Astória - A Menina Que Não Podia Amar escrita por Atlanta Claremont


Capítulo 6
Homens Ricos Não Caem Do Céu


Notas iniciais do capítulo

Olá, olá
Como vou viajar e não ao certo quando volto resolvi postar dois capítulos de uma vez. Espero que gostem
bjsbjs



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/799280/chapter/6

Após a guerra, eu ainda precisava voltar a Hogwarts para  terminar meus estudos. Alguns alunos simplesmente não retornaram, como Harry Potter e Rony Weasley. Outros não puderam voltar porque estavam mortos. Não perdi ninguém muito próximo, mas, mesmo assim, a energia fúnebre do lugar fazia com que eu me sentisse perdida em alto mar entregue à própria sorte. Dumbledore se foi, o professor Snape também, e eu gostava dele apesar de tudo. O professor Slughorn ficou sendo o responsável pela Sonserina e a professora Minerva virou a nova diretora. Muitas coisas mudaram na escola,  em especial para nós, sonserinos. Fugimos da guerra enquanto todos se arriscaram, mas o que eu poderia fazer? Não podia me responsabilizar pelas atitudes dos outros.

 
    Meus pais enlouqueceram quando descobriram que Daphne havia fugido, eles tinham planos para seu futuro e ela ousou desafiá-los. Além disso, havia a suspeita que os negócios do papai estivessem ligados com magia das trevas.  Ocorreram investigações para certificarem de que ele não estava envolvido com Voldemort e seus aliados, entretanto  meu pai estava e, por muito pouco, não foi enviado a Azkaban com outros Comensais da Morte. Com a queda de Voldemort seus investimentos se foram e, de repente, passamos de uma próspera e importante família puro-sangue, para uma família pobre e arruinada. Nosso nome estava na lama graças à Daphne, e nosso dinheiro havia sumido  por culpa das más escolhas de papai. Tudo isso o deixou doente, tão doente quanto alguém poderia estar.

 
   Ver meu pai nas condições que ele estava foi um grande choque. Nós nunca fomos próximos, ele sempre viveu ausente em viagens ou em reuniões. Poderia ter até outra família que não saberíamos, mas ele era Anthony Greengrass, meu pai. O único que conhecia. Lembro-me de seus passos rápidos pelos cômodos, ele parecia estar sempre com pressa. Sabíamos que ele estava em casa, pois o cheiro do charuto impregnava o ambiente. Ele gostava de música clássica, gostava de ouvir Daphne tocar aquele maldito piano, era muito mais apegado a ela do que a mim. Porém, às vezes, trazia-me livros das suas viagens. Ele nunca dizia nada, só me entregava com um sorriso e virava as costas. Eu ficava feliz por saber que em algum momento ele pensou em mim, mesmo que ignorasse minha presença todo em todo o restante. Agora papai estava preso em uma cama, trancado em um quarto escuro. O cheiro da morte pairava sobre a mansão e a ideia de perdê-lo parecia desesperadora, eu gostaria de fazer algo para o ajudar, mas não havia nada que estivesse em meu poder,  além de voltar para escola e estudar.

 
   Meus dois últimos anos foram calmos, sem grandes acontecimentos. Já havia tido emoções demais naquele castelo e os alunos antigos só ansiavam se formar com tranquilidade. Minhas notas eram excelentes e ver meu pai definhando sem ter muito que fazer a respeito me despertou o desejo de seguir a carreira de medibruxa. Eu tinha experiência em ajudar os alunos machucados, e o melhor, excelentes notas em poções, herbologia e feitiços, tudo que era necessário para prosseguir com meus estudos na área. Mas havia um obstáculo gigante no meu caminho, estávamos pobres, extremamente pobres, sem um mísero dinheiro. Sabia que não éramos mais uma família rica,  porém não tinha ideia do tamanho da minha pobreza até minhas últimas férias, quando apresentei a Odile meu desejo em seguir carreira.

 
— Tire essa ideia ridícula da sua cabeça, estou dando graças por você comer na escola. – Aquela confissão me pareceu uma grande exagero, mas ela prosseguiu com um sorriso: –Contudo, já encontrei a solução para nossas dificuldades. Você irá se casar assim que se formar.

 
Aquilo me pareceu um disparate.

 

— O quê? Você está louca?

 
Odile me encarou enraivecida. Eu nunca falara daquela maneira com ela, mas contudo depois tanto tempo eu já não a temia.

 
— Astoria está vendo essa casa? – Apontou para as paredes brilhantes, revestida de tecido caro e luxuoso. – A mansão que seu pai lutou tanto para nos dar? Vamos perdê-la se você se recusar a colaborar. É isso que quer? Quer nos ver na rua com seu pai moribundo?

 
  Pensei em protestar, mas minha voz havia sumido.

 
— Ele está morrendo e precisa de cuidados. – Continuou com uma franqueza que até então desconhecia. – Cuidados caros que não posso pagar. Culpe sua irmã, aquela egoísta da Daphne, era para ela se casar, mas resolveu sumir pelo mundo. Adoeceu seu pai de tanto desgosto. –- Agora sua voz era de desprezo. Sabia que Daphne nunca seria perdoada, ou aceita novamente na família. Seja lá o que tenha a motivado a fugir, esperava que nunca retrocedesse.

 
     O que ela dizia não era verdade, não era culpa de Daphne papai estar doente. Ele havia contraído varíola de dragão, uma doença perigosa com um tratamento difícil e caro. Porém, não era culpa de Daphne, nem de ninguém. Talvez fosse só o carma por ter se envolvido com magia das trevas, agora seu dinheiro de morte não poderia ajudá-lo. Mas apesar de abominar suas ações, não desejava que ele morresse.

 
— Eu não posso me casar. A senhora sabe que não. –Apelei para o assunto proibido. Odile nunca falava sobre a maldição de nossa família, todavia eu sabia, e ela sabia que eu sabia.  – Também, com quem eu casaria?

 
— Eu sou casada não sou? – Ela respondeu sem me olhar nos olhos. Supostamente muito interessada em andar em círculos pela sala. – Não se preocupe com nada. –disse por fim. – Cuidarei de tudo. Não pensa que colocaria sua vida em risco, acha?

 
   Sim, eu queria dizer. Entretanto, mantive o silêncio apenas a encarando friamente. Ela nunca foi afetuosa ou dedicada e sabia disso, teria que se esforçar um pouco mais para me convencer de suas boas intenções.

— Eu vou providenciar o seu casamento. –Continuou quando percebeu que eu não a responderia. – Exatamente como providenciaram o meu. Você viverá muitos anos e terá muitos filhos-  Dessa vez parecia soar amável, ou ao menos tentava, o que já era discrepante. Olhei seus olhos verdes como a grama recém-cortada. Eram frios e ponderados, nada que fazia era sem pensar, calculista. Mas lá, no fundo, via que ansiava algo que lhe faltava, que não poderia controlar. Seria amor? Mas minhas divagações foram dissipadas, interrompidas quando disse: 

 - Vou torcer para que sejam todos meninos, se forem menina as afogue, ouviu bem? – Falou como se não ter nos afogado tivesse sido uma grande  fraqueza de caráter.

 
Voltei para meus últimos meses da escola desolada. A ideia de casar me embrulhava o estômago. Não tinha mais ânimo para estudar, não via sentido em me dedicar.

 
O professor Slughorn logo percebeu a queda nos rendimentos e meu desânimo. O que ressaltava o fato dele ser um professor bom e atencioso, pois tentei disfarçar a todo custo minha tristeza, não era minha intenção chamar atenção, e bem não precisei me esforçar tanto assim, pois tirando o mestre de poções ninguém prestava muito atenção em mim.

 
— Às vezes uma situação que parece terrível pode ser exatamente o que precisamos. Você é minha melhor aluna Astória, quero que continue assim. Independente do que vá fazer depois da escola, não espero nada menos do seu melhor ouviu bem? – Ele disse após um período em que me recusei a fazer as lições.

 
Sua demonstração de preocupação me encorajou.  Talvez isso não acontecesse, Odile poderia não encontrar ninguém. Afinal, de qual lugar ela iria tirar um homem rico que me quisesse?

Ri, pois a ideia me pareceu um grande absurdo. Não estávamos mais no século dezoito onde as pessoas eram prometidas em casamento uma a outra. Por que um homem rico, podendo casar com quem quisesse se submeteria a um casamento arranjado? Odile estava louca, era melhor mesmo que eu estudasse, porque,  mesmo não fosse ser uma medibruxa, precisaria de um emprego. Trabalhar, porque diferente do aquela insana pensava, homens ricos não caíam do céu. Príncipes encantados não eram reais, afinal, ela mesmo havia me dito isso, muitas e muitas vezes.

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!