Enluarado escrita por Camí Sander


Capítulo 5
Capítulo 4 - Maldição Vampírica


Notas iniciais do capítulo

Olha quem apareceu para dar um pouquinho de raiva para vocês?!
Brincadeira, gente, eu amo essa fic porque o Edward é aquele amado em



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~~ Atualidade ~~

O movimento brusco que o menino fez, obrigou-me a voltar.

Wesley tinha traços muito parecidos com os do pai — lábios carnudos, nariz fino, bochechas cheias e cabelos castanho-claros —, mas não pude deixar de compará-lo à minha menina. Eram muito quentes, o tom creme da pele era o mesmo e o ritmo do coração era igualmente acelerado, no entanto, Nessie foi um bebê vários centímetros maior do que a criança em meus braços. Imaginei que isso se dava porque ela não precisou dividir o espaço do útero com mais ninguém.

O menino remexeu-se outra vez e o cenho se franziu demonstrando irritação. As pálpebras cor de lavanda se abriram e os olhos azul-cristal fuzilaram meu rosto.

— Você não quer ficar aqui comigo, não é, garotão? — Sorri para ele. — Você quer a mamãe, mas ainda não pode. Que tal ficar com a titia Meg? Prometo deixá-lo em paz.

Houve um balbuciar estranho vindo do pequeno enquanto eu caminhava até a híbrida loira que se deliciava ao ver Alec brincando com Emára. Os filhos de Aris não tinham pensamentos falados ainda. Apenas ecoavam vozes. Reconheceram Alec, obviamente, e gostavam de ouvir os burburinhos do pessoal no corredor. Eram tão diferentes da minha Nessie! Todavia, me lembravam tanto a minha princesa! Como isso era possível?

— Toma. — Estendi-lhe o bebê. — Wesley não me quer. Ele é todo seu!

Ela o pegou com o máximo de cuidado, sorrindo. Assim que estava relativamente longe de mim, o humor de Wesley voltou. Ele sorria novamente. Meg me olhou e seus pensamentos vacilaram. Ah, não! Mais uma para ter que medir as palavras e não deixar que entenda errado?! Justo quando Tanya parara de tentar?! Isso era uma maldição! Só podia ser! Ah, vida! Podia ter tirado esse encanto vampírico de mim! Que ódio!

— Hmmmm, alguém já lhe disse que você é muito bonito? — Arqueou uma sobrancelha e eu baixei o olhar. — Quer dizer, é claro que sua esposa já deve ter dito! Cabeça dura! Desculpe meu deslize.

— Já disseram, sim — garanti-lhe olhando a criança, infeliz. Então acabei soltando algo que não devia: — Ela... ela... fugiu. — Respirei fundo e xinguei-me mentalmente.

— Ah, sinto muito.

A loira tentou ser convincente. Até seria, se eu não conhecesse seus pensamentos.

— Meg, você já ouviu sobre vampiros que leem mentes? — Arqueei uma sobrancelha e a moça assentiu. — Sou desses.

E ela se desesperou.

— Oh, me desculpe! Por favor! Por favor, eu não tinha a intenção de ser tão insensível! Por favor!

— Calma! — ordenei. — Wesley ficará assustado! Ou você quer que ele comece a chorar por causa de seu pânico irracional? — Ela baixou a cabeça, envergonhada. — Ei, olhe, eu só estou com a aliança porque quero. Acostumei-me com o objeto e tenho medo de retirá-lo. Acalme-se.

Meg respirou fundo e apertou um pouco o menino em seus braços. “Agora eu vou me comportar, meu lindo, está bem?” ela pensou e eu arqueei a sobrancelha outra vez. Um suspiro longo saiu de seus lábios. “Está bem. Edward.”

— Agora, sim! — aprovei e saí de perto. Comportar. Aham. Sei!

Assim que me distanciei, a híbrida suspirou olhando para o sobrinho. Já passava da hora de contar aos outros sobre o estado de saúde da irmã. Os olhos infelizes de Alec de anos atrás, naquela cidade italiana, fizeram-me temer a respeito do bebê, então, voltei-me ao recente papai e pedi para segurar Emára. Dessa vez, ele passou-me a criança com orgulho.

— Gente! — chamou Meg. — E-eu te-tenho que di-zer uma coisa... sobre a Aris. — Quando viu que todos a encaravam, continuou:— Ela desmaiou no parto e...

— Não! — sussurrou Alec temeroso. — Não!

— Infelizmente... — A híbrida suspirou. — Aris ainda não recobrou a consciência.

 Com isso, o vampiro cobriu o rosto com as mãos e começou a soluçar, agachando-se. Jane foi até ele e o abraçou forte, tentando acalmá-lo, todavia seus pensamentos ainda eram desesperados.

Aquela era uma cena conhecida. Ali eu via a mim e Alice quando deixei Isabella. Nas duas vezes. Um quebrado tentando manter os pedaços do outro no lugar. Nenhum dos dois sequer respirava. Assim estavam Jane e Alec naquele momento. Um tentando ser a força do outro.

Os gritos mentais fizeram-me perceber que eu era o único, a ovelha negra dos Cullen, que não mexera um músculo sequer. O único que não estava consolando alguém ou sendo consolado. Não que eu não me importasse, mas vivia meu próprio luto.

E não me mexi até que a porta do quarto se abriu e meus pais saíram com semblantes tristonhos, porém esperançosos. Meu peito se afundou antes mesmo das palavras serem verbalizadas. Eu já sabia qual era o veredicto, por isso, olhei com pesar para a baixinha em meu colo. Carlisle dirigiu-se diretamente aos gêmeos e todos — com exceção minha e das duas videntes — os rodearam. A híbrida manteve-se afastada e a vampira tentava desfazer o nó em sua visão, mas tudo dependia de minha decisão e eu ainda ponderava as opções.

— Tentamos fazer de tudo, mas ela não conseguiu resistir... — começou Carlisle.

— Não! — expirou Alec, horrorizado. — Não! Não, de novo, não!

— Ela está em coma, querido — Esme concluiu baixinho, olhando para o chão. Minha mãe era incapaz de ver a dor alheia e não poder fazer nada. — Eu sinto muito.

Alec ofegou, levantou-se do chão, afastando-se bruscamente dos braços da irmã, e correu para o quarto, abraçando e beijando efusivamente a adormecida pelo rosto. Sua voz oscilava enquanto ele a chamava e seu corpo todo reagia em fracos tremores. Como de costume, não fui até lá para saber disso, apenas consegui ter uma visão panorâmica de tudo graças a todos os curiosos que o seguiram quando ele se levantou. Ou seja: quase todo mundo, como sempre.

Jane estava ainda no chão, sentada, chorando desoladamente. Como que por impulso, fui até ela e sentei-me ao seu lado, ainda com sua sobrinha nos braços. Emára sorria graciosamente, alheia a tudo que se passava. Não sabia que sentimento era aquele, que solidariedade era aquela, só deixei-me levar. Quando percebi, já estava ao seu lado, com uma mão em seu ombro, tentando passar-lhe apoio.

— Eu sinto muito, Jane — sussurrei.

“Mereço tudo isso” pensou ela, chorando ainda mais. “Eu a fiz sofrer no passado. Foi por minha causa que ela morreu daquela vez! Eu deveria ter visto o recém-criado! Eu deveria ter avisado a ela! Eu deveria ter impedido ele! Eu deveria tê-la protegido direito!

— Jane, Jane! — Minha voz era baixa por causa da pequena, mas urgente. — Não perca o controle! Você não pôde ajudá-la porque estava sendo morta. E, afinal, o que havia para fazer?! Absolutamente nada! Sabes, Jane, bem em seu interior, sabes que falo a verdade.

Seus pensamentos estavam muito conturbados e aquilo só refletia em meu constante pesar. Emára balbuciava mexendo os dedinhos gordos em minha camisa. Não previ o que minhas palavras fariam a Jane, mas o rompante que a vampira deu assustou a pequena.

— Foi sim! — guinchou ela, levantando-se. — A culpa foi minha!

Em meus braços, o bebê começou a chorar e seu timbre potente chamou atenção de alguns ouvidos. Tanto os de minha família quanto os de camareiras que passavam pelo local. Como impulso, apertei mais o corpo da menina contra meu peito, para aconchegá-la melhor, e levantei-me do chão para embalá-la. Não pareceu adiantar. Na verdade, aparentemente, piorou.

“Perdeu o tato, bebê” brincou Camila, mas eu não estava no clima. Ignorei.

— Que bebezinha mais linda — murmurou Jane, tirando a pequena de mim, ainda fungando. — A titia assustou você, não foi? Oh, perdão, meu amorzinho! Vamos voltar para o quarto com o papai e a mamãe, assim não nos assustaremos novamente, sim? — E sumiu da minha vista.

Contudo, não cheguei a ficar sozinho com meus pensamentos nem por um segundo. Carlisle apareceu para apoiar-me com a mão em meu ombro. Seu cuidado com relação à sua profissão era tal que sua roupa não tinha sangue algum. Eu fiz medicina suficiente para saber que era bem complicado tal feito. Mas a expressão de meu “pai para todos os efeitos” não era boa. E senti o buraco se abrir antes mesmo das palavras chegarem à sua mente.

— Teremos que levá-los a Forks, você sabe — disse ele em um fio de voz.

— Forks?! — queixei-me. — Não pode ser outro lugar? Outra cidade, outro país? Precisa ser Forks?! Temos tantas casas, Carlisle!

“Meus equipamentos estão todos lá” lembrou-me com palavras e imagens. Aquelas imagens eram o que mais me torturava. “Mas você pode ficar por aqui, meu filho. Nós entenderemos.”

Entretanto, eu não podia. Minha família entraria em guerra por uma causa que eu mesmo já lutei, com aliadas que jurei proteger antes mesmo de conhecer. E eu não podia imaginar minha mãe lutando contra Caius. Alice seria raptada novamente e alguém acabaria morto.

— Não posso — respondi, por fim. — Tenho uma casa e uma família, elas precisam de mim!

O sorriso de meu companheiro de décadas foi encorajador. Ele deu-me dois tapas no ombro e voltou para o quarto, para dar a notícia aos outros. E então fiquei sozinho por alguns minutos. Nem mesmo minha consciência me perturbou, o que agradeci grandemente.

Esperei pacientemente pelo fim da choradeira e logo estávamos a caminho da cidade mais chuvosa do país. Comigo estavam Nádia, Áquila e Emmett. Meu irmão segurava Emára que não parava de chorar, enquanto as meninas estavam em completo choque. Acho que a notícia sobre a amiga ainda não tinha sido digerida, então não perturbamos as duas.

Não me atrevi a falar pelo caminho. Fiquei pensando em como estariam minhas duas vidas aquele momento e se elas estavam felizes. Eu acreditava que sim. Imaginava que, se Bella estivesse com saudades de mim ou infeliz, as duas sabiam que sempre estaria de braços abertos para recebê-las a qualquer momento. E se elas não sabiam disso e não estivessem cem por cento felizes, eu me enforcaria. Uma pequena imagem brotou em minha cabeça e acreditei ser fruto da estrelinha. Um bonequinho parecido comigo em uma forca com a língua para fora e os inscritos “E agora, o que eu faço?” num balão de fala. Era ridículo, eu não acabaria morto, no fim das contas.

Quando estacionei na garagem da casa branca, senti meu coração pesar como nunca o fez antes. Era como se voltar ali pudesse me ferir de uma maneira sob a qual eu nunca mais me recomporia. Meus acompanhantes saíram do carro às pressas — cada um com seu motivo — , contudo, eu fiquei ali, parado, pensando, tentando entender o que eu sentia, quase chorando desolado.

O problema mais frequente de pessoas que não têm a mente para si mesmo, que não conseguem “desligar” o dom que possuem, é que mesmo quando não queremos, pensamentos nos atraem.

“Ele não deve estar bem.” Refletiu a híbrida loira. “O que será que aconteceu? Por que ainda não subiu? Será que ele saiu e ninguém percebeu? Ele nos deixou sozinhos? Não vai nos ajudar como disse que faria? É orgulhoso demais para falar com os outros sobre uma recusa?! Por que não estava com a família, para começo da conversa? Acabou por abandoná-los? Será que só ajudou na carona porque sabia que faltaria lugar nos carros?! E agora? Ele vai sumir de vez?!”

Já estava ficando bastante irritado com os pensamentos de Megára. Mesmo que tenha prometido não criar esperanças, bem no fundo, eu sabia exatamente que ela já estava toda nisso. Era irritante, embora um tanto compreensível, afinal, ainda era parte humana. Meg não tinha sido completamente transformada, como as outras três, estava no meio do caminho entre a humanidade e o vampirismo. Como conseguiram tal feito, ainda era um mistério, mas dava para sentir o calor e as batidas nos corações das meninas.

Desça! — decidi. — Vamos conversar, Megára, mas chega de pânico, por favor!

O poder de Megára era parecido com o de Alice, mas a híbrida via tudo o que cruzaria em seu caminho, apenas isso. Tudo o que levaria a afetar seu futuro, que mudaria o rumo de algo. Então ela me viu. Até porque eu estava decidido a ir até lá e arrastá-la pelo braço se não visse.

Ouvi a batida fraca de seus passos descendo as escadas e chegando mais perto da garagem. Sua respiração estava estável e a mente relativamente calma. Meus olhos ficaram fechados até mesmo quando ela passou para o banco do carona sem se demorar, abrindo a porta e fitando-me curiosa. Suspirei profundamente, girando a chave na ignição e colocando o carro para andar. Abri os olhos para dirigir apenas quando pressionei o pedal de aceleração já fora da garagem. Os olhos dela estavam muito atônitos para eu saber me guiar por ali sem olhar.

“Exibido!” Camila desdenhou em minha mente. Dei um sorriso fraco para o comentário.

Acelerei o máximo que pude e a híbrida, com o cinto afivelado, segurou-se no banco de olhos arregalados. Parei na metade do caminho até Port Angeles, o carro no acostamento da estrada deserta, e virei o corpo todo para encará-la.

— Muito bem. — Respirei fundo. — Você quer saber o que aconteceu? — Ergui uma sobrancelha.

— Não precisa me contar se não quiser. — Ela deu de ombros. — Não é da minha conta.

Suspirei. A loira tinha razão, não era da conta dela, todavia, eu havia guardado aquele segredo por muito tempo e ninguém da minha família superara a falta que Isabella fazia em nossas vidas. Eu precisava desabafar.

“E não é só mentalmente. Falar ajuda” completou minha estrela ao encorajar-me.

— Devo avisar que isso pode virar o maior monólogo que você já presenciou na sua vida.

Megára sorriu e gesticulou para que eu desenrolasse a história.


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Notas finais do capítulo

E aí? O que acharam? Essa Megára parece meio maluca, não parece?? O que vocês acham que o Edward vai contar? Comentem, comentem, comenteeeemmm!!!



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