Emerald Heart escrita por SeoLunz


Capítulo 1
I - The Sorcerer's Apprentice and the Crown Prince


Notas iniciais do capítulo

Desde que fui aceito como ficwriter no MagicWishes e o primeiro ciclo foi lançado, fiquei SUPER-MEGA-HIPER ansioso para postar essa fanfic. De todos os trabalhos concluídos que escrevi, esse é um dos que me deixa mais orgulhoso, pois gostei demais de escrevê-lo. Espero que vocês gostem da mesma forma que eu, porque foi muito difícil construir os laços de amizade, romance e intrigas daqui; relações de todas as formas são um pouco complicadas para mim.



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Os últimos raios de Sol batiam contra o vitral multicolorido enviando uma profusão das mais variadas cores pelo salão. O casarão de Do Kyungsoo, um dos mais célebres feiticeiros do reino de Goguryeo, era considerado por muitos como um marco da arquitetura atual com seus quatro andares e seus vitrais compostos na maior diversificação de cristais que qualquer um já tinha visto, desenhando símbolos mágicos de proteção para que nenhum ladrão pudesse adentrar ou que acabasse sendo espionado por outros mágicos intrometidos. 

O feiticeiro trabalhava exclusivamente para o governante de Goguryeo, desenvolvendo fórmulas mágicas e encantamentos para que pudessem se proteger dos reinos vizinhos e das criaturas malignas que se escondiam na Floresta das Trevas criadas pelos poderes maquiavélicos que reinavam selvagens nas Colinas do Desespero. Kyungsoo era um homem baixo e recluso de olhos grandes que vivia mal-humorado, resmungando quando alguma poção dava terrivelmente errado, contudo, seu passatempo favorito era atormentar seus empregados e aprendizes, Park Chanyeol e Byun Baekhyun.

Tanto Chanyeol quanto Baekhyun eram absurdamente próximos e tinham personalidades parecidas, o que servia apenas para deixar seu mestre de cabelos em pé. Não eram incomuns os erros durante as aulas de feitiços ou explosões durante o aprendizado nas precisas artes alquímicas — o feiticeiro já tinha perdido as contas de quantas vezes já havia reconstruído sua moradia dada as peripécias de seus protegidos. 

Muitos que visitavam o casarão afastado dos muros da capital atrás dos serviços de Kyungsoo e presenciavam os estragos causados pelos mais novos, o questionavam porque não os mandava embora e arrumava outros mais aptos. Sua resposta era sempre um gemido descontente, pois sabia que apesar das explosões e plantas ganhando vida do nada, tinham grande potencial nas artes arcanas que poderiam ser explorados. O feiticeiro era um homem ganancioso e gostava de ter perto de si, aprendizes que tinham um talento natural para encantamentos. 

 A enorme biblioteca do feiticeiro era iluminada aos poucos, à medida que o véu da noite recaia sobre os reinos, por luzes mágicas azuis que provinham dos cristais enfeitiçados nos candelabros nas paredes, enquanto dois jovens limpavam e organizavam os livros. Contudo, eram ligeiramente diferentes em suas características físicas; Byun Baekhyun parecia um anjo travesso com seus olhos curiosos, enquanto Park Chanyeol lembrava um elfo hiperativo, cujos dedos não conseguiam permanecer parados. 

— É a segunda vez que limpamos esse lugar na semana — resmungou Chanyeol enquanto espanava alguns livros sobre uma das diversas mesas. Ele era mais novo que o amigo e, devido sua hiperatividade, o aprendiz de feiticeiro que mais os colocava em apuros.

Byun respirou fundo e continuou seu serviço. O mais velho não tinha do que reclamar mesmo com o trabalho pesado que era obrigado a fazer, afinal, Kyungsoo o acolheu quando não tinha mais ninguém. Era comum que magos, bruxos e feiticeiros de todas as partes do mundo, dessem moradia e comida para jovens desabrigados buscando arranjar empregados para que os ajudasse nas tarefas difíceis do dia a dia. Mas, ainda que providenciasse um teto e alimentação regulares, eram poucos os que concordavam em dividir seu conhecimento mágico.

— Não teríamos de limpá-lo se você tivesse seguido a receita daquela poção — retrucou o menor com um semblante indiferente, porém acabou por rir ao se lembrar dos eventos daquela manhã. — Deve ser a oitava vez que um de nós destrói a sala de alquimia. O mestre deve estar uma fera.

— Se ele não nos mandou embora até agora, duvido que algum dia fará.

Em suma, Chanyeol estava certo. Ainda que os aprendizes de Kyungsoo fossem estabanados como nenhum outro, eram a única companhia que o feiticeiro possuía, já que nenhum outro membro de sua ordem gostava de seu jeito rabugento e perfeccionista, aparecendo em sua mansão apenas quando precisavam de favores ou auxílio com encantos que não davam muito certo. Ele era um homem solitário apesar de ser muito jovem, então aturaria a presença dos dois o máximo que pudesse.

Park terminou de alocar os últimos livros nas prateleiras e bateu sobre suas vestes surradas para retirar a poeira remanescente. O aprendiz de feiticeiro passou seus dedos compridos entre os longos cabelos claros para desembaraçar os fios aglutinados uns nos outros. Os músculos dos bíceps estavam doloridos devido aos livros pesados e pela falta de exercícios físicos, pois condicionamento físico não era um pré-requisito para quem sonhava em ser feiticeiro. O rapaz de feições élficas abriu a boca para falar algo, mas foi interrompido pelo arrastar barulhento das enormes portas da biblioteca. 

Eles reconheceram o feiticeiro Do quase que imediatamente. O magista era um homem mirrado e carregava um olhar inquisitivo que ficava pior devido aos seus grandes olhos. Uma imensa capa roxa adornada com linhas de prata e ouro se arrastava no chão, as luzes mágicas pareciam brilhar com maior intensidade dada a presença de Kyungsoo. Ele não se demorou a ficar próximo aos seus aprendizes, a diferença de altura era evidente, analisando se os livros tinham sido colocados nos lugares corretos. 

— Ótimo, pelo visto vocês não sabem apenas destruir as coisas. — Seus grandes orbes castanhos recaíram sobre os dois rapazes, contudo se demoraram mais em Chanyeol, algo que o deixou muito incomodado. — Vou sair e voltarei apenas amanhã. Organizem os ingredientes na sala de alquimia e depois podem ir jantar. Tentem não explodir mais nada.

O recém-chegado saiu tão rápido quanto entrou, arrastando seu longo manto púrpura por onde havia entrado. Baekhyun jogou o pano imundo com o qual limpou as divisórias das dezenas de prateleiras no chão, colocando as mãos na cintura. Seu olhar cansado se direcionou para os vitrais observando os últimos raios de sol desaparecerem para darem dar lugar a noite e, em seguida, soltou um longo suspiro. Chanyeol entendia a irritação crescente no amigo, mas nada podiam fazer contra as ordens de seu mestre.

A sala de alquimia ficava do outro lado da enorme mansão, subindo uma série de escadarias que possibilitavam o acesso aos andares superiores. Os corredores da mansão eram todos iluminados por luzes mágicas, todavia eram diferentes das que haviam na biblioteca, pois emitiam uma pálida luz esbranquiçada, o que permitia que as cores da mobília e das tapeçarias não fossem ofuscadas pela intensidade de outras cores mais escuras. Durante todo o percurso, os jovens aprendizes foram fazendo brincadeiras e reclamando de suas funções ainda que, segundo o feiticeiro, fossem os melhores aprendizes que teve em muitos anos.

O salão onde eram realizadas as aulas de poções e os demais processos alquímicos era uma das salas mais extensas da mansão, principalmente por conta da mistura de componentes perigosos que poderiam resultar numa explosão desastrosa — que eram frequentes. Era um local escuro iluminado apenas por velas mágicas que flutuavam pela  sala, mesas de madeira espalhavam-se intercaladas e cada uma continham os materiais necessários para os aprendizes de feitiçaria prepararem suas poções como diversos tipos de vidrarias, almofarizes, balanças e um pequeno fogareiro para aquecer as soluções. Enormes armários que escondiam os ingredientes recobriam as paredes indo até o teto, porém possuíam níveis, sendo que apenas os mais próximos ao chão eram acessíveis a Park e Byun.

— Se não fosse pelo aprendizado que ele oferece, eu já teria ido embora — comentou Baek carregando alguns caixotes cheio de ervas secas para uma saleta aos fundos. Sua voz saia um pouco abafada devido as grossas paredes, mas ainda eram entendíveis. — Ainda nem tomamos banho e preparamos o jantar.

Chanyeol resmungava em resposta. Ele entendia tudo o que o amigo dizia, apesar de estar focado na lua que subia cada vez mais alto no céu. Park se assustou quando sentiu uma das mãos do companheiro tocar-lhe os ombros, quase derrubando alguns frascos com Limo Pantanoso que carregava — a sala iria cheirar mal por um mês. Byun seguiu o olhar dele, soltou um longo suspiro e circundou os ombros de Chanyeol com seu braço pequeno. 

— Você pode terminar aqui? — O mais novo virou-se para encarar seu hyung, os olhos grandes brilhando esperançosos. — Estou atrasado para encontrar o Jongin.

O relacionamento do amigo com o príncipe do reino não era surpresa alguma para o aprendiz de mágico, mas relutava em acreditar que algo assim poderia dar certo. Eles conheciam as leis e, sabiam que cedo ou tarde, o rei indicaria uma esposa para o príncipe que teria de abandonar o amante ou, na melhor das hipóteses caso não quisesse perdê-lo, torna-lo um de seus concubinos. 

Porém, conhecendo o amigo, sabia que ele não se submeteria a isso, tendo que imaginar o amor de sua vida deitando-se com outra pessoa para lhe dar herdeiros — uma coisa que ele não podia fazer. Apesar de uniões homoafetivas não serem proibidas, chegando até mesmo a ser comum depois de muitas brigas por reconhecimento e mortes, era algo desencorajado, principalmente para governantes, visto que não se podia produzir herdeiros com outros homens.

— Sabe que não gosto que saia a noite, principalmente para se encontrar com ele.

— Ele me ama, Baekhyun hyung

— E as Flores que Devoram Cadáveres não são carniceiras. — O loiro inclinou a cabeça para o lado, apoiando-se sobre uma mesa. — Eu não quero falar mal do seu namorado, ele tem sido muito bom para você. Dá para perceber que está mais alegre e coisas desse tipo. Mas não posso evitar de me preocupar, Chanyeol.

Park cruzou os braços e abaixou os olhos, mirando seus sapatos surrados. Eles tinham aquela conversa todas as noites e, por incrível que parecesse, o moreno de orelhas grandes sabia que o relacionamento não duraria mais que algumas lunações. Era uma angústia que crescia cada vez mais em seu peito saber que seu amado se casaria e seguiria sua vida, e com o passar dos anos, se esqueceria das noites de amor que passaram juntos.

— Não vou criar alarde com isso, é a sua vida e não tenho direito de me meter. — Num movimento abrupto, Byun deu um abraço apertado em seu amigo como acontecia todas as noites. Era um pouco desconfortável devido ao tamanho diferenciado de ambos, mas nada daquilo importava. — Independente do que acontecer em seu futuro, sempre estarei ao seu lado. Está ficando tarde e alguém está te esperando. 

— Muito obrigado, hyung.

— Não me agradeça. — Ele sorriu passando um manto velho e escuro sobre os ombros do amigo. — Eu rezo todas as noites para que eu esteja errado e você tenha um final feliz.

O mais alto sorriu para o amigo e vestiu o capuz, despedindo-se. Baekhyun observou Chanyeol desaparecer pela porta e seus olhos percorreram o enorme salão de alquimia. O aprendiz não se importava com a solidão, mas também não podia dizer que gostava de ficar sozinho durante a noite. Ele deu um leve tapa em sua testa que ecoou por todo o ambiente espaçoso.

— Qual a necessidade de se ter uma mansão desse tamanho se você vive sozinho aqui?

...

O luar era a única fonte de iluminação que agraciava o mundo naquela noite à medida que Chanyeol se embrenhava entre as árvores. Seus pés afundavam na lama entre as grossas raízes que se entrelaçavam sobre o solo e dificultavam o caminho, as copas eram tão próximas que pouca luminosidade conseguia adentrar por suas folhagens escuras e, devido as intensas sombras, era quase impossível enxergar. Por vezes, o aprendiz de feiticeiro já chegou a ver contornos sombrios de corpos atravessando rápido pela escuridão e sentiu que alguma coisa o observava por entre os troncos, mas nunca foi atacado ou algo do gênero.

A Floresta das Trevas era formada por um denso conjunto de árvores que estava posicionada no centro do continente, invadindo grandes porções territoriais dos três maiores reinos, contudo a maior parte da vasta extensão arbórea estava localizada no reino de Goguryeo. Durante os tempos antigos, diversas histórias surgiram do vazio do mundo a respeito do local, contos sobre feras malignas que destruíam caravanas mercantis que atravessavam suas trilhas, monstros perversos que deixavam seus esconderijos durante a noite para entrarem sorrateiros nas cabanas e castelos para roubar criancinhas, e feiticeiros cruéis que a tomaram para continuarem com seus experimentos com magia sombria.

Entretanto, Chanyeol e Jongin sabiam que a maioria daquelas lendas, senão todas elas, eram apenas histórias fantasiosas que contavam para fazerem as crianças se comportarem. Em suas aventuras para desbravarem o local de noite e para se amarem nos lugares mais confortáveis que encontravam, jamais haviam cruzado com Corujas-prata, Serpentes de Esmeralda ou as infames Flores que Devoravam Cadáveres. Para os amantes, a Floresta das Trevas era apenas uma floresta e a única coisa que carregava de maligna era seu nome.

Park apressou o passo, ansioso para chegar ao ponto de encontro. Não demorou muito para que avistasse as águas cristalinas de uma lagoa iluminada pela luz prata da Lua. Era um dos poucos lugares naquela floresta que lhes permitia ver os astros e um dos lugares preferidos do casal para seus encontros secretos. Porém, quando foi dar mais um passo para sair da escuridão, ele foi surpreendido por um par de braços fortes que o agarraram por trás. Uma mão pesada tapou sua boca e ele arregalou os olhos, debatendo-se em desespero. 

No momento, suas mãos foram envolvidas por um tênue luminosidade azulada, porém rapidamente desapareceu quando o desconhecido o virou agilmente e pôde vislumbrar o semblante risonho de seu amante. Chanyeol era bem-humorado, mas não via graça quando o Jongin o assustava daquela forma. O príncipe soltou-o e curvou o corpo num riso histérico como se tivesse feito a pegadinha mais engraçada do mundo, o aprendiz de feiticeiro, entretanto, cruzou os braços e o encarou com seriedade, ainda tentando controlar o ritmo frenético de seus batimentos.

— Um dia você me mata do coração.

— Se isso acontecer, eu darei o meu a você para que possa viver. 

O moreno sentiu suas bochechas corarem e agradeceu pelas sombras que serviam para camuflar. Jongin sabia como deixá-lo sem jeito e, diferente do feiticeiro, era bastante direto com seus sentimentos. Por vezes, Chanyeol se culpava por ser tão travado, mas sabia demonstrar de outras formas que amava o príncipe na mesma intensidade com que era amado. Naquele momento, ainda que seu rosto e a ponta de suas orelhas queimassem, ele continuou irredutível devido à brincadeira do namorado. 

— Eu estava com saudades. 

Os braços fortes do herdeiro do trono envolveram o aprendiz de feiticeiro pela cintura, deixando seus corpos colados, algo a que o moreno não se opôs. Seus dedos compridos se encontraram na nuca de Jongin, entrelaçando-se. Não havia necessidade de muitos daqueles movimentos já que possuíam quase a mesma altura, algo que, na opinião de Chanyeol, facilitava e muito a troca de carícias. 

— Mas nos vimos tem dois dias — disse Chanyeol soltando um riso anasalado, a ponta de seu nariz tocando a bochecha do amado.

— Dias tremendamente longos e exaustivos. Ficar longe de você mesmo que por um minuto, já é tortura demais, quem dirá por dois dias.

Jongin escondeu o rosto na dobra do pescoço do namorado e se permitiu sentir a presença e o aroma do mix de ervas que exalava de sua tez bronzeada. Park acariciou os cabelos compridos do príncipe com um sorriso sereno em seu rosto como se nada pudesse quebrar aquele momento. Não eram acontecimentos raros, ocorriam todas às vezes que se encontravam.

— Então eu sou sua droga?

— Sim... — respondeu Jongin sendo tomado pela luxúria. Seus lábios terrivelmente próximos aos de Chanyeol, roçando-os. — Você é minha droga.

Quando os lábios foram selados, ambos perderam totalmente os sentidos. Eles se moviam em total sincronicidade, assim como seus espíritos — embora não percebessem a sutileza vibracional de suas energias. Jongin era gentil em suas carícias, suas mãos percorriam o corpo do namorado e exploravam cada uma de suas partes. Não havia barreiras que impedissem seus toques — com exceção da vontade do aprendiz — que ultrapassavam as finas camadas que compunham as roupas do mais velho.

Park, todavia, não estava interessado em gentilezas. Ele passou dois dias longe dos toques do namorado e cada vez que seus dedos roçavam sua pele, pequenos tremores que deixavam suas pernas bambas eram enviados por todas as partes de seu corpo. O feiticeiro encheu seus dedos com porções generosas dos cabelos de Jongin, trazendo-o para mais perto de si, desbravando o interior de sua boca e se entregando a simultaneidade do encontro de suas línguas em meio ao ósculo.

À medida que o beijo ia se aprofundando e os toques ficando cada vez mais atrevidos, quase não havia mais indícios de roupas em seus corpos. O príncipe agarrou os glúteos do namorado e os apertou, fazendo com que Chanyeol soltasse um breve gemido em satisfação. Jongin ergueu o amante que entrelaçou sua cintura com as pernas, deixando seus membros em contato, enquanto o mais novo carregava o namorado até a pequena lagoa iluminada pela tênue luz da lua. Em nenhum momento, seus lábios se desgrudaram e, por vezes, seus olhares se encontravam em meio a luminosidade mediana, permitindo que encarassem em seus orbes cintilantes a paixão que carregavam um pelo outro.

Quando os pés do herdeiro do trono entraram em contato com a água fria da lagoa, os pelos de suas pernas se eriçaram quase que prontamente, enviando um tremor que subiu por suas costas e não passou despercebido por Chanyeol.

— Está tudo bem?

— Sim — respondeu Jongin com a voz trêmula pelo frio. — A água está um pouco fria, só isso.

O aprendiz de feiticeiro descruzou as pernas da cintura do namorado e permitiu que seus pés entrassem em contato com a água. Ele sentiu as mesmas sensações de Jongin, mas isso não o impediu de segurar o príncipe pelos ombros e, com os olhos fixos nos seus, encaminhá-lo para o centro da lagoa. Com um simples murmúrio de palavras incompreensíveis para o Kim, Park fez com que a água abandonasse seu aspecto gelado e se tornasse quente o suficiente para que seus corpos ficassem confortáveis. O herdeiro do reino cruzou a pouca distância que havia entre eles e levou seus dedos esguios cheio de calos pelos treinamentos às bochechas de Chanyeol, acariciando-as. 

— Preciso te dizer uma coisa.

O aprendiz de feiticeiro percebeu a relutância em sua voz, mas não se pronunciou, dando espaço para que o amado continuasse.

— Minha mãe está muito doente e meu pai teme que ela não sobreviva mais que alguns dias. — Seus orbes castanhos encaravam profundamente os do feiticeiro carregando todo o amor que sentia por ele, incapazes de se desviar como se temesse que namorado desaparecesse entre seus dedos. — Ele ordenou que organizasse uma caravana e partisse para o interior da Floresta das Trevas para achar o Coração das Esmeraldas. Segundo ele, é a única coisa que pode salvar a vida dela.

— E por que está me dizendo isso? — perguntou Chanyeol acariciando o peito do príncipe com a palma úmida, sentindo o bater frenético de seu coração.

— Não iremos nos ver por alguns dias depois de hoje, dependendo do andar da caravana, talvez por algumas semanas e eu...

Chanyeol levou seus dedos aos lábios de Jongin pedindo por silêncio e deixou que um sorriso fraco brotasse em seu rosto. Ele tomou o namorado em um beijo, mas era diferente do anterior; este carregava carinho e compreensão.

— Ela é sua mãe e você deve salvá-la a qualquer custo. Nosso amor pode sobreviver a alguns dias longe um do outro, quem sabe se fortaleça mais?! — Sua voz trazia uma tranquilidade inigualável que nem mesmo a rainha, em plena saúde, conseguia proporcionar ao filho depois que conheceu o aprendiz. —  Não está em minhas mãos impedi-lo de seguir suas vontades e seu destino, meu amor, tudo o que posso fazer é apoiá-lo.

O tempo pareceu perder o sentido enquanto o moreno o fitava. O mais novo levou as mãos grandes até a cintura do namorado e o trouxe para mais perto de si. Seus pés moveram-se para trás até que batessem contra a margem. O príncipe se sentou, tendo a parte inferior de seu corpo submersa, enquanto o maior imitava os mesmo movimentos e posicionou as pernas de cada lado do corpo do amante, se sentando em seu colo. Não havia mais palavras para descrever o que queriam dizer um ao outro, contudo um simples olhar e o mais leve roçar de dedos na tez tomado por gotículas de água, eram suficientes para dizerem o que queriam. Debaixo da proteção do céu estrelado e da noite enluarada, em meio aos beijos intensos e arfares com notas de luxúria, Jongin e Chanyeol se amaram.

...

Os amantes despediram-se com um beijo apaixonado e se separaram, cada qual tomando seu rumo. Chanyeol podia dizer pelo fraco brilho que tomava o céu que o amanhã se aproximava com velocidade, então precisava apertar o passo para chegar à mansão de seu mestre. Em seu peito levava o desejo de que seu amor retornasse vivo da viagem que o esperava pois, sabia que por mais que explorassem determinados lugares da Floresta das Trevas e nunca tivessem visto nada além de corujas e veados, seu interior poderia abrigar as criaturas que assombravam o imaginário popular.

O aprendiz de feiticeiro adentrou a mansão quando os primeiros raios solares alcançaram as planícies recobertas de um denso nevoeiro. Do Kyungsoo não apenas protegia as portas e janelas de sua residência, mas também aquilo que considerava seu jardim. O casarão fora construído em enormes pedras frias e cinzentas como as que eram usadas na confecção de castelos e ficava sobre uma distante colina, próxima das fronteiras da Floresta das Trevas. Seus encantamentos resultaram em uma intensa neblina que sempre aparecia pela noite e desaparecia nos primeiro raios do amanhecer e tinham um único objetivo: confundir aqueles que tentavam adentrar a área sem permissão. Por isso, Chanyeol, ainda que fosse aprendiz dele desde os treze anos, preferia manter distância até o amanhecer, já que sua memória nunca fora das melhores e sempre se esquecia do caminho secreto entre as raízes do salgueiro.

Park subiu as escadarias com a agilidade de um felino e encontrou Byun preparando o café da manhã. O mais velho já havia se acostumado com as escapadas noturnas do amigo o suficiente para saber quando chegaria e que estaria mais faminto que um dragão. O doce aroma do café invadiu as narinas do moreno e ele se sentou salivando, enquanto observava o de cabelos rosados terminar de preparar as panquecas. Durante o preparo da refeição não houveram questionamentos sobre a noite de Chanyeol, porém quando se sentaram à mesa, as perguntas voaram como flechas.

— Para alguém que não concorda com meu relacionamento, você até que está bastante curioso, Baekhyun.

— É para um levantamento acadêmico.

Chanyeol franziu os lábios e se serviu de uma dose generosa do líquido preto. Ele precisaria permanecer acordado para realizar suas tarefas, já que a noite fora gasta com outras atividades. O moreno ergueu uma sobrancelha, encarando os olhos brilhantes do amigo e o sorriso travesso.

— Se quer saber como foi o sexo, basta perguntar.

— Ok, como foi o sexo?

Tanto Chanyeol quanto Baekhyun não eram aprisionados por amarras; seus laços chegavam a ser mais profundos que uma simples amizade. Quando Park foi convidado por seu mestre a ser seu aprendiz e estudar magia em sua mansão para aprender a controlar seus poderes que já se manifestavam, ele não contava que o casarão de pedra fosse habitado por outra pessoa além do feiticeiro. No início, sua relação com Baek era pura competição, mas com o tempo um intenso carinho surgiu entre ambos e, com o passar dos anos, passaram a se considerar como irmãos.

Park Chanyeol era um camponês que vivia nas ruas de Lamuria roubando para que pudesse sobreviver, mas por vezes não tinha sorte em seus furtos. Quase fora morto das mais diversas formas, contudo a fome e o frio eram os assassinos mais recorrentes que nunca saiam de seu encalço. O moreno tinha ficado órfão desde os oito anos quando seus pais morreram num incêndio e durante cinco viveu sozinho sem um teto e alguém que pudesse cuidar dele. 

Byun não era diferente, contudo, ele não era da região, mas perguntar para o adolescente com o rosto de um pequeno diabinho travesso era inútil, pois alegava não ter lembranças de sua vida anterior. Mestre Do o tinha encontrado as margens de um riacho do lado oeste da Floresta das Trevas, faminto e assustado. Era comum que feiticeiros tomassem pessoas que não tinham família para serem seus aprendizes — poucos eram aqueles que compravam jovens para lhes ensinar e mais raras as famílias que vendiam suas crianças por algumas moedas —, e compadecido da situação do jovem, convidou-o a morar consigo. Apesar de ser muito rabugento, Do Kyungsoo era um bom anfitrião e mestre, cuidava verdadeiramente bem dos garotos como se fossem seus filhos.

O mais novo contava algumas partes de sua noite para o irmão, no entanto, evitava os detalhes mais sórdidos — achava que Baek não gostaria de saber com minuciosidade todas as formas com que Jongin o possuiu. Durante longos minutos, após terem terminado de tomar o café e Byun retirava a mesa, o mais novo se lembrou de que não veria o namorado durante alguns dias e esse pensamento era o suficiente para deixá-lo desanimado pelo resto do dia. Ele suspirou profundamente e olhou para fora do vitral da cozinha, sendo aquecido pela luz solar. Como aprendiz de feiticeiro, tinha de ter uma boa memória para algumas coisas, principalmente assuntos relacionados a magia e instrumentos mágicos, ainda assim, jamais ouviu falar sobre o Coração das Esmeraldas.

— Hyung, você já ouviu falar sobre o Coração das Esmeraldas?

O rosado virou-se com as mãos úmidas e as colocou na cintura, pensativo. Byun estava com Kyungsoo havia mais tempo, deste modo, tinha um conhecimento maior das artes arcanas.

— Não, não me lembro de já ter ouvido algo parecido. Por quê?

— A rainha está doente e, segundo o que Jongin me disse, a única coisa que poderia curá-la é algo chamado de Coração das Esmeraldas — respondeu Park sentindo um leve incomodo. — O rei o mandou junto de mais alguns soldados para o interior da Floresta das Trevas para encontrar.

Chanyeol percebeu os tremores de Baekhyun apenas de ouvir o nome da floresta.

— Não sei como vocês têm coragem de entrar naquele lugar pavoroso.

— É apenas um amontoado de árvores, hyung.

O rosado se virou e tornou a lavar a louça. O mais novo pode ver a tensão em seus ombros, algo que sempre acontecia quando a Floresta das Trevas ligeiramente surgia nas conversas. Era compreensível já que, segundo as poucas coisas que Byun relatava, tinha vindo daquele lugar.

— Pode ter certeza, Channie, aquele lugar não é uma simples floresta.


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Notas finais do capítulo

Eu gostaria de agradecer a @suhomyeon, responsável pela avaliação e betagem da estória ?” que eu amei demais, foi muito sucinta e me deixou com o coração quentinho ?” e também foi responsável por essa capa maravilhosa que vocês vêem. Espero que vocês tenham gostado do primeiro capítulo, porque ainda tenho mais três esperando para serem postados. Discutindo com a administração do projeto, estarei vendo a possibilidade de postar no Wattpad que é a segunda plataforma nas quais divulgo minhas estórias. É isso, meus queridos habitantes da floresta, nos vemos na próxima segunda-feita com o segundo capítulo "Journey to the Emerald Heart". Até mais!



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