmas para os garotos. O feiticeiro fechou os olhos e murmurou algumas palavras. O saguão caiu em silêncio mortal onde se ouvia apenas a voz baixa e grossa de seu mestre e, depois de alguns minutos parados e sem entenderem o que estava acontecendo, sentirem uma suave força ciclônica subir dos pés a cabeça. — É apenas um encantamento simples de proteção para dar uma ajuda extra.

O feiticeiro levou seus olhos para o alto. Park e Byun seguiram seu olhar, mas tudo o que encontraram foi o teto. Contudo, era como se Do conseguisse ver além dele. Seus orbes castanhos moviam-se de um lado para o outro, para cima e para baixo, navegando pelo mapa estelar invisível aos seus aprendizes.

— Está na hora de vocês irem. — Com um movimento de suas mãos, as imensas portas abriram-se com um rangido lânguido que ecoou por todo o casarão. — Se lembre do que eu disse, Chanyeol, não se deixe enganar pelas aparências.

Os aprendizes se entreolharam e despediram-se de seu mestre com formalidade exageradas. Eles não estavam acostumados a conversar de maneira tão aberta assim e foi como se notassem que poderiam ter se tornado mais próximos caso tivessem tentado com mais afinco. Os jovens saíram noite adentro, sendo engolidos pelo nevoeiro que protegia a residência. A luz da lua iluminava o caminho à frente como um farol guiando os navios numa noite de tempestade e, num passe de mágica, um corredor se abriu em meio a fumaça branca revelando as fronteiras da propriedade. Silenciosamente, eles agradeceram ao seu mestre e partiram. Cada um deles com suas próprias questões: a preocupação de Chanyeol quanto a segurança do namorado e a relutância de Baekhyun em retornar para a Floresta das Trevas depois de tantos anos.

...

Para onde quer que olhasse, Baekhyun conseguia enxergar apenas árvores e mais árvores. Sua mente tentava reconstruir com os pequenos detalhes de que ainda se lembrava a Floresta das Trevas, mas as coisas pareciam completamente diferentes e não sabia se era por ser outro local ou devido à passagem dos anos. 

Ao seu redor, imensas árvores cresciam quase fundindo-se uma às outras, se não fossem pelas grossas raízes expostas na terra preta e úmida. Para se manter equilibrado durante as passadas apressadas tinha de se apoiar nos troncos molhados e sujos, onde musgos cresciam e se espalhavam pela madeira escura, sujando as mãos. Não havia quaisquer resquícios do céu da manhã, exceto pelo pouco brilho do Sol que transpassava o imenso manto folhado da floresta, o restante do ambiente permanecia imerso na escuridão. Várias vezes, Byun teve que pedir para que Park desacelerasse, pois, seu manto tinha ficado enroscado em algum galho seco.

O caminho era iluminado por uma esfera de luz encantada — criada quando adentraram a floresta durante a noite — que flutuava ao lado dos aprendizes à medida que se embrenhavam na mata. Chanyeol tinha olhos tão atentos quanto um falcão, enquanto buscava rastro da passagem da caravana de Jongin e, com exceção das pegadas de cavalo que acharam alguns quilômetros atrás, não havia mais nada denunciando que tinham passado por ali, e exaustos da longa caminhada, escoraram-se em uma minúscula clareira.

— Graças aos Deuses, minhas pernas ardem como se tivessem sido picadas por vespas — reclamou o rosado, massageando as coxas para aliviar o desconforto.

Park remexeu o alforje do amigo e retirou um cantil de água e alguns grãos.

— Você é muito sedentário. — Chanyeol sorveu um gole generoso de água que, até então, não havia percebido como sua garganta ardia pela falta de hidratação. — Precisa caminhar mais.

— Descer e subir as infinitas escadas da mansão deve contar como caminhada.

— Não contam...

— Fala sério, porque não? — Baekhyun cruzou os braços e franziu o cenho, dando a impressão de que suas bochechas estavam levemente infladas. — Só para chegarmos à cozinha temos de caminhar por dez minutos.

O mais novo sorriu para o amigo e ofereceu a água e alguns grãos. O nervosismo de ambos pareceu amenizar à medida que faziam piadinhas, enquanto descansavam. Baekhyun estava olhava com curiosidade para o amigo, apesar de saber desde o início sobre o relacionamento nem tão secreto de Chanyeol — aparentemente seu mestre também soube — com o príncipe herdeiro do reino em que viviam, nunca chegou a perguntar quando nem como se conheceram.

— Não que eu esteja interessado, mas já que vou conhecer o homem que vou castrar, tenho que perguntar como vocês se conheceram.

Park suspirou e olhou para o amigo, uma protuberância se movendo pela bochecha enquanto sua língua se movia pela parte interna.

— Ok, vamos estabelecer um limite aqui — disse Channie elevando as sobrancelhas e movendo as mãos para dar ênfase a sua fala. — Não vamos falar sobre minha virgindade, nem ameaçar castrar meu namorado, tudo bem?!

— Você acaba com toda a diversão.

— Ótimo, quando arrumar alguém também farei um inferno em sua vida, fique avisado.

Baekhyun bufou revirando os orbes amendoados.

— Só me conte como conheceu o príncipe.

O moreno olhou para o amigo e se recostou no tronco. O céu estava claro, mas devido à inexistência de qualquer espaço ou coisa viva além das árvores, era quase impossível definir qual o horário, contudo, Chanyeol supôs ser pouco mais de nove horas.

— Não foi um evento marcante, ao menos, não para as pessoas de fora. — O moreno mirava o céu, acompanhando as nuvens que passavam e deixou um sorriso singelo surgir no rosto. — Houve um dia que me cansei das rotinas cansativas que o Mestre Do nos passava e saí escondido pela manhã. Deve se lembrar disso, pois passei dois dias inteiros transformado em um sapo. Bom, eu já estava cansado de fugir para a cidade todas às vezes, então resolvi mudar a tática e buscar por novidades. E onde mais havia novidades para um jovem feiticeiro em treinamento se não a Floresta das Trevas? Você deve estar pensando em coisas como “Você foi muito burro” e “Nunca conheci alguém tão inclinado para atividades suicidas”, mas acredite quando digo que não há nada para se temer nesse lugar, contanto que não faça mal a floresta. Naquela época eu tinha tanto medo daqui quanto qualquer outro, mas ainda assim, preferi arriscar minha segurança para provar que as pessoas estavam enganadas. 

Chanyeol tocou nas raízes da árvore em que estava escorado e a acariciou como se fosse um ser vivo dotado de consciência.

— Eu andei durante horas e descobri alguns lugares muito interessantes, por exemplo, seguindo para o leste podemos chegar a um belo bosque onde crescem boa parte das ervas que nosso mestre compra na cidadela; indo para o oeste, existe uma clareira bem pequena com um lago minúsculo que a noite parece ser feito de prata líquida e brilhante. Mas, como era de se esperar, acabei me perdendo, pois, todas as árvores eram iguais e eu não tinha marcado o caminho. No início, não me desesperei e continuei andando, contudo, a noite chegava depressa e eu estava começando a ficar com medo.

“O Sol já tinha deixado o mundo tinha muito tempo. Podia sentir as lágrimas escorrendo pelo meu rosto, a fome incomodando meu estômago, a necessidade de querer sair daquele lugar escapando por meus poros. Minhas pernas já estavam doloridas de tanto caminhar, então me encolhi entre as raízes de uma árvore muito grande e chorei baixinho para que nada me escutasse, mas alguém me ouviu. Embora meus olhos estivessem fechados, consegui ver o brilho reconfortante do fogo e a luminosidade que clareava a escuridão ao meu redor. Foi quando abri os olhos e vi Jongin pela primeira vez; uma bainha pendente ao lado do corpo, enquanto a mão livre portava a espada de lâmina tão branca quanto a luz de uma estrela, uma camisa de linho azulada com o emblema do reino em fios banhados em ouro branco e uma expressão tão surpresa quanto a minha — vislumbrar aqueles olhos castanhos sobre mim e aquele ar aliviado foram o suficiente para a sementinha da paixão fosse plantada em meu coração. Imagine o fiz em seguida? Eu o abracei, aliviado; como se fossemos os amigos mais íntimos do mundo. Ele não retribuiu, na verdade, no início, ainda que estivesse muito aliviado de não estar sozinho na Floresta das Trevas, foi demasiadamente ríspido e reservado. Jongin relutou em me contar que havia ido caçar com seu pai e alguns lordes — a nobreza em Lamuria não acredita em superstições e realizam caça esportiva em algumas áreas da floresta —, mas acabou se perdendo ao perseguir uma corça e, por mais que gritasse, não ouvia nada além do som do vento.”

“Nós juntamos alguns gravetos e fizemos uma fogueira entre um círculo de árvores, era um espaço pequeno e desconfortável, mas era quente, então valia o sacrifício. Não conversamos por muito tempo até que passamos a ouvir sons vindos do interior da floresta. No começo pareciam ser apenas alguns animais pequenos e corujas nos observando curiosos nos troncos altos, porém não tardou para que começássemos a ouvir passos fortes e galhos se quebrando — diferente de Jongin, eu estava sujando as minhas calças naquele momento. — e você pode achar que foi atrevimento meu e, sim, sei que vai fazer vários tipos de comentários, mas eu me atirei para cima dele escondendo o rosto em seu peito. É divertido só de lembrar disso. Bom, conversamos por um longo tempo, mas logo alguns soldados nos encontraram devido à luminosidade do fogo e nos escoltaram para fora da floresta. Curiosamente, Jongin pediu para que eu o encontrasse novamente dois dias depois naquele mesmo local, e foi o que fiz. Vivemos nos encontrando escondidos desde então.”

O mundo mergulhou num silêncio aterrador quando Chanyeol terminou sua narrativa, como se todos os animais, o vento e as árvores — que haviam presenciado todo o evento — parassem para escutar. Baekhyun brincava com algumas pedrinhas no chão, alternando para tentar limpar a terra que se acumulava debaixo das unhas e, por fim, soltando um longo e exausto suspiro, perguntou ao amigo:

— Então quer dizer que você se jogou em cima de um total desconhecido no meio de uma floresta praticamente deserta?

Park piscou os olhos várias vezes.

— Foi o que eu disse.

— Você flerta com o perigo em um nível absurdo, Channie — zombou o de cabelos rosas com um sorriso amplo. — Ele poderia ser um assassino ou um monstro disfarçado.

— Não seja dramático, Baek.

Chanyeol não queria admitir, mas em partes, concordava com o amigo; tinha sido uma atitude impensada e impulsiva. Ele se levantou e colocou as coisas no alforje. O companheiro de viagem havia ido se aliviar em algum canto, mas ainda continuava comentando sobre seu relato.

— Não estou fazendo drama, apenas expondo os fatos. Vocês estavam sozinhos em uma floresta com má fama, se ele fosse um maníaco, tinha a chance perfeita para matá-lo e ninguém ficaria sabendo disso. Seu corpo ficaria à mercê das Flores que Devoram Cadáveres e nunca mais o veríamos.

O mais novo encarou o rosado com os olhos esbugalhados quando ele saiu detrás das árvores arrumando o cinto. Park massageou as têmporas com suavidade, imaginando que dar continuidade aquele assunto poderia dar uma terrível dor de cabeça, então apenas fez uma anotação mental que nunca mais daria quaisquer detalhes sobre seu relacionamento com Jongin para seu hyung novamente.

O silêncio recaiu sobre eles enquanto corriam por entre os arvoredos. Os aprendizes de feiticeiro estavam contentes e animados porque conseguiram achar rastros da passagem dos cavaleiros alguns metros atrás e, por mais que não fossem rastreadores experientes, sabiam que eram recentes. Mas assim que avistaram alguns mantos azulados mais à frente, o cenário que emergiu foi de puro horror — o suficiente para que o estômago de Baekhyun revirasse e botasse para fora tudo o que havia consumido mais cedo.

Chanyeol andava por um mar de corpos e terra. Era um campo de batalha onde o adversário parecia ter levado a melhor. Os rasgos de tecidos azuis que carregavam o emblema de Lamuria, estavam manchados de vermelho e o ambiente carregava um leve indício do que antes havia acontecido; a Morte andou sobre o local.

O moreno viu algo se arrastando pelo canto do olho e quando se virou, uma perna estava sendo puxada por uma raiz esverdeada para o meio do mato. Com passos suaves, ele seguiu para o meio dos arbusto e os abriu lentamente. Tudo o que tinha ali era uma flor que exalava um forte aroma doce; suas pétalas eram tão grandes quanto os pés de um homem adulto e coloridas de um púrpura gritante, o receptáculo que guardava as sementes era vermelho e havia algo se movendo neles, como se fossem pequenas linguinhas provando o ar como uma serpente ou lagarto fazem. Ele teria se aproximado mais se Baekhyun não o puxasse.

— Não se aproxime dela! — exclamou mais velho, alarmado e com a varinha em mãos. — São Flores que Devoram Cadáveres. Elas atraem você para perto com o aroma e atiram as sementes que irão penetrar em sua pele e te transformar em um zumbi, vai atacar qualquer um que se mova, aliado ou não. Os cavaleiros de Goguryeo não conheciam muito bem a biologia da floresta, ao que parece. 

Park abriu a boca para responder, mas o grito que ecoou pela floresta foi mais que suficiente para chamar sua atenção e fazê-lo correr apressado. Era a voz de Jongin, ele ainda está vivo, gritou em pensamento enquanto corria, abrindo passagem entre os arbustos. Ele passou por duas ou três Flores que Devoravam Cadáveres que tentaram atirar suas sementes nele, mas por sorte nenhuma delas o atingiu. Baekhyun vinha logo atrás conjurando algumas proteções para que não fosse alvejado pelas costas. 

Um campo se abriu a sua frente, iluminado por uma luminosidade fraca que misturava verde e amarelo. Seria um belo cenário caso uma gigantesca Flor que Devorava Cadáveres, duas vezes o tamanho de Jongin, não estivesse tentando matá-lo. O príncipe Kim estava ajoelhado com um escudo diante do corpo e a espada de ouro branco na mão, sangue seco estava grudado no lado do rosto devido à forte pancada que tinha levado. Logo atrás, dois corpos estavam desacordados, em condições não tão boas também. 

Diferente das outras flores da espécie, aquela não era apenas grande, mas sua coloração era diferente. O receptáculo de pólen era amarelo canário e suas gigantescas pétalas tinham belos tons de azul-marinho com finas listras pretas, contudo, tanto as raízes quanto as sépalas, agiam como tentáculos que se levantaram contra Jongin e arremessaram seu corpo com tudo contra o uma árvore. 

A Flor que Devorava Cadáveres rastejou vagarosamente em direção aos dois indivíduos desmaiados, sem conseguir pensar numa forma de resolver aquilo e agindo por puro instinto, Chanyeol pegou sua varinha e proferiu o primeiro feitiço convocatório que surgiu em sua mente. A esmeralda brilhou diante do encanto e um raio verde-escuro saiu da ponta da varinha em direção ao alvo, atingindo-o em cheio. Com a atenção da flor voltada para si, se iniciou uma batalha entre a Flor que Devorava Cadáveres e o aprendiz de feiticeiro com sangue nos olhos.

Num guincho estridente igual ao de um porco quando abatido, a flor azulada se virou para encarar o feiticeiro. Chanyeol preparou-se para a batalha com determinação no olhar, o brilho que emanava da esmeralda na base varinha ocupava quase todo o ambiente e pintou o tronco das árvores daquela área em uma mescla de verde e amarelo, unindo-se ao brilho do sol. O monstro-planta esticou suas sépalas chicoteando-as pelo ar e atingindo árvores e outras Flores que Devoravam Cadáveres que tinham começado a se reunir no entorno. As vinhas do monstro tentaram atingir o feiticeiro, contudo encontraram um obstáculo que a impediu de avançar: uma barreira mágica.

— Te dou cobertura — disse Baekhyun logo atrás do amigo, tão determinado quanto o outro.

A luz azul que fluía como a água da fluorita na base da varinha de Byun, uniu-se ao verde que exalava tão sereno quanto a floresta do instrumento mágico de Park. O ambiente, antes dominado pelo verde, agora dançava e era iluminado pela luminosidade harmônica de um azul ciano, lembrando um céu sem nuvens ou as águas de uma bela praia. O moreno sorriu para seu hyung e voltou sua atenção para a Flor. Ele respirou fundo e fechou os olhos, lembrando-se dos encantos elementais que Do Kyungsoo havia abordado em uma aula passada.

Chanyeol empunhou a varinha como se fosse uma espada, preparando-se para o encantamento. Seus olhos se moviam por debaixo das pálpebras enquanto recitava o feitiço; o ar se condensava e tornava-se mais manipulável à medida que o encanto era realizado. A Flor-Rainha Cadavérica não era tola nem nada, o perfume que exalava podia penetrar quilômetros floresta adentro, atraindo diversas outras flores menores para auxiliá-la.

Diversos outros inimigos avançavam, disparando sementes contra a muralha cristalina de Baekhyun. O feiticeiro de cabelos rosados se ajoelhou segurando sua varinha e sentindo seu poder se esvair aos poucos, enquanto lutava para manter a barreira; uma gota de suor escorrendo por sua têmpora enquanto mantinha o escudo em pé. Com uma última rajada de sementes, a barreira caiu como flocos de neve brilhantes que se dissolviam no ar antes de atingir o chão. A Flor-Rainha Cadavérica moveu suas vinhas sobre Chanyeol, mas o encantamento já havia terminado.

O tempo pareceu parar quando o feiticeiro foi cercado por uma aura amarelada. Num rompante acompanhado do estrondo de um trovão, uma coluna de vento emergiu ao seu redor girando em alta velocidade, impedindo a aproximação dos inimigos e com um movimento singelo da varinha, todo o vento que o contornava se direcionou para a frente e disparou num assovio cortante em direção aos inimigos — o local ao redor foi transformado devido ao impacto mágico. 

Quando o elemento vento foi dispersado, quase não existia evidência dos adversários.

Para Chanyeol, o que o mantinha em pé, ruiu, e ele se curvou abandonando a varinha e colocando as mãos sobre o peito — os dentes trincados com tanta força que mal conseguia sentir a mandíbula. Usar encantamentos elementais é desgastante até para magistas mais experientes, pois utilizavam muita energia mística, nem é preciso dizer como poderia ser fatal para aqueles que não possuíam tanta experiência em conjurações. Do alto, enquanto Baekhyun avançava preocupado com o amigo, um ser alado de feições infantis olhou para seu invocador e riu com divertimento antes de desaparecer em meio às nuvens.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado do capítulo novo, meus caros leitores. E com isso, tenho dois avisos para vocês:

O primeiro aviso é que a betagem do terceiro capítulo não foi iniciada ou, até onde sei, ainda não está pronta, então é muito provável que eu não retorne com o capítulo III na próxima segunda-feira. Esperarei para ver o desfecho disso antes de perguntar para os administradores do projeto, contudo, espero que daqui duas semanas ou, no máximo, três eu consiga dar conclusão para este projeto.

O segundo aviso é que estarei criando uma espécie de "bestiário" das criaturas que aparecem no decorrer da história com descrição e características para que vocês possam se situar. Irei disponibilizá-la apenas no último capítulo, nas notas finais, então fiquem atentos.

No mais, é apenas isso. Espero que consiga concluir esse projeto no prazo, pois gosto de ter dias fixos para postagem. Desejo-lhes uma boa semana e se lembrem de NUNCA ir atrás de uma esmeralda guardada por um necromante apenas porque seu namorado(a) foi dar uma de herói. Tenham um bom dia!



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