Valentines Week 2 - Olicity Version escrita por Ciin Smoak, SweetBegonia, MylleC, Thaís Romes, Regina Rhodes Merlyn, Ellen Freitas, EnigmaticPerfection


Capítulo 2
Remember - Ellen Freitas


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoas!
Tenho nem palavras como estou feliz de estar falando vocês por aqui. Já faz algum tempo desde que postei alguma coisa, e prometo voltar em breve, mas é bom estar finalmente de volta ao site, ainda mais com esse projeto lindo, desde o ano passado usando essa data para espalhar mais amor.
Nunca escrevi uma história do Arrowverse, quem já me acompanha sabe que minhas preferidas são de universo alternativo, mas resolvi tentar dessa vez, e para isso, escolhi um dos meus períodos preferidos de Olicity na série. Então espero que se divirtam comigo, essas incríveis autoras e com esse casal que sentimos saudades.
Até mais... Bjs*



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― Risca mais um do quadro. ― Minha atenção foi atraída do monitor que mostrava o telejornal, para Oliver, que entrava no bunker, depositando seu arco no suporte, sendo seguido de perto por Diggle e Roy.

Estava amanhecendo lá fora e tinha sido uma noite produtiva.

Starling City estava indo até bem, à medida do possível, e bem melhor do que nos últimos anos. Depois do cerco promovido por Slade Wilson com todos aqueles soldados mirakuru, e nossa vitória sobre o ex melhor amigo de Oliver, os bandidos restantes da cidade desenvolveram um temor pelo Arqueiro, e com o Lance, agora Capitão, deixando claro seu apoio, estávamos quase zerando os nomes conhecidos de líderes criminosos.

― Parabéns, time Arrow! ― Troquei um high-five com Roy, indo em direção ao quadro geral que mantinha atualizado sobre as pessoas que prendíamos, se já estavam presas e condenadas pelo departamento de Laurel.

― Faltam quantos? ― Oliver me aproximou, parando ao meu lado, também analisando o quadro, onde só estavam quatro fotos coloridas. Nossos braços se tocaram, quando ele chegou mais perto, riscando ele mesmo no touchscreen o rosto do último a ser capturado, o deixando preto e branco como todos os outros.

― A cidade te deve muito, senhor Queen.

― E eu nem tenho uma cama.

― Meu sofá ainda está disponível ― ofereci novamente. Ele estava dormindo na cave desde que havia perdido a casa e toda a fortuna dos Queen. Obviamente tínhamos como conseguir um lugar para ele, mas Oliver continuava a insistir na praticidade de ficar por ali mesmo.

― Você não me aguentaria, eu sou bem bagunceiro.

― Não duvide da minha capacidade de tolerar seus defeitos, Oliver.

― Hm, ok. ― Diggle pigarreou sugestivo, e só então percebemos tínhamos nos aproximado ainda mais, ao ponto de estar quase colados.

Eu tinha que admitir que estava rolando um ensaio de flerte entre nós. Não era nada pretencioso ou com segundas intenções, éramos amigos que passavam a maior parte do dia juntos ou em comunicação direta, comentários brincalhões da minha parte saíam vez ou outra, e Oliver correspondia, do jeitinho sério dele.

Eu sei também que não deveria nutrir esperanças que fosse além disso em algum momento. Oliver era complicado, tinhas suas dezenas de ex namoradas e na minha cabeça, ainda não havia superado a separação com Sara. Ele não terminou, ela foi embora, voltou apenas para ajudar, para então ir embora de novo, agora em definitivo para voltar a ser da Liga dos Assassinos. Tinha sido um ponto final que estava mais reticências, com certeza se ela aparecesse aqui, ele tentaria voltar.

E eu também não era nada boa no quesito amor. Alternando entre o dedo pobre para namorar pessoas de caráter duvidoso, a suspirar por amores platônicos que levavam anos para serem superados, minha vida amorosa era o que poderia se chamar de fracasso total.

O “eu te amo” de meses atrás ainda era assunto proibido. Eu soube que era uma péssima ideia mexer com isso logo que o plano foi montado por ele e proposto para mim, mas que escolha tínhamos? Oliver temia por deixar que eu me aproximasse de Slade, mas meu medo era outro. Ouvir o impensável saindo de seus lábios, ativaria sentimentos que deveriam ficar dormentes se queríamos manter uma boa equipe. E mesmo concordando, eu torcia para que ele não me beijasse para deixar a história mais crível, machucaria que nosso primeiro beijo fosse uma farsa encenada. Para minha sorte, não aconteceu.

― Eu tenho que ir, Lyla tem consulta. ― Diggle pegou a jaqueta e saiu, não antes de nos dar uma boa olhada sugestiva.

― Eu também já vou, patrulhar um pouco as ruas para clarear a mente. ― Roy seguia atormentado por algo que não queria compartilhar, ou poderia ser apenas saudade de Thea, que eu achava que tinha terminado com ele antes do cerco começar, e ido para uma longa viagem pela Europa.

― Melhor eu também ir, não posso me atrasar para meu trabalho, que Deus me ajude. ― Oliver acenou com a cabeça em um gesto genérico. Voltei quando vi sua expressão, ele parecia triste e solitário. Talvez devesse comprar alguma planta para decorar o lugar. ― Sério, Oliver, você pode dormir lá no meu sofá ― ofereci novamente, segurando em seu braço. ― Eu não estarei em casa, e mesmo que não seja nada como o palácio que você costumava morar, é melhor que uma cama de acampamento montada nesse bunker úmido. Você pode descansar.

― Obrigado, mas eu vou ficar bem. ― O soltei, quase decepcionada por suas constantes negativas da minha ajuda.

― Você que sabe. Mas se mudar de ideia, sabe onde moro, e com suas habilidades de invadir lugares, nem preciso te dar uma chave. ― Ele sorriu levemente.

Que merda, eu estava tão apaixonada!

~

― Atenção, time, localizei dois membros menores da gangue Steelgrave, talvez eles nos levem ao chefe. Dig, continue seguindo pela principal, Arqueiro e Arsenal, peguem o cruzamento com a quinta, cortarão caminho.

― Entendido ― me confirmaram no ponto eletrônico, e eu levei minhas mãos para trás da cabeça, esticando a coluna na cadeira, sempre atenta aos pontos brilhantes no meu monitor, foi quando os dois vermelhos tomaram direções opostas.

― Pessoal, eles se separaram.

― Temos visual. Eu pego o da direita ― Oliver anunciou, Roy seguindo na direção oposta, cada um em sua motocicleta.

― Onde me quer, Felicity? ― Diggle questionou do furgão.

― Mantenha o caminho intermediário, estou monitorando os outros dois pelas câmeras de tráfego, Diggle ― orientei. ― Aliás, está mais do que na hora de arrumarmos um nome secreto para a gente, não acha? Não que nosso sistema de comunicação seja rastreável, eu me orgulho muito dele já que eu mesma projetei, mas se um dia for, a gente está bem fodi...

― Felicity! ― a voz de Oliver interrompeu minha tagarelice. ― Nos coloque em comunicação direta, por favor.

― Alguém vai levar uma bronca do chefe ― Roy zombou antes que eu limitasse a linha apenas a mim e Oliver.

― Olha, se pretende reclamar do quanto eu falo durante as missões, desista e tente apenas se acostumar, todo mundo já conseguiu. E outra, você pode ter um nome legal, Roy e Sara também, acho que eu e Diggle merecemos um, já que chegamos antes deles e para nossa própria segurança mesmo. ― Tomei um fôlego e peguei minha garrafinha de água e tomei um pequeno gole, falar demais doía minha garganta às vezes. ― Terceiro, eu sei que foi eu que disse isso, mas ninguém vai rastrear nossa comunicação, eu só queria um nome bonitin...

― Você quer sair amanhã para jantar comigo? ― Cuspi o líquido que estava na minha boca, e torci no segundo seguinte para não quer queimado o teclado que a água encharcou.

― Como é? ― questionei ainda tossindo de leve. ― Sair? Jantar? Com você?

― É. ― Mais do que todas as outras vezes, Oliver ser tão sucinto me irritou.

― Ok, eu não quero ficar pensando muito sobre isso ou as implicações disso, mas preciso perguntar que quando você diz “sair para jantar”, isso implica em um encontro? Tipo um encontro, encontro?

― Ah, bem... Todos nós precisamos jantar. E podemos combinar de fazer isso juntos algum dia. Tipo, nos arrumamos e podemos falar um para o outro sobre nós mesmos, nossos gostos, e sei lá.

Oliver estava definindo um encontro em frases fragmentadas, que não tinham nada a ver com ele, o que me fazia pensar: ele estava nervoso? Até aí, eu não estava, mas se ele estava eu deveria estar, se tivesse entendendo o que estava acontecendo. Meu amor platônico do nada agora tinha acordado para algum sentimento que eu não sabia que ele tinha e queria sair comigo, romanticamente falando, no dia dos namorados?

― Oliver! ― chamei seu nome pedindo para que ele fosse direto ao ponto como sempre ia. ― Tipo um encontro? ― perguntei novamente, precisava saber. Já tínhamos jantado muitas vezes juntos, apenas os dois na cave falando sobre a vida, por que dessa vez um convite oficial era necessário?

― Na verdade...

Um barulho muito algo de batida e metal contorcido preencheu o ponto eletrônico.

― Oliver?! ― elevei minha voz ao chamá-lo, ainda sem resposta, sentindo desespero ao não encontrá-lo em câmera alguma. Como eu havia me distraído a esse ponto de não perceber perigo? Claro, o tal do jantar. ― Oliver, por favor, me responde. Merda, Oliver! ― Liguei a comunicação para os outros dois. ― Dig, o Arqueiro não responde, ele bateu em algo, bateram nele, eu não sei.

― Calma, qual a localização?

― Cruzamento da Hastings com a Sétima.

― Estou indo.

― Eu continuo perseguindo eles ou… ― Roy se manifestou.

― Com o Dig, Arsenal. Pegamos eles depois.

― Copiado.

Foram apenas poucos minutos, eu tinha ciência disso, mas pareceram horas, até ter alguma resposta dos meus amigos. Oliver sofrera um acidente, o que era além do estranho, dado sua perícia pilotando uma moto, habilidades e experiência de escapar desse tipo de situação.

― Ele precisa de um hospital, Felicity, bateu a cabeça forte, ainda está desmaiado.

― Não podemos, Roy, ele nos mataria se descobrissem que ele é o Arqueiro porque não conseguimos lidar com essa crise. Traz para o bunker, vou providenciar uma máquina de raio X portátil e qualquer coisa o levamos depois. ― Era uma decisão complicada, mas eu já conhecia Oliver o bastante para saber que era o que ele faria se estivesse consciente. Mas em meu íntimo, eu só torcia para não ser a decisão errada.

― Ok, você que manda ― Diggle fez o que pedi sem nem argumentar. ― Roy, me ajuda aqui.

Quando eles chegaram na cave, meu primeiro instinto foi chamar uma ambulância. Não era normal ficar desacordado tanto tempo e mesmo que não tivesse nenhum osso quebrado e apenas algumas escoriações no corpo e um corte mais profundo na testa que John tratou logo de costurar, eu só conseguia pensar em como problemas internos e não visíveis eram os piores.

― Felicity, temos que levar para a o hospital ― Roy voltou a insistir.

― Já trocamos o uniforme, dizemos que foi um acidente de moto, qualquer coisa ― John argumentou quando já estava quase amanhecendo e já haviam passados horas de de silêncio torturante.

O encarei triste, ele estava certo. Apertei a mão de Oliver entre as minhas, já que ainda não a havia soltado esse tempo todo, engolindo com certo desgosto o sabor salgado das lágrimas que eu vinha tentando segurar, e me rendendo aos seus apelos. Foi quando senti o primeiro aperto em meus dedos.

― Dig... ― chamei a atenção deles para o homem à minha frente, que agora se mexia devagar.

Oliver apertou as pálpebras, soltou um murmúrio, mais parecia com um gemido, então abriu os olhos, os fechando em seguida pela claridade, então abrindo de novo. Um suspiro de alívio coletivo foi ouvido, e eu só conseguia pensar em como senti falta daqueles olhos azuis, perspicazes e intensos, mesmo que os tenha visto fechados apenas por minutos.

― Oliver, graças a Deus,

― Isso não parece um hospital. ― Foi a primeira coisa que ele disse.

Confesso que fiquei com uma pontinha de decepção. Nunca estive tão preocupada com saúde em todos esses anos como agora, meio que esperava uma reação um pouquinho mais animada em nos ver ali, sua equipe, cuidando dele.

― Eu disse que devíamos ter levado ao hospital ― Roy, já vendo que Oliver já sentava com a ajuda de Diggle e parecia estar bem, já nos deu as costas. Fui buscar água para ele. ― Eu vou para casa, vocês me avisam qualquer coisa?

― Tá bom. ― Acenei quando ele passou por mim para a saída.

― Eu também estou indo nessa ― Oliver desceu da maca e já foi saindo. ― Tchau, pessoas.

― Mas, John... ― apelei para a única pessoa ali que ainda podia detê-lo, que deu de ombros, como se me dissesse para deixar para lá.

― Deixa ele, Felicity. Vamos para casa também.

~

― O que aconteceu com minha casa e onde está minha família? ― Saltei de susto e quase derrubei minha bolsa quando o barulho de Oliver aos gritos alarmados cortou o silêncio da cave, quando eu havia recolhido tudo e já estava de saída.

― Você voltou! Aliás, como chegou lá, sua moto quase deu perda total.

― Minha mot… Olha, eu não sei o que está rolando e eu preciso de explicações. Eu não acho meu pai, minha mãe, Thea, e acabei de ir na minha casa que agora mais parece uma mansão mau assombrada! Eu deveria estar no porto para sair de viagem com meu pai, onde está o Queen's Gambit?

― Eita, caramba ― murmurei, procurando um lugar para sentar. Estava claro agora que a pancada na cabeça havia afetado Oliver bem mais do que achamos.

― "Eita, caramba" o que, ele foi sem mim? Você é secretária do meu pai, ou minha? Eu tenho uma secretária?

― Ok, primeiro de tudo, não sou sua secretária, meu nome é Felicity. Felicity Smoak. ― Fui até ele, segurando seus ombros e o conduzindo até uma cadeira. ― Segundo, você vai sentar aqui bonitinho que eu vou ligar para o Diggle, não consigo lidar com isso sozinha ― finalizei a sentença falando comigo mesma.

Só podia ser o auge das azaradas. Primeiro meu namorado da faculdade é preso por crime cibernético e comete suicídio na penitenciária. Então o carinha legal que eu estava flertando é atingido por um fodido raio, e agora quando meu amor platônico de anos finalmente toma alguma iniciativa e me chama para sair, ele bate a cabeça e apaga da mente mais de sete anos de memória, eu inclusa nelas? Poxa vida, Deus, é brincadeira?

― Quem é Diggle? ― Saltei de susto com a voz de Oliver bem atrás de mim, tão perto que sua respiração fazia cócegas na minha nuca descoberta pelo rabo de cavalo.

― Meu Deus, você não consegue ficar sentando um minuto? ― Me apressei em mandar uma mensagem de SOS para Dig e Roy, e me virei para ele. ― Diggle é seu melhor amigo.

― Tommy Merlyn é meu melhor amigo.

― Oh, merda.

― Pode parar de murmurar xingamentos e me explicar o que está acontecendo? Você parece o tipo sabe tudo.

― Droga, achei que Diggle com sua voz de mestre sensei e seus braços de troncos de árvores fosse o ideal para te contar tudo, mas vai ter que ser eu mesma.

― Contar tudo, o quê? A gente não está transando, ou está? Esse é o problema? ― Se mostrou chocado.

― O quê? Não, não estamos dormindo juntos e vou fingir que toda essa surpresa não ofende ― esclareci. ― Trabalhamos juntos, se bem que você já mandou um "eu te amo" meio torto meses atrás, mas isso foi pra enganar o Slade, e claro, teve o convite para jantar, os olhares longos, sorrisinhos e suspiradas profundas, e…

― Felicity! ― Como ele sabia como gritar meu nome exatamente de um jeito igual ao de sempre, se havia perdido a memória?

― Ok, você vai precisar ficar calmo e me escutar. Sei que vai ser difícil no início, mas você é a pessoa mais forte e resiliente que eu conheço, vai conseguir superar isso.

― Tá bom, vai em frente. ― Me incentivou, ocupando a cadeira que lhe deixei antes, e eu puxei a minha para perto dele.

― Oliver, você sofreu um acidente ontem, bateu a cabeça e perdeu a memória dos últimos anos. Eu sei que vai ser muito difícil lidar com tudo isso de uma vez, mas lá vai… ― Eu estava tentando de todos os jeitos amenizar a situação, as reações de Oliver poderiam ser imprevisíveis, desde quebrar tudo até ficar parado como uma estátua grega. ― Seus pais estão mortos, assim como seu amigo Tommy.

― Como?

― Você disse que deveria encontrar o senhor Queen hoje para viajar no Queen's Gambit, não é? Vocês foram nessa viagem, mas naufragaram, só você voltou para Starling City da ilha deserta, graças ao sacrifício que ele fez para te manter vivo.

― Minha mãe estava no barco?

― Não, ela morreu uns meses atrás, ela também se sacrificou para salvar a sua vida e da sua irmã, protegendo vocês do Slade, um amigo que você fez na ilha.

― Como eu fiz um amigo numa ilha deserta e como ele veio para cá e ainda matou minha mãe, se você disse que só eu voltei?

― Eu confundi essa parte, é uma história muito complicada, e você nem me contou ela direito.

― Tá bom, e minha irmã, onde está?

― Thea está na Europa, viajou antes do verão passado.

― Thea tem doze anos, ela não está viajando sozinha.

― Ah é, tem isso. ― Droga, eu sabia que era a pior pessoa para contar uma história daquelas. ― Oliver, se passaram mais de sete anos desde que o Queen's Gambit naufragou.

Oliver me encarou longamente, sem esboçar expressão nenhuma. Me preparei para o surto, torci para Diggle e Roy chegarem logo, já estava até repassando na minha mente onde estavam as injeções de calmante, os lenços de papel e as vassouras para limpar tudo depois, foi quando ele explodiu numa sonora gargalhada.

Foi como ver uma tartaruga sem casco ou um coelho sem pêlos. Tudo bem que ele estava mais sorrisos ultimamente, mas não lembro de ter o visto gargalhar alguma vez nesse tempo todo.

― Você pirou de vez. Por que tá rindo?

― Por causa da história, dramática demais, acho que foi isso que te entregou.

― Não estou mentindo.

― Não é mentira, está mais para uma pegadinha elaborada demais. Tommy que planejou, aquele sádico, ele que me aguarde!

― Não é nada disso, e que tipo de amigos fazem isso um com o outro?

― Aposto que ele ainda está se vingando da história do México. Eu te contei a história do México?

― Não, não contou e não é uma pegadinha.

― Coração, eu sou Oliver Queen. Eu sou rico, bonito, com a família, amigos e namorada perfeita, nada de ruim acontece comigo! E se conhecesse bem meus pais, ia saber que eles são as duas pessoas mais egoístas da Terra e jamais se sacrificariam por ninguém, nem por mim e Thea. Devia ter tirado esse detalhe da história, a tornaria mais crível.

― Você está em negação.

― Eu não estou em negação, só sou esperto demais pra cair nas brincadeiras de Tommy. Você é bem firme nas suas histórias, quando eu for retribuir para ele, quero o mesmo empenho, viu? Agora se me dá licença, tenho que encontrar minha namorada.

― Está falando de Sara ou Laurel? ― Ele parou e me olhou surpreso.

― Como você sabe da Sara?

― Você a levou no barco e ele naufragou, todo mundo ficou sabendo.

― Então na sua história, Sara também morreu? Você é uma pessoa particularmente perturbada e muito criativa. Eu preciso falar com Laurel, ela ainda está muito brava?

― Eu não mexeria nesse assunto, ela já te perdoou, mas eu não arriscaria. E Sara está bem, onde quer que ela esteja agora com Nyssa. ― Oliver arregalou os olhos. ― Ah, vai me dizer que não sabia que ela era bi?

― Sabe o que eu vou fazer? Vou sentar e esperar todo mundo parar com isso, você não pode me dizer mais nada que me ainda me surpreenda.

― Quer saber, melhor jogar tudo de uma vez: os anos na ilha e em qualquer lugar que você tenha estado te mudaram, você agora veste couro verde e usa arco e flecha para prender os bandidos de Starling City. Começou como uma jornada pessoal em nome do seu pai, mas agora é bem mais do que isso, você é um herói. Pronto, falei, vou buscar água com açúcar. ― Travei as portas para não ter risco de fuga e fui mesmo buscar água, já que depois que soltei a última informação, o homem congelou no lugar, parecendo perceber que o ambiente atestava tudo que eu lhe disse.

~

― Você parece tensa.

― Estou bem ― respondi ao John, que sentou na mesa ao meu lado, sem desviar os olhos de onde Oliver agora levava uma surra de Roy.

― Essa ruguinha sempre te entrega, Felicity. ― Tocou o indicador entre minhas sobrancelhas, e eu franzi a testa, olhando para cima.

― Ele devia ir ao hospital, fazer uma ressonância ou sei lá...

― Não era você que votou pelo "sem hospital"?

― Era, até saber que Oliver perdeu a memória dos últimos sete anos, de toda sua trajetória para se tornar o Arqueiro, da perda dos pais e do melhor amigo, e está em negação sobre isso.

― Cada um lida com traumas de um jeito, você sabe disso. Ele vai lembrar ou aceitar eventualmente, não precisa ser hoje.

― Vai arrasá-lo. E nem estamos falando dos problemas óbvios que vão surgir em Starling com a ausência do Arqueiro. Olha para ele, Oliver é péssimo com o arco ou qualquer tipo de luta.

Atestei diante das últimas cenas que eu vinha assistindo. Quando Diggle e Roy chegaram, Oliver acordou do transe já com as negativas prontas para a história do herói, e quando John o chamou para testar a memória muscular, ele aceitou mais como uma brincadeira, mesmo indo contra minhas fortes advertências que ele tinha sofrido um acidente e precisava de repouso.

― A cidade está em uma calmaria, vamos ficar bem também. ― Ficou em pé. ― Eu tenho que ver Lyla, algo sobre uma dor nas costas.

― Espera, vai me deixar sozinha com ele? ― Arregalei os olhos, apontando, mesmo à distância, para o loiro.

― Roy está aí, além do mais, se tem alguém que sabe lidar com Oliver é você, Felicity.

― Com o nosso Oliver, esse daí não conheço.

― Com qualquer versão de Oliver Queen ― contestou. ― Até mais, qualquer coisa urgente, me liga.

― Ele é péssimo! ― Roy chegou até mim poucos minutos depois, rindo amplamente, e parecia estar vivendo o momento mais divertido de sua vida. ― E como é prazeroso chutar a bunda de Oliver, pra variar.

― Você está se aproveitando.

― Mas é claro, sabe quantas cicatrizes ele fez em mim enquanto "me treinava"?

― Pare de rir, precisamos dele de volta.

― Estou me divertindo, não posso negar.

― Você sabe que quando Oliver recuperar a memória vai lembrar de tudo que aconteceu, inclusive você batendo nele de graça, não sabe? ― Roy arregalou os olhos e desmanchou o sorriso na hora.

― Eu tenho que ir pra casa agora.

― O quê? Por quê?

― Porque sim, tenho um milhão de coisas para fazer, e como é o dia dos namorados e minha namorada não me atende, é o melhor dia para distrair minha cabeça.

― E vai me deixar sozinha com ele?

― Oliver está desmemoriado, não ficou doido. E olha… Ele está ali bem quietinho brincando com as flechinhas dele. ― Olhamos para o loiro, que, ao passar os dedos pela ponta da flecha com muita curiosidade e nenhum cuidado, soltou um grunhido quando se furou. ― Enfim… Tchau.

― Roy, espera!

― Qualquer coisa urgente, me liga.

― Traidores ― resmunguei indo até a caixa de primeiros socorros e pegando uma bolsa térmica para uma compressa gelada. ― Hey, isso vai ajudar. ― Lhe entreguei a bolsa, e sentei ao seu lado no banco que ocupava.

― Valeu ― agradeceu, colocando no ombro.

― Eles deviam ter pegado mais leve com você ― comentei tirando os adesivos do curativo para colocar onde havia cortado o dedo.

― Vê como sua história não faz sentido? Eu deveria poder revidar, ou acertar ao menos uma flecha no alvo, mas quanto mais eu pensava, mais errava.

― Talvez estivesse pensando demais ― concluí, tendo uma ideia. ― Você não lembra do seu treinamento, mas seus músculos sim! Vai fica em pé.

― Felicity, eu não…

― Vem aqui, Oliver, e traz seu arco. Não, melhor… ― Corri até aquela de caixa de madeira velha que ninguém me deixava jogar fora e trocar por algo de acrílico ou cromado e peguei o antigo e primeiro arco de Oliver. ― Usa esse aqui.

― Parece mais simples.

― É mais simples, é o seu primeiro arco.

Ele largou o complexo, automático e regulável arco sobre medida que mandei fazer, e pegou a outra arma na mão, sentindo o peso e sorrindo ao ver que pelo menos dessa vez, ele não se montou sozinho e quase lhe atingiu o olho, como aconteceu antes.

― Pronto, agora as bolinhas de tênis.

― Vamos jogar? Nisso eu sou bom.

― Não, eu vou jogar ela na direção daquela parede e você vai acertar com um flecha.

― Rá, impossível!

― Você faz isso literalmente com os olhos fechados, eu já vi, mil vezes. Me dá esse arco aqui, joga você a bolinha. ― Trocamos de objetos.

Manejar aquilo era mais difícil do que eu lembrava quando Sara tentou me ensinar. Ou meus braços eram curtos, ou não tinha força para puxar a corda, sem falar nos problemas óbvios de mira, e quando Oliver jogou a bola, não foi surpresa alguma quando errei feio, a flecha ficando presa na parede e a esfera verde limão quicando no chão.

― Você atira melhor do que eu.

― Não, eu não atiro! ― Todas aquelas negativas já estavam começando a me irritar. ― Você atira melhor, você treinou o Roy, você tem a melhor mira do mundo todo. Vai, tenta!

― Tá bom! ― Se rendeu. ― Como foi mesmo que o Roy disse? Mão esquerda no arco, mão direita puxa a corda, encaixa a flecha ― recitou.

― Aqui, você ajusta o alvo da flecha com esse dedo aqui. ― Cobri sua mão com a minha, lhe mostrando o jeito certo o que sempre o vi fazendo.

― Certo.

― Aproxima sua mão direita do rosto, vai conseguir ver o trajeto da flecha. ― Novamente, ele obedeceu. ― Agora é sobre respiração, não pense muito sobre, é quase instintivo para você fazer isso.

― Eu te ensinei isso?

― Não, você não achava que deveria me ensinar.

― Quem te ensinou então?

― Só foca, Oliver, por favor. Respira fundo, eu vou jogar e você só atira.

― E eu só atiro ― repetiu, depois de tomar uma respiração profunda, fechando os olhos. Tão logo ele os abriu, eu joguei a bolinha que foi atingida em cheio pela ponta da flecha e cravada na parede. ― Como eu fiz isso?

― A melhor mira do mundo, eu te disse.

O ventinho gerado por sua risada atingiu meu rosto, foi o que me fez notar que havia me aproximado demais, mais do que jamais estive dele em todos os esses anos, mais ainda do que no momento da falsa declaração para enganar Slade.

― Er, vai treinando aí, eu vou olhar coisas no meu computador. Coisas aleatórias, coisas, qualquer coisa. ― Escapei daquela situação embaraçosa que eu mesma me meti, apenas para vê-lo fracassar em todas as tentativas seguintes de acertar o alvo.

Minha atividade seguinte envolveu apertar distraidamente a tecla F5, apenas para ver a tela dar uma piscada rápida e tornar a ficar igual a antes. Não estava sendo produtiva, eu sei disso, mas não estava com a cabeça para fazer qualquer coisa importante agora.

― Então, coração, estou fora daqui. ― Oliver passou por mim, já em direção à saída.

― O quê?

― Você me ouviu, e essa sua mania de falar "o que" mesmo quando entende perfeitamente o que a pessoa disse nunca irritou ninguém? Porque eu não posso ter sido o único a perceber aqui.

― Oliver, onde você vai?

― Eu preciso sair, ok? Estou nessa caverna o dia todo, preciso de ar, e comida.

― E como você pretende ir para onde quer que seja, esperto, a pé?

― Tem razão, me empresta seu carro?

― Não! ― exclamei como se fosse uma resposta óbvia.

― Então sim, eu vou a pé. Tchau.

― Espera, eu te dou uma carona! ― Tive quase que correr para o acompanhar quando vi que ele iria mesmo sair, não era certo o deixar daquele jeito sozinho por aí.

Oliver guiou a direção que eu conduzia o veículo por várias ruas, indicando onde virar e só percebi tarde demais que quando ele me pediu para encostar, estávamos na frente da casa do capitão Lance.

Não posso dizer que fiquei feliz, eu quase ouvia meu coração ser partido quando me dei conta que ele estava vindo atrás do seu amor da vida toda, Laurel.

― Ela não mora mais aí. ― Oliver me olhou surpreso, então fiz sinal para que ele voltasse a colocar o cinto. ― Vamos, eu te levo lá.

Não era como se desse mais para lutar contra o amor deles. No final das contas, Oliver sempre escolheria Laurel e vice-versa, quem tentasse negar ou ficar no meio disso só sofreria. Foi assim com Tommy, Sara e estava sendo assim comigo por todos esses anos. Dirigi direto para o prédio dela.

― Apartamento 402.

― Não precisa me esperar. ― Desafivelou o cinto e abriu a porta do carro.

― Oliver, tem certeza? Não sei se é uma boa ideia você fazer isso hoje. Por que não descansa, sofreu um acidente bem feio noite passada.

― Não adianta tentar me persuadir a fazer o que você quer, Felicity, não vou cair só por que é muito gata.

― O quê? ― Ele ergueu as sobrancelhas como se provasse estar certo na história do "o que" de antes. ― Foi mal.

― Ah, vai me dizer que você é uma daquelas mulheres que se ofendem quando homens elogiam seus atributos físicos. ― Me deu uma encarada nada discreta, e senti meu rosto esquentar. Eu deveria estar muito vermelha agora. ― Me desculpa se foi isso.

― É que você nunca notou…

― Não pisque pra mim com esses olhinhos surpresos. Eu posso nunca devo ter falado, mas notar, com certeza notei, coração. Suas curvas e saias curtas não é algo que eu ou qualquer um que curta garotas deixe passar despercebido.

― Minhas saias não são tão curtas. ― Foi minha resposta idiota para a primeira e descarada cantada que eu levei de Oliver Queen.

― Não precisa me esperar, tchau.

― Não vou te deixar aqui sozinho, Oliver. ― Ele parou com a mão na maçaneta e olhou para mim. ― Você acreditando ou não, é o Arqueiro, tem dezenas de inimigos, alguns conhecem sua identidade e você não conhece mais a deles. Quer ver sua ex namorada, tudo bem, mas eu vou ficar aqui fora te esperando. ― No frio, sozinha, como a trouxa preocupada que era.

― Faz o que quiser, Felicity. ― E saiu do carro.

― Babaca, imbecil, idiota! ― o xinguei dando socos no volante, até a buzina ecoar pela rua e uma mulher que empurrava um carrinho de bebê me olhar com cara feia. Ninguém pode ter uma crise em paz nessa cidade? ― Felicity, vamos lá, o lado bom das coisas. Você pode usar esse tempo para atualizar seus emails e ouvir música. Isso aí, música.

Liguei na rádio e senti que o universo estava tentando me animar, quando Wannabe estava tocando.

― Ai, deveria ter comprado alguma coisa para comer ― murmurei, meus dedos começando involuntariamente a seguir o ritmo da canção. ― If you wanna be my lover, you gotta get with my friends. Emails, emails… Palmer Tech, vaga de emprego na nova sede em Starling? É, quem sabe, qualquer lugar é melhor que aquela loja… I wanna, I wanna, I wanna, I wanna, I wanna really, really, really wanna zigazig...

― Hey, Spice Girl! ― Meu coração quase parou e eu joguei o celular para o alto, quando Oliver bateu no vidro da minha janela.

― Ah! ― gritei de susto. ― O que é?! Jesus cristinho, que susto!

― Destrava a porta. ― Indicou para o carona.

― Ah, tá. Um segundo. ― Logo Oliver estava de volta ao seu lugar no carona. ― O que é?! ― tive que elevar minha voz para superar o barulho da rádio.

― Nossa, isso está muito alto! ― reclamou, baixando o volume.

― Você tinha uma boate ― afirmei tentando provar meu ponto, mas ele me olhou como se eu tivesse falado algum absurdo. ― A Verdant, acima de onde fica o esconderi… Ah, deixa pra lá. Por que já voltou, não tinha ninguém em casa?

― Não bati.

― Não? Por quê? ― questionei com estranheza.

― Não ia te deixar aqui, Laurel pode esperar. ― Deu de ombros, e eu não poderia ter ficado mais surpresa. ― Podemos procurar algo para comer agora?

― Mas seus restaurantes de comida metida a besta devem estar todos ocupados agora, Oliver, é dia dos namorados.

― Tenho certeza que há uma mesa pra gente no Billy Belly Burguer. Tem um a duas quadras daqui.

― Você comendo porcaria? Essa é nova.

― Não é porcaria é só...

― Muito sódio, gordura e açúcar? ― completei, e Oliver me encarou como se eu fosse julgá-lo, mas meu sorriso se ampliou. ― Vamos nessa.

Acabou sendo bem divertido. Quando Oliver não estava sendo um babaca, era bem divertido, e quando eu não estava me preocupando tanto em convencê-lo a se er quem não queria, consegui relaxar.

― Então deixa ver se eu entendi: agora eu sou um natureba chato e pretensioso que não come mais nada do que é realmente bom?

― Não é assim, você só cuida do seu corpo. Você tem condicionamento físico de atleta, também come como um.

― Um natureba chato e pretensioso, é o que está querendo dizer, entendi ― completou rindo, chupando o canudinho do seu refrigerante, aquele barulho característico do fim da bebida ressoando. ― Ei, me dá suas chaves, vou nos levar a um lugar.

― Acho melhor voltarmos para cave, é mais seguro.

― Buh! ― Vaiou minha decisão responsável. ― Não, vamos para algum lugar, acho que ainda conseguimos chegar a tempo do pôr do sol.

― Oliver, e se...

― Nada vai acontecer, Felicity. Vamos? ― Estendeu e mão e eu lhe passei as chaves, entrando no carona quando ele começou a nos guiar para o desconhecido.

― Eu não lembro de ter vindo para esses lados alguma vez.

― Sou nascido e criado em Starling, conheço cada rua dessa cidade como a palma da minha mão.

― Sou nascida e criada em Las Vegas, então conheço minha cidade como a palma da minha mão. Quem é mais legal agora?

― Você, óbvio! ― respondeu sem hesitar. ― Eu amo sua cidade, podemos pegar o jatinho e ir lá amanhã mesmo!

― Alguém esqueceu que não é mais um bilionário ― murmurei.

― Ei, posso te fazer uma pergunta?

― Vai, pergunta! ― o incentivei. Se ele estava curioso sobre algo dos últimos sete anos, talvez fosse o primeiro indício que ele estava querendo lembrar.

― E você vai ter que ser completamente honesta sobre isso.

― Se me conhecesse saberia que não consigo não ser de outro jeito, Oliver.

― Ótimo. Por que você ficou tão surpresa por eu dar em cima de você? Você disse que não estávamos dormindo juntos.

― Não estamos.

― E mesmo assim... Nunca sequer conversamos sobre isso? ― Me olhou de relance, então voltou sua atenção à estrada. Droga, disso eu não queria falar. ― Eu só preciso entender uma coisa.

― Nós meio que falamos disso uma vez, mas sei lá, foi estranho.

― Estranho como?

― Estranho como falar sobre isso de novo, justo com você!

― Me veja como um observador imparcial, de opiniões muito sinceras ― argumentou. Delas que eu tenho medo, pensei comigo.

― Você tinha dormido com uma mulher que acabou se tornando uma vilã muito da malvada, enquanto estávamos em plena missão de ajudar nosso amigo a resgatar a ex mulher e encontrar o arqui-inimigo que matou o irmão... Bem, essa parte não importa. Conversamos, e você disse que, pela vida que levava, jamais poderia se envolver com alguém que se importasse de verdade.

― Você, no caso.

― Eu sei lá, Oliver! Pode parecer um choque, mas você nunca foi muito claro sobre seus sentimentos. Ou piadas, também é praticamente impossível saber quando está fazendo uma.

― Hm... ― murmurou reflexivo. ― Eu tenho uma opinião sobre isso. Sinceramente, acho tudo isso um monte de merda.

― Como é?

― Não ficar com você pra não te colocar em perigo? E o que o Oliver achava que estava fazendo quando te chamou para ajudar nessa coisa do Arqueiro? Objetivamente falando, você é a pessoa ideal para estar ao lado dele, pois conhece os segredos, apoia, e estando por perto, ele pode te proteger de algum perigo que possa surgir. Pronto, eu encerro meu caso.

― Obrigada, finalmente alguém concorda comigo nessa história. Porque o Diggle ficava só Felicity, tenta entender o lado dele e tals ― engrossei minha voz para imitar a de John e Oliver riu. ― Eu sabia, eu estava certa naquela história! ― Dei um soquinho no ar. ― Mas só pra constar, não preciso que me protejam.

― Ah, não? Me diz que nunca foi ameaçada, sequestrada, correu perigo de vida desde que se juntou a essa cruzada? ― Fiz um biquinho e comecei a brincar com meu brinco para disfarçar. ― Eu sabia.

― Alguma vezes só, mas saí sem arranhões de todas. Menos aquela vez da bala do Calculador, mas isso é outra longa história. ― Fiz um gesto de mão não dando mais importância àquela história. Tinha ganhado uma cicatriz, minha primeira cicatriz!

― Você é fodona, Felicity Smoak, entendi.

A partir daí lhe contei várias histórias sobre nossas missões. Foi divertido lembrar, e Oliver estava se divertindo também, fazendo perguntas e comentários engraçados, apesar de parecer apenas estar ouvindo relatos meus de coisas que aconteceram em um filme ou série, e não com ele mesmo.

Não podia ter ficado mais surpresa quando Oliver estacionou. Estávamos numa praia, e eu nem sabia que Starling City tinha praia! Quer dizer, claro que sabia que havia uma costa marítima na cidade, mas como ninguém nunca falava disso, supus que fosse um lugar feio e não movimentado.

E até estava certa sobre o não movimentado, mas o lugar era lindo. O mar era cinzento como o céu quase sempre nublado, mas dessa vez, fomos presenteados pela natureza com um pôr do sol que deixou tudo entre o laranja e o rosa, ganhando mais vida. A areia muito branca era preenchida em alguns pontos por uma vegetação rasteira que para um observador impaciente seria apenas seca e pálida, mas fazendo conjunto com tudo harmonizava melhor do que qualquer arquiteto faria.

Só tinha um único problema: estava fazendo 15ºC e o vento cortante estava me fazendo tremer e quase morrer de frio.

― Eu não conhecia esse lugar.

― Quase ninguém vem aqui ― Oliver explicou, também descendo do carro.

― Deve ser porque está sempre frio ou chovendo.

― Ou porque Starling é uma cidade de viciados em trabalho que apenas se acostumavam com o clima constantemente cinzento e desenvolveram alergia ao ar puro.

― É, tem isso também. ― Sorrimos. ― Mas frio realmente é o problema do momento. ― Senti um arrepio percorrer minha coluna e tive que me abraçar para tentar me esquentar.

― Desculpa, pega meu casaco. Eu estranhamente não estou com frio.

― Como se sua pele estivesse se acostumado com isso, sei lá, por passar muitos anos numa ilha no mar da China?

― Felicity...

― Tá, desculpa. Você é a Elsa e o frio não vai mesmo te incomodar ― finalizei a frase na melodia da música.

― O quê?

― Ahá, você fez! ― acusei, lhe apontando o indicador. ― A coisa que você disse que é irritante em mim, você fez! Quem é irritante agora?

Você. Isso seria o que ele responderia no início da manhã, mas por algum motivo, não fez, apenas sentou-se em algumas pedras e olhou contemplativo para o mar. Sentei ao seu lado, tirando meus sapatos para colocar os pés direto na areia.

― Você gosta do mar?

― Eu gosto, mas não moraria nas Maldivas, por exemplo. Gosto de apreciar, pegar um solzinho, passar uns dias e voltar para minha casa, com piso de madeira, wifi, chuveiro elétrico, paredes antirruído e sem areia em todo canto.

― Falou como uma verdadeira nativa de Starling, parabéns.

― Não, é sério. Eu fui criada no meio do deserto, esqueceu?

― Verdade ― assumiu. ― Eu gosto do mar, por isso não perco um convite do meu pai para velejar com o Queen’s Gambit.

― Não sabia que sentia falta daquele barco também.

― Eu não sinto, estive nele horas atrás arrumando as coisas da viagem e já vou acordar desse sonho esquisito, e estar nele novamente.

― Por que é tão difícil para você acreditar que tudo que eu te contei é verdade?

― Porque... ― Desistiu do que ia falar, deixando a frase no ar.

― Por que, Oliver? ― insisti. ― Desculpa se fiz parecer que sua vida é uma merda na minha realidade, mas não é. Claro, teve coisas ruins, mas tem partes muito boas que você prefere simplesmente...

― Eu não posso, ok? ― elevou a voz, me fazendo olhá-lo com um pouco de receio do que viria seguindo a mini explosão. ― Porque no momento que eu admitir que sou Arqueiro, eu tenho que assumir todo o restante. E eu não suporto nem a ideia de ter perdido meus pais, Tommy e todo o resto.

― Oh, Oliver... ― peguei sua mão, encontrando um calor bem-vindo e mais aconchegante que o de sua jaqueta. ― Eu sei não digo “sinto muito” o suficiente, você sempre parece tão invulnerável, mas realmente sinto.

― Tudo bem, não aconteceu. ― Soltei um suspiro frustrado e soltei sua mão. ― Mas se tivesse acontecido, eu sei que poderia contar com você, parceira. ― Passou o braço por meus ombros e sorriu para mim.

― Você pode. E tem mais, eu sei que você perdeu mais do que todos nós, e não há promessas que não vá mais perder ninguém por causa dessa vida que levamos, mas tem o outro lado. Você salvou incontáveis vidas, Oliver.

― É, essa parte seria legal ― concordou, parecendo pensar sobre. ― E você está congelando, a praia não foi uma boa ideia.

― Não foi não, eu estou ótima ― menti. Eu já estava parando de sentir as extremidades dos meus dedos e devia estar tremendo tanto que não tive mais como esconder com sua aproximação.

― Vamos voltar para a tal cave, e tentar descobrir o que aconteceu comigo.

― É, não tão rápido. ― Um completo estranho estava parado próximo ao meu carro, onde mais dois veículos haviam estacionado e homens armados saíam deles.

― Fica atrás de mim. ― Oliver se colocou à frente. ― Você conhece esse cara? Eu deveria conhecer esse cara? ― sussurrou.

― Não, e tem um arco no meu carro, só precisamos chegar até lá.

― Um arc... O que eu vou fazer um arco? ― Sua voz subiu uma oitava. ― Não, deixa comigo, eu lido com a conversa.

― Ou você poderia chutar a bunda desses caras e nos tirar daqui. Em menos de dois minutos.

― Como? Eles são meia dúzia.

― Já vi você derrubar mais do que isso, só com uma mão.

― E por que diabos eu não usei as duas... Quer saber, isso não vem ao caso agora. Deixa que eu falo. ― Oliver abriu um sorriso. ― Então, camaradas...

― Ninguém chama ninguém mais de “camarada” ― pontuei.

― Oh, meu Deus, Felicity!

― Ok, eu não tenho tempo para isso. Muito prazer, Werner Zytle, o novo Conde Vertigo. ― Fez uma continência encenada. ― Eu faria um pronunciamento maior, mas aqui está congelando, praia nessa época, sério isso, gente? ― Havia um novo conde na cidade? Como eu não sabia disso ainda? E por que ele parece saber exatamente quem somos?

― Vai, você já conseguiu uma vez, só precisa lembrar.

― Não dá simplesmente para acessar memórias que eu nem acho que tenho.

― Você conseguiu com o arco mais cedo, é nossa única chance.

― Tá bom, mas saiba a gente está tão ferrado!

― Ótimo decreto de morte, Oliver, arrasou!

― Observação número um: vocês dois são irritantes. Observação número dois: peguem eles! ― Zytle ordenou aos seus comparsas, que avançaram em nossa direção.

Não posso negar que senti uma pontinha de esperança quando Oliver também foi na direção deles, não seria a primeira vez que eu enfrentava um perigo assim, mas o Arqueiro sempre aparecia para salvar o dia. Só que nem tive tempo para achar que tudo fosse dar certo, pois ele foi derrubado por um taser.

Um taser! A merda de um equipamento que até eu vi chegando e ele não, e que o fez desmaiar com uma facilidade de uma criança de sete anos, o mesmo cara que lutou contra bombas, arqueiros do mal e um exército de super soldados. Pelo menos nisso ele estava certo, a gente estava tão ferrado!

~

― Oliver, acorda! Oliver, Oliver! ― Eu estava chutando a canela dele já fazia um tempo e homem parecia que tinha tomado algum sonífero. ― Oliver!

― Ai, minha cabeça! ― Já acordou reclamando. ― O que aconteceu?

― Só pra saber, você acredita que é Arqueiro?

― Não, isso é absurdo. ― Maravilhoso, ainda estava presa com a versão que não poderia ajudar em nada. Pensei que o choque pudesse trazer as lembranças de volta.

― Então, o que aconteceu foi que fomos sequestrados ― expliquei resumidamente. ― Desconfio que esse Werner Zytle conhece nossa identidade por seguir os passos do conde original e ter descoberto daquela vez que fui sequestrada.

― Isso é incrível, quer dizer que estamos na merda ― falou com falso entusiasmo, até fechar o sorriso.

― Não se você lembrar.

― Não dá para se soltar disso? ― Começou a forçar as mãos, que assim, como as minhas estavam presas às suas costas, na cadeira que ele também estava preso.

― Ah, já sei! Poderia deslocar seu dedão.

― Desloca você o seu dedão! ― rebateu instantaneamente.

― Você acha que eu não deslocaria se pudesse? ― retruquei. ― Mas você é acostumado, suas articulações e tendões, sei lá, estão acostumados.

― Não, não, nada disso.

― A gente vai morrer, Oliver! ― apelei. ― É um milagre que não acabaram com a gente ainda.

― Tá bem! Como faz isso?

Tentei explicar o básico de anatomia das mãos, mas eu também nunca tinha feito isso, não tinha como saber bem como era. Levaram algumas tentativas, vários minutos de hesitação seguidos por um grito de dor e uma careta coletiva, mas ele conseguiu. Na hora de colocar de volta no lugar, foi outro processo, mas pelo menos dessa vez eu podia ajudar.

― Um gelinho e vai estar novo em folha.

― Mas vamos combinar, da próxima vez, você desloca o dedão. Essa coisa tá doendo pra caramba!

― Tá bom! ― Como se eu fosse deslocar, cresça, Oliver.

― Indo tão cedo?

― Droga, como esse cara sempre aparece na hora certa? ― resmunguei. ― Hora certa para ele, no caso, porque pra gente...

― Felicity! ― Me calei.

― Sabe, Arqueiro... Existe um motivo para não termos acabado com vocês ali mesmo na praia. Seria só mais um casal fofo com uma má sorte em um encontro de dia dos namorados abordados por ladrões ― explicou seus motivos. ― Mas tem uma coisa: sua equipe. Se eu quero dominar a cidade, não pode sobrar ninguém, então por favor, os dois sentadinhos de novo até eles chegarem.

― Como é?

― Dominar a cidade por vertigo, esse é meu plano. Vertigo em todas as esquinas, todas as boates, escolas. Vou começar como conde, até me tornar o rei de Starling City. ― Abriu os braços em um gesto teatral.

― Esse cara é completamente maluco.

― Um maluco com uma arma, Oliver, não enfrente. ― Se formos nos basear no desempenho dele de antes, o mais seguro seria esperar por um resgate.

― Era você que estava me dizendo horas atrás que eu devia enfrentar!

― É, mas...

― Eu sou um fracasso, eu sei.

― Não, você não é. Quer saber, tem razão, você consegue! ― Se eu não fosse acreditar nele, quem iria? ― Você pode ir lá e livrar a gente dessa como já fez um milhão de vezes. Você é um herói, Oliver, você é o Arqueiro.

― Ah, que bonitinho, eles vão lutar. Crianças, me prometeram uma boa briga, mas baseado no que vimos mais cedo, a realidade não é nada comparada à lenda. Então fiquem quietinhos ou eu vou ter que pegar pesado.

― Manda ver! ― Oliver falou com tanta confiança que eu acreditei nele mais do que nunca, mas não foi uma briga justa que Zytle começou, pois logo senti a picada em meu pescoço, assim como Oliver também levou a mão ao dele.

Havíamos sido injetados com dardos de vertigo.

― Felicity, você está bem? ― Oliver chegou se abaixando até mim, quando minhas pernas não me sustentaram com eficácia e eu fui ao chão.

Eu não estava. Tontura, visão embaçada, o chão virando gelatina sob meus pés. Nem os meus momentos mais intensos de hacktivista na faculdade envolviam drogas, e fora meu amado vinho, não estava acostumada. Acho que por isso Oliver estava reagindo melhor, pois seu corpo já conhecia os efeitos daquilo em seu corpo.

― Vocês devem estar começando os primeiros efeitos, tontura, tudo parece meio escuro e confuso, até que a melhor parte dessa nova versão vem por aí. Queridos, vocês estão prestes a encarar seus piores medos.

― Você precisa lutar, Oliver.

― Eu não sei como.

― É o único jeito de sobrevivermos, você precisa ser a pessoa que estava destinada a ser quando nem sabia disso ainda, um herói. Eu preciso de você. Eu amo você.

Tudo virou um grande borrão, e com todo o vertigo em minha corrente sanguínea, eu nunca consegui diferenciar o que foi verdade ou ilusão. Era como ver de novo o Arqueiro com todas suas habilidades de combate, que, para meu completo desespero, não foram o suficiente. Oliver foi derrubado e caiu imóvel diante de mim pouco tempo depois.

― Oliver, Oliver! ― Lutei contra meu corpo pesado para chegar até ele. ― Você não está respirando, você não está respirando! ― Eu já estava às lágrimas que beiravam o desespero, segurando seu rosto machucado com as duas mãos, o agitando na tentativa vã de trazê-lo de volta.

A culpa era minha, eu não deveria ter pedido que ele lutasse, não estava pronto. Talvez se eu tivesse aceitado que ele não era e nunca mais seria o mesmo, nem estaríamos nem confusão em primeiro lugar. Eu provavelmente também morreria nos próximos minutos, mas minhas esperanças já estavam esgotadas de todo jeito.

― Felicity, temos que ir agora. ― Ouvia a voz dele ao longe, como em um sonho.

― Eu vou com você, eu vou ― respondi, a voz distante e desfocada.

― Felicity, levanta. ― Pisquei meia dúzia de vezes, foi quando o corpo imóvel desapareceu e seu rosto tomou foco à minha frente. ― Tudo bem, eu te carrego. ― Me pegou no colo. ― Reforços vão chegar logo, temos que sair daqui.

Foi quando entendi, a droga despertava o maior e mais profundo medo, e não foi surpresa nenhum ao descobrir o meu: perdê-lo.

Oliver roubou um carro, coisa que ele já estranhamente bom mesmo antes, e escapamos a toda velocidade. Wenner Zytle escapou, ele sabia nossa identidade e teríamos grandes problemas à frente, mas isso teria que ser resolvido depois, agora só tínhamos que estar logo na segurança da cave. Com os efeitos do vertigo passando, o que eu havia visto e falado era mais revelador do que eu estava pronta para admitir.

~

― Me sinto uma nova mulher depois do banho! ― exclamei, terminando de enxugar o cabelo. Como eu não tinha vida alguma fora daqui, sempre mantinha uma troca de roupas limpas, caso precisasse emendar alguns dias. ― Duas observações… Primeiro, seu chuveiro daqui é maravilhoso. Segundo, praia acabou de ganhar o lugar de top 1 de piores lugares para ser sequestrada. Fica areia em toda parte e não tem como tirar enquanto está amarrado numa cadeira. ― Oliver riu.

― É estranho como você lida bem com essas coisas ― observou.

― E o dedo, como está?

― Como você disse que ficaria, novo em folha. ― Tirou a mão de uma vasilha com gelo e movimentou o polegar para provar seu ponto. ― Meu corpo está funcionando estranho.

Sentei na minha cadeira, esticando os braços e sentido os ossinhos das minhas costas estalarem. Era quase um alívio estar de volta à minha cadeira ergonômica com o ajuste perfeito à minha coluna.

― Felicity, o que você viu quando te injetaram aquela droga? Você parecia desesperada. ― Ok, sem falar sobe o meu “eu te amo”. Melhor solução, talvez ele estivesse drogado demais para lembrar também.

― Eu… ― Engoli seco, as lembranças ainda pairavam na minha cabeça me dando arrepios, e eu não queria nem pensar sobre. ― Bom, eu…

― Se não quiser falar, tudo bem.

― Eu vi pessoas que eu amo sendo machucadas ― contei a versão resumida, ainda assim verdadeira.

Eu o amava e vê-lo morrer diante dos meus olhos foi uma dor que eu pensei que não suportaria. Que se fosse verdade, com certeza me deixaria maluca.

― O que você viu? ― perguntei antes que Oliver quisesse ser mais específico sobre minha alucinação.

― Eu lutei contra ele. ― Meu olhar seguiu o seu até onde a fantasia do Arqueiro estava em seu mostruário de vidro. ― Meu maior medo é ser o Arqueiro, mas tudo nessa noite só provou que eu sou e que essa cidade precisa do herói.

― Tudo bem, Oliver. ― Fiquei em pé, indo até onde ele estava com o quadril encostado em uma mesa, fazendo carinho em seu braço. ― Estranho seria se você aceitasse isso do nada agora, já que levou cinco anos para você ser ele na primeira vez. Desculpa por às vezes forçar a barra.

― Você só estava pensando no bem geral.

― É o que faço, o que às vezes é foda, sabe? Até hoje eu não tinha notado como essas coisas me atingiam. Apesar de amar esse trabalho, a emoção e o desafio que vem nele, tem um lado ruim que eu sempre tentava encobrir com bom humor, palavras complicadas de codificação e praticidade.

― Ei, você só é uma pessoa inteligente e corajosa. ― Sua mão foi para minha bochecha, acariciando ali. ― Gosta de novos desafios e de ajudar pessoas, tá tudo bem.

Percebi que ele se aproximava demais, ficando em pé para dar um passo à frente e não deixar mais do que alguns poucos centímetros entre nós.

― É melhor eu checar com Diggle e Roy, não falamos o dia todo com eles. ― Escapei novamente da situação, voltando para minha cadeira.

― Hey, me desculpe por estragar o seu dia dos namorados.

― O quê?

― É isso que é hoje, não é? O cara mau disse. Daí você teve que ser minha babá o dia todo, fomos sequestrados porque insisti em sair, e você se machucou. Me desculpe.

― Eu estou bem. E também, eu não tinha planos. Mais ou menos.

― O que são planos "mais ou menos"?

― Você me convidou para um jantar.

― Mas você disse que a gente não tinha nada.

― Não temos. Mas daí você me chamou pra sair.

― E você não pensou em mencionar isso?

― Foram dois minutos antes do acidente, por que eu falaria do que aconteceu nos últimos dois minutos comparado há mais de dois anos?

― Porque… ― Franzi a testa. Não estava entendendo aquela reação, não era como deu eu tivesse escondido alguma coisa grave dele.

― Por quê? ― o incentivei a continuar.

― Porque explicaria o que eu estou sentindo aqui. ― Indicou o peito. ― Porque eu não me importo com Laurel do mesmo jeito que era ontem, porque eu te levei para aquele lugar na praia, porque eu estava disposto a lutar e morrer para você sair viva. Porque essa coisa de ser o Arqueiro parece ser maluca e impossível na minha mente, mas quando você fala, parece tão certo.

― Oliver, o que você está dizendo?

― Que agora eu entendo todos esses porquês, é bem simples até. Eu também devo amar você.

― O quê? ― Meus olhos quase saltaram para fora das órbitas diante daquela declaração/confissão.

― Você me ouviu.

Oliver não deu tempo à antecipação e suspense, pois já chegou até mim em poucos passos, segurando meu rosto ao levar seus lábios aos meus.

Em segundos um beijo acabou se tornando muito mais, quando suas mãos desceram para minha cintura e segurei firme em seu braço e nuca, sem acreditar que eu estava mesmo dando uns amassos em Oliver Queen ali no nosso esconderijo. Não que eu nunca tenha imaginado isso, o homem vivia sem camisa o dia todo.

― Não atende ― ouvi o murmúrio ao meu ouvido quando sua barba fazia cócegas no meu pescoço ao beijar ali.

― Atender o quê?

― O telefone, não atende o telefone. ― Só então comecei a ouvir o zunido do meu celular vibrando na mesa que Oliver havia me encurralado contra.

― É o John.

― Ele espera.

― Pode ser algo sério, um minuto. Hey, Dig.

Vai nascer, Felicity!

― O quê? ― Empurrei Oliver para longe, me afastando alguns passos para conseguir entender direito a ligação.

Minha filha está nascendo! Você ainda está com o Oliver? ― Nessa hora, o loiro chegou atrás de mim, me abraçando e beijando a curva do meu pescoço.

― É, ele tá aqui. A gente está indo. ― E desliguei.

― Boa, melhor dizer que vamos e dispensar ele de uma vez, assim nos deixa em paz.

― Estamos indo para o hospital ― falei agora diretamente para Oliver, barrando mais uma de suas investidas com uma mão em seu peito, quase desejando não ter feito isso. Seus músculos eram tão bons de tocar que... Foco, Felicity!

― Por quê? ― Fez a sua cara de menino rico que não gosta de ser contrariado.

― Porque a filha do nosso amigo está nascendo, precisamos estar lá para dar apoio e eu preciso gastar o discurso que já tenho prontinho para os convencer a nos tornar padrinhos.

― A gente volta pra cá depois?

― Ou pra minha casa, sabe? Uma casa de verdade. ― O sorriso dele ampliou e nem precisei insistir mais, logo já estávamos a caminho do hospital.

Nem acreditei que eu estava falando aquelas coisas para ele, mas que se foda. Depois da noite que tivemos hoje e quase morrermos juntos, tempo era o que eu não queria mais perder, e com esse novo Oliver, essa talvez fosse uma oportunidade de recomeço para nós.

Diggle me deu instruções por mensagem de onde estava e onde deveríamos esperar, que logo que pudesse iria nos dar informações, mas não contava como seria difícil segurar o adolescente imperativo que tinha trazido comigo.

― Eu sou bom de briga, essa foi a melhor descoberta. E você, claro ― completou quando o olhei fingindo repreensão.

― Se salvou por pouco, agora senta.

― A gente podia esperar dando uma volta por aqui, um quarto vazio, quem sabe.

― Cheio das segundas intenções, não é, coração?

― Estou entediado, Felicity. Quanto tempo mais…

― Ok, eu também estou cansada de ficar aqui parada.

Mas nenhum de nós dois contava que dar uma voltinha teria aquelas consequências. Eu nem vi direito como aconteceu, mas em mais uma de suas demonstrações que estavam me fazendo rir de como derrubou Zytle o suficiente para nos fazer fugir, Oliver bateu a cabeça em um transformador do hospital e caiu duro no chão.

Fiquei desesperada na hora, mas a equipe médica o atendeu prontamente, com agilidade e competência, e em minutos ele já estava em um quarto acordando.

Minha surpresa só não foi maior do que a dele ao se encontrar ali, perguntando de cara porque não o havíamos tratado na cave e que ser atendido no hospital era correr riscos. Só então entendi que suas memórias estavam de volta, tão rápido como se foram.

― Se eu soubesse que era só bater na sua cabeça…

― Eu estou bem, foi só uma bobagem. ― O ajudei a ficar sentado na cama, contrariando as ordens médicas que repousasse. ― Onde estão Diggle e Roy?

― Alguém precisava patrulhar a cidade com o Zytle ainda a solta...

― Quem é Zytle?

― E Diggle está na sala de parto com Lyla.

― O bebê deles já vai nascer?

― Ok, Oliver, sua confusão está me confundindo. Qual a última coisa que se lembra?

― A gente estava perseguindo uns membros da gangue Steelgrave, daí eu estava conversando com você e houve um acidente. Eu me distraí, um ônibus veio do nada e acabei batendo a moto, e agora você está me olhando muito esquisito.

― Você não lembra do que aconteceu depois que acordou do acidente?

― Lembro, foi só alguns minutos atrás.

― Oh, Deus. ― Desabei em uma poltrona com as mãos na cabeça. ― Felicity, você é azarada, hein, querida?

― Felicity, o que aconteceu? ― questionou preocupado.

― Em resumo? O acidente foi ontem, você acordou e sua ultima lembraça era de um dia antes de sair com seu pai na viagem que teve o naufrágio. Nada de Lian Yu, Malcom Merlyn, Slade Wilson, Arqueiro, nada. Enfrentamos o novo bandido na cidade, quase morremos, ele ainda está solto e blá blá blá… Se já está bem, melhor voltar e procurar Diggle.

― Como assim novo bandido, quase morrer… Você não pode completar essa frase com blá blá blá, Felicity!

― Oliver, a filha do John vai nascer, só isso importa agora, tá bem?

― Mas…

― Vamos.

Eu precisava jogar tudo o que aconteceu nas últimas 24 horas para alguma caixinha escondida no meu cérebro e fechar, deixando todas essas lembranças como um delírio coletivo. Foi até bom enquanto durou, mas agora já era, o Oliver de sempre estava de volta e eu estava feliz por isso, afinal, foi o que tentei fazer o dia inteiro.

E com o inquieto dando lugar ao reflexivo e introvertido ao meu lado naquela cadeira da sala de espera, com seu cérebro quase saindo fumaça de tanto que parecia estar pensando sobre o que fazer, ou o que eu não havia lhe contado, não ficava mais fácil.

― Oliver, não sei se você já deveria estar sentado. ― Lhe estendi o copo de água que ele bebeu em um fôlego só, depois que eu mesma havia saído com a velha desculpa da sede. ― Estou bem, Felicity.

― Tá bom, ok. Sabe o que mais? Vou procurar John e ver se tem alguma novidade, esse provavelmente é o trabalho de parto mais longo da história! Melhor, melhor, vou hacker o sistema do hospital e ver se eles têm alguma novidade.

― Ei, você tá bem?

― Não fui eu que bati a cabeça e perdi sete anos de memória, bati a cabeça de novo e recuperei os sete anos, mas perdi das últimas 24 horas. Você deveria ver um neurologista. Ou um benzedor.

― Oh, não, eu fui algum babaca com você?

― O quê?! ― exclamei surpresa, sentindo o rosto enrubescer. Jurei para mim mesma que não tocaria nunca mais no assunto do beijo, e não faria isso. ― Droga, fiz de novo! ― Cobri a boca com a mão.

― Fez de novo o quê?

― Falar "o que" quando eu já entendi a pergunta da primeira vez. Você disse que era irritante.

― Ah, sim, agora vi, eu fui sim um babaca com você. Olha, Felicity, você não pode levar em consideração nada que eu disse e fiz nas ultimas horas, Oliver Queen antes de Lian Yu era um tanto… Difícil ― completou, quando não encontrou palavra melhor, e sem querer, machucando mais quando me provou estar certa sobre ignorar o que tinha acontecido no bunker antes de virmos ao hospital.

― Eufemismo do século.

― Desculpa.

― Não, está tudo bem. ― Balancei a cabeça como se dissesse para que ele deixasse para lá. ― Você não foi tão mal. Teve momentos, claro, que te xinguei em pensamentos, e outros em voz alta no meio da rua, mas era só sua já bem conhecida teimosia, obstinação, cabeça dura...

― Eu não sou teimoso!

― Claro que não, coração.

― Ah, o ridículo apelidinho! ― Jogou a cabeça para trás, fazendo uma careta. ― Desculpa.

― Na verdade, foi bom ver um Oliver mais leve, divertido e despreocupado. Foi estranho, mas era um lado seu que eu não conhecia, e eu achava que já conhecia todos os seus lados. ― Ele ergueu uma sobrancelha para o duplo sentido da frase. ― Seus lados internos. ― Tentei corrigir mas só a deixou pior. ― Da sua personalidade. Jesus, alguém cala minha boca!

― Deve ter sido bom dar um tempo do Oliver turrão e mal humorado.

Havia um pouco de amargura em sua voz. Talvez de algum modo, Oliver se ressentia por não mais conseguir ser a pessoa que fora um dia, e isso era bobagem. Era o homem com todos os traumas e cicatrizes diante dos meus olhos que ganhou minha admiração, e, se eu for sincera comigo mesma pelo menos uma vez, ganhou meu amor.

― Foi diferente, mas eu ainda escolheria esse você. ― Segurei suas mãos entre as minhas. ― Tudo que passou moldou a pessoa incrível que o confiante e charmoso bilionário nunca vai conseguir superar. ― Um sorriso singelo surgiu em seus lábios e meu cérebro ligou o alerta de fuga novamente.

― Eu não esqueci onde paramos nossa conversa noite passada. ― Trouxe o assunto do jantar de volta à tona antes que eu pudesse correr dali. ― O bom é que todas as noites temos que jantar.

― Melhor deixar isso para lá, Oliver. ― Tive que fazer um pouco de força para soltar minhas mãos das dele, ficando em pé e alisando a saia do vestido. ― Se tudo isso não for um sinal do Universo, eu não sei mais o que é.

― Felicity… ― Também ficou em pé.

― Tudo bem, está tudo bem. Werner Zytle sabe nossas identidades e está por aí reconstruindo uma nova gangue e o império do Vertigo. John e Lyla estão tendo um bebê, você ainda está falido e sua irmã sem dar uma notícia concreta.

― Felicity…

― É muita coisa, podemos deixar isso de jantar pra depois, beeeem depoi...

― Opa! ― Na minha tentativa de me afastar dele, estava andando de costas e acabei esbarrando em Diggle. ― Pessoal, ela nasceu! Eu sou pai!

― Parabéns, Dig! ― O abracei, duplamente feliz, pela chegada da menininha e pela troca de assunto na hora mais que oportuna.

― É, cara. Parabéns, irmão.

― Querem conhecê-la? Vamos. ― Nos convidou, guiando o caminho.

― Espera. ― Oliver ficou no meu caminho quando tentei seguir nosso amigo. ― Talvez você esteja certa, devemos apenas colocar esse assunto em pausa.

― Ótimo, concordamos então. ― Dei a volta nele para seguir para o quarto.

― Talvez eu devesse encontrar Thea primeiro, ou resolver as questões da empresa ― continuou a falar, atraindo minha atenção. ― Derrotar esse tal de Zytle, exterminar o Vertigo da cidade. De novo.

― Exatamente.

― Ou talvez eu devesse apenas fazer isso.

Cruzou com três passos grandes a distância que havia entre nós, e como horas antes de beijou de surpresa, sendo ainda mais rapidamente retribuído. Dessa vez eu não lidava com um Oliver conquistador e de confessos sentimentos que desconhecia, esse aqui era meu Oliver, o que conheci dois anos atrás, me fez cometer mais crimes do que maioria dos presos de Iron Heights, e que dedicava sua vida aos outros.

O homem que eu amava.

Segurei firme em seus braços enquanto ele mantinha sua boca contra a minha, as mãos em meu pescoço. Não foi um beijo que durou muito, afinal ainda era um corredor de hospital, mas veio cheio de promessas.

― Sempre vai haver um vilão, um problema familiar, um drama na cidade. E se eu tiver sorte, sempre haverá uma Felicity Megan Smoak ao meu lado em tudo isso.

― Tão mais charmoso ― murmurei, soltando um suspiro e ele riu.

― Vem, vamos conhecer nossa futura afilhada.

Sua mão desceu por meu braço até encontrar a minha, e juntos caminhamos até o quarto dos papais Diggle e sua linda bebezinha. Eu ainda não sabia aonde aquilo nos levaria, mas tinha sido um dos melhores dia dos namorados de todos.


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Notas finais do capítulo

E aí, o que acharam? Só eu que queria mais desse Oliver despreocupado e charmoso antes de voltar ao nosso lindo e turrão de sempre? Me dêem suas opiniões nós comentários! E não deixem de acompanhar, favoritar, indicar aos amigos que também curtem Arrow. Amanhã tem muito mais! Bjs*



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