A Viajante - Decidida escrita por AliceCriis


Capítulo 8
7 – Devaneios.


Notas iniciais do capítulo

Nossa, gnt... fiquei triste, sério. Não tem mais comentários :



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7 – Devaneios.

 

 Nesse lance de ser um viajante... existem coisas básicas á se aprender. Como por exemplo: uma viajem corporal, e uma viajem mental – ou espiritual, como vovó Sweet diz.

 Bem, quando você pratica uma das viagens corporais – o qual eu pratico muito raramente... - Quando você viaja corporalmente, seu corpo no presente em que você vive, desaparece por completo, e viaja com você. E quando, por exemplo, seu corpo real encontra-se com seu outro eu – como em meu caso, Augustine – ele simplesmente é unido. Seu corpo e seu outro corpo se unem. Viram apenas um. E quando se pratica uma viajem mental – ou espiritual – apenas seu “eu consciente” viaja. E deve se perguntar, quem está com seu corpo? O corpo age de uma forma, como eu gosto de chamar: piloto-automático. Você responde, conversa, anda, lembra etc... faz qualquer coisa que faria se seu “eu consciente” estivesse lá.

 Então, eu viajei espiritualmente.

 E lá estava eu, dentro de um vestido balão, com tecidos cobrindo toda a extensão de meu corpo. Sentada em uma sala, com alguns bordados no colo. Yeah. Bordados. De fato, é complicado me imaginar fazendo bordados. Mas Augustine fazia.

 Eu gostava do corpo de Augustine. Ela é exatamente como eu. Meu eu. Eu realmente. A garota de 2010, nascida em Jacksonville. Ela tem personalidade forte, e eu sinto uma forte vontade de gritar, quando homens se sobrepujam acima dela. Na verdade, não sei se quem quer realmente gritar, sou eu, ou é ela. Somos a mesma pessoa, de fato.

 - Terminou, Augustine? – a camponesa, Juliett, cuidava de mim desde pequena, ou melhor, cuidava de Augustine. Ela ensinou a maior parte das coisas que a minha “hospedeira” conhecia. Bordados, pintura, costura e até alguma receita gastronômica.

A mãe de Augustine – que eu sentia como minha mãe – vivera ocupada com afazeres da propriedade, juntamente com o pai. A mãe dela, era exatamente como a minha. Os mesmo traços. A mesma personalidade. A mesma mulher, eu poderia dizer. Era uma forma de eu estar próxima á minha mãe. Mesmo que um tanto longe, eu podia vê-la ainda. Podia falar, sorrir, perguntar... enfim, conviver com ela. Daniel não era o nome de meu pai, mas a mesma face, pertencia a ambos. Rodriguez. Esse era seu nome. Roo, não era Rooswell. Mas sim, Murielo, - e acima de tudo, não era apenas um irmão seis meses mais novo – yeah. Ele era meu irmão gêmeo. E eu havia mais dois irmãos mais novos. Cedrico e Annabelle. Cedrico, tinha sete anos e Annabelle, seis.

 Muitas vezes me pergunto, se... minha mãe não tivesse... partido. Cedrico e Annabelle existiriam no meu tempo? Mas eu não gostava de pensar nestas coisas. Eu me sentia triste e doía por dentro. Eu fazia o que podia para não dar ênfase á falta de uma mãe... mas as vezes... a dor e a ferida – que pouco a pouco tentava se cicatrizar – eram maiores do que qualquer desejo meu. Sim, meu pai me amava e fazia o que podia para ser a mãe que eu não tinha, Roo também não era o desastre de irmão que eu narrava. Mas... eles podem tentar fazer com que a falta de minha mãe, Analice, deixara para trás. Papai, Roo e vovó Sweet eram a única coisa que eu tinha... Augustine não fazia idéia da sorte que tinha...

 - Sim. – respondi á Juliett.

 - Acho que está na hora de seu banho. – ela observou. – vou preparar a água e as ervas.

O véu que cobria meu rosto, já não me atrapalhava mais, coloquei os bordados de meu colo em uma escrivaninha – com aquelas penas legais que se vê apenas nos filmes – e olhei janela á fora. Itália, 1333. Época renascentista. As memórias me invadiam, e eu lembrava de minha casa. EUA – Flórida – Jacksonville – 2010. Tempos distantes. Mas... eu me sentia em casa. Aqui. E lá. E aqui, estavam para o lado fora da janela da bela - casa colonial e nobre – uma estação primaveril, moças caminhando sucintamente com olhos cobertos por véus, leques em suas mãos, uma dama de companhia ou simplesmente um rapaz a cortejando – engraçado, acho que se um rapaz desta época visse uma garota de calças jeans ficaria desapontado com o tamanho real de um traseiro feminino – e mais á diante, pintores renascentistas, concentrados  em suas mais belas obras.

Era adorável fitar toda aquela beleza, e sentir-me como parte daquilo.

 - Vamos, Augustine, por favor.

Caminhei pela sala de madeira, e me dirigi até onde Juliett esperava-me com sua escova e ervas em um tanque enorme cheio de água quente. Aquela era certamente uma experiência que Hope Samantha Stevenson não aprovaria.

 - Um minuto. – pedi, e caminhei vagarosamente para o que eu deduzia ser o quarto de Augustine – ou meu. Abri a porta, e remexi dentre as coisas clássicas que ela detinha. Encontrei um pequeno espelho com detalhes em ouro maciço – valeria bastante no museu. Coloquei um lenço com minhas iniciais em volta dele, e  o segurei com as duas mãos.

 - A água está esfriando... – comentou Juliett – não temos a manhã toda.

 - Estou indo... – disse, enquanto fechava meus olhos, e concentrava todas as minhas forças naquele único ponto nas extremidades de minhas mãos. Pensei em minha verdadeira vida, onde existiam carros e computadores, onde minha mãe já deixava de existir, onde eu não era Augustine. E com uma leve brisa, eu estava de volta.

 - Hey – Suze, me disse cutucando meu braço – o que acha do Josh?

 - Ah, Suze. – eu pisquei algumas vezes para acostumar-me com a luz do ambiente, e com sua presença ao meu lado. Eu não estava mais na sala de inglês. Estava na sala de química, com Suze ao meu lado, analisando suas unhas perfeitamente arrumadas. – Josh?

 - Yeah.

 - Ele parece ser um cara bastante esperto... – disse.

 - Um cara bom de mais pra mim? – ela levantou a sobrancelha bem feita, e seus olhos castanhos eram risonhos.

 - Não. Não quis dizer isso. – pausei preocupada – Sabe que não quis.

 - Aham... – ela disse e continuou a analisar as unhas – é meio estranho que ele tenha escolhido alguém como eu, alguém com QO tão baixo.

 - Suze, amiga... é QI – corrigi.

 - Viu só? – ela riu um pouco.

 - Como vai seu porquinho da índia? – perguntei, entrando em um assunto que ela não teria problemas em discutir, eu acho.

 - Senhor Pigles? – perguntou com os olhos brilhando.

 - Não era Mr. Peeper? – franzi o cenho, abrindo meu livro.

 - Não sei... – e seu olhar ficou vago. Olhando para uma parede branca do outro lado da sala. Okay. Hoje ela não estava muito... Comunicável.

 Dei de ombros enquanto esperava seu único neurônio fritar. E o professor Walle, entrou na sala, com alguns tubos de ensaio. Ele saldou todo mundo, e anotou o nome de todas as duplas já formadas – e por sorte, sarcasmo – fiquei com Suze. Thalita, Jack, Josh, Z e Roo estavam em outra turma, então eu havia ficado com Suze – fazer o que?

  Fiz todas as misturas com os tubos de ensaio e anotei as reações, assim como o professor Walle mandava, era chato. Preferia estar dormindo, á estas horas. Mas continuei a fazer o trabalho que eu tinha que desempenhar. Suze continuou brincando com seu lápis – colocando-o á cima de seus lábios em forma de bico, e fingindo que tal objeto era um bigode.

- Quase acabando? – perguntou ela, girando os olhos para ficar vesga.

 - Terminei á cinco minutos. – cruzeis os braços e massageei minhas têmporas. Paciência Hoo, paciência...

O que era pior? Um banho na época medieval ou uma amiga sem cérebro? Provavelmente eu queria ter ficado tomando aquele banho...

Ah, e o relógio... ele veio comigo. Sim, foi um pouco cansativo produzir energia para trazê-lo até mim, mas ele estava envolto em um lindo lenço com as iniciais “A. P.”, bem guardado em meu bolso.

 - Você e Roo vão sair no jornal, sabia? – pediu Suze, envesgando-se para ver o lápis em cima dos lábios.

 - Por que? – perguntei, recostando meu queixo em minha mão.

 - Os irmãos Stevenson – ela pausou – vão participar do próximo campeonato de tênis, não é? – ela perguntou balançando o lápis na em cima dos lábios em bico.

 - É no próximo campeonato? – indaguei estupefata.

 - Yeah... Roo falou sobre algo de caquetes novas... – ela resmungou.

 - Você quis dizer “raquetes?” – perguntei levantando uma sobrancelha.

 - É essa joça aí.

E ela voltou á balançar o lápis em cima dos lábios e dizer: “Hey! Eu tenho um bigode retinho!”

 - Ah... – ela pediu – vamos ao shopping com meu sedan? Eu deixo você dirigir! – ela disse animada, colocando mais um lápis junto ao que já estava á cima de seus lábios.

 Hm, devo ter deixado de comentar uma coisa... Os pais de Suzan Bayle – Senhor e Senhora Bayle – são os donos da rede de shopping de toda a extensão de Jacksonville ao Kansas... Yeah. Eles são milionários.

 - Vamos? – pediu ela, divertida – Yeah, meu pai ainda não deixa eu pegar a Ferrari... – ela disse birrenta.

 - Imagine por que será... – eu revirei os olhos.                                         

 - Eu não fiz nada de errado – ela me olhou com superioridade, esticando mais os lábios e dando mais sustentação á seus “bigodes”.

 - Então entrar em uma liga de rachas ilegais com membros satânicos, não é errado pra você? – levantei as sobrancelhas em indagação.

 - Eles eram legais, okay? – ela estreitou os olhos pra mim.

- Eles foram legais quando pediram pra você cortar os pulsos para dar início ao campeonato anual? – ri um pouco.

 - Eles se sentiriam ofendidos se você pedisse para eles fazerem o sinal da cruz, tanto quanto você se ofendeu por pedir para cortar seus pulsos. – ela mostrou a língua e derrubou seus lápis-bigode.

 - Okay. Você venceu. Não quero mais discutir com você. – disse, enquanto fitava o professor Walle se aproximando.

 - E aí meninas, como foram as férias? – ele pediu em seu casual jeito. Bem, ele era um cara normal. Não poderíamos morrer  de amores por ele, mas ele era um bom professor – e eu, uma má aluna.

 - Passei o tempo todo em Vancouver, morrendo de frio. – disse sem animação.

 - Eu passei as férias na praia, com Joshua. – indicou Suze, animada.

 - Vejo que não está muito feliz com suas férias de verão senhorita Stevenson... – comentou o professor analisando meus relatórios sobre qual quer que tenha sido o assunto que ele propôs.

 - Yeah. Passei as férias em uma van com meu pai e irmão, indo e vindo do Canadá, pode haver coisa melhor? – perguntei sarcástica.

 - Quando eu era jovem – eu não queria escutar. Juro – passava por situações parecidas... Quando completarem 18 anos, melhora. Eu juro... – ele riu, passou visto em meu – que deveria ser “nosso” – e saiu dalí, para outra carteira.

E assim, o sinal tocou.


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