Astória - A Menina Que Não Podia Amar escrita por Atlanta Claremont


Capítulo 8
o Jantar No Ministério


Notas iniciais do capítulo

Oláaa
Sei que a Astória só sofre gente, mas é isso né, a vida.
Postando com um pouco mais de frequancia pq o mês está acabando. O desespero batendo.
Obrigada a todos que estão comentado
bjs



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Almoçar na casa dos Malfoy não foi a melhor coisa da minha vida, porém, foi longe de ser a pior. Eles tinham uma dinâmica interessante, Lucius era um homem intimidante e silencioso, mas parecia gravitar na órbita da esposa. Seus movimentos eram  incrivelmente harmoniosos e sincronizados, como se tivessem ensaiado todas as ações antes. Draco parecia distante e alheio ao que estava acontecendo, limitando-se a responder de forma monossilábica sempre que lhe dirigiam a palavra. Odile e Narcisa, as mais animadas com a união das duas famílias é eram as que conduziram a conversa.

 
Odile falou sobre todos os lugares incríveis do mundo que havia visitado e Narcisa lembrou os bons tempos do passado, nos quais  frequentavam bailes e festas da alta sociedade. Tudo muito saudoso. Contudo, o mundo não era mais o mesmo e os bruxos não possuíam mais o sangue puro como o nosso. Lucius abriu um único sorriso, ao se referir a mim e Draco como a salvação e esperança do purismo bruxo e, nesse momento, precisei pedir licença para ir ao banheiro. Mais cinco minutos ouvindo aquele discurso patético e eugenista, eu iria vomitar. Demorei mais do que o esperado e quando voltei os pratos já haviam sido retirados.

—  Desculpe, acho que não estou me sentindo muito bem—  falei quando percebi os olhares preocupados.

— Astória tem um estômago sensível — disse Odile tentando me justificar. — É a ansiedade pelo grande dia.

Olhei-a incrédula, questionando como poderia ser tão fingida. Ela nunca teve ideia de nada sobre mim, e tudo que eu sentia em relação a essa união era repugnância. Estava preste a protestar quando Draco levantou dizendo que precisava se retirar.

Encarei-o por um momento e percebi que ele estava se esforçando para aliviar a situação. Dei um pequeno sorriso de gratidão e alívio, pois depois daquilo todos também se levantaram e Odile decidiu que já estava na hora de irmos embora. Narcisa insistiu para que ficássemos mais um pouco, mas Odile usou papai como desculpa, ele não poderia ficar muito tempo sozinho. O que não deixava de  ser verdade.  Ela fez questão de garantir que o próximo encontro seria na nossa casa, onde planejariam todos os detalhes da cerimônia e decidiriam uma data. Toda aquela conversa parecia um grande absurdo para mim, sentia como se tudo aquilo fosse relacionado a outras pessoas, não era sobre  a minha vida, não era sobre mim. Eu agia como uma simples  telespectadora.

 
Quando cheguei em casa comecei a pensar sobre tudo que tinha acontecido e, assim, a ficha foi finalmente caindo. Eu iria me casar. Iria me casar com Draco Malfoy. Ele não parecia tão detestável como era na escola, mas só conversamos sozinhos por alguns minutos, então não poderia tirar nenhuma conclusão precipitada. Meu Merlim, eu teria que beijá-lo. Eles esperavam que eu lhe desse um filho. A imagem de fazer um filho com Draco Malfoy me deu náuseas e precisei levantar para vomitar. Agora sim meu estômago estava sensível. Pensamentos sobre ter intimidades com ele assombraram minha mente durante todo o restante da noite. E se ele percebesse que eu não tinha nenhuma experiência? E se ele me desprezasse? Ou pior, e se Draco gostasse muito e fosse um maníaco tarado sem nenhuma sensibilidade? E se ele me forçasse? Quanto mais pensava sobre o assunto, mais medo e dúvidas surgiam na minha mente. Não consegui dormir aquela noite. Só conseguia pensar em meu destino e em como havia perdido completamente o poder de decisão, isso se algum dia já cheguei a ter.

 
Dois dias depois recebi uma carta com um convite,  o Ministério daria uma festa para todos os participantes da guerra e Draco havia sido convidado, ele solicitava a minha companhia para a festa. Na verdade, o convite havia sido enviado por Narcisa, o que fazia com que fosse ainda mais difícil de negar. Eu não queria ir, não gostava de festas, nunca gostei,  e desconfiava que Draco também não devesse estar muito à vontade em um lugar como esse. Posso não ter sido sua amiga na escola, nem ter me envolvido o suficiente na guerra e seus acontecimentos, mas sabia que ele e o Potter sempre foram inimigos e isso, certamente, não seria nada agradável. Porém, antes que eu pudesse pensar na melhor desculpa para recusar o convite, Odile enviou a resposta resposta para os Malfoy dizendo que seria um prazer eu acompanhar Draco nesse evento.

 
Mais uma vez fiquei furiosa, agora eu não tinha mais voz, nem decidia absolutamente nada.

 
 — Eu vou me casar com o Malfoy como prometi, mas vai ser do meu jeito, entendeu bem? Não preciso ir em nenhuma festa idiota — adverti furiosa.

 
— Deixe de ser ridícula, Astória. Se seu futuro marido quer sua companhia numa festa, você vai. Simples assim.

 
Muito simples, pensei irritada. Com se Draco Malfoy realmente ansiasse pela minha companhia.

 
Quando o dia da festa chegou, eu estava nervosa. Nunca me senti confortável em ambientes com muitas pessoas, ainda mais pessoas tão importantes como as que estariam lá. Potter, Weasley, Granger.... ou já seria Weasley? Enfim, não importava. A ideia de falar ou fazer algo estúpido me assombrava. '' Não fale nada idiota e não seja ridícula'' , lembrei-me das palavras de Odile quando nos obrigava a participar de um evento social, e me senti uma criança novamente. Eu detestava como agora eu me sentia constantemente como uma criança amedrontada outra vez.

 
Escolhi um vestido lilás, minha cor favorita, de cetim e um pouco justo no corpo. O vestido marcava meu quadril estreito e ia até metade das coxas, era diferente do que tudo que eu já havia usado. Joguei meus cabelos para o lado de uma forma que destacava minhas bochechas, que devido a maquiagem estavam rosadas. Gostei do aspecto de saúde que o blush me dava, pensei que não seria uma má ideia usá-lo mais vezes.  Terminei colocando argolas nas orelhas e uma sandália de tiras prateadas nos pés. Eu nunca tinha usado salto alto e estava apavorada com a ideia de cair, mas os sapatos haviam sido previamente escolhidos por Odile, que, de forma repentina,  decidiu cuidar de todos os aspectos da minha vida como uma boa e dedicada mãe.

 
Quando desci as escadas ela estava me esperando,  percebi seu rosto estava surpreso a me ver chegar. Pela primeira vez na vida ela Odile estava me olhando, como se fosse a primeira vez que me visse. Uma filha perdida que havia encontrado. Foi uma sensação estranha e constrangedora.

 
— Você se parece tanto comigo — repetiu o que passou a vida toda escutado, contudo, parecia ser  a primeira vez que se dava conta. Por um momento meu coração se aqueceu,  ouvir aquelas palavras saírem da sua boca era a mesma coisa que ouvir que eu era bonita. Ela nunca havia se referido assim sobre mim.

 
Havia uma pequena lágrima em seus olhos, como se por um momento o espírito da maternidade houvesse se apossado dela.

 
— Estou pronta — respondi assustada, porém sorrindo.

 
Seu rosto voltou novamente a endurecer e muito séria me falou: —  Nunca o ame, me entendeu? Não se atreva a amá-lo.

 
Por alguns segundos, eu gelei. Sabia que ela estava falando sério, sentia a preocupação em sua voz.

 
— Não se preocupe,  mãe — falei estranhando ter usado a palavra que raramente saía da minha boca. — Não existe nenhuma possibilidade de um dia eu amar Draco Malfoy.

 
Draco aparatou em frente a minha casa. Usava uma roupa toda  preta, como no dia almoço, porém dessa vez muito mais elegante e sofisticada. O preto destacava ainda mais sua pele alva, além dos cabelos que refletiam a luz da lua. E não é que ele era mesmo bonito? Uma beleza presunçosa, pedante e esnobe, mas de certa forma charmosa.

 
 —Boa noite — disse enquanto  me encarava dos pés à cabeça. A maneira com que ele me olhou me deixou nervosa e desconfortável, não que isso fosse sua intenção, mas não estava acostumada a muitos olhares, ainda mais esse tipo de olhar. Mal poderia esperar pelo desconforto que seria  o restante da noite. Draco segurou minhas mãos e aparatamos  em frente ao Ministério.

 
O lugar estava movimentado, várias pessoas chegando como nós. Ao passarmos pela entrada, o homem que deveria verificar os convites olhou Draco com certo desprezo,  depois se virou para mim com um olhar confuso, como se questionasse o que eu fazia ao seu lado. Impaciente, Draco me arrastou pelo corredor, mas antes de chegar à entrada do grande salão hesitei por um momento.  O lugar estava cheio, várias pessoas entrando e saindo, além das vozes que me confundiam. Sentia me minha respiração ficar ofegante e meu coração bater um pouco mais rápido.

— Vamos ficar só trinta minutos — disse Draco com uma voz tranquilizadora. Ele havia percebido meu nervosismo, senti-me envergonhada, porém um pouco mais calma. A forma serena como ele falava me deu certo alívio, minha fobia social dificultava muito apreciar festas como aquela e eu sabia que não podia estragar tudo.

Quando entramos o salão estava cheio de rostos conhecidos. Weasley,  muitos deles. Potter abraçava Ginny Weasley que mostrava a todos seu anel de noivado, ela estava radiante. Senti um pouco de inveja,  eu também iria me casar e não irradiava metade daquela felicidade, além de que, nem ao menos  tinha um anel.  Mas o que isso importa?  Você nem quer casar de verdade.  Espantei esses pensamentos e acompanhei Draco até a mesa que nos foi designada. Dizia ''família Malfoy'',  pensar que em breve faria parte disso ainda embrulhava meu estômago.

 
Os minutos foram passando e ninguém, além do Potter tinha vindo nos cumprimentar. A situação toda era entediante e constrangedora e eu contava os segundos para ir embora. Draco comia e bebia lentamente,  como se estivesse em sua última refeição.  Tudo o que eu queria era sair correndo, mas provavelmente cairia graças aos malditos saltos. Até que um vulto surgiu em minha direção e quando chegou mais perto percebi que era Neville Longbottom.

 
— Astória — ele exclamou com uma expressão de surpresa e felicidade. Seu rosto redondo sorria docemente — Que bom te ver por aqui.

 
Eu sorri, provavelmente o primeiro sorriso da noite. Neville tinha sido uma das poucas pessoas da escola que havia me notado, e que  parecia acreditar no meu potencial.
Tudo parecia confortável até que ele viu Draco. Na mesma hora seu sorriso fechou e ele apenas disse:.

— Malfoy. Não sabia que estavam juntos — completou virando para mim.

 — Pois é, Astória é minha noiva  — Draco respondeu antes que eu pudesse dizer alguma coisa. Percebi que  ele segurou  minhas mãos com uma força levemente desnecessária enquanto dizia aquilo.

 
Neville lançou um olhar preocupado na minha direção, como se quisesse perguntar se estava tudo bem. Eu apenas sorri, acariciando as mãos de Draco sobre a minha, tentando acompanhar toda a encenação. Como eu havia virado uma mentirosa assim, tão rápido?
Após uns segundos de constrangimento, Neville nos desejou felicidades e com certa dificuldade foi embora.

—Você não pode sair por aí falando que estamos noivos,  eu nem tenho um anel — sussurrei entre os dentes.

— O quê?

— Eu disse que não tenho nenhum anel. Você não me deu um anel. Não dá para estar noiva sem um anel —Será que era tão difícil assim para ele entender a lógica do que eu dizia?

—Eu já entendi — respondeu antes que eu pronunciasse a palavra anel mais uma vez. Ele abaixou os olhos para a comida movam  e voltou a brincar com as ervilhas.  Aquela situação já estava insuportável.

— Porque estamos aqui, afinal? — Questionei impaciente. — Você parece tão à vontade quanto eu.

— Porque meus pais querem — ele respondeu com simplicidade.

— E você, por acaso, faz tudo que seus pais querem?

— Agora vai dizer que decidiu casar comigo por que está apaixonada?

— Eu não... eu — Droga, sua pergunta me deixou sem fala.

— Olha, isso é importante para minha mãe. Ela tem esperança de que nossa família ainda volte a ter algum prestígio e.... — Ele parecia um pouco hesitante. — Ela quer que eu seja feliz.

 
Fazia sentido, não o fato de que frequentar lugares como aquele pudesse trazer algum tipo de felicidade, mas o fato de que Narcisa desejasse a felicidade do filho. Nem todas as mães eram como a minha, às vezes me esquecia disso, e, até em famílias como os Malfoy existia amor, de uma forma tóxica e um pouco distorcida talvez, mas existia.

— Você não me parece muito feliz agora.

— Como você é perspicaz, não é mesmo?

— Desculpa, eu não queria ...

—Tudo bem, tanto faz.  Nada disso é sua culpa mesmo.

Voltei a comer em silêncio, sentia-me ainda mais idiota a cada minuto que se passava  e questionava quanto tempo mais ficaríamos ali.  Minhas preocupações foram logo sanadas quando ele soltou os talheres e finalmente voltou a me encarar.

— Acho que já podemos ir.

Dei um sorriso de gratidão, eu estava acostumada a ser ignorada, a passar despercebida pelos lugares, mas essa não era a ocasião. Todos ali pareciam estar cientes da nossa presença, percebia as pessoas olhando e comentado, apesar de ninguém ter coragem de falar nada diretamente e isso ainda era muito incômodo. Draco não fazia nada, questionava-me se ele percebia, por que parecia estar totalmente alheio. Era como se ele simplesmente  saísse de si e fosse para outro planeta, invejei essa habilidade.

Levantei rapidamente após sua sugestão,  não queria ficar nem mais um segundo naquele lugar.

Então, sendo levada pelas mãos, sai. Era estranha a forma que ele segurava as minhas mãos, eu não me lembrava de ter andado de mãos dadas com alguém, nem mesmo quando criança. Não era um gesto romântico, eu sabia, tinha mais a ver com o controle ou domínio. Ele me puxava e eu o seguia. Porém,  de alguma forma que eu não saberia explicar, também me dava uma sensação de segurança. Quando saímos do ministério, Draco  finalmente me soltou.

 — Você precisa que eu aparate com você até a sua casa? — Ele me perguntou, mas  antes mesmo que eu pudesse responder algo, disse: — É claro que preciso, não seria seguro deixar você sozinha.

— Eu posso muito bem voltar sozinha — disse desviando minha mão antes que ele a segurasse novamente. — Para onde você vai? — Perguntei. Estava claro que ele não iria para casa,  ainda era muito cedo, seus pais  perceberiam e nada naquilo faria sentido.

 
—Porque se importa para onde eu vou?

— Não me importo, mas também não quero  voltar para casa  agora.

—Sei — ele respondeu após me encarar por alguns segundos, parecia contrariado à ideia de me levar com ele seja lá onde fosse. — Mas eu não vou a nenhum lugar especial, só gosto de andar por aí.

 
—Também gosto de andar por aí — menti. Eu nunca andei por aí, eu nem tinha ideia do que seria " andar por aí". Vivi presa em casa e raramente saía  para compras no beco diagonal. O único lugar que conhecia bem, além da minha própria casa, era Hogwarts. Se eu tinha uma chance de sair por aí, mesmo que  isso significasse passar mais tempo com Draco Malfoy, eu certamente  iria.

Draco encarou-me com seus grandes olhos cinzas, como se  avaliasse se eu era realmente  digna de sua confiança.

— Tudo bem- disse por fim— Mas você não pode falar nada a respeito disso.

Ele falava sério e soava misterioso. Eu apenas assenti com a cabeça, seja lá onde fossemos eu estava muito curiosa. O que será que Draco Malfoy tinha a esconder?

 


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