CENA EXTRA #1 – Composição: Bella’s Lullaby

Segunda-feira, 30 de junho de 2014 – 09:10h, Sala de Música, ONG Saber é Conhecer, Chicago, Illinois, 24°C – nublado.

Parei de tocar as teclas assim que o burburinho da sala ao lado foi diminuindo. Estava tão entretido na composição que quase parei de prestar atenção ao meu redor – aquele era um risco que eu não gostaria de correr. Enquanto houvesse barulho suficiente, eu continuaria tocando e mudando as notas, até encontrar a melodia perfeita.

Bella estava aproveitando que Alice estava de férias para ir para a ONG durante o período da manhã e eu tentava não me fazer muito notar – o que era bem difícil, já que a Sala de Música era ao lado da de Culinária.

Isso porque aquele horário era o único em que a Sala de Música estava disponível e eu não tinha eventos, então aproveitava para usar o piano clássico da ONG para adiantar e trabalhar no recital que eu sabia ter que apresentar depois de chegar à Juilliard.

O motivo de eu me “esconder” de Bella nesses horários era bem simples, a minha composição era não só para ela, mas sobre ela. Sobre como eu me sentia em relação a ela, todas as emoções e sentimentos que me envolviam e me ligavam a ela desde o primeiro momento em que eu a tinha visto.

Claro que a melodia de uma música poderia ser mais difícil de ser interpretada isoladamente, – quando não havia uma letra a acompanhando – mas Isabella era muito perspicaz para deixar aquilo passar em branco. Ou talvez o fato de eu parar de tocar toda vez que ela se aproximava ou tentava falar comigo “desse ainda mais bandeira”. Mas era aquilo, né, sutileza não era o meu forte.

─ Edwaaard! ─ disse ela com um sorriso, entrando na sala, uma bandeja em mãos com suco e biscoitos e colocando-a delicadamente na única mesinha existente no cômodo.

─ Oi, amor ─ falei. Bella me olhava atentamente, curiosa para saber o que eu estava fazendo e fechei a partitura no momento em que os olhos chocolate dela pousaram nas minhas anotações.

─ Ei! O que está me escondendo aí? ─ perguntou, estreitando os olhos para mim ─ Sabe muito bem que nem ler partituras eu sei! ─ resmungou ela, sentando-se ao meu lado na banqueta e cruzando os braços.

─ Não é nada, meu amor ─ respondi. Ela não sabia ler partituras, mas o nome dela estava no topo de minhas anotações; se ela o visse, mataria a charada na mesma hora ─ É só umas tentativas de composição para o meu recital ─ expliquei-lhe.

─ Hm... Sei ─ falou, ainda desconfiada, franzindo o cenho.

─ Não fique assim ─ brinquei, roubando um selinho dela. Eu amava sentir a textura macia dos lábios dela; eu sempre me arrepiava ─ O que trouxe para mim? ─ perguntei, olhando de relance para a bandeja.

A expressão no rosto dela se suavizou e ela sorriu para mim novamente.

─ As crianças que prepararam. Prefere comer aqui sozinho ou quer ir lá na sala com a gente? ─ perguntou Bella, acariciando meu rosto.

Eu suspirei com o seu toque e ela sorriu ainda mais.

─ Vou lá com vocês ─ respondi, levantando-me e me espreguiçando. Vi quando Bella tentou se aproveitar e pegar as anotações da partitura, mas eu fui mais rápido do que ela.

─ Argh! ─ ela bufou e eu ri.

─ Você ainda vai me ouvir tocando isso, meu amor, não se preocupe ─ falei, dando-lhe mais um selinho antes de guardar a partitura em minha pasta e colocá-la em segurança na minha mochila (à prova de noivas curiosas). Eu sabia que Bella não mexeria nela, ela respeitava demais a minha privacidade, por mais curiosa que pudesse estar.

Eu sabia que seria difícil continuar evitando que Bella ouvisse a melodia, mas eu estava disposto a continuar tentando para manter intacta a surpresa do dia em que eu finalmente pudesse me apresentar para ela, do jeito que ela merecia.