Astória - A Menina Que Não Podia Amar escrita por Atlanta Claremont


Capítulo 7
Falta de Opção


Notas iniciais do capítulo

Olaaaaa
Obrigada a todos que estão lendo e comentando.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/799280/chapter/7

Eu não posso me casar com Draco Malfoy- Exclamei horrorizada com o que acabava de escutar.

— Claro que pode! Ele muito rico e está procurando uma esposa.

A ideia de Draco Malfoy estar procurando uma esposa me pareceu muito improvável, mais improvável ainda era o fato dele me querer como tal.

— Porque ele iria querer se casar comigo?

— Ora Astória, o sangue que correm em suas veias é puro, a mais antiga magia. Os Malfoys prezam que a linhagem siga assim. Olha- argumentou Odile aproximando- se — Veja como um acordo, você dará a eles um filho e eles te darão todo o dinheiro e segurança que poderia ter.

Sabia que sua intenção era me convencer, contudo, a maneira que ela falava tudo aquilo fazia parecer que eu me casaria com todos os Malfoy de uma única vez. O que me deixava ainda mais dissuadida.

— Prefiro morrer a me casar com um comensal da morte — retruquei decidida.

— É isso ou uma vida de miséria com seu pai morto. É isso que quer Astória? Carregar a morte do seu pai nas costas? Viver sabendo que poderia ter feito algo para lhe dá uma oportunidade de viver e não o fez?

Nunca na minha vida odiei tanto Odile como naquele momento. E houve muitos momentos em que a desprezei, mas nada comparado com esse. Como ela poderia colocar sobre mim uma responsabilidade como essa?

— Além disso —prosseguiu erguendo o queixo — Já disse para Narcisa que você casaria.

Sai da sala aborrecida. Estava sendo negociada como uma mercadoria. Vendida como as mulheres do passado que não tinham poder nenhum de escolha. Como invejei Daphne naquele momento por fugir de tudo aquilo, por ter tomado as rédeas da própria vida.

Quanto a mim, não havia nada que pudesse fazer depois dessa chantagem que estava sendo submetida. Se era meu destino casar com Draco Malfoy me casaria, talvez não fosse assim tão ruim, sabia que nunca poderia ama-lo de verdade e, no fundo, isso era até reconfortante. Teria uma família sem correr o risco de morrer, exatamente como Odile. Incrível como acabamos nos parecendo com nossos pais, mesmo quando nos esforçamos tanto para ser diferente. Era como se minha vida seguisse um roteiro, teria um marido, filhos, passaria meus dias em festas sem sentido e em jantares com pessoas da sociedade falando sobre amenidades como se fossem importantes. O roteiro de um filme de terror. Totalmente sem perspectiva, porém viva. Viva e morta. Viva e sem amor. Pensar sobre isso era sufocante, sentia toda esperança escorrendo sobre meus olhos, não via nada no meu futuro além de desespero. Tudo que havia sonhado teria que ser deixado de lado.

Naquela noite, chorei até conseguir dormir, e ao acordar meu travesseiro ainda estava molhado. Então lembrei de tudo que acontecera e tive vontade de chorar novamente, mas fui interrompida por Odile que abriu bruscamente a porta. A olhei confusa, ela nunca entrava no meu quarto, não lembro um dia em que tenha vindo pessoalmente me acordar, geralmente isso ficava a cargo de Babette ou de algum elfo- doméstico.

— Você está com uma aparência tenebrosa — foi a primeira coisa que disse ao me ver.

Sempre tão gentil.

— Se arrume — prossegiu impaciente— Fomos convidados para um almoço na mansão Malfoy hoje. Quero você pronta às onze e meia. Use uma roupa decente e por favor, faça algo em relação a isso — disse apontando diretamente para meu rosto.

Não tive chance de responder, pois antes que pensasse em algo para dizer Odile bateu a porta tão bruscamente quanto abriu. Meu cérebro ainda estava tentando processar toda aquela informação. Almoço na mansão Malfoy? A mesma mansão que abrigou prisioneiros e comensais? Merlim eu estava vivendo um pesadelo, sem dúvidas.

Olhei para o espelho e entendi sobre o que Odile falou, eu estava horrível. Meus cabelos embolados caiam sobre meu rosto amassado com marcas do travesseiro. Meus olhos estavam fundos e vermelhos de tanto chorar, isso sem falar nas olheiras... Pensei no que poderia fazer para amenizar o caos que estava a minha aparência, mas para quê? Draco Malfoy já me conhecia, ele sabia como eu era. Tudo bem que eu mudei um pouco nesses dois anos que ele foi embora da escola. Cresci alguns centímetros, um pouco mais de peito e quadril, mas continuava magra e pálida. Meus cabelos também tinham crescidos e eu gostava da forma que eles emolduravam o meu rosto, por isso parei de os usar puxado para trás e passei a deixar que caíssem sobre minhas bochechas. Pensei que talvez valesse apena me esforçar um pouco em melhorar minha fisionomia no momento, não pelos Malfoys. Não, eles não mereciam meus esforços, mas por mim. Eu não queria que eles me achassem patética, sei que muitos pensavam assim de mim na escola, inclusive Draco. Lembrei de quando veio na minha casa há muitos anos, quando ainda era uma menina e me chamou de esquisita. Sim, talvez eu fosse mesmo um pouco retraída e sem jeito, mas qual era o problema disso? Ao contrário deles, não tinha nenhum motivo para ter vergonha de quem eu era. E apesar de a humilhação de estar sendo obrigada a me casar, não daria nenhum motivo para que me achasse inferior.

Quando desci Odile me olhou como se aprovasse meu esforço, mas não disse nada, apenas me pegou pelos braços e aparatou em frente a residência dos Malfoy.

Aquele lugar me deu arrepios, dava para sentir a lugubridade que envolvia aquela mansão, apesar do terreno em volta parecer uma grande imensidão de árvores dançantes. O vento que fazia balançava suas copas, percebi serem macieiras pelas suas flores brancas como a lua. Tive vontade de entrar só pelo lindo pomar, lembrava do vale que morei na minha primeira casa, lembrança essa que me fez sorrir por um momento, sorriso que se desfez assim que um elfo abriu o portão e nos convidou para entrar.

Narcisa nos esperava na entrada da mansão com um sorriso radiante no rosto, abraçou minha mãe como se fossem intimas e depois virou-se para mim, segurando minhas mãos.

— Astória — disse com um sorriso sincero — como é bom te ver.

A recepção tão calorosa da matriarca da família me deixou surpresa. Na verdade, eu não sabia muito o que esperar desse almoço, após o jantar que compartilhamos quando eu era apenas uma criança nunca mais vira a família Malfoy novamente. Eu evitava todas as festas que meus pais davam, o que para eles eram um alívio, pois que sabia da minha inabilidade social.

Puxando-me pelas mãos, Narcisa fez questão de nos mostrar alguns cômodos da casa, que era dez vezes mais luxuosa e maior do que a nossa ou qualquer outra casa que eu já estive. Após alguns minutos tediosos observando quadros de todas as gerações Malfoy, Draco finalmente apareceu. Ele também crescera, bastante pelo que pude perceber. Estava alto e um pouco mais forte do que me lembrava. Vestia preto da cabeça aos pés, e me olhava como se eu fosse um ser indigno ou inferior exatamente como na primeira vez que nos encontramos. Após me encarar com decepção lançou um olhar de desaprovação para mãe e saiu da sala sem dizer uma única palavra. Narcisa pediu licença e foi correndo atrás do filho

Encarei Odile irritada a culpando por estarmos passando por toda aquela humilhação. Não que eu quisesse mesmo me casar com Draco Malfoy, mas ele não precisava me desdenhar daquele jeito, como se de alguma forma fosse muito superior.

— Ela é uma criança, não vou me casar com uma criança.

Ouvi sua voz irritada vindo do corredor

— Shii, fale baixo Draco — era Narcisa quase sussurrando.

Pelo visto ela o carregou para dentro de alguma daquelas de portas que havia pela mansão e lá conversaram, pois, alguns minutos depois ele estava de volta como se nada daquilo tivesse acontecido.

— Não liguem para Draco meninas, ele só está um pouco ansioso com o casamento, mas todos nós estamos não é mesmo? — Narcisa falou usando uma voz doce, porém nervosa. Dava para perceber seu esforça para aliviar a tensão, estimei ela por isso — Odile que tal eu mostrar o resto da casa enquanto os noivos conversam melhor?

— Eu acho uma ótima ideia — concordou Odile.

Fiquei aliviada após a saída das duas, mas olhei o Malfoy e gelei novamente. Ele se jogou no pequeno sofá que havia na sala e passou as mãos pelo rosto como se estivesse aborrecido.

— Vou fazer dezessete anos em uma semana — anunciei corajosamente. Como se isso fosse de alguma forma importante.

Ele pareceu surpreso, me encarou por alguns segundos com se pensasse no que dizer.

— Desculpe — murmurou por fim — Não queria que tivesse ouvido nada daquilo. É que quando minha mãe disse que seria uma Greengrass imaginasse que fosse sua irmã.

Daphne é claro, com certeza ele não sabia que ela havia fugido, quase ninguém sabia, na verdade, Odile dizia a todos que ela havia viajado para estudar. Como se tivéssemos dinheiro para isso, pensei irritada.

— Sinto muito — me desculpei sem nem ao menos saber se devia, porém, por algum motivo tinha a sensação que Malfoy estava tão aflito com isso tanto quanto eu — Imagino que você preferisse que fosse ela, pois eram amigos.

— Ah não— disse apertando os olhos negativamente — Fico aliviado que não seja. Sei que não faço o tipo dela.

— Porque acredita que faz o meu tipo?— Aquilo tudo estava tomando um rumo improvável.

— Você também prefere garotas?— questionou inclinando a cabeça surpreso.

— Não — neguei confusa.

— Então faço seu tipo de alguma forma — respondeu dando os ombros.

Merlim! Agora tudo fazia sentido. Por isso Daphne havia fugido com Emily para Paris, por isso meus pais ficaram furiosos, mais do que o normal, se é que existe um parâmetro de normalidade para tal coisa. Contudo, como eu nunca havia percebido antes? Mas ela também já ficara com garotos certo? Porque minha irmã escondeu isso de mim? Provavelmente achava que eu não iria entender, bem talvez alguns anos atrás eu realmente não entendesse. Eu ainda tinha bem pouco entendimento sobre relacionamentos em geral, mas não nenhuma ignorante ou preconceituosa. Não seria perigoso, a maldição falava sobre o amor de um homem, será que seria o mesmo se amasse uma mulher?

Percebi que me perdi em minha divagação por tempo demais e o lugar novamente ficou tenso.

— Por que concordou com isso? — Malfoy perguntou quebrando o silêncio.

Meu desprezo por ele nunca foi velado, era evidente que não estava ali por vontade própria.

— Porque não tenho opção — respondi sincera — E você?

—Idem -— respondeu desanimado. O encarei novamente, agora prestando um pouco mais de atenção. Ele parecia resignado, apesar de ser um homem rico e bonito nenhuma mulher iria querer casar com um ex comensal da morte, não de boa vontade. Só alguém que estivesse desesperada, como eu estava. Eu era sua única opção e ele minha salvação, ou mais especificamente, da minha família . Precisávamos um do outro. Seria isso motivo suficiente para unir nossas vidas tão drasticamente?

— Não precisamos nos gostar — disse por fim, lembrando nos casaríamos apenas por conveniência.

— É, eu sei — respondeu vazio.

A curiosidade me consumia naquele momento. O que será que ele pensava sobre isso? Será que aceitara tão facilmente seu destino?

— Não tem ninguém que você realmente queira? — Questionei insegura de ter soado invasiva de mais. Ele me encarou por uns segundos como se refletisse sobre o que ia responder.

— Tem muitas coisas que eu quero e nunca pude ter, não tem porque agora ser diferente — Ele pareceu triste e sincero — E você?

— Eu? Não, eu nunca...eu... — percebi que iria falar que nunca havia amado ninguém, ou me apaixonado, nem mesmo beijado um homem. Mas não queria que Draco Malfoy sentisse pena de mim — Também não tenho ninguém — disse por fim.

— Penso que as coisas serão um pouco menos piores para nós assim, não é mesmo? — ele levantou o rosto e me olhou nos olhos pela primeira vez. Seu olhar era tão amedrontado quanto o meu. Percebi que estávamos na mesma situação e quase me compadeci dele, era tão sem escolha quanto eu. Mas as semelhanças paravam por ali. Ele havia sido um comensal, tratei de lembrar. Estava apenas colhendo as consequências das duas escolhas, mas e eu? O que fiz para merecer ser castigada?

— É, acredito que sim — respondi friamente.

Meu tom de desprezo não passou despercebido.

— Vamos almoçar — ele disse levantando do sofá e eu o segui.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!