As Maiores Paixões da Vida escrita por Mari Pattinson


Capítulo 2
Primeiro Capítulo


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoas lindas.
Espero que esteja tudo bem com vocês.
Trago aqui o primeiro capítulo dessa "One" que acabou se desenvolvendo muito mais do que eu mesma esperava e virou uma "Short-Fic". Ela terá quatro capítulo + epílogo (ainda preciso finalizar o último capítulo, mas decidi ir postando aos poucos).
Espero que gostem desse primeiro capítulo e não se esqueçam de dar a opinião de vocês nos comentários e quero aproveitar para agradecer à SS Oliver pelo comentário no prólogo ♥

PS: Os links (que aparecem em azul) são para complementar visualmente a história :)



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CAPÍTULO 1

Quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014 – 09:30h, Casa dos Volturi*, Chicago, Illinois, -7ºC – predominantemente nublado.

*Clique aqui para ver o projeto em 3D.

Obs: A maioria das cores dos móveis e do tamanho dos cômodos é meramente ilustrativa, porque o app/site apresenta poucas opções de edição gratuitas. Por isso também não tem telhado (a única opção gratuita não ficava legal).

─ Príncipe Hans! ─ Alice exclamou, animada, assim que a porta de entrada do hall da casa Volturi foi aberta. A casa era menor do que eu esperava, pensando tanto no bairro em que estava localizado, quanto na fortuna dessa família – sim, eu havia pesquisado sobre eles.

Aro, pai de Alice e esposo de Isabella, tinha 48 anos de idade e era dono – por herança – do Aeroclube Volturi, onde também era instrutor de voo. Aro e Isabella eram casados há quase dez anos, logo que ela se formara no colegial, então ela ainda estava próxima à casa dos 30 anos de idade.

De acordo com o que havia lido, ela não vinha de uma família exatamente rica, mas os Swan tinham meios de manter uma vida confortável, mesmo após a morte de Charlie e Renée – pais de Isabella – em um acidente, então eu me perguntava se os tabloides estavam corretos quando a apontavam como uma interesseira.

Não encontrei muitas informações sobre o desenrolar da vida deles depois do casamento – além do fato de Isabella ter engravidado logo após a lua de mel; eles pareciam discretos depois de toda a polêmica que envolveu o matrimônio deles.

Voltando ao ambiente em que eles moravam, a casa era mais “modesta” – pelo menos em tamanho – do que eu tinha imaginado, sendo pouco maior que o chalé onde a festa de Alice ocorrera e não tão aconchegante quanto; as paredes em tons claros, acinzentados demais, davam a impressão de frieza.

Apesar de pequena, a casa era suficientemente grande, como pude notar entre a sala e outro cômodo fora do meu campo de visão, para abrigar um piano de cauda Bechstein B228— que nem em meus melhores sonhos imaginei ver com meus próprios olhos algum dia. Ele custava mais do que qualquer lugar que eu já tivesse pisado – talvez com a exceção das moradias Volturi.

─ Alice! ─ cumprimentei a pequenina, oferecendo minha mão como no toque “bate aqui”; olhando-a mais atentamente, ela parecia ligeiramente menor que as meninas de 9 anos que eu já havia conhecido. Os cabelos pretos estavam quase completamente escondidos pela touquinha de lã, de tão frio que estava fazendo, salvo por uma trancinha que ficava à mostra; ela usava um conjunto de inverno rosa para ajudar a aquecê-la.

Alice abriu um sorriso brilhante e bateu em minha mão com a sua delicadamente.

─ Alice, meu amor, quantas vezes já não lhe disse para não abrir a porta sozinha? ─ Isabella apareceu, com uma carranca no rosto delicado, que se suavizou quando me viu.

─ É o Príncipe Hans, mamãe, ele chegou! Eu sabia que era ele, porque você mesma disse que ele vinha hoje! ─ a menina exclamou, o sorriso ainda estampado no rosto quando ela deu uns passinhos para trás e gesticulou com o braço direito ─ Bem-vindo a minha casa!

─ Muito obrigado, Alice! ─ falei, dando uma piscadinha para ela, que soltou uma risada ─ Senhora Volturi ─ acenei para Isabella, que balançou a cabeça negativamente.

Percebi que seus cabelos acompanharam o movimento; elas caiam em ondas até a altura dos ombros, exceto por duas tranças, uma de cada lado, sumindo na parte de trás da cabeça. Pelo jeito, as duas integrantes femininas dessa família gostavam bastante de trançar o cabelo. Isabella trajava um moletom cor de musgo e calças jeans... Não que eu quisesse prestar atenção, meus olhos pareciam simplesmente atraídos, como se estivessem magnetizados por um imã gigantesco, que, no caso, era Isabella inteira.

O que estava acontecendo comigo?

─ Me chame de Bella ─ ela pediu da mesma maneira como na festa de Alice, fitando-me gentilmente com os olhos acastanhados.

─ Certo ─ assenti, ainda um pouco incerto. Não era comum, principalmente gente rica, pedir para ser tratada pelo primeiro nome, menos ainda pelo apelido!

─ Entre! ─ Isabella se afastou e pude cruzar a soleira da porta, passando meus olhos rapidamente pela casa (se tinha uma coisa que eu sabia que ricos não gostavam, era de “funcionários” bisbilhoteiros).

Suspirei ao voltar minha atenção para o Bechstein; aquele era um sonho de consumo praticamente inalcançável para mim, meu cérebro mal conseguia acreditar que o que meus olhos viam era real.

─ É um belo piano! ─ comentei; é claro que seria maravilhoso ensinar a pequena Alice a tocar nele, mas a não ser que a família já o tivesse antes da proposta de eu dar aulas a ela, seria um exagero tê-lo comprado apenas para esse propósito. Mas é claro, gente rica adora se mostrar e eu tinha que me conter se quisesse juntar dinheiro suficiente para Nova Iorque, isso, obviamente, se eu fosse aceito em Juilliard.

─ Ah! ─ Isabella exclamou; ela fez uma careta engraçada antes de revirar os olhos ─ Aro o comprou para as aulas de Alice ─ Bingo! ─ Ele é muito exagerado.

─ Realmente, não tinha necessidade de comprar um piano agora ─ falei-lhe e ela simplesmente assentiu, concordando comigo.

Eu tinha tido muita sorte de aprender a tocar com o meu já falecido pai, que era professor de piano nas horas vagas, então, na época, não precisamos comprar o instrumento, pois meu pai mesmo já o tinha.

A maioria dos outros alunos dele iam para minha casa aprender a tocar, visto que muitos não tinham condições ou os pais deles simplesmente não viam, no início, vantagens em comprar um instrumento que nem sabiam se seus filhos iriam gostar ou querer continuar aprendendo a tocar. Depois das primeiras aulas, alguns alunos desistiam enquanto outros acabavam adquirindo um modelo de piano – mesmo dos mais simples – e meu pai começava a ensiná-los em suas próprias casas. Isso antes de ele e minha mãe fundarem a ONG e começar a dar aulas para crianças e jovens carentes lá mesmo.

─ Trouxe o meu piano digital, está no carro ─ apontei para meu companheiro de todas as horas, o Chevy Impala 1967 preto, que outrora havia sido de meu pai.

─ Belo carro! ─ Isabella elogiou, um lindo sorriso estampando o rosto – ainda mais lindo – dela.

Balancei a cabeça tentando dispersar possíveis pensamentos indevidos; era melhor, inclusive, antes que eu me visse mais atraído pela mulher cuja filha eu deveria ensinar a tocar piano – era o meu principal e único dever para com essa família. Aliás, a música era a minha prioridade. Entrar em Juilliard, não num “relacionamento”, era a minha prioridade.

─ Obrigado ─ limitei-me a agradecê-la antes que acabasse voltando um elogio a ela.

─ Não há de quê ─ disse ela, ainda olhando para o carro, parecendo realmente encantada.

─ Qualquer dia deixo você dar uma volta nele... ─ Mas que droga, Edward! Contenha a sua língua!

─ Ah! ─ ela exclamou em tom de surpresa, as bochechas ficando imediatamente rosadas. Eu e minha inconveniência!

─ Bem, se o seu marido fez questão de comprar o piano, seria uma desfeita não usá-lo, sim? ─ mudei de assunto, tentando deixar o clima menos esquisito.

─ Ah, claro ─ Isabella disse, fechando a porta de entrada da casa ─ Fique à vontade, por favor. Estarei na cozinha fazendo o almoço.

Não vou dizer que não estranhei o fato de Isabella dizer que faria o almoço ou estaria mentindo. Ela não parecia se encaixar no padrão do que era esperado para pessoas mais abastadas economicamente – só pra eu mudar o disco de chamá-las de “gente rica” o tempo todo. Imaginei que a família teria pelo menos um(a) empregado(a) cuidando da casa, mas eu estava errado.

─ Certo.

11:30h – -3ºC – nublado

─ Olha, mamãe, eu consegui aprender! ─ Alice gritou, bastante animada enquanto dedilhava pelas teclas do piano no ritmo de “Brilha, Brilha Estrelinha”.

Eu estava de pé, ao lado do piano, enquanto observava Alice tocar; do meu campo de visão, também conseguia ver Isabella, que olhou para a filha por sobre o ombro enquanto fazia alguma coisa na pia da cozinha.

Eu conseguia ver como a roupa dela contornava perfeitamente a linda silhueta que ela tinha, e droga, não deveria estar pensando essas coisas da mãe de minha primeira aluna!

─ Parabéns, meu amor! ─ Isabella falou e, em alguns segundos, estava ao nosso lado, ouvindo atenciosamente a música que Alice tocava; e eu sei que nada mais nela deveria me surpreender, mas eu também sabia nem toda mãe se importava com os pequenos avanços dos filhos, principalmente no início do aprendizado.

Alice abriu um sorriso gigantesco e continuou tocando a música até o final. Eu também estava orgulhos dela; apesar de não ser uma música difícil, foi a primeira vez que a garotinha sequer tocava um piano. Além disso, eu mesmo me lembrava da minha própria alegria ao conseguir tocar a primeira música completa no piano.

─ Você é maravilhosa! ─ Isabella elogiou assim que Alice terminou a música, abraçando a filha pelos ombros.

─ Obrigada, mamãe! ─ Alice acariciou o rosto da mãe carinhosamente e não pude deixar de sorrir, lembrando-me de minha própria mãe; fazia um tempo desde a última vez que eu a vira, estava devendo uma visita a Dona Esme.

─ De nada. Edward, a aula já acabou, sim? Lembro-me de combinarmos esse horário por causa da escola de Alice...

─ Ah, não, mamãe! Prefiro mil vezes continuar na aula de piano! ─ Alice interrompeu Isabella, cruzando os bracinhos finos e fazendo aquele mesmo biquinho que o padrinho fizera na festa dela.

─ Nós combinamos, mocinha. Você tem que frequentar suas aulas regulares se quiser continuar tendo aulas de piano. Edward deve ter outros compromissos e você tem o compromisso com a escola... E com Jasper, combinamos de levá-lo hoje, esqueceu?

─ Argh! ─ a pequenina torceu o nariz, parecendo não muito convencida com a fala da mãe.

─ Ei, Alice, lembre-se de que eu volto na terça-feira ─ chamei a atenção dela, que se virou para mim e desfez o bico ─ Se você tiver gostado da aula, é claro! ─ pisquei e ela deu uma gargalhada.

─ É claro que eu gostei ─ Alice confirmou e se desvencilhou dos braços da mãe, levantando-se da banqueta e me dando um abraço de supetão ─ Obrigada!

Isabella também parecia surpresa, mas parecia confiar em mim o suficiente para deixar que eu abraçasse sua filha de volta, quando ela me fitou com os olhos chocolate de modo sereno. Eu não poderia negar o carinho daquela criança; era meu trabalho, mas o “contrato” – naquela situação, inexistente – não me proibia de abraçá-la.

─ Não há de que, Alice ─ abracei-a, fazendo um carinho em sua cabeça.

Um barulhinho de relógio acabou por nos tirar daquele contato e Isabella correu para a cozinha.

─ O frango está quase pronto! Alice, já para o banho!

Alice deu alguns resmungos antes de me soltar e subir as escadas.

─ Dê tchau ao Edward! ─ Isabella correu para onde estávamos de volta, um pouco esbaforida, as bochechas vermelhas pelo corre-corre ─ Não estou te expulsando daqui. Oh, meu Deus, não! ─ ela cobriu a boca, balançando a cabeça negativamente e fechando os olhos. Alice riu, parecendo se divertir com a confusão da mãe ─ Eu só achei que Alice demoraria tanto no banho, como sempre faz, que quando ela saísse você já teria ido embora.

─ Está tudo bem ─ respondi-lhe ─ Não fique envergonhada ─ falei quando ela abriu aqueles olhos tão derretidos que eu quase me perdi neles.

─ Ele não vai embora, mamãe. Eu “convidei ele” para almoçar com a gente de qualquer forma ─ a pequena deu de ombros e antes que eu pudesse negar qualquer coisa, ela adentrou num cômodo e simplesmente fechou a porta.

─ Ah... Alice realmente me convidou, mas eu nem aceitei ─ expliquei a Isabella, quando ela me fitou com curiosidade ─ Diga a ela que eu agradeço, mas...

─ Você tem algum compromisso? ─ Isabella me interrompeu ─ Agora, eu quero dizer.

─ Bem, não, mas...

─ Almoce conosco então. Seremos só nós duas, como sempre... ─ ela comprimiu os lábios, como se se recriminasse por falar demais. Será que o marido nunca as acompanhava nas refeições? ─ E quero me desculpar pela má educação.

Eu sabia que ela se referia a momentos antes quando mandara Alice se despedir de mim.

─ Não foi má educada, foi até engraçado ─ eu tentei confortá-la, mas obtive o efeito contrário quando as bochechas dela assumiram aquele tom rosado que a deixava ainda mais encantadora.

─ Fique, podemos conversar mais sobre as aulas.

Gostaria de dizer que não fui convencido pelo olhar de Isabella, nem pela presença dela, e sim pelo cheiro maravilhoso que saía do forno; mas estaria mentindo se o fizesse.

12:30h

─ Então, fechamos em duas vezes por semana, sim? ─ perguntei para as duas e Alice balançou a cabeça positiva e animadamente.

─ Claro, se você achar que é o suficiente. Eu não entendo muito de piano ─ Isabella falou e fitou-me com curiosidade.

Nós estávamos sentados à mesa da sala de jantar, que nada mais era do que um conjunto de madeira elegante de mesa e cadeiras estofadas no mesmo cômodo da sala de estar. Nada muito “chique” como o esperado para pessoas com uma fortuna daquelas.

─ Acredito que seja sim, pelo menos para esse começo ─ falei e Isabella concordou com a cabeça.

“Bem, não quero atrapalhá-las, muito obrigado pelo almoço Senhora V... Bella?” eu agradeci-a, ainda me sentindo um pouco esquisito pela maneira informal como ela me permitia tratá-la “E embora a comida estivesse muito boa, espero que isso não se torne um hábito, não é muito profissional de minha parte...”.

─ Não se preocupe ─ Isabella me interrompeu ─ Gosto... Gostamos de sua companhia, não é Alice? É bom ter outra pessoa conosco para variar ─ completou ela, sorrindo. Então, realmente, Aro Volturi não deveria ser o mais presente dos maridos/pais.

Não querendo encará-la em demasia, olhei rapidamente dela para a pequena criaturinha, sentada ao meu lado, que também sorria. O cabelo dela estava preso num coque baixo e, claro, com algumas tranças ao redor para enfeitá-lo.

─ Gostamos sim! ─ Alice assentiu ─ São só duas vezes por semana, você deveria aproveitar a comida da minha mãe! ─ ela deu uma risadinha quando as bochechas de Isabella ficaram rosadas novamente e eu balancei a cabeça negativamente, dando uma piscadela para a garotinha que riu novamente.

Terça-feira, 18 de fevereiro de 2014 – 09:30h, Casa dos Volturi, Chicago, Illinois, -1ºC – céu aberto.

─ Príncipe Edward! ─ Alice abriu um sorriso assim que adentrei a casa, pronto para dar-lhe a segunda aula de piano. Não pude deixar de rir dos cumprimentos dela, aquela menina sabia como fazer uma gracinha.

─ Princesa Alice! ─ brinquei, fazendo uma pequena reverência e ela acabou rindo também ─ Bella! ─ acenei para Isabella, chamando-a pelo apelido com um pouco mais de segurança do que nas outras vezes.

─ Bom dia, Edward! ─ Isabella falou, dando-me um daqueles sorrisos calorosos e fitando-me com os olhos derretidos de sempre.

Os cabelos de Alice estavam presos em duas tranças, uma de cada lado da cabeça e ela usava um vestidinho floral azul claro de mangas compridas.

Isabella trajava uma camiseta de mangas compridas lilás com um decote em “v” que evidenciava seu colo bonito e uma calça uns tons mais escuros e que contornava bem a figura dela – e eu só podia segurar meus impulsos de querer olhá-la o tempo todo. Os cabelos estavam trançados numa única trança atrás da cabeça.

─ Estarei fazendo o almoço, fique à vontade, Edward ─ Bella falou e, como da última vez, se dirigiu à cozinha enquanto eu iniciava a segunda aula de piano de Alice.

12:00h, 4ºC – nublado

─ É o mínimo que posso fazer ─ disse à Isabella enquanto a ajudava a colocar a mesa e Alice se arrumava para ir à escola ─ Já é a segunda vez que você me alimenta!

─ Já disse para não se preocupar! ─ Isabella disse, sorrindo, enquanto tirava uma lasanha do forno e a colocava cuidadosamente sobre a mesa.

─ Está com um cheiro ótimo! ─ falei, sentindo o delicioso aroma dos temperos que ela tinha usado adentrando por minhas narinas.

─ Espero que esteja com um sabor tão bom quanto ─ disse ela ─ Ah, quase me esqueci de te falar, a mãe de Jasper, que é o melhor amigo de Alice, pediu o seu contato. Ela disse que Jasper pareceu interessado em ter aulas também, depois que soube que Alice tinha começado.

─ Ah, certo. Tudo bem, pode passar meu número para ela ─ falei-lhe.

Eu estava surpreso com aquela situação, mas feliz porque mais trabalho significava mais chances de eu conseguir me manter na cidade da Grande Maçã... Isso se eu conseguisse uma vaga, é claro. Dar aquelas aulas, me ajudava mais do que financeiramente, tirava um pouco o foco de toda a ansiedade que eu sentia em querer ter uma resposta o mais rápido possível de Juilliard.

─ Okay! ─ Isabella assentiu ─ Você já recebeu uma resposta? Aliás, para onde quer ir, mesmo? Acho que acabou não mencionando no dia da festa.

─ Não recebi ainda ─ murmurei ─ Quero ir para Juilliard estudar piano. Os resultados devem ser enviados até o começo de abril ─ respondi-lhe, sentindo meu rosto queimando.

Nem todos que me ouviam falar sobre isso entendiam ou me apoiavam, então eu passei a evitar entrar em muitos detalhes; alguns achavam loucura de minha parte, o que se subentendia como dúvidas em relação à minha capacidade, às minhas habilidades enquanto pianista.

Claro, aquilo tudo era sobre a Juilliard School e era difícil ingressar nela, mas não era impossível, e mesmo com poucos acreditando em mim, não seria eu a desistir dos meus próprios sonhos. Não quando eu tive que lutar tanto por eles.

─ Uau! ─ Isabella exclamou, surpresa, e eu me preparei para ouvir a mesma historinha de como eu sonhava alto demais e se eu tinha noção de como era difícil adentrar naquela instituição. Mas é claro, Isabella não era como as outras pessoas, ela era doce, ela respeitava as ambições alheias.

Então, ela simplesmente sorriu e colocou a mão sobre meu ombro, – e tenho certeza de que o toque de sua pele só não me arrepiou mais, por causa do grosso casaco que eu vestia – fitando meus olhos com uma expressão suave e confiante ao mesmo tempo.

─ Tenho certeza de que em breve você estará indo para Nova Iorque! ─ disse Bella, mantendo o sorriso no rosto. Eu a agradeci, sorrindo de volta, sentindo a verdade nas palavras dela ─ Um talento como o seu não pode ficar escondido ─ ela completou, piscando para mim e rimos de sua brincadeira.

─ Do que vocês estão rindo? Eu quero rir também! ─ disse Alice, enquanto saltitava ao descer da escada.

─ Alice! Não desça as escadas desse jeito! ─ Bella ralhou e, como percebi ser um costume, a pequenina fez um biquinho ─ Quer se estabacar no chão?

─ Não, mamãe, me desculpe! ─ Alice murmurou, diminuindo o ritmo de seus passos até parar na nossa frente e encarou a mão de sua mãe, que ainda repousava sobre o meu ombro.

A criaturinha ergueu uma sobrancelha e poderia jurar, se não fosse pela pouca idade dela, que um brilho malicioso passou por seus olhinhos azuis brilhantes, mas assumi ser apenas “curiosidade”. Ou talvez ela apenas quisesse se livrar de uma bronca.

Isabella também pareceu perceber o olhar da filha e rapidamente retraiu o braço, levando-o para trás das costas e endireitando a postura; a ação, porém, apenas despertou ainda mais a “curiosidade” de Alice, que olhou de mim para a mãe, como se buscasse respostas para perguntas silenciosas – e que obviamente diziam respeito a mim e Bella.

Perguntava-me o que passava por aquela pequena mente de criança; se ela fosse tão criativa quanto eu achava que era, e até mesmo o quanto eu era – na idade dela – certamente começaria a imaginar o que estava acontecendo entre mim e sua mãe.

Claro, “nada” era a única resposta plausível, mas eu também sabia que era impossível negar a tensão – e possível excitação, eu diria – entre mim e Isabella, havia sido quase instantânea, desde o momento em que nos conhecemos na festa de Alice. Chegava a ser quase palpável; e como dizem por aí, crianças percebem tudo... Será que a pequenina também conseguia sentir?

─ Ah, eu só dizia a Edward como um talento como o dele não deveria ficar escondido, deveria ser mostrado para o mundo ─ Isabella voltou-se para a pequena, que fez uma expressão pensativa.

─ E o que tem de engraçado nisso? ─ Alice perguntou, franzindo o cenho delicado.

─ Não tem, você tem razão... Mas eu te conheço, mocinha, não desvie o foco. Já lhe disse mil vezes para não descer as escadas daquele jeito... ─ Isabella tornou a falar, cruzando os braços, marcando um pouco mais a silhueta de seu busto e eu desviei rapidamente o olhar para a mesa quase completamente posta.

Durante os cinco minutos seguintes, Bella prosseguiu explicando a Alice sobre os perigos de se saltar em escadas, enquanto a garotinha bufava e se controlava para não revirar os olhos – eu percebia como ela se esforçava, toda vez que seu olhar subia um pouquinho, para baixá-lo e mantê-lo “atento” a fala de sua mãe.

Ela era igualzinha a mim quando criança, o que era bastante interessante e divertido de se observar. Eu, é claro, me continha para não dar risada e acabar estragando a educação que Isabella tentava passar à filha e quase falhei quando Alice colocou as mãos na cintura e bateu o pé direito insistentemente no chão.

─ Vai fazer malcriação na frente do seu professor de piano? ─ Bella perguntou, um tom ainda mais bravo em sua voz ─ Venha mocinha, vamos esclarecer nossos combinados novamente, Edward, nos dê licença.

Isabella pegou Alice pelo punho e subiu as escadas com ela, adentrando por uma das portas no andar de cima; elas não demoraram a voltar, a pequenina com uma carranca no rosto.

─ Desculpe por não ter me comportado ─ Alice resmungou enquanto cruzava os braços e olhava de mim para a mãe dela.

Isabella apenas a encarou com uma das sobrancelhas erguidas e, claro, como o filho “rebelde” que outrora eu tinha sido, não pude deixar de reconhecer o olhar dela para a pequena Alice. Aliás, eu achava difícil que qualquer filho, mais ou menos comportado, nunca tivesse recebido um olhar daqueles de sua mãe. Era algo como: “continue agindo assim e ficará de castigo para sempre”.

─ Desculpe por não ter me comportado! ─ Alice falou, dessa vez mais alto, e me encarando.

─ Está tudo bem, Pequenina! ─ falei-lhe, só então me dando conta de que eu havia chamado-a, em voz alta, da mesma forma como em meus pensamentos. Alice deu uma risadinha antes de caminhar até a mesa e começar a se servir de lasanha.

Isabella olhava a filha e mantinha um pequeno sorriso no rosto, parecendo imersa em seus próprios pensamentos, e então ela voltou-se para mim e corou, como se não esperasse que eu estivesse olhando-a também. O sorriso dela tornou-se tímido, como quando somos pegos fazendo algo que não deveríamos e eu só sabia que eu daria tudo para saber o que se passava na cabeça dela naquele momento.

─ Venham almoçar, por que estão se olhando desse jeito? Eu hein! ─ Alice comentou, dando mais uma risadinha antes de abocanhar uma garfada da lasanha.

─ Alice! ─ Bella repreendeu-a, o tom rosado se tornando ainda mais evidente em suas bochechas ─ Venha, Edward. Essa espertinha está certa, vamos almoçar!

Sorri para as duas enquanto me acomodava à mesa, ambas eram encantadoras e o amor e carinho que uma tinha pela outra era muito fácil de se perceber, mesmo momentos antes, quando Isabella havia tido uma “conversinha de pé de orelha” com Alice, como diria minha mãe, era óbvio o quanto elas se respeitavam e queriam o bem uma da outra.

Quinta-feira, 20 de março de 2014 – 09:30h, Casa dos Volturi, Chicago, Illinois, 0,5ºC – neve suave.

Suspirei ao encarar a porta de madeira, preparando-me para mais uma manhã na presença das meninas Volturi. Há mais de um mês eu dava aulas para Alice, que havia progredido bastante no piano. E, há mais de um mês eu me via cada dia mais encantado pela mãe de minha aluna. Era muito fácil se apegar às duas e eu me via cada vez mais ansioso pelas manhãs de terças e quintas-feiras.

─ Bom dia, Edward! ─ Bella me cumprimentou, assim que abriu a porta de entrada.

─ Bom dia, Bella! ─ cumprimentei-a de volta, mas hesitei antes de entrar na casa e ela rapidamente percebeu.

─ O que houve? ─ ela perguntou, soando preocupada.

─ Estou coberto de neve, não quero molhar a sua casa ─ respondi-lhe ─ Não é muita, mas sabemos que qualquer quantidade pode fazer um estrago. Só do caminhozinho do meu carro até a sua porta de entrada foi o suficiente.

Ela abriu um sorriso, parecendo aliviada com aquele motivo.

─ Tudo bem, entre. Vou colocar seu casaco na área de serviço, não se preocupe.

─ Minhas botas. Devo deixá-las do lado de fora, ou...

─ Só se quiser congelar seus pés quando for embora. Ande, deixe de besteira, entre logo antes que pegue um resfriado! ─ Bella resmungou, gesticulando com as mãos, como se fosse uma mãe instruindo seu filho e não pude deixar de rir. Eu era a criança naquela situação.

Como sempre, Isabella não era muito ligada às “regras convencionais da riqueza”. Outra pessoa da classe social dela provavelmente piraria se me visse pisando com botas molhadas de neve em seu piso elegante e lustroso.

É claro que eu mal fazia ideia do que era feito o piso dela, mas deveria ser caro... Ou não, já que Isabella não parecia se incomodar muito com preços. A cozinha da casa dela parecia ser o cômodo com mais “investimentos”. Talvez por Isabella parecer gostar bastante de passar o tempo lá.

─ Obrigado ─ murmurei quando ela, após eu finalmente entrar, fechou a porta e estendeu os braços para mim, aguardando que eu me despisse... Quer dizer, tirasse o casaco, as botas e até mesmo a touca que vestia. Minhas luvas tendo sido os primeiros itens que eu havia tirado; elas estavam num dos bolsos do casaco.

─ Não há de quê! ─ disse ela ─ Alice já deve estar descendo.

─ Não tem problema, eu a espero ─ falei, enquanto colocava o casaco pesado em seus braços pequenos. Bella vestia uma blusa de manga ¾ listrada e me perguntei se ela não sentia frio, mas minha pele se arrepiou quando, sem querer, meus dedos encostaram em sua pele exposta e pude sentir o calor vindo dela. Ela parecia sob o mesmo efeito e não era apenas porque meu casaco estava gelado. Meus pensamentos se confirmaram quando o rosto e o colo dela tornaram-se adoravelmente rosados e ela desviou o olhar para o chão.

─ Sabe, Alice se atrapalhou um pouco com o dever de matemática ─ Bella falou, depois de alguns instantes de silêncio, as bochechas ainda coradas ─ Não sou muito boa nessa matéria para ajudá-la, então ela meio que acaba tendo que se virar sozinha em alguns dos assuntos.

─ Matemática? Olha, a minha prima, Rosalie, é professora do primário, talvez ela possa ajudar Alice, se você quiser; você a conheceu, era aquela que estava vestida de Elsa na festa ─ falei-lhe.

─ Oh! Eu não imaginei que a Elsa fosse professora! ─ Bella exclamou, dando uma risadinha.

─ Na verdade, ela só canta em algumas das apresentações pra nos ajudar, principalmente nas festas infantis, quando costuma ter muitas personagens ─ expliquei e Bella assentiu.

─ Bem, se você puder falar com ela, será de grande ajuda. É melhor sanar logo essas dificuldades, porque lá na frente, tudo vira uma bola de neve.

─ Você tem razão. Pode deixar, eu vou falar com ela e coloco vocês duas em contato.

Rose, com certeza, não se negaria a ajudar uma garotinha tão doce e esperta como Alice. Fora que, diferentemente do que se era esperado – e talvez a culpa fosse minha por alimentar certos estereótipos tão veementemente – aquela casa era cheia de afeto, atenção e cuidado. Era um ambiente muito parecido com aquele em que eu e Rose mesmo fôramos criados.

Após mais alguns instantes de silêncio, Isabella pareceu se lembrar da neve e apontou para meus pés. Rapidamente, tirei as botas e ela a pegou de minhas mãos e, novamente, um arrepio percorreu minha coluna quando nossas peles se tocaram. Bella mordeu o lábio inferior, parecendo um pouco envergonhada e mal percebendo o quanto aquele gesto a tornava ainda mais... Atraente.

Mas que droga, Edward! Lembre-se, você é professor de Alice. Lembre-se, a música deve ser sua prioridade. Se tudo der certo, você estará em Nova Iorque em menos de seis meses! Contenha-se!

─ Vou levar suas coisas para a área de serviço. Fique à vontade ─ disse ela, como se tivesse “saído do transe” e quisesse se afastar o mais rápido possível de perto de mim.

Suspirei, assistindo o leve balanço dos quadris dela enquanto ela sumia por uma porta da cozinha, provavelmente indo para o cômodo que mencionara anteriormente. Por que ela não podia ser uma megera? Uma mãe desnaturada, feito aquelas que eu via constantemente nas festas? Por que ela tinha que ser tão boa, tão carinhosa e principalmente cuidadosa como tudo e todos à volta dela?

Por que eu me sentia tão bem, tão vivo ao lado dela? Aqueles arrepios e embrulhos no estômago... Eu não deveria, eu não poderia estar realmente me apaixonando por ela!

Mas Isabella era apaixonante, isso eu não poderia negar.

─ Príncipe Edward! ─ Alice exclamou animadamente do topo das escadas, um sorriso brilhante estampado no rosto.

Alice passou os olhos atenciosamente pelo cômodo e desceu em disparada até chegar à minha frente; entendi que ela antes estava se certificando que a mãe não a veria correndo escadaria abaixo.

─ Bom dia! ─ Alice abraçou minha cintura e não pude deixar de me sentir acolhido por seu gesto de carinho.

─ Bom dia, Pequenina! ─ cumprimentei-a; ela parecia ter gostado do apelido, já que não havia reclamado por eu continuar a usá-lo ─ Dessa vez não vou contar para sua mãe, mas você não deveria pular ou correr nas escadas. Você pode se machucar de verdade ─ falei-lhe, preocupado com sua segurança e afaguei sua cabeça, protegida pela mesma touquinha de lã que ela usara em sua primeira aula de piano. Pela primeira vez desde que a conhecera, percebi que seus cabelos estavam soltos, assim como os de sua mãe.

─ Poxa! ─ Alice resmungou, olhando para mim com os bracinhos ainda rodeando minha cintura, e fazendo o “tradicional” biquinho.

─ É pelo seu próprio bem, acredite em mim!

─ Argh! Tudo bem, professor! ─ ela resmungou novamente, revirando os olhos e me soltando ─ Vamos começar a aula?

Alice desfez a carranca e sentou-se ao piano, novamente animada. Isabella voltou quase que no mesmo instante com um pano nas mãos e franziu o cenho ao me ver ainda perto da porta.

─ Está tudo bem? ─ ela perguntou, aproximando-se de mim.

─ Sim ─ afirmei e gesticulei na direção de suas mãos ─ Deixe-me secar o chão! ─ estendi a mão para que ela me desse o pano.

─ Nada disso! ─ ela negou, balançando a cabeça negativamente ─ Já perderam tempo suficiente de aula ─ argumentou, exibindo um pequeno (e lindo) sorriso ─ Ande, para o piano! ─ gesticulou com as mãos e pude ouvir Alice, ainda sentada ao instrumento, dando aquela risadinha contagiante de sempre ─ Pode deixar que eu cuido disso!

─ Tudo bem, a Senhora quem manda! ─ brinquei, ao que Bella me olhou com desdém e “me bateu” com o pano ─ Vamos obedecer a sua mãe, então, Pequenina! ─ falei pra Alice que apenas ria com mais intensidade.

12:30, 5°C – predominantemente nublado

─ Muito obrigado pela refeição, meninas! ─ disse enquanto ajudava Isabella a retirar a louça da mesa, mesmo sob os protestos dela.

Já era a décima primeira vez que eu almoçava na casa Volturi e isso estava me ajudando a poupar não apenas meu próprio gás e energia elétrica e meu tempo na cozinha – onde, por sinal, eu não tinha talento algum – como também me ajudava a me distrair daquela ansiedade por uma resposta de Juilliard e da solidão de comer sozinho praticamente todas as minhas refeições – salvo aquelas que fazia rodeado de crianças agitadas ou adultos chatos nos eventos onde a banda tocava. A companhia de Alice e Bella era muito divertida e me fazia muito bem.

─ Sério, Bella, agora além de me alimentar você ainda quer se dar o trabalho de arrumar tudo sozinha? Que tipo de pessoa acha que eu sou? Com o tanto de vezes que almocei aqui, já não sou mais visita; aliás, eu nunca fui visita, se eu mantivesse apenas o posto de professor da Alice nem almoçando aqui eu estaria. Sinto-me até envergonhado de tantas vezes que comi aqui e não me dei ao trabalho de ajudá-la a arrumar a pia.

─ Edward, não se preocupe com isso, depois que tiver levado Alice à escola eu arrumo tudo. Não tenho mais nada para fazer pelo resto do dia, até dar o horário de buscá-la. Está tudo bem, de verdade! ─ disse Bella, tirando de minhas mãos a travessa com as sobras de salada e caminhando até a pia, privilegiando-me, novamente, com a visão do suave balançar de seus quadris.

─ Isabella! ─ resmunguei e ela apenas riu, ignorando-me completamente.

─ Não adianta discutir com ela, prof, minha mãe é muito teimosa! ─ Alice falou e se escondeu atrás de mim quando Bella se virou com os braços cruzados e uma carranca no rosto que era visivelmente falsa, já que era claro o esforço dela em não deixar que os cantos superiores dos seus lábios se transformassem em sorriso.

─ Vá pegar seu material, mocinha. Hoje levaremos Jasper então temos que sair um pouco mais cedo ─ Bella falou, olhando para a minha cintura... quer dizer, para a criaturinha que estava atrás de mim.

─ Está bem, eu já vou! ─ Alice resmungou antes de subir as escadas. Após o banho, ela aparecera de trança, o que, para mim, já era como uma marca registrada das garotas Volturi.

─ Vamos lá, Bella. Deixe-me pelo menos lavar a louça! ─ falei, aproximando-me da pia.

─ Já disse que não precisa. Se você fizer isso, terei menos uma coisa para fazer hoje, meu dia já será bem entediante porque adiantei a limpeza das janelas ontem ─ ela falou e se colocou entre mim e a elegante pia cuja pedra eu mal podia identificar.

Não pude deixar de me perguntar por que uma moça jovem e rica teria como “entretenimento” passar o dia arrumando a louça – e o resto da casa. Será que o tal Aro era um daqueles maridos que impedia a esposa de trabalhar ou sair sozinha de casa? Se bem que Bella, pelo que eu sabia, levava Alice – e até o amigo da Pequenina – para a escola sozinha, então talvez a última opção pudesse ser descartada.

─ Está tentando me dizer que não tem nada mais empolgante para fazer durante o dia todo? ─ perguntei, ainda surpreso, aproximando-me um pouco mais de onde ela estava.

─ Bem... Sim ─ ela admitiu, olhando para os pés, as bochechas levemente rosadas.

─ Você confia em mim? ─ perguntei-lhe, uma ideia sendo matutada na minha cabeça e Bella finalmente voltou a me olhar nos olhos, franzindo o cenho quando dei dois passos para frente, deixando quase nenhum espaço entre nós.

─ Ah... Con... Confio? ─ ela gaguejou, parecendo incerta, os olhos chocolate fixados nos meus enquanto corava ainda mais.

Bella mordeu o lábio inferior distraidamente e, como da outra vez, mal percebendo o quanto isso a deixava ainda mais atraente. Eu, no entanto, naquele momento não notei que ela estar desconcertada poderia ter alguma coisa a ver com o fato de estarmos próximos demais – fisicamente.

Não que estivéssemos muito próximos, mas, certamente, mais próximos do que já estivemos em todos os dias desde quando nos conhecemos.

─ Então você me deixe ao menos lavar a louça e depois passo aqui às 15h. Vista roupas confortáveis ─ falei, piscando para Bella, cujas bochechas ficaram mais vermelhas do que jamais achei ser possível. Manter-me perto dela certamente não seria a coisa mais prudente a se fazer, não quando, a cada momento que eu passava com ela, eu me sentia cada vez mais atraído.

Eu achava que dar aulas para Alice acabaria com o meu encanto por Isabella porque acreditei que todas as famílias ricas eram organizadas da mesma forma, que todos os seus membros eram iguais, apenas o endereço mudava. Bella, porém, fez-me quebrar as minhas pernas— ou pagar a língua, como prefira – e eu me via cada vez mais – despretensiosa, imprudente e incontrolavelmente – atraído por ela. Só esperava que minha parte incontrolável não se sobressaísse às outras.

Talvez, apenas talvez, se eu não tivesse me “rendido” ao momento dos almoços na Casa Volturi, – e inevitavelmente passado mais tempo com ela – se eu tivesse me mantido profissional e cumprido estritamente com meus deveres como professor de piano de Alice, eu não estivesse me sentindo assim. Talvez, a música ainda fosse, além de minha própria família, a única coisa que importava na minha vida. A culpa de eu estar sentindo todas aquelas coisas esquisitas era minha e somente minha.

─ Eu... Para onde você vai... Me levar? ─ perguntou Bella, ainda meio desconcertada, percebi como a respiração dela ficou descompassada quando ela suspirou ao olhar de meu rosto para o meu peito.

─ É surpresa! ─ falei, dando outra piscada para ela que finalmente olhou de volta para o meu rosto e balançou a cabeça negativamente, como se estivesse saindo de um transe.

─ Às 15h, então ─ concordou ela.

15h, 8°C – parcialmente nublado

Senhorita! ─ cumprimentei Isabella ao abrir a porta do Impala ao que ela abriu um sorriso gigante (e lindo) antes de me agradecer e entrar no carro.

Dei a volta, sentando-me no banco do motorista e liguei o motor do carro, começando a dirigir e me distanciando cada vez mais da vizinhança abastada.

─ Está... Bem... Muito bem ─ murmurei, tentando elogiá-la sem parecer muito invasivo.

Eu já estava me arriscando demais levando a esposa de um cara rico feito Aro Volturi para sair... Mesmo que o contexto não fosse romântico ou coisa parecida – por mais que eu desejasse, em meu íntimo, que fosse. Eu queria?

Seria tolo de não me preocupar com algum vizinho fofoqueiro que Isabella pudesse ter, mas ela mesma parecia não se importar – ela sequer tocou no assunto – e até do que ela poderia falar a meu respeito para o marido.

─ Ah... Obrigada ─ ela agradeceu, o cenho franzido indicando certa confusão ─ Estou bem confortável, como você me instruiu ─ completou, olhando para a camiseta básica de mangas compridas alaranjada semicoberta pela jaqueta felpuda de inverno preta, a calça jeans de lavagem escura, os tênis e a bolsa a tiracolo também pretos.

Os lábios estavam ligeiramente mais rosados e eu desconfiava que ela havia passado alguma coisa nos cílios, pois eles estavam mais realçados. Bella ainda estava de cabelos soltos, então, talvez, as tranças fossem uma marca registrada mais de Alice do que de ambas.

E desde quando estar confortável significa estar menos linda?

Eu dissera aquilo em voz alta e, mais uma vez, me perguntava aonde havia ido parar a minha sutileza. Onde estava meu próprio filtro?

Bella abriu e fechou a boca algumas vezes, provavelmente surpresa demais com a minha falta de noção para dizer alguma coisa. Ela era muito educada para me chamar de louco ou indecente, porque, decerto, era a imagem que eu estava passando. Por fim, ela apenas balançou a cabeça negativamente e aquele doce rubor apareceu em suas bochechas.

─ Você também está muito... Bem ─ elogiou-me, e foi a minha vez de corar.

─ Er... obrigado, Bella.

Ela apenas riu com o meu desconforto, como se quisesse expressar que também podia me deixar desorientado.

─ Vai me dizer para onde está me levando, Senhor?

─ Estamos chegando ─ falei enquanto nos afastávamos do centro da cidade. Será que ela pensava que eu a levaria para algum lugar perigoso?

─ Você só quer me matar de ansiedade, não é isso? ─ Bella brincou e eu olhei-a de esguelha; ela me encarava com um olhar brincalhão e tranquilo, então relaxei um pouco, porque ela realmente parecia confiar em mim.

─ É um local bem simples, mas acho que vai gostar ─ disse-lhe e ela sorriu para mim.

─ Tenho certeza de que vou!

15:15h, ONG Saber é Conhecer, Chicago, Illinois, 8ºC – parcialmente nublado.

*Clique aqui para ver o projeto em 3D.

─ Bem-vinda à ONG Saber é Conhecer ─ disse à Isabella, assim que cruzamos as portas de entrada do local.

A ONG era um lugar muito especial para mim; havia sido fundada pelos meus pais quando eu estava na pré-adolescência, com a ideia inicial de ajudar famílias menos abastadas que a nossa com doação de cestas básicas; mas ela praticamente tomou vida própria e passamos a lidar com o ensino de crianças e jovens carentes da comunidade como uma forma de mantê-los longe de problemas e também de ajudá-los a potencializar seus estudos, com nossas aulas de reforço, e também a encontrar um rumo profissional com nossas atividades extras.

Bella soltou uma exclamação em surpresa e animação e logo aquele sorriso lindo ficou estampado em seu rosto.

─ Edward! Que lugar mais incrível! ─ ela exclamou novamente, olhando ao redor. A sala de entrada era pequena, mas os móveis de madeira davam uma sensação aconchegante, com sofá, uma mesinha e o balcão de recepção.

─ Venha, quero te apresentar ao pessoal ─ gesticulei com a cabeça e ela me acompanhou ─ Esta é Ângela, recepcionista e uma boa amiga para todas as horas ─ apresentei Isabella para a “moça da recepção” ─ A Angie aqui estudou com Rosalie no colegial. Angie, esta é Bella, minha... Amiga.

Será que seria mais adequado apresentá-la apenas como mãe de minha aluna? Mas no que eu estava pensando? Será que o pessoal acharia estranho eu levar a mãe de uma aluna particular até a ONG? Provavelmente sim!

─ Oh! É um prazer conhecê-la, Bella! ─ disse Ângela, olhando-me de um jeito meio esquisito, mas logo em seguida estendeu a mão para Bella, sorrindo para ela da mesma forma simpática como sempre fazia com todos.

─ É um prazer, Ângela! ─ Bella retornou o cumprimento, ainda com o mesmo sorriso de encantamento.

Ângela continuava a nos olhar de uma forma estranha e então um click se fez em meu cérebro. Era óbvio. Ela e Rose ainda eram muito amigas, a Loura só podia ter comentado com Angie os meus deslizes na festa – e, com certeza, nomeara e descrevera os motivos para eu ter corado algumas vezes aquele dia. Aquela fofoqueira!

─ Bella, venha, por favor! ─ falei, tocando suavemente em seu braço e ela se sobressaltou, as bochechas ganhando um tom rosado suave e apenas assentiu. Torcia para que Ângela não ficasse muito atenta à essas pequenas reações, mas achava difícil, pois ela era muito observadora. E com toda certeza fofocaria sobre isso para Rosalie.

Passamos pela única porta interna da recepção, que nos levava a uma espécie de pátio coberto cheio de outras portas e uma escadaria para o primeiro andar.

─ Bem, nesse momento a maioria das salas está ocupada por jovens de mais ou menos 14 a 17 anos em aulas de reforço. Mas a pessoa que quero que conheça está ali ─ disse a Bella, apontando para a porta entreaberta, ao lado das escadas, ao final do pátio ─ É a mulher mais importante e mais especial da minha vida.

Bella pareceu meio desconfortável quando eu disse aquelas palavras, como se não esperasse que eu tivesse alguém assim em minha vida. Quase sorri, em esperança de que talvez, lá no fundo, ela estivesse sentindo um pouquinho de ciúmes de mim.

Dei duas batidas na porta que identificava “Direção” e abri-a totalmente, vendo a mulher de cabelos acobreados e olhos verdes, como os meus, levantar a cabeça, deixando de lado o que quer que estivesse escrevendo à sua mesa e sorrir para mim. Senti-me aquecido e acolhido por dentro, como sempre. Aquela sensação de pertencimento e afeto nunca mudavam quando estava perto dela.

─ Edward! Mas que surpresa! Achei que nunca mais o veria, meu amor! ─ ela se levantou, andando até mim e, sem hesitar, rodeou meu pescoço com seus braços.

Eu ri antes de abraçá-la de volta.

─ Não seja exagerada!

─ Não o vejo há mais de um mês, Edward. As crianças perguntam por você!

─ Estive trabalhando muito recentemente... Ah, inclusive, Bella, venha cá! ─ disse, virando-me para a mulher atrás de mim. Bella parecia um pouco hesitante, como um peixinho fora d’água. O que me aliviava era saber que aquela sensação não duraria muito tempo. Ninguém conseguia permanecer desconfortável por muito tempo perto de minha mãe. Ela tinha a incrível habilidade de fazer toda e qualquer pessoal se sentir à vontade ─ Bella, está é Esme, minha mãe. Mãe, conheça Bella...

─ Oh! Esta é Bella? É um prazer, minha querida!

Olha só, Rosalie e suas fofocas eternas. Fofocar apenas com Ângela não havia sido suficiente, então.

─ Ah, muito prazer, Dona Esme! ─ Bella disse. Ela parecia surpresa, mais do que eu porque ela não conhecia minha prima, então achei por bem esclarecer tudo, antes que ela achasse que eu era o mexeriqueiro da história.

Minha mãe aproximou-se de Bella e deu o mesmo abraço caloroso que me dera segundos antes. O que quer que Rosalie tivesse dito, pelo menos teve seu saldo positivo.

─ Pelo jeito a Rosalie anda se intrometendo demais na minha vida ─ resmunguei e minha mãe riu.

─ Você a conhece, meu filho. Ela não consegue se segurar por muito tempo ─ mamãe falou depois que soltou Isabella ─ Mas, Bella, fico feliz que tenha vindo. Rosalie disse que tem uma filha adorável. Apesar de que eu teria ficado mais feliz se o próprio Edward tivesse vindo me contar as novidades.

─ Mamãe, não há novidade alguma. É meu trabalho! Mas me desculpe por não vir mais vezes.

─ É... Você arranjou um novo emprego e nem veio me contar! ─ mamãe fez manha.

─ Não é bem um novo emprego. Não larguei os eventos, como está dando a entender ─ resmunguei novamente.

─ É algo que nunca fez antes, dar aulas de piano particulares, depois de formado na faculdade! ─ mamãe exclamou, dessa vez orgulhosa e apertou minhas bochechas.

─ Mãe!

Ela riu e foi acompanhada por Isabella que manteve o sorriso doce no rosto após Dona Esme finalmente me soltar.

─ Mas não vamos discutir suas falhas na frente da moça. Venha, Bella. Vou te mostrar algumas salas que estão disponíveis agora e te falar também sobre as atividades que fazemos aqui.

Revirei os olhos, mas sorri ao ver as duas caminhando pelo pátio de braços dados, imaginando como seria se... Não, até mesmo imaginá-las como sogra e nora não fazia sentido. Era errado. Isabella era uma mulher casada; ela era rica e muito acima de mim em tantos sentidos...

Fui despertado de meus devaneios por um par de risadas e duas jovens senhoras ao lado das escadas, acenando para mim e chamando meu nome. Suspirei, caminhando até elas, torcendo para não fazer mais besteiras. Minha cota já havia se esgotado por uma vida inteira!

17:00h

─ Foi maravilhoso conhecê-la, Esme! E claro, o seu trabalho também ─ disse Bella, animadamente. Após o tour pela ONG e a apresentação das atividades, havíamos voltado para sala de minha mãe, que nos oferecera chá com biscoitos, bem típico dela, o que não derretia menos o meu coração.

─ Muito obrigada, Bella! ─ mamãe agradeceu, sorrindo para ela ─ Será um prazer recebê-la mais vezes, quem sabe você não consegue convencer o meu filho a acompanhá-la, não é mesmo? ─ completou, olhando para mim de soslaio e revirei os olhos ─ Sabe que se ainda fosse criança ficaria de castigo, né?

─ Ainda bem que não sou ─ brinquei e as duas riram.

─ Pode deixar, Dona Esme. Lugar de filho é perto dos pais e se depender de mim o Edward estará aqui sempre que puder ─ Bella falou, olhando de mim para minha mãe, cujo sorriso se alargou.

─ Eu sabia que você era uma moça sábia. Olha, hoje já tivemos nossas atividades extras, cada dia temos algo diferente, como havia lhe dito. Fique com esse cronograma ─ disse mamãe, vasculhando por alguns papéis até encontrar um que continha os horários das atividades e entregou-o à Bella ─ Assim saberá os melhores horários para vir; quando eles estão em aula de reforço não tem muita graça.

─ Certo, Dona Esme, muito obrigada! ─ Bella pegou o papel com cuidado e o olhou atenciosamente ─ Aulas de piano amanhã... Edward, é você quem...?

─ Ele dava aulas de piano aqui até se formar na faculdade ─ mamãe resmungou ─ Depois, começou a se apresentar nesses eventos e agora é Seth quem dá as aulas. Ele era um dos alunos da ONG e acabou de entrar na faculdade de música.

─ Mamãe, a senhora sabe que por mais que eu ame esse lugar, se eu quiser ir para Nova Iorque vou precisar de mais do que só “talento” ─ contrapus, dando ênfase na última parte ─ A senhora também sabe que, se eu conseguir a vaga, eu vou voltar para cá. Tenho um compromisso com todos vocês. Mas, às vezes, a gente precisa...

─ Mudar o rumo dos nossos passos para chegarmos aonde queremos, eu sei, já ouvi isso antes ─ mamãe me interrompeu ─ Está bem, meu filho, sabe que eu confio em você. Apenas sinto sua falta; aliás, todos aqui sentimos.

─ Também sinto a falta de vocês, muito mais do que imagina, Dona Esme ─ brinquei e ela balançou a cabeça negativamente.

─ Certo ─ ela concordou meio desconfiada ─ De qualquer forma, venha quando puder e traga Bella, sim. Será de ótima companhia para mim. E, Bella, se tiver alguma ideia para melhorar nossas atividades, se quiser ensinar alguma coisa para nossas crianças, estamos de portas abertas. Conhecimento nunca é demais.

─ Obrigada, Dona Esme. Vou adorar voltar, mas quanto a ensinar algo... Não sei se tenho...

─ Nada disso, querida. Todos temos algo a ensinar na mesma medida em que temos a aprender. Se ainda não encontrou algo que goste de fazer, não há o menor problema, nossas crianças precisam principalmente de atenção e afeto, e isso eu vejo que sobra em você. De qualquer forma, “nossas crianças”, nesse horário vespertino são um pouco maiores, acho que Edward já deve ter lhe falado. Isso porque as atividades e aulas de reforço são oferecidas no período de contraturno escolar, para estimulá-los a frequentar a escola.

─ Ele me contou sim, Dona Esme. Bem, se é assim então me disponibilizo a vir no período da tarde, porque de manhã cuido de Alice até o horário da escola. Amanhã, no entanto, tenho um compromisso... Podemos combinar a partir da próxima segunda-feira?

─ É claro, minha querida! Será ótimo. Melhor ainda se conseguir convencer esse cabeçudo a vir com você ─ mamãe brincou ─ Na segunda também temos aulas de piano ─ disse ela, piscando para Bella.

─ Vou tentar, pode deixar! ─ Isabella também entrou na brincadeira e não pude deixar de revirar os olhos diante daquele mais novo complô ─ Bem, eu adoraria ficar mais um pouco, mas já está quase na hora de buscar Alice na escola. Se você quiser, Edward, posso chamar um táxi, assim pode passar mais tempo com sua mãe ─ sugeriu ela, vendo a hora em seu celular. Os olhos de mamãe se animaram com a ideia, mas eu, infelizmente não poderia ficar também.

─ Hoje também não posso. Tenho que me apresentar num casamento, Victoria e James, inclusive, já devem estar indo para o local do evento. Posso te deixar na escola de Alice, sem problema algum. Eu te dei carona até aqui, não é justo que tenha que pagar para voltar para casa.

─ Venha amanhã, então ─ disse Dona Esme. Aquilo não era um pedido. Era claro, em seus olhos, o motivo de ela me querer de volta no dia seguinte; ia além de “querer passar mais tempo com meu filho antes de ele, provavelmente, mudar de estado”. Se Rosalie era fofoqueira, o sangue deveria correr na família, então, mamãe deveria querer saber das “novidades” (ao meu respeito) que a Loura ainda não tinha espalhado pela ONG.

─ Está bem, amanhã, depois do almoço eu apareço aqui ─ falei, levantando-me e abraçando-a apertado ─ Te amo, minha velhinha!

─ Velhinha está no céu, me respeite! ─ mamãe brincou, acariciando meu rosto ─ Também te amo. Agora vá, não atrase Bella ─ disse, virando-se para a mulher ao meu lado, também de pé ─ Foi um prazer, querida!

─ Até segunda-feira, Dona Esme, foi um prazer! ─ Bella disse alegremente e as duas se abraçaram.

17:50h, Escola Privada Primária, Chicago, Illinois, 5ºC – predominantemente nublado.

─ Obrigada pela carona, Edward! E obrigada por me apresentar à ONG, é um lugar incrível! ─ disse-me Bella, enquanto eu estacionava próximo à escola de Alice. Era impossível não comparar meu velho Impala com aqueles carrões do ano monstruosos que faziam fila com seus donos igualmente elegantes. Isabella, porém, parecia não se importar muito com aquele fato.

A viagem de volta fora tranquila e silenciosa, mas muito agradável, – como sempre era estar perto de Isabella – ela parecia pensativa e preferi não interferir no que quer que estivesse passando pela cabeça dela.

─ Eu quem agradeço pela companhia, Bella. Agora não terá mais que se entreter apenas com as louças ─ brinquei e ela corou intensamente.

─ Você tem razão... Eu já deveria ter procurado alguma coisa, mas... ─ Bella interrompeu-se ─ É complicado. Mas depois conversamos sobre isso, você disse que tem um casamento para animar, não quero atrasá-lo ─ completou, abrindo a porta do carona e segurei suavemente em seu braço antes que ela saísse do carro ─ O que foi? ─ perguntou, um pouco surpresa com minha atitude.

─ Er... Quer que eu leve você e Alice para casa? Não quero que fiquem no frio, esperando um táxi, quando posso dar uma carona para vocês.

A expressão dela se suavizou e ela balançou a cabeça negativamente.

─ Não precisa. Agradeço demais pelo dia de hoje e pela sua preocupação, mas eu sei que tem seu compromisso. E não estaremos totalmente desprotegidas, vá tranquilo ─ disse ela.

─ Tenho certeza de que Alice amaria andar nesse velhinho ─ brinquei, dando dois tapinhas no painel de controle.

Bella riu, mas me agradeceu e negou-se novamente, dizendo que “outro dia” poderíamos combinar melhor. Suspirei antes de soltar o braço dela, que saiu do carro e acenou para mim enquanto andava em direção ao portão de entrada da escola.

Passei as mãos pelo rosto algumas vezes, tentando, em vão, tirar o sorriso, o corpo, a voz, tudo dela da minha cabeça. Pelo jeito, eu teria que me concentrar muito para não errar as notas durante a apresentação da banda.

Sexta-feira, 21 de março de 2014 – 14:00h, ONG Saber é Conhecer, Chicago, Illinois, 10ºC – tempo aberto.

─ Olha só quem deu o ar da graça hoje aqui! ─ Jacob, um dos jovens atendidos pela ONG brincou ao se aproximar de mim. Eu já havia cumprimentando alguns dos jovens e estava próximo às escadas, esperando minha mãe terminar de falar com os pais de um novo aluno da ONG.

Jacob, sua família – que incluía seus pais, irmãos e primos – e alguns amigos eram da tribo Quileute, do nordeste do país e se mudaram quando os meninos ainda eram crianças. Desde então, eles frequentavam a ONG e eu era uma espécie de “irmão mais velho” para todos, mas, principalmente, para ele.

─ Olá, Jake! Você cresceu! ─ brinquei, bagunçando os cabelos dele que bufou. Ele tinha apenas 16 anos e já estava quase da minha altura e, certamente, aqueles músculos enormes não faziam parte de seu corpo na última vez em que o vira!

─ Claro, né! Ficou um século sem aparecer, achou que eu continuaria daquele tamanhinho? ─ perguntou ele, cruzando os braços e fazendo uma expressão “indignada”.

─ Você sempre vai ser aquele pestinha que tentava paquerar as minhas pretendentes que eu trazia aqui ─ falei, lembrando-me de algumas moças que eu cheguei a levar para conhecer a ONG, durante a adolescência, em tentativas de conquistá-las e Jacob sempre dava um jeito de interromper nossos “encontros”.

─ Você deveria me agradecer; nenhuma daquelas moças gostava de estar aqui, Edward, só você não enxergava. Ia preferir ficar com gente que nem queria estar perto da sua família? Se você ficasse com qualquer uma delas, aí sim, eu contaria que nunca mais o veríamos.

Naquele ponto, Jacob estava certo. As poucas garotas com quem saí na adolescência geralmente ficavam entediadas quando as levava à ONG. Não era o tipo de reação que eu esperava e logo elas “desapareciam” da minha vida.

─ Tudo bem Jake... Você tem razão, pirralho.

─ Ei! Por falar em pretendente, a Rose disse que...

─ Mas que merda! Aquela fofoqueira está espalhando até para os alunos coisas sobre a minha vida?! ─ exclamei, já irritado com a postura de Rosalie. Ela nem dava aula para os jovens da idade de Jacob!

─ Calma, mano. Ela só disse que você está dando aulas para uma moça bonita, estava pensando que talvez... ─ disse ele, sorrindo malicioso enquanto movia as sobrancelhas para cima e para baixo.

─ Além de fofoqueira ela ainda passa a informação errada! Não estou dando aula para uma moça bonita, mas sim para a filha dela!

─ Então ela é bonita mesmo? ─ Jake perguntou, o sorriso malicioso se tornando ainda maior.

─ O quê? ─ perguntei, meio atordoado. Ele estava tentando me confundir?

─ Você negou que as aulas eram para ela, mas não que ela era bonita! Dãh! ─ disse ele, como se fosse óbvio. É claro, ele estava tentando me confundir para que eu contasse coisas que nem mesmo eu entendia direito.

─ Jacob não está na hora da sua aula? ─ tentei desconversar.

─ Mas...

─ Vá logo, depois a gente se fala. Preciso falar com minha mãe ─ falei, gesticulando para que ele entrasse na sala de aula.

─ Sobre a moça bonita? ─ ele insistiu.

─ Vai para a aula, Jacob!

Ele era teimoso, mas eu era mais.

─ Boa sorte com a moça bonita, então. Não perca essa chance, Edward! Você merece arrumar alguém legal, não fique só encucado com a música, tem mais da vida para se viver! ─ disse ele, piscando para mim e finalmente adentrando a sala.

─ Céus! ─ exclamei. O que eu faria? Aquela pequena insistência de Jacob foi o suficiente para relembrar em mim os mesmos sentimentos de afeto e atração que eu sentia, mas não deveria, por Bella.

15:00h, 13°C – parcialmente nublado

─ E então foi isso mamãe. Em resumo, conheci-as quando me apresentei na festa de Alice, por intermédio de Laurent, e desde então venho dando aulas particulares à Pequenina ─ disse ao finalizar minhas próprias “fofocas” a meu próprio respeito.

─ À “Pequenina”, Edward? Se apegou tanto assim à menina? ─ mamãe perguntou com um sorriso.

─ É tão estranho. Sinto um carinho muito grande por ela ─ expliquei ─ Alice me lembra tanto a mim mesmo quando mais novo e se eu não soubesse ser impossível, tanto pela minha idade quanto porque eu nunca havia visto Bella antes, poderia dizer que ela é minha filha.

─ É, meu amor. Há coisas que o destino não explica ─ mamãe falou, sonhadora, encarando-me com seus doces olhos verdes ─ E pelo que percebi, ontem, Alice não foi o único membro daquela família que te cativou, não é?

─ Ela é tão diferente mãe ─ comentei, sabendo que mamãe se referia à Bella ─ Tão fora do “estereótipo” de gente rica; Bella é extremamente atenciosa e afetuosa com todo mundo. Você acredita que a casa dela nem é tão grande e que, em todos os dias que estive lá não vi a sombra de empregados? Ela mesma faz o almoço e organiza tudo.

“Sabe por que eu a trouxe aqui ontem, mãe? Porque ela disse que a diversão do dia dela seria cuidar da louça. Que outra ricaça diria aquilo? Durante todos esses dias, tudo o que a vi fazer foi cuidar de Alice, e claro que isso é importante e deve ser a prioridade dela, mas não a única coisa que ela trata de fazer. Ela nem ao menos inventa de torrar a fortuna do marido em coisas fúteis, ela está sempre em casa. Sozinha. Ela é jovem demais para viver dessa maneira. E aqui, mesmo que sem qualquer interatividade com as crianças, os olhos dela, mãe, brilharam tanto; ela é diferente, ela se importa”.

─ O problema, meu filho, são justamente esses estereótipos, você já deveria saber disso. Nem toda gente rica é indiferente, assim como nem todo pobre vira bandido ─ ela ralhou um pouco comigo ─ E esse marido dela? Ela não falou muito dele...

─ É porque ele não está muito em cena. Só o vi duas vezes: quando assinamos o contrato para a festa e no dia da festa, mas ele chegou uns minutinhos antes de eu e a banda irmos embora. Durante todos esses dias que dei aulas à Alice, não vi nem sombra dele; é bem mais velho que Bella, o que é bem estranho.

─ Vou fingir que não ouvi isso! ─ ela resmungou e franziu o cenho em reação à minha última fala.

─ Não que isso seja um problema! ─ falei, defendendo-me. Ela e papai, na época em que ele era vivo, tinham uma diferença de 15 anos (ele era mais velho). Mamãe estreitou os olhos ─ Só quis dizer que as circunstâncias do casamento dela são estranhas. Bella parece ficar o dia inteiro em casa, sem fazer nada e achei que isso seria por algum tipo de ordem maluca dele, mas ela nem hesitou quando a chamei para vir aqui...

─ E eu fico feliz por tê-la trazido aqui, filho, fico mesmo, vai fazer bem para ela... Mas, meu amor, você está sendo prudente, não está? ─ Dona Esme me interrompeu.

─ Como assim, mamãe?

─ Veja bem, é óbvio que Bella é uma mulher adorável e cativante, mas ela é casada e se tem uma coisa que eu lhe ensinei, e muito bem por sinal, foi a respeitar as relações alheias, filho. E isso vai além de qualquer convenção social. Isso é porque não quero que se machuque. Não estou dizendo que ela lhe magoaria de propósito, mas saber agora que o marido dela está “fora do radar” e ver o jeito como vocês estavam agindo ontem me preocupou.

─ Preocupou?

─ Edward, não tente me enganar. Conheço você como a palma de minha mão; troquei suas fraldas sujas, penteei seus cabelos e lhe eduquei da melhor maneira possível junto ao seu pai. Você disse que os olhos dela brilhavam enquanto ela esteve aqui, mas eles brilhavam quando ela olhava para você. E os seus olhos brilhavam quando olhava para ela. Olhares de gente apaixonada.

─ Mamãe, isso... Isso é um absurdo... Eu... Meu foco é a música, a senhora sabe disso. Não posso ter distrações.

Tentei negar, buscar argumentos e palavras que pudessem me tirar daquela situação. É claro, minha mãe me conhecia como ninguém e era até natural que ela percebesse que algo dentro de mim surgia em relação à Bella, mesmo que eu mesmo quisesse negar... Mas Bella sentindo o mesmo por mim? Até que ponto – sem a influência dos relatos de Rosalie, principalmente – outras pessoas também percebiam aquilo?

Dona Esme apenas arqueou a sobrancelha e eu me calei; ambos sabíamos que ela tinha razão – apesar de eu ainda questionar se ela estava certa sobre Bella em relação a mim. Aquilo não parecia fazer muito sentido; eu tinha absolutamente nada para oferecer a ela.

Mas, é claro, eu não esperava que Bella estivesse à procura de uma relação à base de trocas – mesmo quando as circunstâncias do próprio casamento dela parecessem, no mínimo, estranhas. Talvez um dia eu descobrisse – e talvez isso estivesse ligado ao meu lado fofoqueiro em conjunto com o meu lado que se importava com tudo o que dizia respeito a ela.

─ Edward, meu filho, quantas vezes eu já não lhe disse que a música não deve tomar conta de sua vida toda? Desse jeito, está agindo como Bella; ao passo que ela fica em casa o dia todo, todos os dias, você está tão ligado à música que mal percebe as pessoas à sua volta. Por isso fiquei impressionada quando vi vocês dois juntos ontem, porque, finalmente, me pareceu que você estava se abrindo com outra pessoa.

─ Sabe, depois de tantos namoricos falhos, eu...

─ Você mal dava chance àquelas garotas, Edward! ─ mamãe ralhou comigo ─ Claro, algumas delas realmente não o mereciam, mas você também nunca tentou o suficiente! De qualquer forma, em relação à Bella, só peço que vá com calma. Não quero que vocês dois acabem se magoando por algo que poderia ser evitado.

─ Então... É melhor deixar para lá... ─ murmurei, um pouco decepcionado. Mas minha mãe estava certa.

─ Não é isso que quero dizer, Edward! Ah, com vocês, homens, temos que desenhar tudo para vocês entenderem, não? ─ mamãe resmungou, revirando os olhos e riu quando, certamente, a confusão permaneceu estampada em meu rosto.

“O que quis dizer foi: eu adoraria vê-lo com alguém, ainda mais com alguém como Bella! Mas não meta os pés pelas mãos. Tenha certeza do que sente por ela; ela é mais vivida que você, meu amor, já tem uma filha, tem mais responsabilidades e você não pode desconsiderar isso e não porque acho que você não possa lidar com essas mesmas responsabilidades, mas você quem precisa ter e dar certezas a ela, meu filho”.

“Eu, sinceramente, no lugar dela, não sairia de um relacionamento estável, mesmo que não fosse totalmente feliz nele, para me jogar numa aventura que não me trouxesse certezas. Se eu desconfiasse, por um segundo, que meu potencial parceiro, independentemente da idade ou condições financeiras dele, não estivesse cem por cento firme comigo, se ele não me passasse segurança suficiente de que aquela era a vida que ele gostaria de ter, ao meu lado, então eu sequer começaria um relacionamento com ele. Então, meu amor, tenha certeza, antes de tudo. Antes de falar com ela sobre o que sente, antes de tomar qualquer decisão, porque, além da dela, a vida de Alice também está no meio dessa história toda, e isso, sem dúvidas, é o que ela mais levaria em conta”.

─ Obrigado, mamãe. Você está sempre certa! ─ falei em tom de brincadeira, mas sabendo ser verdade. Levantei-me e puxei-a para um abraço apertado e ela me acolheu nos braços dela; deitei a cabeça em seu peito, ouvindo as batidas tranquilas de seu coração; o meu batia mais acelerado e eu sabia que precisava acalmá-lo para poder pensar direito.

22h, Sala do flat do Edward, Chicago, Illinois, 10°C – chuva fraca

Fazer nada. Aquela havia sido a minha decisão. Tudo bem que eu raramente fazia alguma coisa quando se tratava de algo além da música, mas até eu ter certeza de que o que quer que eu sentisse por Bella não era passageiro; até eu mesmo perceber que ela também sentia algo por mim, eu faria nada; tentaria ser mais perceptivo em relação a ela.

Interagiria e buscaria conviver um pouco mais com Bella e Alice para entender se eu estava pronto— porque querer, é claro, quem não gostaria de tê-las em sua vida? – para assumir qualquer compromisso com as duas, já que eu acreditava demais no que minha mãe dissera. Bella não aceitaria alguém que não estivesse disposto a lidar com todas as partes da vida dela e era óbvio que a mais importante era a Pequenina.

E, claro, uma coisa era conviver com ela por duas horas ao dia, duas vezes por semana, sem contar os almoços; outra, totalmente diferente, era cuidar dela, assumir responsabilidades maiores, como as de uma figura masculina, ou até mesmo de pai.

Não me causava ansiedade pensar naquela palavra, não quando eu havia tido um modelo maravilhoso de pai, eu sabia que queria ser exemplo para alguém, algum dia. A questão era se aquele era o melhor momento. Eu estava prestes a ir para Nova Iorque, se tudo desse certo. Além do mais, eu estava preparado para dividir minha atenção entre a música e elas?

Talvez, não fosse exatamente prudente me colocar numa relação com Bella – e Alice por consequência – naquele momento. Colocá-las naquela situação, sabendo que eu poderia ir embora depois, me parecia extremamente egoísta de minha parte, mesmo que eu fosse totalmente sincero com elas.

E, de novo, eu tinha mais dúvidas, incertezas e inseguranças do que respostas. A questão não era aonde eu chegaria, mas como. As questões eram muito claras: os meus sentimentos por Bella eram verdadeiros? Se sim, eles seriam duradouros? E eu estava pronto para entrar ou num relacionamento com ela?

Caso positivo para todas as perguntas, aproximar-me dela com segundas intenções (cenário neutro).

Caso negativo para uma ou mais perguntas, deixá-la em paz e assumir meu posto apenas como amigo dela e professor de Alice (cenário neutro).

Caso positivo, preocupar-me porque ela era casada. Preocupar-me porque talvez eu tivesse que, em menos de seis meses, me mudar para Nova Iorque (cenário negativo).

Caso negativo, não ter que me preocupar com o fato de ela ser casada. Ir para Nova Iorque sem arrependimentos (cenário positivo).

Caso positivo, não conseguir dividir meu tempo entre elas e a música, não render mais musicalmente por causa disso (cenário negativo).

Caso negativo, perceber que poderia ter sim conseguido dividir-me entre meu aprimoramento musical e as duas (caso negativo).

Caso negativo, me arrepender de nunca ter tentado (cenário pra lá de negativo).

Caso negativo, eu não ser aceito em Nova Iorque e ter que permanecer em Chicago e me arrepender de nunca ter tentado 2.0 (pior cenário possível em caso negativo).

Caso positivo, não conseguir lidar com as responsabilidades de ser “padrasto” de uma criança. Magoar Bella e Alice por causa disso (pior cenário possível em caso positivo).

Caso negativo, me arrepender por não ter tido a chance de ser “padrasto” ou figura paterna de uma criança adorável feito Alice (cenário deprimente).

Caso positivo, conviver com duas pessoas incríveis (cenário positivo).

Caso positivo, aceitar meus próprios sentimentos e respeitá-los (cenário positivo).

Os saldos negativos pareciam maiores no caso de eu não me relacionar com Bella, mas isso poderia ser apenas uma tentativa da minha mente – e talvez, de meu coração – de tentar me convencer de que o melhor era mesmo ficar com ela. Isso, é claro, se ela me quisesse.


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Notas finais do capítulo

Então, esse foi o primeiro capítulo, espero que tenham gostado. Estou amando escrever pelo ponto de vista do Edward de novo, embora estivesse bastante apreensiva antes de começar (já faz muitos anos que eu não faço isso, considerando que na POSO eu escrevi a história em terceira pessoa).
Enfim, não esqueçam de comentar e recomendar pras amigas Crepusculetes! Logo eu postarei os próximos capítulos ♥
Beijos,
Mari.



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